quinta-feira, 4 de março de 2021

O Beijo da Mulher-Aranha

Em grande parte do filme temos apenas dois personagens em cena. Ele são prisioneiros e estão dentro de uma cela. E são pessoas bem diferentes entre si. Valentin Arregui (Raul Julia) é um prisioneiro político. Socialista de formação, foi pego tentando passar um passaporte falso para outro companheiro de luta. Luis Molina (William Hurt) é um homossexual que seduziu um rapaz menor de idade. Acabou sendo condenado a oito anos de cadeia em uma prisão muito suja e super lotada. O filme não diz exatamente em que país eles cumprem pena, mas fica claro desde sempre que é no Brasil.

Precisando viver juntos, eles precisam superar as diferenças e acabam se tornando bem próximos. O personagem de William Hurt conta as histórias dos velhos filmes que assistiu no passado. Algumas vezes suas lembranças são deixadas de lado para a imaginação fluir e ele cria seus próprias enredos. Ele é um encarcerado, mas sua mente pode ir longe. O pior porém é que ele é levado pelo diretor da prisão a trair seu amigo de cela. Ele precisa trazer informações do preso político, saber suas conexões, uma espécie de traição sutil que vai desandar em um final trágico. Nesse aspecto o filme não nega suas origens bem teatrais pois tudo é desenvolvido em ambiente quase único, tudo fundado em ótimos diálogos.

"O Beijo da Mulher-Aranha" aliás foi o mais perto que o cinema brasileiro chegou de ganhar um Oscar. William Hurt venceu o Oscar de melhor ator naquele ano e fez uma saudação em português para o Brasil enquanto recebia o prêmio. O filme realmente é praticamente todo nacional, com elenco coadjuvante formado por atores brasileiros falando inglês e equipe técnica de nacionalidade verde e amarela. Então de fato, tirando Hurt e alguns outros profissionais estrangeiros, temos aqui um produto de nosso cinema. O resultado é dos melhores. O filme não envelheceu muito com o passar dos anos pela simples razão que é um daqueles filmes em que a atuação fica em primeiro plano. E nesse aspecto não há o que reclamar. É um belo momento do cinema brasileiro.

O Beijo da Mulher-Aranha (Kiss of the Spider Woman. Brasil, Estados Unidos, 1985) Direção: Hector Babenco / Roteiro: Manuel Puig, Leonard Schrader / Elenco: William Hurt, Raul Julia, Sônia Braga, José Lewgoy, Milton Gonçalves, Nuno Leal Maia, Fernando Torres, Herson Capri, Denise Dumont, Wilson Grey, Miguel Falabella / Sinopse: Dois prisioneiros vivem o drama de cumprir pena em uma prisão de um país da América Latina. Filme premiado com o Oscar na categoria de melhor ator (William Hurt). Também indicado nas categorias de melhor filme, melhor direção e melhor roteiro adaptado.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 3 de março de 2021

O Exorcista III

Esse filme é um dos mais subestimados da história do cinema americano. "O Exorcista 2 - O Herege" foi uma das maiores porcarias da franquia, por isso muita gente não foi ver esse terceiro filme da série "O Exorcista". Perderam muito. O fato, e digo isso sem favor algum, é que "O Exorcista III" é um filmão! Na verdade o filme deveria se chamar "The Legion" pois o roteiro foi adaptado desse livro de terror escrito por William Peter Blatty, o mesmo que escreveu o clássico "O Exorcista". No meio das filmagens os produtores decidiram que ele iria chegar nas telas de cinema como "O Exorcista III" por causa da força do nome comercial.

O filme conta a história de uma investigação policial a cargo do detetive Kinderman (George C. Scott). Várias pessoas são encontradas mortas, decapitadas e com sinais de que foram realizados rituais religiosos durante os assassinatos. Entre os mortos estão dois padres e um adolescente. Conforme as investigações avançam o velho policial vai encontrando semelhanças com o modo de agir de um antigo serial killer. O problema é que ele está morto há anos. E um louco insano, internado em um hospício, parece ter as respostas que o velho policial tanto procura.

"O Exorcista III" aposta com muito sucesso em um terror psicológico de primeira linha. Há uma longa cena, dentro de um quarto de manicômio, entre os atores Brad Dourif e George C. Scott, que verdadeiramente me impressionou. Tudo construído apenas no talento dos atores e na força de diálogos mais do que afiados. Um show de interpretação! O interessante é que após as filmagens o estúdio decidiu que um novo final seria filmado e nem isso prejudicou o filme, pelo contrário, lhe trouxe mais consistência cinematográfica. Hoje em dia as duas versões, a do diretor e a do estúdio, estão disponíveis em DVD. Enfim, posso dizer que esse filme merece ser mais reconhecido nos dias de hoje. Com roteiro inteligente (o mais complexo da franquia, para dizer a verdade) e um elenco de grandes atores em cena, "O Exorcista III" é uma pequena obra prima do gênero terror. Merece lugar de destaque em sua coleção.

