terça-feira, 6 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 11

No dia 2 de fevereiro de 1976 Elvis finalmente desceu as escadas que levavam ao seu quarto, eterno refúgio e abrigo, para gravar o tão esperado álbum novo para a RCA Victor. Ele entrou no estúdio em silêncio e calmamente, olhou de lado e sentou-se no centro do desarrumado “estúdio improvisado”, como sempre fazia desde seus primeiros tempos na Sun Records. Elvis sentia-se melhor com a banda bem próxima, com seus músicos ao redor e seus vocalistas virados contra ele, pois segundo ele próprio, “podia sentir melhor a música”. Na sua frente um pequeno móvel para colocar suas letras, seus óculos e demais acessórios; ao seu lado o violão, disposto e pronto com sua afinação preferida, caso quisesse utilizá-lo. Um copo d’água, algumas toalhas para enxugar o rosto durante as sessões e nada mais. Elvis também pedia para que fosse colocada uma iluminação suave no ambiente. O cantor estava sofrendo de problemas oculares nessa época, pois sua retina já havia sido bastante prejudicada pelas imensas luzes de palco.

De tempos em tempos Elvis tinha que se submeter a algum tratamento nesse sentido. Outra exigência não escrita: Elvis não admitia mais em suas sessões o uso de máquinas fotográficas ou câmeras de filmagens. No estúdio o cantor queria antes de tudo privacidade e tranqüilidade. Ele só admitia abrir alguma exceção se fosse uma situação expressa em seu contrato, se fosse determinante para fazer parte de algum filme como no "Elvis On Tour", por exemplo. Fora isso, nada de registrar seus momentos de trabalho dentro dos estúdios. No máximo ele topava tirar uma foto com todos os músicos que gravaram ao seu lado, como quase sempre fazia em suas primeiras sessões de 1969 e no começo dos anos 70, mas era só isso. Nada de maiores concessões.

Quanto mais relaxado e calmo o ambiente para ele, melhor. Nesse ponto ele poderia ficar tranqüilo, pois além de acolhedora a sala das Selvas era afinal de contas a sua casa. Não haveria lugar no mundo melhor para ele do que em Graceland. Nesse ponto ele estava totalmente à vontade. Isso era tudo o que Elvis necessitava para começar a produzir sua arte, nem mais, nem menos do que isso. A entrada de Elvis no estúdio sempre era um momento de tensão para os demais músicos. Todos tinham que esperar as primeiras reações dele para começar a expressar alguma atitude, para saber como se comportar dali para frente. Elvis poderia aparecer de bom humor e rindo e nesse caso todos deveriam acompanhá-lo em seu ânimo festivo e soltar boas vibrações sobre ele, mas também poderia acontecer de Elvis aparecer com péssimo humor e se essa fosse a situação todo cuidado era pouco, pois qualquer piada fora do lugar poderia despertar a fúria do Rei, que tinha péssimo gênio.

Todos ainda se lembravam de um fato acontecido que demonstrava nitidamente como Elvis poderia ser uma pessoa difícil dentro dos estúdios, quando estava num mal dia: durante uma das sessões em Nashville, anos atrás, um vocalista pegou Elvis em um desses dias infernais. O sujeito não conseguia acertar o tom certo que Elvis queria e começou a rir da situação. Elvis certamente pensou que ele estava de alguma foram rindo dele ou fazendo algum tipo de piada! Depois de repetir a mesma música várias vezes Elvis explodiu e jogou o microfone no chão gritando: "Eu já cantei essa merda de música mil vezes e você ainda não sabe sua parte!?" O pior aconteceu depois quando os caras da máfia de Memphis partiram para cima do pobre músico, que só não foi espancado violentamente por Red e Sonny por causa de Felton Jarvis que tomou à frente deles e ficou entre os truculentos guarda costas e o músico, que à esta altura estava totalmente aterrorizado!

Esse ato de coragem por parte do produtor evitou que uma barbaridade fosse cometida dentro do estúdio de gravação! Depois desse incidente todo cuidado era pouco! Por isso a partir desse dia, ninguém diz nada, nem fala nada antes de Elvis revelar seu humor. Ninguém se atreve a correr o sério risco de cometer um crime de lesa majestade. Mas ao que tudo indica, finalmente depois de tantas confusões, parece que nesse primeiro dia de gravações na sala das selvas o Rei do Rock está sereno. Aos poucos seus músicos chegam para cumprimentá-lo, a começar pelo seu amigo Charlie Hodge, seguido do produtor Felton Jarvis que logo percebe que Elvis está em um bom dia. “Vamos lá pessoal, vamos ensaiar algo e depois registramos, ok?” grita em tom de empolgação o velho maestro.

Pablo Aluísio.

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