domingo, 1 de janeiro de 2017

Passageiros

Sinceramente falando não me lembro de ter assistido nada parecido a isso. O filme se passa em uma grande espaçonave que cruza o universo em direção a um planeta chamado Homestead II. É para lá que vão mais de cinco mil passageiros (fora a tripulação) em busca de um novo lar. Como as distâncias são enormes, com a viagem prevista para 120 anos terrestres, todos são colocados em câmaras de hibernação. Apenas quatro meses antes de chegar na nova colônia é que todos seriam despertados. O problema é que a nave passa por uma chuva de asteroides e começa a apresentar defeitos técnicos. Um dos passageiros, o mecânico Jim Preston (Chris Pratt), é despertado antes da hora. Sua câmara é aberta por causa de um defeito e ele se vê na terrível situação de ter sido retirado da hibernação fora da hora, mais exatamente 90 anos antes da espaçonave chegar em seu destino! E não há possibilidade dele retornar para a câmara que foi feita para ser aberta uma única vez. Imaginem o desespero. Antes mesmo de chegar no novo planeta ele obviamente já estará morto!

E Jim fica nessa situação desesperadora por um longo ano de viagem - vivendo praticamente sozinho na grande nave, sem ter nenhum ser humano para conversar ou conviver. Apenas o robô barman Arthur (Michael Sheen) traz uma falsa impressão que ele realmente não está sozinho nessa longa viagem que para ele não terá fim e nem um destino. Então Jim toma uma decisão moralmente condenável, mas compreensível, ao despertar uma jovem escritora de sua hibernação. Obviamente ele jamais poderia fazer isso, mas acaba tomando a decisão, trazendo Aurora Lane (Jennifer Lawrence) para seu convívio. Muito bem, se eu fosse definir esse filme de maneira bem simples diria que se trata mesmo de um "Romance Espacial". Achou estranho? Pois é, o roteiro soa assim realmente. Claro que um casal sozinho em uma nave enorme iria se relacionar mais cedo ou mais tarde e assim começa a parte romântica do filme que não é de todo mal, pelo contrário, acaba se revelando a melhor coisa dessa ficção. Eles sabem que estão condenados a viver até o fim de seus dias dentro dos corredores daquele nave espacial e acabam se apaixonando. Acabei gostando do filme, confesso. A fita tem colecionado críticas negativas, mas como passo longe de ser um desses críticos ranzinzas, terminei curtindo a proposta do roteiro. Claro que contou pontos a favor disso o fato de ter um lado romântico à prova de tudo. O namoro dos personagens acabou fazendo com que eu ficasse cativado pelo filme. Até Oscar Wilde gostaria, tenho certeza. O romantismo é meio bobo mesmo, mas não existe nada melhor, pode ter certeza. Deixe o emocional falar mais alto e se divirta!

Passageiros (Passengers, Estados Unidos, 2016) Direção: Morten Tyldum / Roteiro: Jon Spaihts / Elenco: Jennifer Lawrence, Chris Pratt, Michael Sheen, Andy Garcia / Sinopse: Dois passageiros de uma viagem espacial acabam sendo despertados antes da hora de suas câmaras de hibernação, o que acaba selando seus destinos para sempre.

Pablo Aluísio. 


sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Rogue One: Uma História Star Wars

Gostei bastante desse novo filme "Star Wars" e por vários motivos. Antes de qualquer coisa é importante parabenizar os roteiristas dos estúdios Disney por esse roteiro. Eles pegaram uma linha de citação do primeiro filme "Guerra Nas Estrelas" (1977) e criaram todo um enredo em cima disso. O roteiro é não apenas muito imaginativo (e original) como também coeso e bem estruturado. Basta lembrar o clímax do primeiro filme da saga, com a destruição da Estrela da Morte pelos rebeldes, para bem entender o que se conta em "Rogue One". Como a Aliança Rebelde descobriu a grande falha estrutural da incrível máquina de guerra do Império? Bom, você saberá tudo aqui. O enredo gira em torno de dois personagens básicos, pai e filha. O pai é Galen Erso (interpretado pelo sempre ótimo Mads Mikkelsen). Ele trabalha para o Império como engenheiro. Sua função é colaborar para a criação de armas cada vez mais poderosas e mortíferas. Quando o conceito da Estrela da Morte surge, ele entra em crise de consciência. Afinal uma arma tão poderosa a ponto de destruir planetas poderia causar uma devastação no universo sem precedentes. Ele tenta fugir de seu destino, indo morar em um planeta isolado, vivendo em paz como fazendeiro, mas isso se torna impossível. O Império vai atrás dele.

Sua filha é Jyn Erso (interpretada pela atriz Felicity Jones, de "Inferno", "A Teoria de Tudo" e "O Espetacular Homem-Aranha 2"). Separada do pai na infância, ela acaba sendo criada por um rebelde radical, Saw Gerrera (Forest Whitaker, uma das melhores coisas do filme). Quando seu pai envia um piloto do Império para entregar valiosas informações para os rebeldes, Jyn se torna peça chave em um momento crucial na luta entre a Aliança Rebelde e as forças do Imperador. E assim se desenvolve "Rogue One", com uma boa trama, nada infantil (ainda bem que não existem palhaçadas pelo meio do caminho do tipo Jar Jar Binks). Tudo é levado em ritmo de ação e aventura, porém sustentada por uma boa estória. Alguns personagens clássicos da saga original surgem no filme, o que é natural, já que o enredo de "Rogue One" se passa pouco antes do primeiro filme da série. Entre eles o mais celebrado pelos fãs é justamente Darth Vader. Sua participação é pequena, isso é verdade, mas ele tem boas cenas no roteiro. Além disso os roteiristas capricharam em sua primeira aparição em cena, criando todo um clima, que se revelou mais do que acertado. Um fato curioso aconteceu com outro personagem clássico, Grand Moff Tarkin. No filme de 1977 ele foi interpretado pelo ator Peter Cushing. Ele seria um dos personagens centrais de "Rogue One", mas como colocar esse comandante do império de volta às telas, no novo filme, se o Peter Cushing havia falecido em 1994? A solução foi criar o personagem de forma totalmente digital. A tecnologia trouxe a solução. O resultado impressiona. Então é isso, entre erros e acertos dentro dos filmes com a marca "Star Wars" esse aqui é certamente um dos acertos. Que a Disney traga mais filmes todos os anos, os fãs agradecem.