O Exorcista III (The Exorcist III, Estados Unidos, 1990) Direção: William Peter Blatty / Roteiro: William Peter Blatty / Elenco: George C. Scott, Ed Flanders, Brad Dourif, Nicol Williamson, Scott Wilson, Nancy Fish / Sinopse: Um veterano policial precisa investigar uma série de assassinatos com aparente motivação religiosa. E para sua surpresa, todas as respostas parecem estar com um louco insano aprisionado em um manicômio judiciário. Filme premiado na categoria de melhor roteiro pela Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films.

Pablo Aluísio.

Halloween 4

O filme "Halloween 3" foi um verdadeiro desastre. Fracasso de público e crítica, irritou principalmente os fãs dessa franquia de filmes de terror. Por essa razão os produtores decidiram voltar ao básico. A primeira decisão foi trazer de volta o psicopata Michael Myers. Assim o assassino acabava fugindo de uma ambulância que o levava de um hospício para o outro. De volta às ruas, livre e desimpedido, ele voltava a fazer o que sempre fazia nos filmes anteriores: matar pessoas na noite de Halloween, E seu principal alvo agora era uma garotinha de apenas 10 anos, sua sobrinha, que nem era nascida quando ele matou pela primeira vez.

"Halloween 4" foi lançado em 1988 para celebrar os 10 anos de lançamento do primeiro filme. Inegavelmente é um filme bem melhor do que o terceiro. Tem enredo redondinho e traz aquilo que os fãs esperavam encontrar nas telas de cinema. Também tem um roteiro bem melhor que procura desenvolver, mesmo que de forma mínima, todos os personagens do filme, sendo a maioria deles um bando de jovens com os hormônios em alta. 

Claro, Mike Myers continuou a ser um vilão básico de filmes de terror dos anos 80. Com faca na mão e máscara no rosto, com zero em termos de diálogo, ele se tornava mais genérico do que nunca. Mas o roteiro funcionava criando boas situações. Imagine tentar capturar um criminoso desses na noite de Halloween com centenas de jovens usando sua mesma máscara. Assim "Halloween 4", apesar de não ser um grande filme, muito longe disso, traz o exatamente aquilo que todos esperavam da franquia. Tem boa produção, um roteiro de acordo com o que se via nos filmes do passado e um grupo de belas jovens para, mais cedo ou mais tarde, caírem nas mãos do assassino insano. Para um filme que foi produzido e lançado nos anos 80 já estava de bom tamanho.

Halloween 4: O Retorno de Michael Myers (Halloween 4: The Return of Michael Myers, Estados Unidos, 1988) Direção: Dwight H. Little / Roteiro: Dhani Lipsius, Larry Rattner / Elenco: Donald Pleasence, Ellie Cornell, Danielle Harris / Sinopse: Após ficar anos internado em manicômios para criminosos loucos, o assassino Mike Myers consegue fugir. E na noite de Halloween ele retorna para sua cidade natal com o plano de matar sua sobrinha, uma garotinha com apenas 10 anos de idade.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 2 de março de 2021

Meu Amigo Dahmer

Esses são os quadrinhos que deram origem ao filme, que inclusive já comentei aqui no blog. O autor Derf Backderf foi colega do psicopata Jeff Dahmer em uma escola do interior dos Estados Unidos na década de 1970. Apesar dos quadrinhos se chamar "Meu Amigo Dahmer" o fato é que ele não era amigo de Dahmer, ninguém era. Em sua juventude o futuro serial killer era um tipo esquisito que levava animais mortos para casa. Ele morava em uma residência afastada, quase dentro da floresta e era um daqueles tipos calados, de nenhum amigo.

Sua vida familiar era bem complicada. A mãe tinha histórico de problemas mentais e o pai era uma figura ausente. Quando eles se separaram, após anos e anos de brigas sem fim, Jeff Dahmer foi deixado para trás, sozinho naquela casa isolada. Outro segredo que Dahmer guardava a sete chaves é que ele era homossexual. Ninguém na escola sequer desconfiava disso. Além desse aspecto ele desde cedo começou a abusar de bebidas, chegando já bêbado na escola pela manhã.

