quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Ninguém é Perfeito

Título no Brasil: Ninguém é Perfeito
Título Original: Flawless
Ano de Produção: 1999
País: Estados Unidos
Estúdio: Tribeca Productions
Direção: Joel Schumacher
Roteiro: Joel Schumacher
Elenco: Robert De Niro, Philip Seymour Hoffman, Barry Miller

Sinopse:
Walt Koontz é um policial ultra conservador que sofre um derrame. Na sua recuperação ele começa a ver o mundo de uma outra maneira, inclusive se tornando próximo e amigo de uma drag queen, Rusty (Philip Seymour Hoffman), em momento inspirador. Filme indicado ao Screen Actors Guild Awards.

Comentários:
Esse é um bonito filme, com roteiro versando sobre tolerância, recomeço, mudança de valores. Os dois personagens principais tinham tudo para se odiarem (um é conservador, o outro gay), porém o destino os aproxima. Robert De Niro, sempre um ator interessante, aqui não está tão marcante. Todos os méritos em termos de atuação vão mesmo para o talentoso Seymour Hoffman. Travestido de drag queen ele rouba todas as atenções. Embora haja algum humor o filme é realmente bem dramático, numa produção feita pela própria companhia de De Niro, a Tribeca Productions. Curiosamente a direção foi dada a  Joel Schumacher, que definitivamente nunca foi cineasta desse tipo de filme. Enfim, não deixe de conferir, um bom drama especialmente indicado para o público GLSTB.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Magic Mike

É bem complicado analisar um filme como esse. Não é questão de preconceito pelo fato dos personagens principais serem todos stripers mas sim pela falta de uma justificativa melhor para a própria existência desse “Magic Mike”. Tudo parece soar como mera desculpa para as várias e várias cenas de strips masculinos, uma atrás da outra, praticamente sem interrupção. Intercalando tudo temos apenas um fiapinho de estória que tenta criar alguma profundidade para esses marmanjos musculosos que ganham a vida se exibindo para mulheres. No Brasil esse tipo de coisa teve seu auge de sucesso no chamado “Clube das Mulheres” mas hoje em dia só sobrevive praticamente como entretenimento para o público gay. Aliás por falar em gays eles foram completamente riscados do mapa na produção que não quis criar nenhum vínculo entre aqueles dançarinos e a cultura gay, muito embora ambos andem de mãos dadas na vida real já que muitos stripers masculinos são também garotos de programa para homossexuais endinheirados. Deixando isso de lado o que vemos é realmente um enredo bem fraco, que tenta se apoiar unicamente no apelo sexual dos atores. Curiosamente tudo é feito até com muito pudor (há obviamente nudismo parcial nas seqüências mas o diretor puxa o freio de mão para algo realmente mais ousado).

Por falar em elenco a trama gira basicamente em torno da vida de três personagens centrais. O primeiro é o próprio Magic Mike (Channing Tatum). Vivendo de trabalhos braçais (como na construção civil e na construção de móveis residenciais) ele se apresenta em clubes noturnos de stripers apenas para juntar uma grana para abrir seu próprio negócio. O ator Channing Tatum mostra intimidade com o babado, até porque ele próprio viveu de tirar a roupa antes de sua carreira como ator decolar. O segundo personagem é um jovem de apenas 19 anos que perde sua bolsa de estudos numa universidade após agredir o seu técnico de futebol. Sem grana e sem emprego topa entrar no jogo que é comandado por Dallas (Matthew McConaughey), um veterano striper que agora comanda seu próprio show e que tem planos de levar seu grupo para uma casa noturna maior e mais moderna em Miami (a estória do filme se passa em Tampa, na Flórida). Embora tenha esse núcleo dramático envolvendo todos esses personagens esqueça essa questão pois tudo é bem superficial mesmo e como escrevemos tudo parece uma simples desculpa para os fortões rebolarem até dizer chega! Por falar neles é uma pena ver Matthew McConaughey regredir com esse tipo de papel, logo ele que vinha apresentando um bom trabalho em filmes realmente bons nos últimos anos. O seu Dallas no filme não passa de um cretino e ele para falar a verdade não diz a que veio se limitando a andar de fio dental pra lá e pra cá. Enfim é isso, “Magic Mike” não tem segredo, é apenas um filme apelativo que usa as cenas de strips de seus atores para chamar a atenção de seu público alvo – mulheres apenas. Para os homens heteros que estiverem em busca de bom cinema é bom desistir de tentar encontrar algo aqui pois certamente ficarão nus com a mão no bolso.

Magic Mike (Magic Mike, Estados Unidos, 2012) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Reid Carolin / Elenco: Channing Tatum, Matthew McConaughey, Joe Manganiello, Alex Pettyfer, Matt Bomer, Olivia Munn / Sinopse: Magic Mike conta a estória de um grupo de stripers masculinos que tentam ganhar a vida tirando a roupa para mulheres em um clube noturno.

Pablo Aluísio. 

Força Policial

Filmes policiais nunca saem de moda. Também são facilmente mesclados com outros gêneros, podendo se tornar filmes policiais de ação, com muitos tiros e perseguições ou então dramas mais densos, com desenvolvimento maior de situações dramáticas envolvendo os principais personagens. É nessa segunda categoria que se enquadra esse “Força Policial”, bom momento do gênero nas telas. O enredo mostra uma família que de geração em geração vai formando novos homens da lei. Desde o patriarca Francis (Jon Voight) até seus filhos Francis Jr. (Noah Emmerich) e Ray (Edward Norton). Como se não bastasse a família de tiras ainda é completada pela presença do cunhado Jimmy (Colin Farrell). As coisas começam a se complicar quando Ray toma conhecimento de uma denúncia de corrupção envolvendo seu cunhado. A dramaticidade surge do conflito interno que começa a assolar o policial, afinal como agir quando algo assim acontece? Deveria ele tomar partido incondicional de um membro da sua família ou adotar uma postura essencialmente ética, levando em frente as investigações para se chegar ao fundo da verdade, mesmo que essa seja a pior possível para os interesses de sua família?

