terça-feira, 20 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 39

Olhando para trás Rick Stanley, como uma das últimas pessoas que viram Elvis com vida, tem sua própria teoria sobre os últimos momentos do cantor. Ele relembra: "Muitas vezes eu tinha visto Elvis fora de si quando ia ao banheiro, ficava sentado e caía. Eu tinha que levantá-lo quando aquilo acontecia. Muitas vezes. E esta é a minha teoria sobre a morte de Elvis. Veja, aquele tapete grosso amarfanhado. Grande, grosso. Naquela noite, quando ele caiu para frente, sendo tão pesado, e estando fora de si, não conseguiu levantar-se com suas próprias forças. E sufocou no tapete. Se voltasse lá eu o teria encontrado e salvo sua vida. Mas ele estava abusando muito das drogas. Eu penso que posso dizer que tinha comigo Demerol suficiente para topar Whitehaven (um subúrbio de Memphis) inteiro. Mas em vez de voltar eu fui para meu quarto e afundei. Daí em diante fiquei meio entorpecido. Para o meu padrasto, quando Elvis morreu, era o fim de nosso relacionamento. Bem depressa eu recebi um pedido para deixar a mansão. "Nós não precisamos mais de você!" foi o que Vernon disse. Ele avisou que me daria o salário de duas semanas e que eu podia ir embora de uma vez. Alguém disse uma vez que as três palavras que ele mais ouviu no mundo civilizado eram Jesus, Elvis e Coca-cola. Hoje dou palestras para jovens que sofrem de problema de dependência química e lhes conto a história de Elvis. Quando você pára e pensa em usar toda a fama de Elvis para algo nesse sentido, bem aí está um final feliz. Eu penso que ele gostaria disso".

Voltemos no tempo. Manhã de 16 de agosto de 1977. O sol do amanhecer já está alto, a luz solar entra pela pequena fresta da janela do banheiro e desliza suavemente sobre um corpo que jaz no chão do pequeno ambiente. O corpo está retorcido, em posição fetal. O rosto está congestionado de sangue, a expressão é de intensa dor, com o semblante registrando o exato momento em que seu organismo sofreu o ataque fulminante, o instante final congelado no tempo em sua hora fatídica. Não há reação aparente, não há som, nada se ouve, apenas a doce e suave vibração do último suspiro. O último grito abafado de socorro não foi ouvido. Tragicamente e ironicamente o ambiente luxuoso em que aquele homem sempre viveu abafou o barulho de sua queda ao sofrer o colapso cardíaco. Nenhum som fora do normal foi notado, ninguém percebeu, ninguém saiu de seus afazeres cotidianos para lhe socorrer, sua queda final passou despercebida. Assim como muitos de sua idade o sujeito caído no chão encontrou sua hora final ao sofrer um ataque do coração fulminante, que sequer lhe deu a chance de lutar por sua vida. Em questão de segundos ele perdeu a consciência e foi ao chão, retorcido de dor. A língua trincada entre os dentes é apenas a manifestação física de um colapso do qual quase nunca se volta. O último segundo de vida lhe fugiu de forma fugaz, efêmera. O Tempo deixa de existir e não tem mais sentido. Era o fim.

Tudo seria banal se aquele homem que acabara de sofrer um ataque não fosse uma das pessoas mais famosas do século XX: Elvis Presley. Sim, aquele corpo que lutava pela sobrevivência e que agora sentia o último sopro de vida lhe escapar em questão de segundos era o do outrora afamado Rei do Rock. O silêncio reinante só foi quebrado quando a namorada de Elvis na ocasião, Ginger Alden, bateu levemente na porta do banheiro. "Elvis?" - perguntou ela. Sem resposta abriu a porta e se deparou com a cena adversa. Em um primeiro momento ela não entrou em pânico. Apesar de Elvis estar estendido no chão Ginger teve uma reação típica de quem já havia passado por essa situação antes. Para aqueles que conviveram com Elvis em seus anos finais, o fato dele perder a consciência em razão do uso abusivo de remédios já não significava nenhuma novidade. Apesar de ser uma situação aflitiva e fora do normal, para Elvis em sua última etapa de dependência química, isso havia virado uma macabra rotina. "Será que bateu com a cabeça?" - perguntou a si mesma Ginger enquanto tentava virar o corpo inerte do cantor. Quando finalmente ela conseguiu visualizar seu rosto congestionado, roxo, sem nenhuma reação ou sinal de vida, percebeu finalmente a gravidade da situação e saiu em busca de socorro.

A partir daí a confusão foi generalizada como bem relembra Joe Esposito: "Estava em Graceland naquele dia 16 de agosto de 1977. Me lembro perfeitamente quando Ginger nos chamou no andar de cima. Eu entrei imediatamente na suíte e encontrei Ginger já bastante abalada. Entrei no banheiro e me deparei com Elvis no chão, caído. A posição sugeria que ele havia perdido a consciência e caíra pra frente de onde estava sentado. Quando o toquei senti um frio percorrer minha espinha. Percebi que não havia mais o que fazer, a impressão que tive foi que Elvis já estava morto por um bom tempo. Mesmo assim resolvi agir imediatamente. A primeira providência foi chamar uma ambulância a Graceland, urgentemente!". Quando a ligação chegou ao conhecimento dos paramédicos eles pensaram seriamente que Vernon, o pai de Elvis, sofrera mais um ataque cardíaco.

Um dos motoristas ao saber que se tratava de Graceland comentou com seu amigo ao lado: "Deve ser o pai de Elvis!". Enquanto o socorro médico não chegava em Graceland Esposito tentava em vão prestar os primeiros socorros em Elvis, como ele mesmo relembra: "Em poucos segundos as pessoas começaram a chegar no quarto de Elvis. Seu pai veio correndo, subindo as escadas e chegou ao quarto ofegante. 'Onde está meu filho?' - gritou o pobre Vernon. Nesse momento pedi para que dessem espaço pois estava tentando fazer algo por Elvis. Vi que Lisa entrava no quarto e pedi que Ginger a tirasse de lá imediatamente, para que assim ela não visse seu pai estendido no chão de seu banheiro. A confusão era muito grande, pessoas indo e vindo, tive que tirar muitos de dentro do local, precisava ajudar Elvis. Eu tentei dar alguns CPR no coração de Elvis, porque eu não conseguia abrir sua boca e fazer um procedimento de respiração boca a boca, pois ela estava fechada e congelada. Então resolvi girar o corpo de Elvis, o vesti e continuei trabalhando nele até a ambulância chegar. Apesar de lutar muito logo percebi que era tarde demais."

Pablo Aluísio.

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