Não vá esperando por um banho de sangue nessa história. O Jeff Dahmer mostrado aqui é apenas um colegial. O terrível serial killer que o mundo conheceu, seus crimes horrendos, tudo isso só iria acontecer anos depois. Aqui temos apenas a história de um jovem isolado, solitário, provavelmente com doença mental não diagnosticada, que acabou sendo deixado de lado pelos pais. E esse conjunto de fatores acabou resultando em todos aqueles crimes que hoje já são bem conhecidos. É a gênesis, a oriigem de um assassino em série e talvez por essa razão seja um material bem interessante. 

Meu Amigo Dahmer
Autor: Derf Backderf
Editora: Darkside Books
Data de Lançamento: 2017

Pablo Aluísio.

Era Uma Vez no México

Título no Brasil: Era Uma Vez no México
Título Original: Once Upon a Time in Mexico
Ano de Produção: 2003
País: Estados Unidos, México
Estúdio: Columbia Pictures, Dimension Films
Direção: Robert Rodriguez
Roteiro: Robert Rodriguez
Elenco: Antonio Banderas, Salma Hayek, Johnny Depp, Mickey Rourke, Eva Mendes, Danny Trejo

Sinopse:
Um pistoleiro profissional, um matador de aluguel, conhecido como "El Mariachi" envolve-se em espionagem internacional, mesmo sem querer. E ele não está só, no jogo perigoso ainda surge um agente psicótico da CIA e um general mexicano corrupto. Filme indicado ao Teen Choice Awards.

Comentários:
Robert Rodriguez dirigiu esse remake americano de um pequeno filme latino, com orçamento quase nulo, que chamou a atenção da crítica na época, o independente e pequeno "El Mariachi". Funcionou essa nova versão, com mais dinheiro, mais recursos e mais marketing? Em minha opinião, não! O charme do primeiro filme, do original, era justamente ser pequenino e cheio de imaginação. Nessa releitura feita por um grande estúdio de Hollywood o que era pura imaginação, virou explosão. O que era esforço coletivo dos atores quase amadores, virou uma reunião de astros do cinema americano, todos milionários, que no fundo não estavam nem aí com essa nova versão. No quadro geral o que temos é um filme fraco, sem graça, que vai para o puro tédio. Quando você mostra uma explosão a cada cinco minutos de filme a tendência é cansar rapidamente o espectador. Robert Rodriguez sempre foi dado a exageros desse tipo e aqui nessa produção não foi diferente. O bocejo vem mais cedo ou mais tarde. Com pouco tempo de filme deixamos de nos importar com os (rasos) personagens. Enfim, chato e derivativo, nada mais.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 1 de março de 2021

Pare! Senão Mamãe Atira

Título no Brasil: Pare! Senão Mamãe Atira
Título Original: Stop! Or My Mom Will Shoot
Ano de Produção: 1992
País: Estados Unidos
Estúdio: Northern Lights Entertainment
Direção: Roger Spottiswoode
Roteiro: Blake Snyder, William Osborne
Elenco: Sylvester Stallone, Estelle Getty, JoBeth Williams, Roger Rees, Martin Ferrero, Gailard Sartain

Sinopse:
A mãe coruja do sargento da polícia de Los Angeles Joe Bomowski (Sylvester Stallone) vem visitá-lo e começa a interferir em sua vida e carreira, criando uma série de momentos pra lá de constrangedores para o veterano policial. E a vergonha alheia não parece ter limites!

Comentários:
Esse roteiro foi inicialmente oferecido para Arnold Schwarzenegger. Ele achou um dos roteiros mais imbecis que já tinha lido na vida, mas pela imprensa elogiou bastante, dizendo que adoraria fazer o filme. Por qual razão ele fez isso? Para que seu principal rival nas telas, Sylvester Stallone, se interessasse pelo filme. E Stallone caiu como um patinha na armadilha de Schwarzenegger. Ele correu para comprar os direitos do roteiro e... se deu muito mal. Fracasso de público e crítica essa comédia sem graça é qualificada até hoje pelo próprio Stallone como seu pior filme. A verdade é que esses dois astros de filmes de ação se convenceram - sabe-se lá o porquê - de que eram comediantes engraçados. Não eram. Todas as comédias de Stallone (e de Schwarzenegger também, não vamos livrar a barra dele!) são filmes bem ruins. Entram na série "como eu vou destruir minha carreira de sucesso no cinema" sem favor algum. Passe longe e se viu o filme nos anos 90 faça um favor a si mesmo e esqueça!