Como se pode perceber o filme se desenvolve em torno dos personagens interpretados pelos atores Colin Farrell e Edward Norton. De Norton sempre esperamos boas atuações pois ele realmente é um profissional muito talentoso. Aqui ele encarna perfeitamente o policial que fica em completa crise existencial ao ter que decidir por sua fidelidade à corporação ou sua lealdade familiar. O argumento, que discute ética e honestidade de uma forma bastante inteligente, encontra um intérprete à altura de seu dilema de índole pessoal. Por outro lado a maior surpresa em termos de atuação vem com Colin Farrell, ator bem mais limitado, que tem ultimamente estrelado filmes ruins com atuações igualmente medonhas. Aqui ele está surpreendentemente bem, talvez por influência do colega de cena. Consegue inclusive levantar dúvidas no espectador sobre seu real caráter. Afinal é realmente um tira corrupto ou apenas um policial sendo injustamente acusado? O resultado final é dos melhores. Sem medo de errar qualifico “Força Policial” como uma das melhores produções do gênero nos últimos anos. Dramaticamente bem desenvolvido, não abre mão da tensão e do suspense, tudo emoldurado em um bom roteiro que não abre brechas para soluções fáceis. Curiosamente o filme deveria ter sido filmado em 2001 mas foi arquivado pelo estúdio por causa dos acontecimentos de 11 de setembro. Não era de bom tom colocar tiras corruptos nas telas naquele momento em que os policiais estavam sendo vistos como heróis daquela tragédia. Mesmo atrasado o filme diverte, entretém e mantém um bom nível e por isso deve ser conhecido por quem deseja assistir a um bom drama policial. Está mais do que recomendado.

Força Policial (Pride and Glory, Estados Unidos, 2008) Direção: Gavin O'Connor / Roteiro: Joe Carnahan, Gavin O'Connor / Elenco: Edward Norton, Colin Farrell, Noah Emmerich, Jennifer Ehle, Chris Astoyan, Lake Bell, Jon Voight, / Sinopse: Policial que faz parte de uma grande família de policiais é acusado de ser corrupto. Seria a acusação um fato ou uma forma de atingir todo o clã policial de que faz parte?

Pablo Aluísio.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Redenção

Em um primeiro momento somos levados a crer que esse filme é mais um daqueles action movies sem muita consistência ou conteúdo, afinal é estrelado por Gerard Butler (de 300) que no pôster ostenta uma arma de grosso calibre. O titulo original do filme, "Machine Gun Preacher", também ajuda na confusão uma vez que uma produção que tem como nome uma referência a um pastor (pregador) armado com uma metralhadora não ajuda a desfazer o equivoco. Na verdade “Redenção” conta uma história das mais interessantes. Baseado em fatos reais conhecemos através do filme a figura de Sam Childers (Gerard Butler). Logo no começo do enredo ele surge saindo de uma prisão de segurança máxima. Havia sido preso por tráfico de drogas. O sujeito não é dos mais agradáveis. Ladrão, motoqueiro, viciado em heroína e violento ao extremo. Após uma noite de excessos que termina no esfaqueamento de um homem que ele havia dado carona, Sam decide seguir os passos de sua esposa, uma ex-stripper que havia encontrado a paz na religião. Assim ele decide ser batizado e finalmente encontra Jesus em sua conturbada vida.

Larga os amigos da criminalidade, deixa as arruaças de lado e começa a trabalhar de forma honesta na construção civil. Depois disso sua vida finalmente deslancha. Ele resolve abrir sua própria empresa de construção e se torna um homem muito bem sucedido. Mas quem pensa que tudo termina aí está enganado. Sam em um impulso religioso passa a entender que tudo o que recebeu foi graça de Deus e que teria que retribuir de alguma maneira, ajudando ao próximo como foi ajudado. Assim decide ir até a África para ajudar na construção de escolas e orfanatos para crianças vitimas da guerra civil. O problema é que para levar adiante sua causa humanitária ele tem que lidar com rebeldes armados até os dentes. Então ele forma sua própria milícia de combatentes para seguir em frente em sua missão. “Redenção” vale muito a pena pois mostra uma pessoa que resolveu colocar os ensinamentos de solidariedade cristã na prática. Foi para o lugar mais miserável do mundo para ajudar o próximo e pagou o preço por sua ousadia. Obviamente há cenas de ação mas elas não são em absoluto o foco do filme. A mensagem é muito mais interessante, mostrando que não importa o tamanho do problema, se cada um fizesse sua pequena parte o mundo certamente seria um lugar melhor para se viver. Sem dúvida temos aqui uma bela lição de vida.

Redenção (Machine Gun Preacher, Estados Unidos, 2011) Direção: Marc Forster / Roteiro: Jason Keller / Elenco: Gerard Butler, Michelle Monaghan, Kathy Baker / Sinopse: Após se converter um ex-presidiário resolve ir até a África para ajudar crianças órfãs da guerra civil que assola a região. Para levar em frente sua missão de construir escolas e igrejas ele tem que enfrentar rebeldes armados que não aceitam sua presença no local. Filme baseado em fatos reais.

Pablo Aluísio.

Apocalypse Now

Um dos maiores clássicos da história do cinema. A idéia não era nova, longe disso. Na verdade se trata de uma adaptação do famoso livro Heart of Darkness de Joseph Conrad. Um dos primeiros cineastas a se interessar em levar para as telas esse texto foi o mitológico Orson Welles. Infelizmente foi mais um dos inúmeros projetos dele que nunca chegaram a virar filme. Coube então ao mestre Francis Ford Coppola encarar o desafio. Logo de cara resolveu que iria modificar completamente o contexto histórico da estória. O diretor em parceria com o roteirista (e também diretor) John Milius decidiu que seria melhor trazer o enredo para algo mais próximo da realidade contemporânea. Assim eles levaram todos os anseios, todas as divagações filosóficas e toda a sordidez da trama para o meio da Guerra do Vietnã. O personagem mais enigmático agora seria um Coronel americano completamente enlouquecido que desaparecia no meio das entranhas da selva asiática. Assim que escreveu as últimas linhas de seu novo texto Coppola sabia que apenas um grande ator daria conta da complexidade e das nuances psicológicas desse profundo personagem. Marlon Brando, que havia brilhado em “O Poderoso Chefão”, era obviamente um nome ideal para viver o Coronel Kurtz. Após negociações complicadas finalmente Brando resolveu entrar no projeto. Para o papel do Capitão Willard, que sairia em missão pela selva, com o objetivo de encontrar Kurtz, Coppola escolheu Martin Sheen. Ambas as escolhas foram acertadas e tudo parecia correr muito bem. Mal sabia Coppola no pesadelo em que estava prestes a entrar.

