quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 13

Lá estava Elvis novamente, recém completados 41 anos, uma idade que lhe pesava muito nas costas, fazendo com que se sentisse um velho ídolo, pelo menos em sua visão pessoal, indo gravar mais um LP de rotina para a RCA. Naquela altura Elvis não conseguia mais se imaginar como um artista de seu tempo. O outrora símbolo da juventude vinha, desde que ultrapassou a barreira dos quarenta, se queixando a amigos e familiares de sua idade. Como encarar novamente o palco e os estúdios, agora que tudo lhe parecia cinzento e sem esperança? Certamente Elvis pensou que nem os mitos envelheciam, que ele ficaria para sempre com o sorriso encantador de seus primeiros discos. Quando finalmente o peso dos anos e dos excessos lhe bateram às portas, Elvis se sentiu mais do que nunca deprimido e abalado. Não raro perguntava aos seus amigos mais próximos: “Será que os fãs ainda vão gostar de mim?” Em outras ocasiões pedia aos amigos que se ajoelhassem com ele para rezar de mãos dadas. Com os olhos fechados, umedecidos pela dor lacrimejante em seu coração, Elvis exclamava a plenos pulmões: “Meu Deus, meu Deus, me ajude, não consigo continuar! Me Dê forças meu Senhor! Me Dê forças!”

Este certamente era o estado de espírito de Elvis naquele dia, quando mais vez se sentou para gravar novas canções. 20 anos depois de suas primeiras gravações na RCA, lá estava o cantor novamente em frente ao microfone, ao lado de seus músicos e escutando suas demos. Pouca coisa mudara no método de gravação, mas o homem que ali estava certamente fora muito machucado pelos anos, pelas decepções, pelas traições, pela vida. O mundo parecia estar em suas costas, todo o peso de uma existência um tanto quanto infeliz agora lhe pesava e muito em sua vida. Encarar aquele microfone a poucos centímetros de seu rosto marcado pelas amarguras da vida era algo penoso e mortificante. O Elvis de rocks embalantes e melodias alegres ficara no passado, O Elvis dos contratos cinematográficos, de músicas enlatadas também.

Ali estava apenas o homem que sofria e que estava disposto mais uma vez a cantar sua vida, suas decepções, sua melancolia. Isso está muito bem retratado no set list das músicas. São momentos que nos falam sobre solidão (Solitaire), despedidas (The Last Farewell), mágoa (Hurt), falta de esperança (Never again), desilusão (I’ll Never Falling in Love Again). Um Elvis que não sonha mais, que apenas tenta sobreviver à melancolia insuportável das horas, dos dias que nunca passam. Um Elvis que quer se retirar do mundo que tanto o magoou. Um Elvis trágico e a caminho de seu derradeiro tour, sua derradeira música, sua nota final. Não há mais nada a sonhar, a desejar, não há mais razão para viver. Se levantar da cama para quê? Lutar para alcançar o quê? Se tudo já foi cantado e gravado, se tudo já foi apresentado, alcançado e superado, por qual razão reviver toda essa mortificante situação? Da vida ficam apenas algumas poucas boas lembranças, como os momentos ao lado de sua inesquecível mãe, cujo rosto vai se apagando com o passar dos anos. Dos tempos de pobreza, quando era feliz e não sabia. Da namoradinha Dixie e dos suados 5 dólares para levá-la ao cinema aos sábados. Do vento no cabelo ao dirigir o caminhão em seu primeiro emprego. Do violão novo, comprado com sacrifício. Das tardes na varanda aprendendo e sonhando com seus ídolos de então, deuses, lindos, faiscantes estrelas da música country. Mas agora Elvis iria sonhar com o quê? Gravar novos discos? Ele já tinha feito isso a vida inteira. Sair em turnês? Ele já tinha rodado por todas as cidades desse mundão chamado United States. Elvis não tinha mais objetivos de vida. Quando chegamos a esse ponto, morremos.

Elvis ainda resistia, mas ao gravar suas últimas faixas, ele estava morrendo lentamente. Não havia mais montanhas a subir, picos a conquistar. Não sobrara mais nada. A sala das selvas é o inicio do fim. Se a lei da selva afirma que só os fortes sobrevivem, Elvis depois de lutar por todos esses anos e sobreviver a tudo e a todos, poderia certamente se considerar um vencedor. Mas até os vencedores um dia encontram seu destino. Ele certamente estava deixando o palco para sempre. As cortinas finalmente se fechavam ao velho ídolo. Sem pompa, sem festa, só o simples silêncio da luz se apagando, calma, leve, suave...como um sonho...um sonho que um dia se tornou realidade uma única vez para um pobre garoto de Tupelo chamado simplesmente Elvis...

Pablo Aluísio.

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