Rogue One: Uma História Star Wars (Rogue One, Estados Unidos, 2016) Direção: Gareth Edwards / Roteiro: Chris Weitz, Tony Gilroy / Elenco: Felicity Jones, Mads Mikkelsen, Forest Whitaker, Diego Luna, James Earl Jones, Peter Cushing, Carrie Fisher / Sinopse: O pai de Jyn Erso (Felicity Jones), um engenheiro do Império, resolve vazar informações para a Aliança Rebelde através de um piloto desertor. Assim Jyn se torna peça central para se chegar nessas valiosas informações sobre uma incrível máquina de destruição imperial chamada de Estrela da Morte.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Tobruk

Título no Brasil: Tobruk
Título Original: Tobruk
Ano de Produção: 1967
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Arthur Hiller
Roteiro: Leo Gordon
Elenco: Rock Hudson, George Peppard, Nigel Green, Guy Stockwell, Jack Watson, Norman Rossington
  
Sinopse:
O enredo do filme se passa durante a Segunda Guerra Mundial. Após ser libertado das mãos dos inimigos, o major canadense Donald Craig (Rock Hudson) é levado para o norte da África. Ele deverá participar de uma missão extremamente arriscada. Ao lado de um grupo de judeus alemães disfarçados de soldados nazistas ele é enviado para um comboio que deverá entrar em território ocupado pelas tropas de Hitler com o objetivo de destruir um grande depósito de combustíveis em Tobruk usado pelos tanques do III Reich. A intenção é destruir o poder de combate dessas armas do exército alemão enquanto os aliados se preparam para invadir a região. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhores Efeitos Especiais (Howard A. Anderson e Albert Whitlock).

Comentários:
Durante a II Guerra Mundial um dos cenários mais disputados entre nazistas e aliados foi a região de Tobruk, localizada no norte da África, considerada naquela ocasião como um importante ponto estratégico. Foi justamente nesse campo que se destacou a presença do Afrika Korps, um grupo especializado do exército alemão treinado para a luta no deserto. O general Erwin Rommel foi uma das figuras centrais desse campo de batalha. O roteiro desse filme assim mistura fatos de ficção com história real e se sai muito bem em seu resultado final. Os personagens do filme são pura ficção enquanto o cenário mostrado em cena realmente existiu, inclusive os imensos campos de depósito de combustível para os tanques da Alemanha Nazista localizados no porto de Trobuk. O curioso é que o grupo do qual faz parte o personagem do ator Rock Hudson se utiliza de uma artimanha que na época era considerado um grave crime de guerra, punido com execução sumária, ou seja, se disfarçar com roupas e uniformes do inimigo para entrar em seus territórios com o objetivo de se promover atos de sabotagem. Assim o que vemos basicamente é esse grupo de militares ingleses (e de judeus alemães disfarçados de nazistas) entrando dentro das linhas inimigas para mandar tudo pelos ares. 

As cenas finais em que isso acontece inclusive trouxeram a única indicação do filme ao Oscar, já que são extremamente bem realizadas, com intenso uso de efeitos especiais de pirotecnia e explosões. O personagem de Rock Hudson surge menos heroico do que o habitual. Em determinados momentos ele chega inclusive a ser bem cético e mordaz sobre o êxito da missão. Sua presença porém é vital para o sucesso do grupo pois é um dos únicos que conhece bem a região para onde todos vão. De qualquer forma há duas boas cenas com ele, a primeira quando precisa desarmar minas colocadas pelo Afrika Korps nas areias do deserto e a segunda quando, com um lança-chamas em mãos, ataca um bunker de canhões do III Reich na costa de Tobruk. Seu superior na missão é um Coronel inglês propositalmente muito parecido com o general Bernard Montgomery (comandante das forças armadas britânicas durante a II Guerra). Obviamente o roteiro quis fazer uma associação entre o personagem de ficção e o famoso militar da história. Assim o que temos aqui é mais um bom filme de guerra da década de 1960. O enfoque é mais centrado na ação e na tensão do êxito da arriscada missão do que em questões mais dramáticas ou históricas. Sob esse ponto de vista o filme se sai muito bem em seus objetivos. Enfim, é certamente um bom item para se ter em sua coleção de filmes clássicos de guerra.

Pablo Aluísio.

A Fantástica Fábrica de Chocolate

Título no Brasil: A Fantástica Fábrica de Chocolate
Título Original: Willy Wonka & the Chocolate Factory
Ano de Produção: 1971
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Mel Stuart
Roteiro: Roald Dahl
Elenco: Gene Wilder, Jack Albertson, Peter Ostrum, Roy Kinnear, Julie Dawn Cole, Denise Nickerson
  
Sinopse:
O misterioso e recluso Willy Wonka (Wilder), o dono da maior fábrica de chocolate do país, resolve fazer uma promoção especial. Ele coloca vários convites em suas barras de chocolate. Aqueles que os encontrarem farão uma visita em sua fábrica, um lugar mágico, com rios de chocolate e florestas de doces. É o sonho de cada criança. Assim que chegam no mercado os chocolates são disputados por todas as crianças do país. O pobre garoto Charlie (Peter Ostrum) só tem dinheiro para comprar uma única barra... Seu sonho é visitar a fábrica de Wonka ao lado de seu avô. Para sua surpresa ela acaba descobrindo a força dos sonhos de cada um. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Trilha Sonora adaptada e música. Também indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Ator - Comédia ou Musical (Gene Wilder). 