As filmagens foram completamente caóticas. Logo no começo dos trabalhos o ator Martin Sheen teve uma parada cardíaca. O clima hostil das Filipinas não ajudava em nada, arrasando cenários e atrasando as filmagens, que logo estouraram o orçamento, levando o estúdio a pressionar cada vez mais o diretor. Brando relembrou em seu livro de memórias o caos reinante. Ele havia surgido no set bem acima do peso, logo entendendo os problemas que assolavam os trabalhos. Muitos membros da equipe estavam doentes com doenças tropicais e Coppola tentava de forma desesperada colocar alguma ordem naquela confusão. Brando então resolveu colaborar, participando de forma muito mais ativa do que costumava fazer. Começou a mexer no roteiro, trazendo novas idéias para o diretor. Também resolveu, por conta própria, cortar todo o cabelo, ficando completamente careca (uma decisão que se mostraria muito acertada como se pode ver depois que o filme ficou pronto). Sua intenção era criar uma imagem mítica para seu personagem, que surgiria como um Buda insano no meio da selva. Como não era um ator comum, que aceitasse scripts e roteiros sem discutir, resolveu mexer em seu personagem cada vez mais. Aconselhou Coppola a deixar Kurtz dentro de uma penumbra de mistério e sombras durante todo o filme, só surgindo de forma triunfante na cena final. Essa foi outra ótima sugestão de Brando para Apocalypse Now. De fato ele praticamente roubou o filme em seus minutos finais em um longo e conturbado monólogo – em que o ator misturou diálogos previamente escritos com pura improvisação, colocando inclusive pensamentos e devaneios de sua própria vida pessoal. Usando desse recurso Brando conseguiu produzir um de seus maiores momentos no cinema. Ele próprio reconheceria depois que Coppola era realmente um gênio pois lhe abriu espaço dentro do filme para atuar e colocar suas aptidões cênicas com total liberdade. O resultado final foi simplesmente uma das maiores obras primas da história do cinema. Um filme sensorial, sombrio e muito complexo sob qualquer ângulo que se analise.

E como toda grande obra prima o filme causou reações diversas em seu lançamento. Não era o corte ideal para Coppola, ele fez várias concessões comerciais ao estúdio que queria um filme menos profundo e complexo porém mais acessível. Mesmo assim Coppola conseguiu chegar a uma versão intermediária que agradou tanto a ele como ao estúdio (só depois de muitos anos o diretor conseguiria lançar o filme do jeito que inicialmente planejou). “Apocalypse Now” é uma notável crônica sobre a América e seu envolvimento na guerra do Vietnã, um conflito sem sentido, moldado por interesses obscuros e contraditórios. O Coronel Kurtz, brilhantemente interpretado por Marlon Brando, era um retrato do enlouquecimento não apenas de um homem perdido no meio da selva mas também um retrato da própria insanidade do envolvimento americano no Vietnã. Era a América perdendo sua própria razão e racionalidade. O resultado final de tantos talentos trabalhando juntos não poderia resultar em outra coisa. “Apocalypse Now” é uma obra de arte simplesmente magnífica.

Apocalypse Now (Apocalypse Now, Estados Unidos, 1979) Direção: Francis Ford Coppola / Roteiro: Francis Ford Coppola, John Milius, Michael Herr baseados no livro Heart of Darkness de Joseph Conrad / Elenco: Marlon Brando, Robert Duvall, Martin Sheen, Frederic Forrest, Albert Hall, Sam Bottoms, Laurence Fishburne, Dennis Hopper / Sinopse: O capitão Willard (Martin Sheen) parte em busca do paradeiro do Coronel Kurtz (Marlon Brando) que desapareceu nas entranhas da selva do Vietnã. A busca irá se transformar em um pesadelo de delírio e insanidade. Vencedor da Palma de Ouro em Cannes. Premiado com os Oscars nas categorias Melhor Fotografia e Melhor Som. Vencedor do Globo de Ouro nas categorias Melhor Direção, Melhor Ator Coadjuvante (Robert Duvall) e Melhor Trilha Sonora Original.

Pablo Aluísio.

Planeta Terror

Lá vai o enredo sem sentindo nenhum: Casal de médicos, William (Josh Brolin) e Dakota Block (Marley Shelton), em uma noite de trabalho que parecia ser rotineiro acabam tendo que atender pacientes que apresentam sinais de infestação de um novo vírus, completamente desconhecido da ciência. Como não poderia deixar de ser em um filme assim a contaminação acaba transformando seus infectados em zumbis! “Planeta Terror” é uma sátira que funciona também como homenagem aos antigos filmes Z podreiras que enchiam a programação dos cinemas poeira mundo afora. O filme é divertido, não resta dúvida. A primeira hora do filme é realmente muito engraçada, principalmente o médico com o medidor de temperatura na boca atendendo pacientes infectados. Sua esposa cheia de seringas também não deixa de ser hilária. Como já foi dito aqui, o filme é na verdade um "trash planejado". Como Tarantino e Rodriguez tem anos e anos de experiência assistindo todos os trashs imagináveis eles resolveram juntar todos os clichês, todos os diálogos toscos e todas as canastrices possíveis e resolveram colocar tudo em um filme só. É como usar uma fórmula já gasta e batida há anos justamente para parodiar esse tipo de filme.

O próprio Tarantino dá o ar de sua graça interpretando um militar maluco e tarado (duas coisas que ele tem cara de ser, sinceramente). Apesar do bom começo (inclusive o trailer de Machete que acabaria virando filme), não há como negar que “Planeta Terror” cai nos trinta minutos finais. Nessa terça parte final se sobressaem as cenas totalmente sem nexo, com muita pirotecnia e tiros. O humor negro vai sumindo aos poucos do roteiro em detrimento da ação, que até tenta ser também engraçada mas não consegue, o que é uma pena já que eu mesmo dei umas três boas gargalhadas na primeira parte do filme, algo que não se repetiu depois. De qualquer forma o espectador não perderá seu tempo ao ver essa "tosquice". Curiosamente devo confessar que apesar de ter dado boas risadas aqui gostei mais de "Death Proof" do Tarantino. Os dois são absolutamente (e deliciosamente) absurdos, mas o filme do diretor cultuado se sai melhor no final das contas. Enfim, não deixe de assistir os dois antes de comerem seus cérebros.

Planeta Terror (Planet Terror, Estados Unidos, 2007) Direção: Robert Rodriguez / Roteiro: Robert Rodriguez / Elenco: Freddy Rodríguez, Rose McGowan, Marley Shelton, Josh Brolin, Michael Biehn, Naveen Andrews, Michael Parks, Jerili Romeo / Sinopse: Casal de médicos, William (Josh Brolin) e Dakota Block (Marley Shelton), em uma noite de trabalho que parecia ser rotineiro acabam tendo que atender pacientes que apresentam sinais de infestação de um novo vírus, completamente desconhecido da ciência. Como não poderia deixar de ser em um filme assim a contaminação acaba transformando seus infectados em zumbis!

Pablo Aluísio.

