domingo, 18 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 35

O jogo estava acabado? Será que Tom Parker, um dos maiores apostadores de Las Vegas, iria perder mais uma rodada? Logo ele que se considerava um excelente jogador? E Elvis? Estaria definitivamente morto artisticamente? Quem acompanhou toda a carreira deles não apostaria muito nisso. Se um rótulo lhes servia bem, esse era o de "sobreviventes". A morte da carreira de Elvis já havia sido anunciada várias vezes ao longo dos anos. Quando ele foi servir o exército em 1958, por exemplo, todos acreditavam que ele seria facilmente esquecido por seus fãs adolescentes. Que o Rock'n'Roll era apenas uma moda estúpida ouvida por jovens sem cérebro, que era apenas uma música selvagem que só servia para incentivar a delinqüência juvenil ou como decretou Sinatra o Rock seria apenas "a música de todo delinqüente com costeletas da face da terra!". Elvis não só voltou como demonstrou que ainda tinha várias cartas na manga. Comandado pelo Coronel Parker Elvis teve sua imagem limpa e devidamente empacotada para a típica família WASP norte-americana. Ele gravou discos excelentes como "Elvis is Back!" e "Something For Everybody" mostrando que não apenas continuava a ser um astro como também poderia ainda produzir material musical de excepcional qualidade artística.

E esse pacote até que serviu bem aos propósitos de Parker durante um bom tempo. Porém como tudo em excesso é prejudicial o "Elvis embalado, pasteurizado e plastificado para seu consumo familiar" começou a virar uma peça de museu rapidamente, totalmente dissociado do que estava acontecendo no mundo nos anos 60. Nada era mais absurdo do que um roqueiro posando de bom moço durante os anos da contra cultura sessentista. Os filmes eram limpos demais, infantis demais, bobinhos demais, e o pior, as musiquinhas eram ruins demais, de doer. De símbolo revolucionário Elvis passou para símbolo reacionário, uma mudança drástica demais. Quem iria ter como ídolo um cara que cantava para cachorros dentro de um helicóptero sobrevoando o Hawaii? Nenhum "bicho grilho" iria dar bola para tamanha caretice. Elvis ainda era um artista extremamente talentoso, porém o material que lhe era dado pelos estúdios de cinema para compor as trilhas sonoras de seus filmes começaram a perder gradativamente a qualidade e por volta de 1964 Elvis começou a gravar bobagens vergonhosas. Depois de passar dez anos em Hollywood estrelando os mais estúpidos filmes musicais já realizados, todos também concordavam que ele já era, que estava liquidado.

Mas Elvis renasceu em 1968 e 1969 e ganhou uma sobrevida naquela que para muitos foi sua fase mais inspirada e relevante. A nova "ressurreição" do astro durou até 1973. Seu pico aconteceu com o "Aloha From Hawaii", mas depois de sua exibição o cantor novamente estagnou. Voltou para Las Vegas e começou a sua velha rotina de concertos. E agora? Elvis ressuscitaria uma terceira vez? Seria ele o verdadeiro Lázaro do século XX?... Bem, os dados ainda estavam rolando na mente de Tom Parker. O jogo ainda não chegara ao seu final. Em vista disso o velho astuto chegou a conclusão que era hora de trazer um novo desafio para Elvis. Pensando no seu especial da NBC o Coronel achou que certamente a TV poderia ser a resposta. Só havia um problema em encarar um novo projeto como esse e tentar transformá-lo em um novo renascimento de Elvis: não havia mais nenhuma novidade envolvida em sua realização. Em 1968 todos estavam aguardando ansiosamente em assistir Elvis novamente cantando ao vivo, com jagueta de couro e repertório selvagem, mas em 1977 todos já sabiam que Elvis estava cansado, esgotado em turnês praticamente sem interrupção em seus últimos oito anos de estrada.

Que novidade haveria em mais um show de Elvis Presley a ser transmitido pela TV? Além disso o roteiro do especial seria por demais rotineiro e sem nenhuma inovação. Nem ao menos foi preparada uma nova lista de canções para Elvis apresentar na TV. Enfim, não seria um novo especial de televisão (que acabou sendo o Elvis in Concert) que iria alavancar a carreira debilitada de Elvis naquela ocasião. Mas todos os problemas que Elvis vinha enfrentando em sua vida profissional não se comparariam com o que ele estava prestes a enfrentar: a traição daqueles que sempre foram considerados grandes companheiros e amigos, que estavam ao seu lado desde os tempos de escola. Elvis não sabia, mas havia criado várias cobras ao longo do anos que iriam dar o bote sem pensar duas vezes, sem dó e nem piedade. Tudo aconteceu porque, no final de sua vida, Elvis despediu grande parte da chamada Máfia de Memphis. A razão oficial foi corte de despesas. Não seria nenhuma novidade pois Elvis vinha eternamente em luta para colocar suas contas em ordem e o gasto excessivo de pessoal deveria ser contido. Vernon Presley, notório pão duro, foi o grande incentivador desse ato. Tom Parker, que nunca gostou da inutilidade deles, também assinou embaixo. O que Elvis não antecipou foi que eles iriam assinar contratos milionários para revelar ao público os segredos mais bem guardados do cantor. A tempestade estava próxima...

Pablo Aluísio.

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