Comentários:
Esqueça a esquizofrênica e chata versão de Tim Burton. Em termos de "A Fantástica Fábrica de Chocolate" o melhor filme é justamente esse, o clássico da década de 1970. É a tal coisa, se você foi jovem ou adolescente nos anos 70 ou 80 certamente assistiu a alguma das inúmeras reprises desse filme na Sessão da Tarde. O filme foi um dos campeões de exibição naquela época. Isso acabou criando uma geração de fãs da fábula de Willy Wonka e do pobre garoto Charlie. Para realizar a produção o estúdio Warner recriou a fábrica, com bem elaborados cenários. O roteiro mostrava um bando de garotos que eram recebidos por Wonka em sua fábrica para o que supostamente seria um passeio pelas instalações. No fundo o industrial estava mesmo procurando por um sucessor pois já estava ficando velho e não tinha a quem deixar toda aquela sua fortuna. O interessante da estória criada por Roald Dahl em seu livro infantil (o autor iria também escrever o roteiro do filme) era que ele trazia uma sutil crítica à revolução industrial, mostrando de um lado o rico Wonka e do outro a miséria absoluta da família de Charlie, com todos vivendo em um pequeno quartinho escuro e úmido na periferia da cidade. No mais o filme se destacava mesmo pelas cores, pela imaginação sem freios e é claro pela direção de arte (que injustamente não foi indicada ao Oscar). Ao invés disso o lado musical do filme foi lembrado pela academia, inclusive com as boas interpretações de Wilder, cantando belas canções como "Pure Imagination". Com experiência nos palcos da Broadway em Nova Iorque ele não fez feio soltando sua voz. Enfim, "Willy Wonka & the Chocolate Factory" é sem dúvida uma das fábulas cinematográficas mais ternas, belas e nostálgicas do cinema americano dos anos 70. No meio de um realismo que invadia todos os filmes da época, esse aqui resolveu apostar na fantasia e na imaginação, colhendo ótimos frutos com essa opção.

Pablo Aluísio.

domingo, 25 de dezembro de 2016

O Tigre dos Mares

Título no Brasil: O Tigre dos Mares
Título Original: Submarine Command
Ano de Produção: 1951
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: John Farrow
Roteiro: Jonathan Latimer
Elenco: William Holden, Nancy Olson, William Bendix, Arthur Franz, Peggy Webber, Jack Gregson
  
Sinopse:
II Guerra Mundial. O Tenente Comandante Ken White (William Holden) é enviado para servir no USS Tiger Shark, um submarino da frota americana no Pacífico. Durante uma manobra ele comete um pequeno erro tático que acaba custando a vida do Capitão da embarcação. Isso cria um estigma ruim em sua carreira e ele é designado para um serviço burocrático após o fim da guerra. Sempre marcado pelo que aconteceu White chega a cogitar até mesmo a baixa na Marinha, até que a Guerra da Coreia explode e ele é novamente nomeado comandante do mesmo submarino, tendo finalmente a chance de se redimir de seus erros no passado.

Comentários:
Mais um filme de guerra sobre submarinos. A primeira coisa que chama a atenção é que o roteiro procura ser o mais fiel possível ao cotidiano de uma embarcação como essa. Filmado dentro de um submarino real temos uma ideia de como tudo era realmente apertado, com espaço mínimo, tendo a tripulação que se esgueirar para se locomover entre os ambientes. O enredo é de certa forma bem básico. O protagonista, interpretado por William Holden, precisa lidar com uma infame marca de ter errado durante uma batalha naval, o que acabou levando seu próprio capitão à morte. Assim tudo se desenvolve durante sua tentativa de redenção perante seus companheiros de farda. A duração é limitada (o filme não tem sequer 90 minutos de duração), o que traz uma certa agilidade ao desenrolar da trama. Em termos técnicos o filme é bem realizado, mas apresenta um grave problema durante os vinte minutos finais. Na costa da Coreia o submarino é enviado para uma missão especial, onde seus homens precisam destruir duas estações de comunicações do inimigo. A ação se passa durante a noite e a fotografia fica tão excessivamente escura que o espectador acaba ficando sem ver praticamente nada do que acontece na tela. A fotografia em preto e branco sempre mantém um charme a mais, porém aqui erraram a mão completamente, deixando todo mundo literalmente às escuras. Mesmo com esse defeito ainda há muito o que gostar nesse filme. "O Tigre dos Mares" pode até passar longe de ser um dos melhores filmes sobre submarinos durante a II Guerra Mundial, mas com certeza é um dos mais interessantes pelo realismo que procura sempre mostrar.

Pablo Aluísio.

O Mocinho Encrenqueiro

Título no Brasil: O Mocinho Encrenqueiro
Título Original: The Errand Boy
Ano de Produção: 1961
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Jerry Lewis
Roteiro: Jerry Lewis, Bill Richmond
Elenco: Jerry Lewis, Brian Donlevy, Howard McNear, Kathleen Freeman, Renée Taylor, Fritz Feld
  
Sinopse:
O estúdio Paramutual Pictures a cada dia perde mais dinheiro. Para o presidente da companhia o problema é que os gastos estão fora de controle. Apenas uma pessoa comum, que trabalhe em todas os setores do estúdio, conseguirá descobrir onde está exatamente o problema. Assim eles escolhem o office boy Morty S. Tashman (Lewis) para espionar os empregados, embora nem ele saiba o que está fazendo. Começa assim uma série de situações engraçadas envolvendo Morty em todos os lugares do estúdio.