Pablo Aluísio.

O Homem dos Músculos de Aço

Título no Brasil: O Homem dos Músculos de Aço
Título Original: Pumping Iron
Ano de Produção: 1977
País: Estados Unidos
Estúdio: Rollie Robinson, White Mountain Films
Direção: George Butler, Robert Fiore
Roteiro: Charles Gaines, George Butler
Elenco: Arnold Schwarzenegger, Lou Ferrigno, Matty Ferrigno, Victoria Ferrigno, Franco Columbu, Ed Corney

Sinopse:
Documentário que mostra os bastidores da competição de fisiculturismo Mr. Olympia. Disputando o primeiro lugar surgem o campeão Arnold Schwarzenegger, que agora precisa enfrentar a nova sensação da musculação, o jovem Lou Ferrigno. Quem se tornará o grande campeão?

Comentários:
Em sua autobiografia Arnold Schwarzenegger escreveu que considerava esse o seu verdadeiro primeiro filme. Ele havia aparecido nas telas pela primeira vez em uma produção B, quase amadora, chamada "Hercules in New York". Só que era uma bobagem tremenda. Esse aqui era um documentário de verdade, feito por profissionais do cinema. A intenção era promover o fisiculturismo nos Estados Unidos. Embora fosse um esporte popular na Europa, na América ainda não tinha se tornado muito conhecido. O Mr. Olympia era uma das competições mais cobiçadas pelos atletas e o documentário captou bem os bastidores desse evento. Curiosamente o grande rival de Schwarzenegger aqui era um jovem talento, um ainda bem pouco conhecido Lou Ferrigno. Filho de um policial de New Jersey ele tentava tirar o campeão do pódio. Um aspecto curioso é que esse fisiculturista iria se tornar bem popular nos anos 70 quando conseguiu o papel do Hulk na famosa série de TV, que se tornou um sucesso inclusive no Brasil, sendo exibido pela Rede Globo por anos.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Dois Amores

Título no Brasil: Dois Amores
Título Original: Two Loves
Ano de Produção: 1961
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Charles Walters
Roteiro: Ben Maddow, Sylvia Ashton-Warner
Elenco: Shirley MacLaine, Laurence Harvey, Jack Hawkins. Nobu McCarthy, Ronald Long, Norah Howard

Sinopse:
Anna Vorontosov (Shirley MacLaine) é uma professora americana que é indicada para ensinar numa distante escola rural de uma ilha da Nova Zelândia. Seus alunos, em sua grande maioria, são nativos Maoris. Logo Anna entende que métodos tradicionais de ensino não vão funcionar muito bem com aqueles jovens. Ela então decide inovar, ensinando de uma forma mais livre e clara, o que acaba desapontando as autoridades de ensino, entre eles o inspetor Brit William Abercrombie (Jack Hawkins) que considera seu sistema de ensinar simplesmente desorganizado e caótico! Filme indicado ao Urso de Ouro no Berlim International Film Festival.

Comentários:
Filme por demais interessante mostrando aspectos da vida de uma professorinha que acaba tendo como desafio ensinar um grupo de jovens nativos usando métodos tradicionais de ensino. Ela logo entende que o que funciona para alunos americanos certamente não irá funcionar com aqueles garotos Maoris. O roteiro explora muito bem a dificuldade de tentar unir duas culturas completamente diferentes. Há um contexto histórico que a professora entende ser inadequada para aquele alunado, mas seus superiores não pensam bem assim. Disso nasce o conflito de visões. A crescente amizade entre Anna e Whareparita, de apenas 15 anos, acaba abrindo os olhos dela sobre a real natureza daquela situação. Shirley MacLaine assume seu primeiro papel adulto, deixando a vaidade de lado, assumindo um figurino mais sóbrio e sem glamour. Antes, a atriz havia optado por uma imagem de garota espevitada, muitas vezes até inocentemente apaixonada. Aqui ela realmente muda os rumos de sua carreira em um belo filme, que consegue misturar drama, romance e assuntos relevantes. Muito interessante e mais atual do que nunca!