Harry Brown

Harry Brown (Michael Caine) tenta levar sua vida após a morte de sua esposa. Na terceira idade, viúvo e ex-fuzileiro naval ele começa a acompanhar a degradação de sua outrora pacífica e pacata vizinhança. As gangues começam a se proliferar infestando seu bairro com drogas e violência. A situação se torna insuportável após a morte de seu melhor amigo Leonard (David Bradley), morto por um grupo de jovens violentos. Como a justiça e as autoridades não conseguem mais parar a violência, Harry resolve fazer justiça pelas próprias mãos. Acabei de assistir esse Harry Brown. O que posso dizer? Primeiro elogiar Michael Caine. Esse ator tem uma longa filmografia, que alterna filmes excepcionais com porcarias horrorosas. Durante um tempo ele ficou conhecido como o ator que topava qualquer coisa. Mas a idade veio e parece ter feito bem a ele pois atualmente tem sido bem mais criterioso. Ele sempre foi bom ator, apenas não escolhia direito os filmes que fazia. Pelo menos acredito que trocou de agente pois o nível de seus filmes tem melhorado demais. É o caso desse “Harry Brown” que é particularmente indicado para quem não aguenta mais a violência urbana e o descaso das autoridades com a situação.

O roteiro segue a linha "justiceiro limpando as ruas com as próprias mãos". Apesar do inicio calmo o filme vai crescendo em violência e termina em um banho de sangue típico dos filmes de Rambo. Eu sinceramente não considero que a única solução para a violência seja mais violência, proposta que o filme parece apoiar. De certa forma o argumento é do tipo "para resolver o problema das drogas basta liquidar os drogados". Que a juventude está aí nas ruas, se envolvendo cada vez mais na criminalidade não é novidade para ninguém. Apenas acredito que a solução não seja a que o filme indica. De qualquer forma deixando essas questões de lado o filme certamente é um bom entretenimento, só não o levem à sério demais.

Harry Brown (Harry Brown, Estados Unidos, 2009) Direção: Daniel Barber / Roteiro: Gary Young / Elenco: Michael Caine, Emily Mortimer, Iain Glen, Ben Drew / Sinopse: Harry Brown (Michael Caine) tenta levar sua vida após a morte de sua esposa. Na terceira idade, viúvo e ex-fuzileiro naval ele começa a acompanhar a degradação de sua outrora pacífica e pacata vizinhança. As gangues começam a se proliferar infestando seu bairro com drogas e violência. A situação se torna insuportável após a morte de seu melhor amigo Leonard (David Bradley), morto por um grupo de jovens violentos. Como a justiça e as autoridades não conseguem mais parar a violência, Harry resolve fazer justiça pelas próprias mãos.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Liz & Dick

Elizabeth Taylor conheceu Richard Burton no set de filmagens de “Cleópatra”. Inicialmente não simpatizam um com o outro. Burton achou Liz muito afetada e ela o considerou muito rude. Porém conforme as filmagens avançaram eles acabaram se apaixonando na frente de todos. Até aí nada demais até porque não era nenhuma novidade que astros se apaixonassem durante os filmes. O problema é que ambos já eram casados e a imprensa moralista da década de 60 teve um prato cheio para suas revistas de fofocas. E o casal não deixou por menos, dando vexames públicos, brigando na frente de todo mundo, fazendo as pazes, se divorciando, se casando novamente e tudo o mais que tinham direito. Logo se tornaram uma sensação dos tablóides sensacionalistas e assim foram por anos. Burton e Taylor pareciam mesmo ter sido feitos um para o outro. Aproveitando a morte da atriz e sua repercussão os produtores de TV correram para levar às telas essa história de amor. Oportunismo? Certamente, até porque a indústria de entretenimento dos EUA nunca teve muito pudor sobre isso e não seria agora que criariam vergonha na cara. A pressa e o oportunismo talvez justifiquem as falhas de Liz & Dick. Era de se esperar que uma produção que enfocasse pessoas tão famosas e glamorosas tivesse ao menos elegância e sofisticação – mas desista se estiver em busca de algo assim. Na verdade tudo soa muito fraco mesmo nesse telefilme.

A edição é mal feita, tudo vai surgindo na tela sem muito capricho e cuidado. Elizabeth Taylor é interpretada pela atriz problemática Lindsay Lohan. Além de não ser parecida fisicamente com Liz em nada, Lindsay não faz a menor questão de atuar bem ou pelo menos tentar reproduzir seus trejeitos. Ao contrário disso se apóia única e exclusivamente em sua maquiagem para tentar lembrar a famosa atriz. Sua atuação assim é muito fraca e não empolga em nada. É óbvio que ela não criou nenhum trabalho de pesquisa para o filme, atuando no controle remoto. Complicado até mesmo ficar acreditando que estamos vendo Liz em cena e não Lindsay com sua voz rouca e seus lábios cheios de botox! Melhor se sai Grant Bowler como Richard Burton. Ele também não é nada parecido com o ator retratado mas compensa isso incorporando Burton de tal forma que ficamos impressionados com sua atuação. A dicção característica de Burton, principalmente nas cenas em que declama algum trecho de Shakespeare, realmente impressiona. Só decai um pouco nas cenas de embriaguez de Burton. O ator era um desses bêbados malvados e desbocados que quebravam tudo quando estava alcoolizado mas o filme provavelmente não quis o retratar com extrema fidelidade pois poderia decepcionar os fãs do casal famoso. Outra falha é a pouca atenção e o pouco espaço que é aberto no roteiro para a obra de Liz e Burton. Apenas três filmes são citados em todo o filme (Cleópatra, Vips e Quem Tem Medo de Virginia Wolf?) mas tudo de forma bem superficial e vazia. No final de tudo fica a decepção. Quem gosta da história do cinema pode até mesmo achar interessante mas como retrato à altura dos envolvidos deixa bastante a desejar. Liz e Burton mereciam certamente coisa melhor.

Liz & Dick (Liz & Dick, Estados Unidos, 2012) Direção: Lloyd Kramer / Roteiro: Christopher Monger / Elenco: Lindsay Lohan, Grant Bowler, Theresa Russell / Sinopse: O filme narra a conturbada história de amor de Elizabeth Taylor e Richard Burton. Ambos se conhecem no set de filmagens de “Cleópatra” e se tornam amantes apesar de serem casados. Depois de muitos escândalos finalmente se casam, se separam e depois se casam novamente em um romance com muitas brigas e vexames públicos. Baseado em fatos reais.