Comentários:
Aqui Jerry Lewis usa um estúdio de cinema (a própria Paramount Pictures onde o filme foi produzido) como cenário para explorar uma série de gags visuais cômicas. O resultado é divertido, embora a produção apresente alguns problemas. O primeiro deles, e o mais sentido, é a falta de Dean Martin no elenco. Por essa época a bem sucedida parceria entre eles já havia sido rompida. Atuando solo, as situações já não são tão engraçadas como no passado. Além disso o sempre presente risco da saturação surge em determinados momentos - afinal de contas na maioria das cenas temos apenas Jerry Lewis e suas palhaçadas em cena. Provavelmente por essa razão também Lewis (que também assina a produção e o roteiro) tenha optado por realizar um filme rápido, ágil, com pouco mais de 80 minutos. Há realmente momentos bem bolados, como a cena em que Lewis fica preso em um elevador com uma multidão ou então quando, usando a trilha sonora musical, faz um "discurso" inflamado contra seus subordinados inexistentes, tal como se fosse o todo poderoso dono do estúdio. No geral a impressão que o filme me passa é que tudo se trata de uma grande homenagem, bem sincera aliás, de Jerry Lewis ao mundo do cinema. Explorando os bastidores, ridicularizando alguns de seus dogmas, ele conseguiu realmente realizar um filme bem divertido, excelente entretenimento, mas longe de ser uma obra memorável de sua filmografia.

Pablo Aluísio.

sábado, 24 de dezembro de 2016

Mister Roberts

Título no Brasil: Mister Roberts
Título Original: Mister Roberts
Ano de Produção: 1955
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: John Ford, Mervyn LeRoy
Roteiro: Frank S. Nugent, Joshua Logan
Elenco: Henry Fonda, Jack Lemmon, James Cagney, William Powell, Nick Adams, Betsy Palmer
  
Sinopse:
Segunda Guerra Mundial. Pacífico Sul. O Tenente 'Doug' Roberts (Fonda) serve em um velho cargueiro da Marinha americana. Ele a cada dia se sente mais frustrado pois sua embarcação não está relacionada diretamente a entrar em combate, se limitando a suprir as mercadorias das tropas aliadas naquela região. Com apenas 62 homens a bordo eles precisam aguentar as manias e ataques de maluquice de seu comandante, o capitão Morton (Cagney) que não parece disposto a facilitar a vida de ninguém. O que mais deseja Doug é ir embora do navio, para ser transferido para um destróier da armada, mas isso, como ele logo descobrirá, não será nada fácil. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme e Melhor Som. Vencedor do Oscar na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Jack Lemmon).

Comentários:
Baseado numa peça de grande sucesso da Broadway, "Mister Roberts" é uma simpática comédia ambientada na Segunda Guerra dirigida pelo mestre John Ford. É interessante que Ford pouco se aventurou nesse estilo, mas o apelo de levar a famosa e bem sucedida peça teatral falou mais alto e ele aceitou o convite da Warner para dirigir o filme. Inicialmente a produção seria estrelada por Marlon Brando (como Mister Roberts) e Spencer Tracy (como o médico a bordo, Doc), mas por motivos variados eles não foram contratados. O destino tem suas próprias razões e isso foi muito bom, uma vez que a dupla Fonda / Powell funcionou muito bem. Henry Fonda inclusive havia estrelado a peça da Broadway e seria naturalmente, mais do que qualquer outro ator, o nome ideal para a adaptação cinematográfica. Já Lemmon acabou levando o único Oscar do filme, numa interpretação muito divertida do desastrado segundo tenente Frank Thurlowe Pulver, oficial da lavanderia de roupas e da moral da tripulação (imaginem que mistura esquisita!). O roteiro foi escrito por dois diretores, Frank S. Nugent e Joshua Logan, e tem realmente um timing excelente. 

O tenente Roberts (Fonda) passa o tempo todo em uma guerra surda e não declarada para com o esquisito e carreirista capitão do barco, Morton (Cagney) que é um sujeitinho cheios de manias, como a de cultivar uma palmeira no convés do navio, sem que ninguém pudesse nem ao menos tocá-la. Como o filme é baseado numa peça teatral alguns aspectos de palco acabaram passando para a tela, como por exemplo, o desenrolar de toda a estória acontecendo em praticamente apenas um ambiente (o próprio cargueiro decadente chamado de "banheira" por todos os tripulantes). É lá que tudo se desenvolve. Curiosamente Fonda interpreta o bom oficial, amigo de todos, um colega de farda que é acima de tudo um apoio contra os desmandos do capitão, de quem ninguém gosta de verdade. O final, quando o tenente Roberts finalmente consegue sua tão sonhada transferência da embarcação para um navio poderoso da esquadra e o seu destino que o aguarda, é um dos mais tocantes que já vi. Uma lição irônica e ao mesmo tempo realista da vida e da luta que aguardavam todos aqueles militares no maior e mais sangrento conflito armado de todos os tempos.

Pablo Aluísio.