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Aventureiro de Sorte

Clássico do cinema estrelado pelo ator e galã Cary Grant. Que história esse filme nos conta? Joe Adams (Cary Grant) é um trapaceiro que fica de olho numa grande bolada que será doada a uma instituição de caridade. Ele então resolve assumir uma nova identidade falsa, a de um sujeito morto chamado Joe Bascopolous, para se aproximar dos ricaços que darão o dinheiro para os mais necessitados. Nesse ínterim ele acaba conhecendo a bela e simpática Dorothy Bryant (Laraine Day), jovem pertencente a uma das famílias mais ricas de Nova Iorque, que mexerá com seu coração e mudará sua forma de encarar o mundo.  O ator Cary Grant (1904 - 1986) se especializou em filmes sofisticados e românticos ao longo de toda a sua carreira. Aqui ele tem a chance de interpretar um "quase vilão", isso mesmo, um sujeito que inicialmente é cheio de más intenções, mas que acaba mudando de ideia quando conhece uma linda e doce jovem que muda seu, digamos assim, "estilo de vida". O roteiro é uma inovação da fábula do bom ladrão que encontra a redenção no amor de uma mulher. O que salva tudo no final das contas é o texto que tem um senso de humor único, muitas vezes resvalando para o cinismo e isso poderá surpreender quem estiver em busca de uma comédia romântica de costumes mais simplória e comum. O próprio título original é um trocadilho inspirado.

O filme foi lançado em um período histórico complicado, com o mundo sendo assolado pela segunda guerra mundial e serviu como um alívio no meio daquele caos em que todos viviam. Também é fortemente endereçado ao público feminino que na época havia se tornado o principal consumidor de cinema dentro do mercado americano, afinal de contas os homens americanos em sua maioria estavam lutando na Europa e no Pacífico. Se há uma crítica maior a se fazer sobre o resultado final talvez seja a falta de uma química melhor entre o casal principal, fato que foi observado pelos críticos americanos na época. De qualquer forma temos que reconhecer que isso é de menor importância tendo em vista o bom roteiro e as atuações inspiradas de Grant e Laraine Day. Hoje em dia a produção serve acima de tudo para mostrar uma sofisticação que anda bem perdida dentro do cinema americano atual. Uma prova de que comédias românticas não precisam ser bobas e nem muito menos piegas.

Aventureiro de Sorte (Mr. Lucky, Estados Unidos, 1943) Estúdio: RKO Radio Pictures / Direção: H.C. Potter / Roteiro: Milton Holmes / Elenco: Cary Grant, Laraine Day, Charles Bickford / Sinopse: Cary Grant interpreta um vigarista, um golpista, que acaba se apaixonando pela mulher de seus sonhos, o que o faz mudar de ideia sobre o mundo e o jeito que ele leva sua vida.

Pablo Aluísio.

A Sombra na Janela

Título no Brasil: A Sombra na Janela
Título Original: The Shadow on the Window
Ano de Produção: 1957
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: William Asher
Roteiro: David P. Harmon, John Hawkins
Elenco: Philip Carey, Betty Garrett, John Drew Barrymore, Corey Allen, Jerry Mathers, Sam Gilman

Sinopse:
Jess Reber (John Drew Barrymore) cultiva uma mente assassina e psicopata. Dono de uma personalidade carismática, ele influencia três adolescentes a lhe seguirem em uma noite de crime e terror. Eles resolvem invadir uma casa isolada para matar o seu próspero proprietário, mas são surpreendidos pela presença de uma de suas empregadas, Linda Atlas (Betty Garrett), que trabalha como secretária no local. Assim a tornam refém. A questão é que ela é ex-esposa de um detetive, Tony Atlas (Philip Carey), que fará de tudo para libertá-la.

Comentários:
Na década de 1950 os Estados Unidos ficaram chocados com uma série de assassinatos sem motivos causados por pessoas que aparentemente eram normais, faziam parte da sociedade e que de uma hora para outra tinham surtos de psicopatia e saíam matando a esmo. Esse roteiro, extremamente eficiente, procura explorar uma situação de puro terror quando um senhor vê sua casa invadida por um bando de criminosos que começam um jogo de sadismo e tortura com ele, sua secretária e o pequeno filho que se encontra na casa. Não diria que se trata propriamente de um filme noir, mas que é diretamente influenciado por essa estética. Em uma época em que o cinema ainda não havia descoberto o filão dos filmes sobre psicopatas e serial killers, esse "The Shadow on the Window" acabou se tornando pioneiro no gênero. A direção de William Asher é precisa e procura mostrar o lado mais subjetivo do drama. O ator John Drew Barrymore, como o próprio nome já entrega, se tornaria pai da futura estrela Drew Barrymore, e está perfeito em sua caracterização de um homem frio e sem consciência. Pelo visto o talento é realmente passado de pai para a filha nessa tradicional família de artistas. Assim, caso você esteja em busca dos primórdios dos filmes sobre criminosos insanos, esse certamente se tornará uma boa opção.

Pablo Aluísio.