Pablo Aluísio

Striptease

A trajetória da atriz Demi Moore é das mais interessantes. Nascida em uma família de classe média baixa ela conseguiu abrir caminho na carreira estrelando comédias juvenis e depois conseguiu fazer a complicada transição para a carreira adulta. Sempre foi considerada uma das mais belas atrizes de Hollywood e também das mais complicadas. Além de seu velho problema com drogas Demi teve uma vida sentimental das mais agitadas. A atriz se envolveu com vários atores famosos ao longo de sua vida e foi freqüentadora assídua das páginas de fofocas das revistas especializadas nesse tipo de assunto. Seu maior sucesso de bilheteria foi “Ghost”, um filme produzido pelo braço adulto da Disney que teve enorme êxito comercial. Depois disso o cachê de Demi, que já não era barato subiu às alturas e ela se tornou um nome realmente poderoso na capital do cinema. Infelizmente depois de “Ghost” sua carreira entrou em parafuso. Os cachês milionários não mais se refletiam em sucessos imediatos, pelo contrário, muitos de suas novas produções foram ignoradas ou então se tornaram grandes fracassos comerciais e de crítica. Para colocar um freio nessa onda de azar, Demi Moore resolveu radicalizar (para alguns ela apelou mesmo, simples assim). A atriz, louca por um grande sucesso, resolveu aparecer nua em cena (ou quase isso). O filme obviamente era baseado e pensado em seu apelo sexual. Logo no pôster Demi aparecia completamente nua (ela já tinha causado polêmica antes aparecendo nua e grávida na capa da revista Vanity Fair, mas agora era diferente).

Embora não fosse mais nenhuma garotinha no auge da forma física, Demi resolveu encarar uma dieta e uma série de exercícios que a deixava realmente em excelente forma física. Como ninguém nesse mundo consegue ser uma unanimidade ela também foi criticada por isso pois surge em cena muito musculosa e até masculinizada para alguns. Bobagem, ela está muito bem nesse quesito, o problema é que isso apenas não justifica a existência de um filme. A verdade é que apesar de todo seu marketing “caliente”, o filme é muito fraco em tudo. O roteiro é mal escrito (chega a parecer uma chanchada barata), o elenco está mal e o argumento praticamente inexiste. Burt Reynolds foi resgatado do ostracismo mas se mostra uma escolha equivocada. Ele não empolga, não cativa e está pessoalmente repugnante em suas aparições. Outro problema de “Striptease” é que ele falha justamente em sua maior proposta: a de ser uma obra sensual e eroticamente interessante. Muito pelo contrário, tudo soa morno nesse aspecto. Demi Moore não está particularmente sedutora e nem sensual. Seu tão falado striptease é tão sem graça, tão rápido, que o espectador sente-se literalmente enganado. Digo isso por experiência própria pois fui um dos (poucos) que pagaram para ver o filme no cinema. Obviamente me dei mal. O resultado foi pífio e “Striptease” naufragou nas bilheterias, também pudera, era realmente muito ruim. Se ainda não viu esqueça, não fará a menor diferença em sua vida de cinéfilo.

Striptease (Striptease, Estados Unidos, 1996) Direção: Andrew Bergman / Roteiro: Andrew Bergman baseado na novela de Carl Hiaasen / Elenco: Demi Moore, Burt Reynolds, Armand Assante / Sinopse: Erin (Demi Moore) perde o emprego de secretária no FBI em razão dos problemas legais envolvendo seu marido. Os problemas a partir daí se sucedem, sem emprego ela perde a custódia de sua filha. Sem alternativas começa a apelar para sua beleza física, se tornando stripper. Nessa nova função ela conhecerá figurões e pessoas influentes mas também se envolverá em novos problemas por causa de sua nova “profissão”. Vencedor de seis categorias no Framboesa de ouro: Pior Filme, Pior Diretor, Pior Atriz (Demi Moore), Pior Roteiro, Pior Dupla (Demi Moore e Burt Reynolds) e Pior Trilha Sonora.

Pablo Aluísio.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Vidas Sem Rumo

Mais um excelente filme com a assinatura do mestre Francis Ford Coppola. Por essa época o cineasta resolveu focar em suas obras os anseios, medos e desafios da juventude americana. Duas obras marcantes surgiram dessa fase. Esse é um deles, o outro é o clássico moderno "O Selvagem da Motocicleta". "Vidas Sem Rumo" é menos cult e menos sofisticado,  talvez por isso seja mais acessível ao grande público. Já "Rumble Fish" tinha um roteiro mais bem trabalhado, mais introspectivo. Porém na categoria revelação "Vidas Sem Rumo" vence com folga pois revelou diversos atores que se tornariam astros anos depois. Basta ler a lista do elenco para entender. Estão lá Tom Cruise (dispensa maiores apresentações), Ralph Macchio (que iria estrelar a franquia de sucesso “Karate Kid”), Patrick Swayze (que iria se tornar ídolo adolescente com filmes ao estilo “Dirty Dancing”), Emílio Estevez (irmão de Charlie Sheen, filho de Martin Sheen e estrela da franquia “Young Guys”), Rob Lowe (um dos grandes ídolos juvenis da década de 80 que viu sua carreira no cinema afundar após um escândalo sexual envolvendo menores de idade) e Matt Dillon (que também iria brilhar em “O Selvagem da Motocicleta”). Curiosamente o elenco seria encabeçado por um ator que não conseguiu trilhar o mesmo caminho de sucesso dos demais membros do elenco, C. Thomas Howell.

O roteiro novamente era baseado em um livro de autoria de S.E. Hinton. Essa autora sempre teve como tema principal a vida dos jovens, seus anseios, suas inseguranças e suas lutas. Aqui ela conta a estória de violência envolvendo os irmãos Johnny (Ralph Macchio) e Ponyboy (C. Thomas Howell) que sofrem um ataque violento cometido por uma gangue de jovens marginais. Durante a agressão, para se defender, Ponyboy acaba matando um dos agressores, o que acaba desencadeando uma série de rixas e revanches entre duas gangues rivais que infestam as ruas das grandes cidades. O tom de “Vidas Sem Rumo” é de desesperança completa. Como o próprio título nacional revela, os jovens que passeiam pela tela são garotos sem qualquer futuro pela frente. Filhos de famílias pobres, muitas vezes desestruturadas, tudo o que lhes restam é entrar em alguma gangue das redondezas em busca de proteção (as ruas são verdadeiras selvas) e dinheiro (pequenos e grandes delitos que acabam rendendo alguns trocados para os membros desses grupos). O filme foi rodado em 1983 e de lá pra cá a situação só piorou, principalmente nos EUA onde os subúrbios das grandes cidades são completamente dominados por essas coletividades de marginais precoces. Coppola aqui mostra o beco sem saída em que se encontra a maior parte da juventude de seu país. O filme foi produzido pela Zoetrope Studios – de propriedade do próprio diretor – e com problemas de distribuição, por ser uma filme praticamente independente, não rendeu uma boa bilheteria. Só foi redescoberto depois quando lançado no mercado de vídeo VHS. O elenco cheio de astros certamente ajudou na promoção pois quando a fita finalmente chegou nas locadoras todos os atores que faziam parte de seu elenco já tinham suas famas consolidadas entre o público. De qualquer modo fica a dica. Não há como negar que “Vidas Sem Rumo” seja um Coppola menor, pouco conhecido, mas muito bom. Um olhar mais do que brilhante desse grande cineasta sobre as vidas sem rumo de seus personagens perdidos na vida.

