Se estivesse vivo em 2012 o cantor e compositor Luiz Gonzaga (1912 – 1989) estaria completando 100 anos. Para celebrar seu centenário uma série de eventos e festividades foram realizadas pelo Brasil afora para relembrar esse verdadeiro ícone da cultura nordestina e brasileira. Nascido em uma família humilde do interior de Exu em Pernambuco, Luiz Gonzaga teve uma vida extremamente rica em termos culturais. O filme “Gonzaga – De Pai Para Filho” vem para suprir essa grande lacuna do cinema brasileiro, uma vez que um personagem tão importante de nossa cultura já deveria ter sido objeto de uma cinebiografia há muitos anos. A direção coube ao talentoso cineasta Breno Silveira que já tinha se dado muito bem em um filme de temática parecida, o grande sucesso de público e crítica “Os Dois Filhos de Francisco”. É um diretor que sabe lidar muito bem com a brasilidade dos rincões, do interior de nossa nação. Seu retrato dos primeiros anos de Luiz Gonzaga reforça muito bem esse aspecto. O sertão surge com toda a sua desolação de terra árida, diria até mesmo hostil. É nesse ambiente que surge a figura de Gonzaga pela primeira vez. Filho do também sanfoneiro Januário e da guerreira Santana, Luiz sonha em conquistar a filha do coronel mas isso, dentro daquele contexto histórico, era simplesmente impossível. Pobre e negro jamais conseguiria convencer o pai da moça da realização de suas pretensões românticas pois ela era o extremo oposto disso, branca e rica. Após ser ameaçado literalmente de morte por causa de sua paixão proibida resolve “ganhar o mundo”, numa trajetória que é por demais comum para o povo nordestino.
Depois de alguns anos no Exército resolve dar baixa e vai para o Rio de Janeiro onde tenta sobreviver de sua música. Essa parte do filme é muito elucidativa pois mostra bem a situação de miséria em que muitos artistas vivem em nosso país. Mesmo com tanto talento não sobrou muito a ele e um amigo de violão a não ser tocar em praça pública em troca de alguns trocados. Um triste retrato de nosso povo desamparado e entregue à própria sorte. Depois de muitas decepções um freqüentador de bar dá a grande idéia para o sanfoneiro. Ele deveria deixar as músicas de tango que vinha apresentando até então para investir na música nordestina de raiz, do baião e é justamente com essa sonoridade que ele finalmente encontra o caminho do sucesso profissional. É óbvio que uma vida tão rica, em uma carreira que durou mais de 40 anos, não poderia ser resumida em apenas duas horas de filme. Por essa razão as lacunas são simplesmente inevitáveis. Em termos de dramaturgia o foco acaba sendo o do complicado relacionamento entre Gonzaga e seu filho Gonzaguinha. Essa foi uma decisão mais do que acertada pois mostra o lado mais humano do biografado. Grande artista, foi um pai ausente. Além disso não concordavam em praticamente nada, nem no estilo musical e nem muito menos no posicionamento político. Gonzaguinha era um homem de esquerda, que criou vários hinos da luta contra a ditadura militar nos anos de chumbo. Já seu pai era um ex-militar que simpatizava com o regime. Bom, ninguém é perfeito não é mesmo? No saldo final é uma bela homenagem a ambos. Luiz Gonzaga que cantou seu povo, sua realidade e sua vida já é imortal. Um nome que não deve ser esquecido jamais.
Gonzaga – De Pai Para Filho (Idem, Brasil, 2012) Direção: Breno Silveira / Roteiro: Patricia Andrade / Elenco: Adelio Lima, Chambinho do Acordeon, Land Vieira, Julio Andrade, Giancarlo di Tomazzio, Alison Santos, Nanda Costa, Silvia Buarque, Luciano Quirino, Claudio Jaborandy, Cyria Coentro / Sinopse: Cinebiografia de Luiz Gonzaga, cantor nordestino que conquistou o Brasil ao cantar sobre a realidade e o sofrimento do povo do nordeste brasileiro.
Pablo Aluísio.