sábado, 17 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 34

Ao invés de viajar até Nashville para gravar seus novos álbuns em estúdios de última geração, Elvis decidiu que não viajaria mais, pois estava mesmo farto de tudo. Ao invés de se deslocar até o estúdio B, a RCA deveria os equipamentos de sua estrutura móvel para Graceland para registrar canções em um ambiente de amadorismo impensado para um artista de seu porte. Se Maomé não vai até a montanha, então que a montanha venha até Maomé! Meses depois da morte de Elvis, Felton Jarvis confidenciou a amigos do ramo que tinha muitos projetos para o cantor, entre eles o velho sonho de gravar um LP apenas com canções ao estilo de Mario Lanza (um dos grandes ídolos de Elvis) ou então gravar um novo disco apenas de Rocks clássicos dos anos 50, como bem fez John Lennon em 1975 com seu disco "Rock'n'Roll". Infelizmente nada disso foi adiante. Elvis parecia bem mais preocupado em colecionar armas, distintivos, pílulas e garotas (não necessariamente nessa ordem) do que investir em um projeto sério para levantar sua carreira, que vinha patinando desde 1974. Concentrado em shows que nada tinham de inovador no aspecto artístico, preso a um eterno repertório repetitivo Elvis foi se transformando ao longo dos anos em um artista tipicamente "nostálgico", "Revival", sem conseguir abrir uma linha de diálogo com os jovens dos anos 70. Em vista disso seu papel de grande pioneiro da revolução musical ocorrida nos anos 50 foi ficando cada vez mais ofuscado.

Artistas coadjuvantes, como Chuck Berry e Little Richard, que nos anos 1950 sequer poderiam ser comparados a Elvis em termos de importância, foram crescendo em prestígio e fama, enquanto que Presley nitidamente descia a ladeira em seus momentos finais, seguindo um caminho bem oposto aos dos demais pioneiros da primeira geração roqueira. Também pudera, como convencer um jovem dos anos 70 que Elvis era um dos pais do Rock'n'Roll com canções como "Solitaire", "The Last Farewell" e "Hurt"? Nada mais anacrônico, certamente. Eram músicas bonitas, mas não tinham nada a ver com o bravo Rock´n´Roll. "Minha intenção era dar uma sacudidela em Elvis no final de sua carreira. Voltar aos mesmos pontos revolucionários de 1956 ou 1969 mas não houve como fazer isso, sinceramente" - afirmou depois Felton Jarvis. Certamente não havia mais como fazer isso em 1976 ou 1977, por exemplo. Elvis não tinha mais nenhuma intenção em mudar nada, enquanto houvesse público em seus shows e seus discos pagassem o custo de suas produções e deixasse uma pequena margem de lucro à RCA, para Elvis tudo estaria bem. Comodismo? Certamente, porém seria mais correto afirmar que Elvis abraçava cada vez mais um sentimento de resignação em seus últimos momentos. Se Elvis não estava nem aí para nada, isso não poderia ser dito em relação aos demais membros das organizações Presley. O Coronel estava preocupado pois sua fonte estava secando lentamente aos olhos de todos. Já que não fazia mais filmes e como seus discos já não atingiam as primeiras posições nas principais paradas a renda de Elvis agora se resumia em suas apresentações ao vivo. Para Parker isso era preocupante. Em reunião com executivos da RCA, Parker tentou convencê-los de que Elvis iria efetuar mudanças significativas em suas futuras gravações.

Com sua conhecida lábia levou todos na conversa e convenceu os chefões da multinacional que Elvis iria novamente se tornar um grande vendedor de discos, que ele tinha grandes planos envolvendo mudança de estilo e repertório. Essa última parte de suas promessas era certamente a mais complicada de se cumprir. Era óbvio que os discos de Elvis não empolgavam mais nem a crítica e nem muito menos ao público. Alguns de seus álbuns tiveram vendas bem desanimadoras nos últimos anos. Para contrabalancear o pessimismo dos contadores da gravadora e seus números desabonadores, o Coronel tentou demonstrar muito otimismo em relação ao futuro. Tudo não passaria de uma fase passageira. A época de vacas magras iria passar, segundo o Coronel. Mas apesar dessa postura demonstrada aos executivos Parker estava realmente bastante preocupado em seu íntimo. Ele foi notando que a maré estava virando contra Elvis (e contra ele, por tabela!). De uma hora para outra todas as empresas que compraram o passe de Elvis agora tinham queixas e reclamações a fazer. Eles tinham pago caro pelo produto Elvis e agora queriam o retorno concretizado em muitos lucros, coisa que não vinha ocorrendo. Depois de se reunir com a descontente RCA, Parker teve que enfrentar a cadeia Hilton, que tinha uma longa série de reclamações contra Elvis Presley. O próprio dono do Hotel Hilton agora demonstrava desinteresse e muita má vontade em renovar o contrato de Elvis. Suas atitudes fora do comum, chegando ao ponto de proferir ofensas em pleno palco à própria administração da cadeia de Hotéis, havia pegado muito mal. Além disso havia muitas críticas sobre Elvis e seu pouco empenho durante os concertos.

Certamente, nos últimos anos as críticas ruins estavam em todas as partes. Para alguns Elvis não se comportava com profissionalismo, se apresentando apenas para a banda, ignorando o público, fazendo monólogos sem fim e sem sentido e contando piadas sem graça em demasia, isso quando conseguia acabar as canções pois o esquecimento das letras havia se tornado um problema bem mais sério. Enfim, o contexto não era nada positivo para Elvis naquele momento em sua carreira. Para completar o que por si só já era muito ruim havia ainda uma série de boatos sobre atitudes nem um pouco convencionais em sua vida pessoal. Tudo isso levou Elvis a um impasse sobre sua situação no Hilton. Muito provavelmente se não tivesse morrido em 1977 Elvis teria recebido cartão vermelho de seus patrões de Las Vegas e sido demitido. Numa de suas últimas temporadas na cidade o Las Vegas Hilton fez o Coronel Parker assinar um termo de responsabilidade sobre as coisas ditas por Elvis no palco. Isso ficou bem claro após uma apresentação onde Elvis ameaçou arrancar a língua de um funcionário do hotel pela raiz após ele supostamente ter espalhado fofocas sobre o uso de drogas por parte do cantor. Era uma ameaça pública e o Hilton não iria assumir processos criminais em nome de Elvis. Esse fato inclusive foi bem desgastante para Presley e sua equipe. Tudo aconteceu porque esse funcionário do hotel entrou em sua suíte para recolher a sujeira do local. Uma vez chegando lá se deparou com Elvis no sofá da sala principal de seus aposentos. Presley parecia fora de si, estava mal e inconsciente. Como o sujeito era um linguarudo ele logo começou a espalhar para outros funcionários os boatos de que havia flagrado Elvis chapadão, cheio de cocaína na cabeça, completamente viajado em seu quarto. Chegou a ponto de dizer que suas narinas estavam cheias de pó branco! Quando Elvis soube da fofoca (afinal elas sempre vão e voltam às suas origens) ele explodiu de raiva! Elvis ficou tão nervoso que chegou a pegar suas pistolas para ir atrás do rapaz - e só foi convencido a desistir disso após muita conversa com os caras da máfia de Memphis. Quando subiu ao palco naquela noite ele estava enfurecido e começou a soltar palavrões e ameaças contra o tal sujeito fofoqueiro. Um fato lamentável que só trouxe ainda mais publicidade para os rumores. Sem querer Elvis acabou alimentando ainda mais as fofocas, infelizmente.

Pablo Aluísio. 

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