Vidas Sem Rumo (The Outsiders, Estados Unidos, 1983) Direção: Francis Ford Coppola / Roteiro: Kathleen Rowell baseado na obra de S.E. Hinton / Elenco: C. Thomas Howell, Matt Dillon, Ralph Macchio, Tom Cruise, Rob Lowe, Patrick Swayze, Emilio Estevez / Sinopse: Jovens são alvos de uma gangue rival durante um assalto. A morte de um dos agressores acaba desencadeando uma série de rixas, rivalidades e violência que explodem pelas ruas.

Pablo Aluísio.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

O Monge

Uma grata surpresa. Assim defino esse “O Monge”. O argumento trabalha brilhantemente com a dualidade que está na base da doutrina cristã: a eterna luta do bem contra o mal. No caso ambos os lados lutam pela posse da alma do monge Ambrósio (Vincent Cassel). Na Espanha do Século XVIII ele é abandonado ainda bebê na porta de um mosteiro Capuchino. Criado pelos monges dentro dos dogmas religiosos da ordem, cresce e se torna ele próprio um monge. Brilhante orador, logo começa a chamar a atenção dos fiéis que começam a caminhar grandes distâncias apenas para ouvirem seu sermão e se confessarem com ele pois tem fama de ser uma alma iluminada que realmente perdoa os pecados de cada cristão que o procura. Rígido, não admite aos membros da Igreja passos em falso em sua disciplina religiosa. Procurado por uma freira acaba descobrindo que ela na verdade nutre uma grande paixão por um homem da região. Não pensa duas vezes antes de denunciá-la para sua madre superiora. O castigo é extremamente severo. Seu caminho pela fé parece forte e inabalável até a chegada de um novo noviço chamado Valério. Ele é um sujeito estranho, que usa uma máscara alegando ter sofrido grandes danos em sua face após um grande incêndio. Na verdade Valério será peça chave nas mudanças que estão por surgir na vida do Monge. Em pouco tempo ele terá que escolher entre fé e paixão, sentimento ou crença.

O roteiro de “O Monge” é muito rico em termos teológicos. Analisando bem encontramos em seu enredo elementos vitais para a religiosidade cristã. O livre arbítrio do personagem principal é muito bem desenvolvido pela trama. Embora esteja na presença de uma entidade sinistra e demoníaca ele acaba caindo nas tentações do pecado por livre e espontânea escolha, demonstrando que o pecador é, em última análise, o único culpado pelos erros que comete ao longo de sua vida. Outro ponto extremamente bem desenvolvido é a luta interna que trava ao escolher entre sua fé ou os prazeres mundanos, que surgem incontroláveis, absolutamente inconfessáveis. Na verdade são três linhas narrativas que parecem correr de maneira paralela entre si, mas que na verdade estão fortemente interligadas. O desfecho não abre margem a concessões e é muito interessante, tanto do ponto de vista da própria conclusão da estória como também em termos de teologia pura. Assim “O Monge” é indicado para pessoas inteligentes que tenham particular interesse em temas religiosos. Poucas vezes a luta pela alma de um homem foi tão bem desenvolvido no cinema como aqui. Não perca!

O Monge (Le Moine,  França, 2011) Direção: Dominik Moll / Roteiro: Dominik Moll, Anne-Louise Trividic / Elenco: Vincent Cassel, Déborah François, Joséphine Japy, Sergi López, Catherine Mouchet / Sinopse: Monge Capuchino vira alvo de disputa entre forças celestiais e demoníacas. Entre a fé e a tentação o religioso tentará salvar sua própria alma.

Pablo Aluísio.

Coração Valente

Certa vez o ator Mel Gibson disse que o esporte preferido dos australianos era falar mal dos ingleses. Talvez por essa razão ele tenha feito esse filme glorificando os escoceses em sua luta para derrotar os vilanescos súditos da rainha. Não é à toa que todos os ingleses retratados no enredo são porcos e cretinos. Historicamente o filme é uma bobagem, o verdadeiro William Wallace (Coração Valente) era uma pessoa muito distante do personagem apresentado na tela. Na realidade ele era um senhor feudal medieval. Isso significa que geralmente quando entrava em guerra o fazia para defender seus interesses feudais, sua supremacia comercial ou econômica. Nada a ver portanto com liberdade ou direitos fundamentais. Gibson ignorou a verdade histórica e o transformou num revolucionário bárbaro ao estilo do que se encontrava na Inglaterra durante a ocupação romana na Idade Antiga. O verdadeiro Wallace não pintava a cara de azul, nem tinha longos cabelos rebeldes, pelo contrário, cultivava o estilo dos nobres ricos e pomposos de sua época. Mas Gibson não parou por ai e encheu Wallace de boas intenções e idéias liberais que só iriam existir e se difundir muitos séculos depois da morte de Coração Valente, mais precisamente durante a revolução francesa, que inclusive foi realizada para acabar com os privilégios de nobres do feudalismo como o próprio Wallace. Basta entender isso para perceber como o roteiro do filme é realmente uma salada histórica sem muito sentido.

Pois bem, se historicamente o filme é um desastre não podemos negar que como entretenimento ele seja de primeira qualidade. Na verdade Mel Gibson não estava interessado nos livros de história mas sim em produzir e dirigir uma grande aventura medieval ao estilo dos antigos filmes épicos da Hollywood clássica. Assim toda a questão da fidelidade histórica foi jogada pela janela e Gibson abraçou o velho estilo de fazer grandes filmes. Tudo é muito rico, bem produzido e grandioso nessa produção. As cenas de batalha, por exemplo, são todas executadas e pensadas para realmente impressionar o grande público. Aliás “Coração Valente” é aquele tipo de filme que se deve assistir no cinema, com tela enorme, para não se perder nenhum detalhe e captar toda a grandiosidade do filme em si. Quando "Braveheart" finalmente chegou nas telas ganhou imediatamente o gosto do público e da crítica, se tornando um grande sucesso de bilheteria. Na esteira das boas críticas também vieram as vitórias nos principais prêmios do ano. O filme teve dez indicações ao Oscar e venceu em cinco categorias (filme, direção, edição de som, fotografia e maquiagem). Enfim, “Coração Valente” é isso, uma produção historicamente incorreta mas que diverte, empolga e impressiona por suas qualidades cinematográficas.

