Las Vegas. Anos 1970. Suíte privativa do cantor Elvis Presley no Hilton. 15:45 hs da tarde. Temperatura interna do ambiente: 9º C (ar condicionado funcionando à toda). Escuridão completa, nenhuma luz. Silenciosamente a porta do frio e escuro quarto é aberta lentamente, com o máximo de cuidado para não provocar nenhum ruído mais forte. Após essa excessiva cautela, para não interromper de forma abrupta o sono do Rei do Rock, duas pessoas adentram o ambiente. O primeiro é um dos muitos assistentes pessoais de Elvis, Red West, que imediatamente se dirige à janela e abre uma pequena aresta para deixar entrar um mínimo de raio de sol natural no ambiente altamente artificial em que Elvis passa seus dias. O cantor abre lentamente um dos olhos e nota a presença de seus valetes reais. Ele está péssimo, olhos vermelhos, cabelo despenteado, totalmente desnorteado, sem a menor disposição de se levantar de seu leito e encarar mais uma noite de trabalho. O astro levará pelo menos de 30 a 45 minutos para conseguir acordar totalmente. Um procedimento longo, penoso e nada agradável para ele. A segunda pessoa a entrar no quarto, seu médico particular, senta-se ao lado da cama de Elvis e logo abre sua pequena maleta, dando início ao longo processo de verdadeiro renascimento do artista. Elvis não consegue mais viver sem o total acompanhamento e assistência de seus homens.
O simples ato de ir dormir ou acordar acaba virando uma operação de guerra, um verdadeiro esforço coletivo envolvendo várias pessoas de sua entourage privada, cada uma com uma função determinada e precisa. Elvis havia ido dormir na noite anterior às quatro horas da manhã. Assim como seu despertar, o simples ato de ir dormir denotava uma verdadeira organização de assistentes e médicos cujo único objetivo era proporcionar uma noite tranqüila de sono ao cantor. E tudo se repetia depois para acordá-lo na tarde do dia seguinte e retirá-lo do coquetel químico a que havia sido exposto na noite anterior. O processo de fazer Elvis dormir e se levantar se constituía de três etapas básicas, que ele próprio acabou apelidando de “ataques”. Era uma ironia, mas tinha sua dose de verdade, pois era nisso mesmo que se constituía, um verdadeiro “ataque” ao seu deteriorado organismo, pois ele era literalmente “nocauteado” para finalmente conseguir pregar os olhos e chegar ao próximo dia descansado e com uma boa noite de sono. Os ataques eram feitos por cinco a oito de seus assistentes e um médico. Uma verdadeira equipe que ficava de plantão ao lado de seu quarto, para em horas pré-determinadas entrar em ação.
Antes do primeiro ataque, Elvis vestia seu pijama preferido, de náilon azul com suas iniciais escritas na parte da frente, logo acima de seu bolso frontal. Então ele se virava para seu assistente e dizia: “Me dá o primeiro ataque!”. Sentado na beira da cama, seu assistente lhe entregava um envelope amarelo com onze, isso mesmo, onze pílulas e um copo de água que Elvis logo colocava ao seu lado, acima do criado mudo. Elvis então enchia a mão com todas essas pílulas coloridas e tentava engolir todas de uma só vez, coisa que lhe divertia bastante, e que achava o maior barato. Então seu assistente pessoal lhe dava a água e assim Elvis finalmente se deitava. Nesse momento a função desse primeiro cara da Máfia de Memphis (geralmente Red ou Sonny West) estava concluída e ele se retirava do quarto. Agora era a vez de seu médico particular entrar em serviço para lhe aplicar três injeções de Demerol, em ambos os lados de sua espinha, logo abaixo das omoplatas. Lentamente as injeções eram aplicadas, com Elvis deitado de costas em sua cama e com o pijama levantado.
Geralmente o Dr Nick fazia esse trabalho, mas também poderia ser qualquer outro médico da longa lista de doutores assalariados de Elvis. O Médico então conferia se as dosagens de pílulas para Elvis estavam corretas e começava a preparar um novo envelope amarelo para o segundo “ataque”. Nesse cardápio químico que Elvis tomava diariamente havia muitos barbitúricos: Amytal, Carbital e Seconal. Todos causadores de forte dependência e cujos efeitos são facilmente tolerados pelo organismo, o que os leva a perderem o efeito, sendo necessário então o aumento de dose para garantir a mesma eficácia. No segundo envelope ainda havia duas drogas extremamente perigosas: Placidyl e Quaalude. Para finalizar o ataque, Valium e Valmid. Em ocasiões mais aflitivas o Dr Nick ainda acrescentava doses extras de Demerol, usada muitas vezes como substituta da morfina e causadora de forte dependência.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley
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