O Exorcista

Título no Brasil: O Exorcista
Título Original: The Exorcist
Ano de Produção: 1973
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: William Friedkin
Roteiro: William Peter Blatty
Elenco: Linda Blair, Jason Miller, Max von Sydow, Ellen Burstyn
  
Sinopse:
Regan (Linda Blair) é uma garota normal, como qualquer outra de sua idade, até que poderosas manifestações começam a agir sobre seu corpo e sua alma. Desesperada, a mãe procura ajuda em médicos e psicólogos, mas nada parece surtir algum efeito. A única saída então é buscar por ajuda de uma dupla de padres católicos exorcistas que estão prontos para ajudar, usando para isso rituais milenares de exorcismo. A luta entre o bem o mal está apenas começando. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Som.

Comentários:
"O Exorcista" é mais do que um mero filme de terror. É um marco do cinema cuja influência e relevância continua tão forte nos dias de hoje como há mais de quarenta anos quando foi lançado pela primeira vez nas telas. Em termos de perenidade poucos filmes conseguiram ter uma longevidade tão duradoura e presente. De fato, sem receios, pode-se até mesmo dizer que é um dos cinco filmes de terror mais importantes da história e o único até hoje que conseguiu ser indicado ao Oscar de Melhor Filme na Academia. Some-se a isso o fato de ser baseado em um caso real que foi romantizado pelo excelente escritor William Friedkin (que gentilmente aceitou o convite do estúdio para escrever o roteiro) e você terá um clássico realmente imortal. A maquiagem e a direção de fotografia conseguem ser ao mesmo tempo profundamente aterrorizadoras e minimalistas. O roteiro não tem como ponto focal a possessão de uma garotinha como parece tudo à primeira vista, mas sim a crise de fé pela qual passa um padre católico, que começa a internamente a ter profundas dúvidas até mesmo sobre a existência de Deus, resultando em uma crise existencial terrível. Uma obra prima imortal que jamais parece envelhecer. Infelizmente Hollywood sucumbiu à tentação da ganância e promoveu várias sequências - algumas medianas e outras péssimas. Não importa, esse filme original é de fato um dos filmes de terror mais perturbadores de todos os tempos. Uma obra visceral que você jamais conseguirá esquecer após assistir.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

A Espada e a Cruz

Título no Brasil: A Espada e a Cruz
Título Original: La Spada e La Croce
Ano de Produção: 1958
País: Itália
Estúdio: Valiant Films
Direção: Carlo Ludovico Bragaglia
Roteiro: Ottavio Poggi, Sandro Continenza
Elenco: Yvonne De Carlo, Jorge Mistral, Rossana Podestà, Terence Hill, Philippe Hersent
  
Sinopse:
Quando o imperador romano Tiberius resolve enviar o centurião Caio Marcellus (Jorge Mistral) para descobrir o que estaria acontecendo na Judeia do Século I sob administração de Pôncio Pilatos (Philippe Hersent) ele descobre que há uma nova fé nascendo naquela região. Os seguidores de um galileu chamado Jesus de Nazaré pregam uma nova filosofia de vida baseada no amor e na misericórdia, trazendo uma mensagem nova e inovadora, desconhecida completamente pelos romanos. Cabe a Marcellus então descobrir se aquele homem incomum e seus seguidores poderiam se tornar de algum modo uma ameaça ao poder da Roma Imperial.

Comentários:
Filme italiano que procura mostrar a história de Jesus sob um outro ponto de vista. Ao invés de contar a história do Messias sob a visão de seus seguidores o roteiro procura mostrar tudo sob o olhar dos romanos da época. O protagonista é um centurião chamado Marcellus. Enquanto está na distante Judeia avaliando o governo de Pilatos naquele lugar conturbado por várias rebeliões, ele vai desvendando também as lendas que vão surgindo em torno de Jesus. Dessa forma Marcellus acaba conhecendo vários personagens bíblicos como Maria Madalena (interpretada pela sensual Yvonne De Carlo), uma cortesã pela qual se apaixona. Há também Barrabás, mostrado aqui como um revolucionário judeu que deseja libertar seu povo do domínio romano. Por fim há Jesus. Curiosamente sua face nunca é mostrada durante o filme inteiro. Ele surge apenas de relance, aparecendo glorioso em alguma passagem famosa do evangelho. Numa delas Jesus desafia a multidão a atirar a primeira pedra em Maria Madalena, que está prestes a ser apedrejada por ser uma mulher impura. "Atire a primeira pedra aquele que nunca pecou!" - diz Jesus. Em outro momento ele ressuscita do mundo dos mortos um homem chamado Lázaro, irmão de Maria Madalena. Terence Hill, o famoso Trinity, interpreta esse personagem, o que não deixa de ser muito divertido. O roteiro assim vai avançando, sempre tangenciando a história do carpinteiro Jesus, sem nunca ir diretamente ao ponto central. A produção é apenas razoável e o elenco, embora não seja formado por grandes atores, acaba dando conta do recado. Obviamente que o texto apresenta vários erros históricos em seu enredo, porém mesmo assim o filme "A Espada e a Cruz" acabou se tornando um grande sucesso em seu lançamento. Há uma inegável pressa em apresentar essa complexa história em um filme muito curto em duração, o que acaba prejudicando o resultado final. De qualquer forma, com um pouco de boa vontade e levando-se em conta a época em que o filme foi feito, ainda há coisas interessantes a se conferir. Como curiosidade histórica aliás essa produção está mais do que valendo.

Pablo Aluísio.

Ninotchka

Título no Brasil: Ninotchka
Título Original: Ninotchka
Ano de Produção: 1939
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Ernst Lubitsch
Roteiro: Charles Brackett, Billy Wilder
Elenco: Greta Garbo, Melvyn Douglas, Ina Claire, Bela Lugosi
  
Sinopse:
Três emissários soviéticos são enviados para Paris com a missão de vender joias de uma antiga e rica família russa dos tempos do Czar. Na cidade capitalista acabam se encantando pela beleza do lugar. Para descobrir que está causando o atraso na venda e colocar os três soviéticos na linha o governo comunista envia a agente Nina Ivanovna Yakushova (Garbo), também conhecida como Ninotchka, para acelerar a missão. O problema é que ela também fica deslumbrada com a liberdade da cidade-luz. Pior, acaba se apaixonando por um conde, Leon d'Algout (Melvyn Douglas), um sedutor irresistível. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz (Greta Garbo) e Melhor Roteiro Original.