Coração Valente (Braveheart, Estados Unidos, 1995) Direção: Mel Gibson / Roteiro: Randall Wallace / Elenco: Mel Gibson, Angus Macfadyen, James Robinson, Sean Lawlor, Sandy Nelson, Patrick McGoohan, James Cosmo, Sophie Marceau / Sinopse: William Wallace (Mel Gibson), um nobre escocês que viveu entre 1272 a 1305, resolve empreender uma grande guerra contra as forças de ocupação inglesas em suas terras. Na luta acaba criando o sentimento nacionalista de independência da Escócia em relação ao domínio da coroa inglesa na região.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Gonzaga - De Pai Para Filho

Se estivesse vivo em 2012 o cantor e compositor Luiz Gonzaga (1912 – 1989) estaria completando 100 anos. Para celebrar seu centenário uma série de eventos e festividades foram realizadas pelo Brasil afora para relembrar esse verdadeiro ícone da cultura nordestina e brasileira. Nascido em uma família humilde do interior de Exu em Pernambuco, Luiz Gonzaga teve uma vida extremamente rica em termos culturais. O filme “Gonzaga – De Pai Para Filho” vem para suprir essa grande lacuna do cinema brasileiro, uma vez que um personagem tão importante de nossa cultura já deveria ter sido objeto de uma cinebiografia há muitos anos. A direção coube ao talentoso cineasta Breno Silveira que já tinha se dado muito bem em um filme de temática parecida, o grande sucesso de público e crítica “Os Dois Filhos de Francisco”. É um diretor que sabe lidar muito bem com a brasilidade dos rincões, do interior de nossa nação. Seu retrato dos primeiros anos de Luiz Gonzaga reforça muito bem esse aspecto. O sertão surge com toda a sua desolação de terra árida, diria até mesmo hostil. É nesse ambiente que surge a figura de Gonzaga pela primeira vez. Filho do também sanfoneiro Januário e da guerreira Santana, Luiz sonha em conquistar a filha do coronel mas isso, dentro daquele contexto histórico, era simplesmente impossível. Pobre e negro jamais conseguiria convencer o pai da moça da realização de suas pretensões românticas pois ela era o extremo oposto disso, branca e rica. Após ser ameaçado literalmente de morte por causa de sua paixão proibida resolve “ganhar o mundo”, numa trajetória que é por demais comum para o povo nordestino.

Depois de alguns anos no Exército resolve dar baixa e vai para o Rio de Janeiro onde tenta sobreviver de sua música. Essa parte do filme é muito elucidativa pois mostra bem a situação de miséria em que muitos artistas vivem em nosso país. Mesmo com tanto talento não sobrou muito a ele e um amigo de violão a não ser tocar em praça pública em troca de alguns trocados. Um triste retrato de nosso povo desamparado e entregue à própria sorte. Depois de muitas decepções um freqüentador de bar dá a grande idéia para o sanfoneiro. Ele deveria deixar as músicas de tango que vinha apresentando até então para investir na música nordestina de raiz, do baião e é justamente com essa sonoridade que ele finalmente encontra o caminho do sucesso profissional. É óbvio que uma vida tão rica, em uma carreira que durou mais de 40 anos, não poderia ser resumida em apenas duas horas de filme. Por essa razão as lacunas são simplesmente inevitáveis. Em termos de dramaturgia o foco acaba sendo o do complicado relacionamento entre Gonzaga e seu filho Gonzaguinha. Essa foi uma decisão mais do que acertada pois mostra o lado mais humano do biografado. Grande artista, foi um pai ausente. Além disso não concordavam em praticamente nada, nem no estilo musical e nem muito menos no posicionamento político. Gonzaguinha era um homem de esquerda, que criou vários hinos da luta contra a ditadura militar nos anos de chumbo. Já seu pai era um ex-militar que simpatizava com o regime. Bom, ninguém é perfeito não é mesmo? No saldo final é uma bela homenagem a ambos. Luiz Gonzaga que cantou seu povo, sua realidade e sua vida já é imortal. Um nome que não deve ser esquecido jamais.  

Gonzaga – De Pai Para Filho (Idem, Brasil, 2012) Direção: Breno Silveira / Roteiro: Patricia Andrade / Elenco: Adelio Lima, Chambinho do Acordeon, Land Vieira, Julio Andrade, Giancarlo di Tomazzio, Alison Santos, Nanda Costa, Silvia Buarque, Luciano Quirino, Claudio Jaborandy, Cyria Coentro / Sinopse: Cinebiografia de Luiz Gonzaga, cantor nordestino que conquistou o Brasil ao cantar sobre a realidade e o sofrimento do povo do nordeste brasileiro.

Pablo Aluísio.

O Mestre

Freddie (Joaquin Phoenix) é um marinheiro que durante a segunda guerra mundial participa da chamada batalha do Pacífico. De volta aos EUA tenta reconstruir sua vida, geralmente exercendo trabalhos que não exigem muita qualificação profissional. O mais relevante porém é que ao retornar à vida civil ele traz consigo um leve distúrbio mental, de personalidade, o que o faz ter acessos de fúria e raiva. Sua vida só muda completamente quando ele conhece um carismático líder de uma nova seita um tanto quanto exótica, Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman). Essa nova maneira de pensar e crer se funda na idéia de que todos os seres humanos passam por diversas vidas ao longa de sua existência espiritual, evoluindo e aprendendo em cada reencarnação. Todd assim prega uma série de exercícios mentais que possibilitam descobrir inclusive as existências passadas, em uma regressão psicológica no tempo e espaço. Usando de muita sutileza e poder de sugestão ele vai criando sua fama ao desvendar para pessoas ricas e influentes as suas supostas vidas passadas. “O Mestre” é o novo filme do diretor Paul Thomas Anderson, um cineasta que evita o banal e sempre procura pelo improvável, pelo inesperado. Suas lentes agora são focadas em um tipo de religião que se tornou bastante popular no pós guerra nos EUA. Tentando conciliar crenças espirituais com ciência muitas dessas seitas prosperaram e estão até hoje por lá, sendo uma das mais conhecidas a Cientologia, que é seguida por diversas celebridades como Tom Cruise e John Travolta. O personagem interpretado por Philip Seymour Hoffman é obviamente calcado no criador e líder espiritual da tal Cientologia, L. Ron Hubbard, que acreditava haver ligação entre a humanidade e seres de outro planeta que aqui estiveram e criaram a raça humana em tempos primitivos.

