sábado, 3 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 6

Elvis estava perdendo o controle. Sua vida fora da estrada se resumia em dormir muitas horas por dia em sua suíte imperial de Graceland, assistir TV e se auto medicar sem controle. Seu único contato com os demais residentes de sua mansão se resumia ao interfone de seus aposentos. Às vezes Elvis passava uma semana inteira sem descer para o andar térreo de sua outrora querida Graceland. Totalmente dopado, Elvis curtia sua eterna e interminável fossa existencial. Nas poucas horas de consciência Elvis mal conseguia manter uma conversação amigável com sua amada Linda, tão confusa ficava sua mente com tamanha quantidade de remédios (drogas) circulando em seu cérebro.

Às vezes, ao despertar, Elvis ficava completamente catatônico, imóvel, com o olhar perdido fixado em algum objeto, mais parecendo um autista, isolado do mundo exterior e absorvido em si mesmo, para em outras ocasiões acordar e ficar falando sem parar, tagarelando feito um louco, sem conseguir conectar direito as idéias em seus confusos pensamentos. Nesses momentos era logo chamado o Dr Nick ou alguém para ministrar algum remédio que o acalmasse ou lhe despertasse. Nesse ritmo Elvis ficava sob efeitos químicos 24 horas por dia. Só despertava mesmo para fazer suas necessidades fisiológicas ou se alimentar. Quando não estava sedado por uma quantidade enorme de barbitúricos ou narcóticos, Elvis ainda demonstrava alguma vontade de se divertir. Mas isso não era muito comum em seus últimos momentos.

Nem sua grande coleção de discos lhe despertava mais atenção. O antigo hábito de ficar ouvindo novos discos de outros artistas ficara para o passado. Elvis estava totalmente desinteressado por tudo, pela vida, pelo que acontecia à sua volta e tudo o mais. Desde que Priscilla o abandonou a depressão só aumentava. Elvis tinha formulado planos de casar com a mulher perfeita e ter uma linda família ao seu lado mas tudo havia sido destruído com a traição da esposa para Mike Stone, o professor que o próprio Elvis havia indicado para dar aulas de artes marciais para ela! O fato de ter sido traído assim, por um sujeito como Mike, devastava interiormente Presley em suas mais íntimas convicções pessoais. Afinal ele não era um homem cobiçado por milhões de mulheres? Como poderia ser trocado e traído assim tão facilmente?

Conforme a depressão aumentava Elvis ia perdendo o gosto pela vida. Seus únicos atos de vontade visíveis na intimidade de seu lar se resumiam àqueles em que esticava o braço para pegar o interfone ao lado de sua cama para pedir mais comida ou então mais remédios e era só. Nem sua magnífica carreira artística conseguia tirá-lo desse estado de torpor constante. Elvis não demonstrava mais ter interesse em gravar nada, em conhecer novas sonoridades, em se inteirar do mundo musical fervescente ao seu redor, nada mais lhe despertava atenção. A música para ele tinha virado apenas um trabalho, uma forma de ganhar a vida. Ele também não tinha mais muito interesse nela, para tragédia de seus milhões de fãs ao redor do mundo. Nem mesmo os mais simples atos de higiene pessoal conseguiam mais despertar Elvis de seu estado lamentável. Se não fosse pela supervisão constante de Linda Tompson, provavelmente Elvis ficaria todo esse tempo de retiro sem nem ao menos tomar banho ou escovar os dentes. O quadro depressivo de Elvis Presley era grave.

Seu estado era tão grave nesse período que Linda chegou ao cúmulo de comparar Elvis a uma criança pequena, tamanha era sua dependência das demais pessoas. Mas apesar de Elvis não demonstrar mais interesse pelo mundo à sua volta, o contrário não ocorria. Seus shows ainda eram feitos em locais com lotação esgotada e seus discos ainda conseguiam atingir bons índices de vendas, mesmo sendo ele agora considerado apenas um dos pioneiros do surgimento do Rock e não mais um artista renovador. Elvis era agora um Long Seller na opinião dos críticos, um artista que não precisava mais freqüentar as paradas de sucesso popular pois já tinha seu público formado, seu talento consolidado e uma base de admiradores que nunca iriam perder a chance de assistir seus espetáculos, sejam eles realizados da forma que fossem.

Elvis poderia estar bem doente, ofegante, confuso e desnorteado, errando as letras que deveria ter decorado há séculos, que nada disso importava. Ele era Elvis Presley e isso era o que importava. Quem iria perder a oportunidade de assistir ao vivo um ícone cultural como ele, mesmo que em situações adversas? Aliás esse era também outro atrativo para as pessoas: como será que Elvis iria aparecer no palco dessa vez? Vai fazer um grande show ou dar um vexame daqueles? Abençoado incrivelmente pela fama sem limites, Elvis ficou mais famoso ainda com sua decadência pessoal. Todos queriam saber a última fofoca: É verdade que ele dá tiros na TV? Que conseguiu comer quinze hambúrgueres de uma só vez em Dallas? Qual é a doença misteriosa dele? É verdade que é viciado em cocaína? Elvis era agora considerado mais uma celebridade de tablóide do que um artista que mudou o mundo através de sua música nos anos 50.

Pablo Aluísio.

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