Comentários:

Greta Garbo (1905 -1990) segue sendo uma das maiores estrelas da história de Hollywood. Esse foi seu penúltimo filme, pouco antes de abandonar para sempre o cinema, fugindo dos holofotes depois disso, preferindo viver de forma reclusa, longe da imprensa e do público. Curiosamente apesar de ter tido uma carreira com muitos sucessos de bilheteria esse "Ninotchka" acabou se tornando seu filme mais conhecido para as novas gerações. Isso se deve em parte ao fato de que o auge da carreira de Garbo aconteceu durante as décadas de 1920 e 1930, em filmes mudos, muitos deles desaparecidos. Além disso o público atual que tem certa resistência em assistir filmes antigos, em preto e branco, tampouco encararia uma produção muda realizada há quase cem anos. Por essa razão "Ninotchka" acabou virando uma espécie de filme símbolo de sua filmografia, basicamente por ser bem mais acessível do que os anteriores. Até que não é um cartão de visitas ruim ou inoportuno, pois com roteiro do genial Billy Wilder e direção do mestre Ernst Lubitsch, o filme ainda mantém uma certa leveza, por causa de seu fino humor - que não foi bem recebido pelos líderes comunistas da extinta URSS, mostrando que o bom humor nunca foi o forte daquele regime ditatorial. Inclusive no cartaz original os produtores americanos fizeram questão de ressaltar esse lado mais divertido, usando a expressão "Garbo ri!" - já que a atriz sueca nunca havia se notabilizado por esse lado antes. Em suma, um filme de grande importância dentro da história do cinema, mostrando que comédias leves também podem ser um ótimo exemplo de obra prima da sétima arte.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Taxi Driver

Título no Brasil: Taxi Driver
Título Original: Taxi Driver
Ano de Produção: 1976
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Martin Scorsese
Roteiro: Paul Schrader
Elenco: Robert De Niro, Jodie Foster, Cybill Shepherd, Albert Brooks
  
Sinopse:
Travis Bickle (Robert De Niro) é um veterano da guerra do Vietnã que trabalha como motorista de táxi pelas ruas de uma Nova Iorque decadente, suja, imunda e amoral. Ao se deparar com a vida da adolescente Iris (Jodie Foster) que vive como prostituta pelos becos da grande cidade, acaba gradualmente perdendo o senso da realidade. Corroído pelo caos urbano e pela falta de humanidade no meio em que trabalha ele acaba caminhando a passos largos para a insanidade completa. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Robert De Niro), Melhor Atriz coadjuvante (Jodie Foster) e Melhor Música Original (Bernard Herrmann). Também indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Ator (Robert De Niro) e Melhor Roteiro Original (Paul Schrader). Vencedor do BAFTA Awards nas categorias de Melhor Atriz (Jodie Foster) e Melhor Música (Bernard Herrmann).

Comentários:
O filme que mudou para sempre a carreira do ator Robert De Niro. Filho de um pintor do Greenwich Village em New York City, o jovem De Niro só esperava por um grande papel para se destacar definitivamente no cinema. Formado no Actors Studio, a mesma escola de arte dramática onde estudaram Marlon Brando e James Dean, ele foi o grande representante da última e fenomenal geração de atores de Nova Iorque proveniente daquela instituição de ensino. Aqui um ainda jovem De Niro conseguiu desenvolver finalmente todo o seu talento nessa obra prima psicológica e insana do diretor Martin Scorsese, com quem ele faria uma longa e bem produtiva parceria nas telas de cinema. O interessante é que tanto Scorsese como De Niro sempre afirmaram amar a cidade de Nova Iorque, porém fizeram a ela uma estranha "homenagem". Um dos símbolos de NYC, os seus táxis amarelos, se tornam o cenário e o palco para um estranho personagem, o motorista vivido por De Niro. Um sujeito que foi a Vietnã e voltou de lá com sérios problemas psicológicos e traumas que aos poucos vão dominando sua mente, culminando para um clímax insano, violento e explosivo. O "gatilho" para seu enlouquecimento acaba sendo uma estranha relação que desenvolve com uma adolescente prostituta, interpretada com brilhantismo por Jodie Foster (que consegue inclusive ofuscar em determinados momentos o próprio De Niro, algo impensável). Em determinado momento do filme ela o provoca dizendo que ele deveria provar seu amor matando o presidente dos Estados Unidos. Um louco da vida real acabou levando muito à sério o diálogo e realmente fez um atentado ao presidente Ronald Reagan, um fato amplamente explorado pela imprensa na época e que acabou marcando de forma definitiva o filme "Taxi Driver". Esse aspecto macabro e bizarro da história porém deve ser descartado, pois é um fato externo à obra de Scorsese. O que se deve mesmo levar em conta é que essa é uma verdadeira obra prima da sétima arte, um dos melhores filmes da década de 1970 e um marco do estilo realista que estava predominando naqueles agitados e produtivos anos para a indústria de cinema americana. Imperdível para todo cinéfilo que se preze.

Pablo Aluísio.