O curioso no roteiro desse filme é que sem fazer um juízo de valor explícito o enredo se contenta em apenas mostrar as pessoas que giram em torno do líder Lancaster Todd. Sua esposa, por exemplo, é uma jovem convicta em suas crenças, bem ao contrário de sua filha que não pensa duas vezes antes de seduzir o marujo Freddy praticamente na frente de todos. Os tipos são pouco comuns, excêntricos e até mesmo bizarros. O filme se desenvolve de forma gradual, sem pressa. Seu grande mérito é o elenco, realmente em ótimo momento. Philip Seymour Hoffman sempre impressiona, pois é realmente um grande ator. Sua interpretação do “mestre” é marcante. Um sujeito que parece viver em seu próprio mundo, com suas próprias verdades absolutas. Dono de uma retórica rebuscada (e muitas vezes vazia de sentido e conteúdo) ele vai agrupando simpatizantes por onde passa. Philip Seymour Hoffman se saí excepcionalmente bem em sua caracterização, ora surgindo como um sujeito bonachão, de fala suave e personalidade cativante, ora tendo acessos de intolerância com quem ousa contestar suas idéias malucas. Se Philip Seymour Hoffman brilha o que podemos dizer de Joaquin Phoenix? Aqui ele realmente parece incorporar seu papel. Excessivamente magro, torto, como se transferisse toda a sua confusão mental para o seu próprio corpo, o ator realmente surge com um trabalho impressionante, o melhor de sua carreira até o momento. Seu Freddie é praticamente uma força da natureza, que não consegue chegar nem perto da sofisticação da lábia de Lancaster Todd, mas que o segue, como se ele fosse sua única tábua de salvação em sua confusa existência. Não é à toa que filme ganhou indicações para todos os principais atores em cena, sendo indicado aos Oscars de Melhor Ator (Joaquin Phoenix), Ator Coadjuvante (Philip Seymour Hoffman) e Atriz Coadjuvante (Amy Adams). Em termos de atuação o filme é realmente maravilhoso. Assim, em conclusão, podemos dizer que "O Mestre" é um belo trabalho sensorial que procura através de seus personagens diferentes desvendar o lado mais sombrio da alma humana. Consegue como poucos filmes mostrar o lado mais patético de algumas crenças religiosas e espirituais, mas tudo feito com muita elegância e estilo. É outro excelente filme com a assinatura de Paul Thomas Anderson, que consegue lidar com um tema tão complicado de forma muito talentosa.

O Mestre (The Master, Estados Unidos, 2012) Direção: Paul Thomas Anderson / Roteiro: Paul Thomas Anderson / Elenco: Joaquin Phoenix, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Laura Dern, Rami Malek, Jillian Bell, Kevin J. O'Connor, W. Earl Brown / Sinopse: Durante o pós guerra um líder carismático de uma seita denominada "A Causa" consegue formar um grupo de seguidores ao seu redor. Pregando a existência de diversas vidas passadas em reencarnações, ele saiu doutrinando a todos por onde passa na América da década de 1950. Vencedor do Leão de Prata de Melhor Direção e de Melhor Ator para Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman, no Festival de Veneza.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O Solista

Nathaniel Ayers (Jamie Foxx) tinha tudo para ter um futuro brilhante. Ainda bastante jovem conseguiu ser aceito em uma das escolas de música mais prestigiadas e concorridas dos Estados Unidos, a Juilliard de Nova Iorque. Músico talentoso tinha realmente um caminho excepcional para trilhar nos anos que viriam. O problema é que em seu segundo ano estudando na Juilliard ele acabou desenvolvendo uma das mais devastadoras doenças mentais, a esquizofrenia. Sem condições psiquiátricas para seguir em frente teve que abandonar praticamente tudo. Sem meio de vida ou apoio de quem quer que seja, acabou nas ruas de Los Angeles, virando mais um dos milhares de sem teto que vagam pelas grandes metrópoles dos Estados Unidos. Certamente uma história bem triste e melancólica que acabou sendo descoberta meio que ao acaso pelo jornalista Steve Lopez do jornal Los Angeles Times. Sua reportagem sobre Nathaniel tocou fundo no público americano que se impressionou com a descida aos infernos do músico que vagava pelas ruas da grande cidade. Foi justamente em cima dessa série de matérias que o roteiro de “O Solista” foi escrito. Para interpretar o pobre músico esquizofrênico o estúdio escalou Jamie Foxx, que tão bem já havia interpretado outro grande músico, Ray Charles, em “Ray”. Para o papel do jornalista do Times surge Robert Downey Jr, dando um tempo em seus personagens de blockbusters como “Homem de Ferro” e “Sherlock Holmes”.

Como se vê tudo parece se encaixar em “O Solista” – trama edificante, assunto importante e temática mais do que humana. Infelizmente o filme não consegue decolar. Não há dúvidas que o cineasta  Joe Wright é talentoso. O problema é que particularmente nessa produção ele surge com a mão pesada demais. O filme não tem sutileza e nem ameniza o tema para o público em geral. O excesso de crueza e melancolia acaba tornando a obra cinematográfica um exercício muito enfadonho e complicado de acompanhar. A música que poderia ser a salvação da película surge muito tímida e em segundo plano. Além disso o excesso de exploração em torno da doença mental do protagonista deixa aquela sensação ruim de que estão forçando a barra para sensibilizar os membros da Academia para quem sabe depois concorrer a algum Oscar. Não é por aí. Temas difíceis como esse exigem uma certa sensibilidade e sutileza que certamente faltam em “O Solista”. Foxx até está bem mas não empolga e nem consegue transformar seu personagem em alguém carismático que cative o espectador. Robert Downey Jr também não ajuda muito, repetindo à exaustão todos os seus maneirismos que já conhecemos tão bem. No saldo final “O Solista” promete mais do que cumpre. A sensação de desapontamento no final da sessão resume bem o resultado final do filme.

O Solista (The Soloist, Estados Unidos, 2008) Direção: Joe Wright / Roteiro: Susannah Grant / Elenco: Jamie Foxx, Robert Downey Jr., Catherine Keener, Rachael Harris / Sinopse: Após estudar por dois anos na prestigiada escola de música Juilliard em Nova Iorque um músico negro começa a desenvolver sintomas de esquizofrenia. Diagnosticada e abandonado à própria sorte ele tenta sobreviver da melhor forma possível pelas ruas de Los Angeles até sua história ser resgatada por um famoso jornalista de um dos grandes jornais dos EUA, o Los Angeles Times.

Pablo Aluísio.