A Nau dos Insensatos

Título no Brasil: A Nau dos Insensatos
Título Original: Ship of Fools
Ano de Produção: 1965
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Stanley Kramer
Roteiro: Abby Mann, baseado na obra de  Katherine Anne Porter
Elenco: Vivien Leigh, Simone Signoret, Lee Marvin, José Ferrer, Oskar Werner, George Segal, Michael Dunn
  
Sinopse:
Durante uma viagem de navio entre o México e a Alemanha um grupo de tripulantes e passageiros vivem seus próprios dramas pessoais, de relacionamento e até mesmo políticos. Entre os viajantes há desde uma condessa arruinada, passando por uma esnobe viúva americana, até chegando em um frustrado jogador profissional de beisebol, relembrando todos os motivos que provocaram o seu fracasso esportivo nos campos. Ligando todos eles há todos aqueles velhos sentimentos em comum, como solidão, tristeza, amargura e melancolia. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz (Simone Signoret), Melhor Ator (Oskar Werner), Melhor Ator Coadjuvante (Michael Dunn), Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Figurino. Vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Fotografia (Ernest Laszlo) e Melhor Direção de Arte (Robert Clatworthy e Joseph Kish).

Comentários:
Esse foi o último filme da carreira de Vivien Leigh. Ela morreria apenas dois anos depois de interpretar a esnobe viúva Mary Treadwell. Foi uma bela despedida do cinema. O roteiro, uma adaptação do romance escrito por Katherine Anne Porter, procurava retratar nas pessoas que viajavam em um cruzeiro transatlântico, a própria sociedade como um todo, com todos os seus problemas, contradições, dramas e tristezas. Assim a força dramática desse enredo vinha justamente de seus personagens. A estória se passa antes da II Guerra Mundial. A Alemanha já está nas mãos dos nazistas, mas eles ainda não começaram suas perseguições aos judeus e nem suas invasões aos países vizinhos. Há muitos alemães viajando no navio e como é óbvio a delicada situação política de seu país acaba virando a tônica de vários diálogos. Entre os passageiros há inclusive um senhor judeu, Julius Lowenthal (Heinz Rühmann), que sofre todos os tipos de segregação social. Mesmo assim ele não acredita que haverá uma perseguição real na cidades alemãs. Em um momento ele solta uma pensamento que seria tristemente irônico. Ao falar sobre o nazismo ele pergunta: "Há mais de um milhão de judeus na Alemanha! O que Hitler fará com eles? Matará a todos?!". Mal sabia o tamanho da loucura do III Reich que estava por vir. Além dele outros personagens se destacam. Vivien Leigh interpreta uma solitária viúva americana muito esnobe e arrogante, mas igualmente amargurada. 

Após a morte de seu marido, um diplomata, ela passa a realizar essas viagens para despistar a solidão pessoal em que vive. Amarga e desiludida, ela sofre ao perceber que a juventude e a beleza se foram para sempre. Lee Marvin, por outro lado, é um ex-jogador de beisebol rude e bêbado que parece sempre disposto a criar alguma confusão. É curioso perceber como Marvin se saiu bem nesse papel bem dramático, algo que era bem raro em sua filmografia. Ele, que havia se especializado em interpretar vilões em filmes de western, surpreende e não fica abaixo do restante do elenco. Um dos personagens mais bem construídos e humanos é a de Simone Signoret. Ela dá vida para a Condessa, uma mulher em desgraça que acaba se apaixonando pelo médico do navio após pedir a ele alguma medicação para que conseguisse finalmente dormir. O Dr. Wilhelm Schumann (Oskar Werner), fruto de sua afeição, é um homem frustrado, desiludido com seu casamento sem amor, se resumindo a muitas obrigações que para ele já não possuem muito sentido. Sofrendo de problemas do coração, percebendo que está no fim de sua vida, ele tenta se agarrar a esse relacionamento improvável. Curiosamente um anão, Karl Glocken (Michael Dunn), acaba sendo o narrador da estória, chegando ao ponto até mesmo de dialogar com a própria plateia durante o filme. Um toque muito interessante dado pelo cineasta Stanley Kramer, que mostra muito talento para desenvolver todos os personagens do roteiro sem que em nenhum momento deixe tudo ficar chato ou arrastado (e olha que o filme tem quase duas horas e meia de duração). Então é isso, "A Nau dos Insensatos" é no fundo uma grande metáfora sobre a própria humanidade, com todos os seus problemas. Um filme acima de tudo muito humano, que vale a pena conhecer.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Operação França 2

Título no Brasil: Operação França 2
Título Original: French Connection II
Ano de Produção: 1975
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: John Frankenheimer
Roteiro: Alexander Jacobs, Robert Dillon
Elenco: Gene Hackman, Fernando Rey, Bernard Fresson
  
Sinopse:
Após ser caçado em Nova Iorque pelo policial Popeye Doyle (Gene Hackman), o traficante internacional de drogas Alain Charnier (Fernando Rey) consegue fugir de volta para seu país natal, a França. Inconformado por estar solto, Popeye resolve ir para a Europa para colocar as mãos no criminoso, algo que não será nada fácil já que ele não poderá agir com autonomia em uma país estrangeiro e nem contar com a boa vontade dos policiais franceses. Filme indicado ao Globo de Ouro e ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Ator (Gene Hackman).

Comentários:
Depois de quatro anos do lançamento do filme original a Twentieth Century Fox resolveu produzir sua continuação. Algumas mudanças se fizeram necessárias. Saiu o diretor William Friedkin e entrou em seu lugar John Frankenheimer, um veterano de filmes de ação. Também deixou o elenco o ótimo ator Roy Scheider, Em compensação ficaram Gene Hackman como o policial de Nova Iorque Popeye Doyle e Fernando Rey como o traficante Alain Charnier. O cenário também foi mudado. Saíram as ruas decadentes de uma Nova Iorque suja e poluída e entraram os cenários mais sofisticados da ensolarada Marseille, na costa francesa. Esse segundo filme claramente investe mais na ação e na tensão causada pela caçada a Charnier. Isso não significa que não tenha ótimas cenas, ideais para Gene Hackman atuar bem, como naquela em que ele é sequestrado por traficantes e sofre uma sessão de tortura, onde fartas doses de heroína pura lhe são injetadas à força nas veias, tudo para que ele se torne um viciado, tal como àqueles que caça pelas ruas. Fernando Rey, que sempre considerei um ótimo ator, completamente subestimado em sua carreira, tem maiores chances de desenvolver seu personagem, um criminoso frio e psicopata. Em geral é um bom filme policial, embora o primeiro seja realmente melhor. Mesmo assim é essencial para quem gostou de "French Connection" pois aqui temos o desfecho da trama que se iniciou em 1971. Sem conferir "Operação França 2" você ficará pelo meio do caminho, sem uma definição da estória que acompanhou no filme original. Assim deixo a dica dessa sequência. Mais um bom momento do sempre talentoso Gene Hackman.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Operação França

Título no Brasil: Operação França
Título Original: The French Connection
Ano de Produção: 1971
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: William Friedkin
Roteiro: Ernest Tidyman, Robin Moore
Elenco: Gene Hackman, Roy Scheider, Fernando Rey
  
Sinopse:
O policial Jimmy "Popeye" Doyle (Hackman) resolve investigar ao lado do parceiro, Buddy Russo (Roy Scheider), um bandido pé de chinelo que começa a frequentar lugares caros de Nova Iorque. Para Doyle isso só poderia significar uma coisa: ele estaria envolvido com alguma operação criminosa onde muito dinheiro estaria na jogada. Seus instintos, que parecem nunca falhar, acabam mesmo levando ele a um traficante internacional de drogas, conhecido como Alain Charnier (Rey). Esse seria o verdadeiro elo de ligação entre um grande carregamento de heroína importada diretamente de traficantes franceses para seus comparsas em Nova Iorque.

Comentários:

Na década de 1970 o cinema americano abraçou o realismo das ruas. Não haveria mais espaço para galãs refinados ou estórias fantasiosas. O principal ingrediente para os grandes cineastas viria do dia a dia, do cotidiano sufocante das grandes cidades e sua criminalidade sempre em expansão. Assim o diretor William Friedkin (conhecido por causa de sua obra prima do terror, "O Exorcista") acabou realizando um de seus filmes mais lembrados, "The French Connection". Obviamente que revisto hoje em dia o filme já não causa mais tanto impacto, fruto do passar dos anos e dele ter sido muito copiado em centenas de filmes policiais que viriam após seu lançamento. Mesmo assim sua originalidade, principalmente em investir em personagens mais realistas, como os dois policiais protagonistas, fizeram com que ele se tornasse um grande sucesso de público e crítica em seu lançamento. O roteiro explora Popeye (Hackman) e seu parceiro (Scheider), como se fossem policiais reais, de péssimos hábitos, muitas vezes atravessando a linha dos regulamentos e da mesmo da lei. O tira de Hackman, por exemplo, não se preocupa em usar a violência física ou a intimidação para obter informações. Nem tampouco está preocupado em seguir à risca as normas. Ele apenas deseja colocar atrás das grades todos os criminosos que cruzam seu caminho como o sofisticado Charnier, que por fora mais parece um homem culto, amante das artes, mas que na realidade é um traficante violento e brutal com seus inimigos. O cenário dessa caçada é formado pelas próprias ruas de uma Nova Iorque em plena decadência urbana, com seus lugares sujos, repletos de prostitutas e bandidos de todos os tipos. Diante de tantos méritos cinematográficos não é de se espantar que o filme tenha sido o grande vencedor do Oscar naquele ano. Entre outros levou para casa a cobiçada estatueta de Melhor Filme, Ator (Hackman, de forma bem merecida) e Direção (mostrando que William Friedkin era um cineasta talentoso, não se resumindo apenas à garotinha possuída pelo demônio em "O Exorcista"). Assim deixo a dica desse clássico dos anos 70. Um filme policial realista, com excelente roteiro e direção. O melhor de dois mundos em apenas uma produção.

Pablo Aluísio.

A Ponte do Rio Kwai

Título no Brasil: A Ponte do Rio Kwai
Título Original: The Bridge on the River Kwai
Ano de Produção: 1957
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: Horizon Pictures
Direção: David Lean
Roteiro: Carl Foreman, Michael Wilson
Elenco: William Holden, Alec Guinness, Jack Hawkins, Sessue Hayakawa, James Donald

Sinopse:
Com roteiro baseado na novela histórica de Pierre Boulle, o filme "A Ponte do Rio Kwai" conta a história de um grupo de militares ingleses e americanos, feitos prisioneiros pelos japoneses durante a II Guerra Mundial que são forçados a construir uma ponte no Rio Kwai.

Comentários:
Esse é sempre lembrado como um dos maiores filmes de guerra já feitos. E com razão. "A Ponte do Rio Kwai" é um filme maravilhoso que captou muito bem a mentalidade dos ingleses durante a guerra. E são levados a construírem uma ponte estratégia e aceitam o desafio com disciplina, empenho e eficácia, tudo para demonstrar aos japoneses o seu valor como soldados e principalmente como homens de verdade. A música tema assobiada é até hoje facilmente reconhecível, mas o mérito maior vai não apenas ao elenco maravilhoso, mas também ao cineasta David Lean, um mestte da sétima arte. Ele foi sem dúvida um dos maiores diretores de cinema de todos os tempos. Deixo aqui meus respeitos e meus aplausos.

Pablo Aluísio.