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sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Uma Lição Para não Esquecer

Excelente filme dirigido pelo ator Paul Newman. Ele interpreta Hank Stamper, o filho mais velho de uma família de lenhadores. O pai Henry Stamper (Henry Fonda) é um sujeito austero, rígido, durão, que não admite que seus filhos demonstrem qualquer sinal de moleza. Ele impõe praticamente um regime militar dentro de sua própria casa. Todos os dias acorda toda a família às quatro da manhã para que eles estejam ao amanhecer na floresta, derrubando árvores. Se orgulham dessa forma de viver, como trabalhadores honestos que ganham a vida com o suor do próprio rosto. Quando uma greve de madeireiros explode na região os Stampers se recusam a descumprir seus contratos, parando o serviço e por isso decidem  continuar a trabalhar no dia a dia, como sempre fizeram. Isso acaba criando uma tensão com o sindicato de trabalhadores que começa a promover atos de sabotagem contra a família. Eles porém não estão dispostos a mudarem seu ponto de vista e vão até o final para levar a madeira até os depósitos da empresa que os contrataram. Para complicar ainda mais a situação do clã a volta do caçula Leeland Stamper (Michael Sarrazin), após passar vários anos fora cursando uma universidade, embaralha a já complicada situação familiar dentro da casa dos Stampers. Para o patriarca Henry aquela seria uma visita inesperada que ele agora terá que lidar da melhor maneira possível.

O roteiro do filme é baseado no best-seller do autor Ken Kesey. Em sua obra ele criou um retrato da típica família operária da sociedade americana. Os valores da classe trabalhadora são colocados em choque com os ideais do sindicato da região. Para os Stampers aqueles sindicalistas não passariam de comunistas disfarçados e eles não estariam dispostos a abrirem mão de sua ética de trabalho, descumprindo os contratos que assinaram. O núcleo familiar dos Stampers é formado por excelentes atores. O velho Henry Fonda é o patriarca. Ele passa praticamente o filme inteiro engessado após sofrer um sério acidente na floresta. Isso em nada tira sua visão de vida. Mesmo afastado do trabalho ele faz questão que seus filhos continuem a rotina dura de acordar de madrugada para passar o dia inteiro no meio da floresta derrubando árvores. O caçula da família é Leeland (Sarrazin), um jovem com outra visão de vida. Ele passou vários anos fora, estudando numa universidade, porém desempregado na grande cidade acaba voltando para o antigo lar, para trabalhar ao lado dos irmãos na floresta, um trabalho duro, onde apenas os fortes sobrevivem. Como viveu na cidade grande ele tem uma visão mais liberal do mundo, o que contrasta com seus irmãos mais rudes, que vivem da floresta. Por fim Paul Newman consegue demonstrar que também tinha grande talento para a direção. Ele criou um filme extremamente bem realizado que ganha muitos pontos positivos por causa da narrativa e das excelentes sequências na floresta, principalmente nas cenas mais impactantes, como por exemplo quando seu irmão no filme, Joe Ben (Richard Jaeckel), fica preso embaixo de um enorme tronco de árvore pesando algumas toneladas. Ele tenta de todas as formas salvar sua vida, mas a força da natureza acaba vencendo todos os seus esforços. O melhor porém vem na última cena do filme, com um maravilhoso toque de humor negro que fecha com chave de ouro essa excelente produção assinada pelo grande Paul Newman em um dos melhores momentos de toda a sua carreira.

Uma Lição Para não Esquecer (Sometimes a Great Notion, EUA, 1970) Direção: Paul Newman / Roteiro: John Gay, baseado na obra de Ken Kesey / Elenco: Paul Newman, Henry Fonda, Michael Sarrazin, Lee Remick, Richard Jaeckel / Sinopse: A família Stamper é formada por lenhadores. Quando o sindicato da categoria resolve fazer uma greve na região do Oregon eles se recusam a participar do movimento. Isso acaba criando uma tensão entre os Stampers e os demais trabalhadores, mas engana-se quem pensa que eles vão dar o braço a torcer pela pressão que sofrem. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Música e Melhor Ator Coadjuvante (Richard Jaeckel).

Pablo Aluísio.

terça-feira, 27 de junho de 2017

Jezebel

A atriz Bette Davis costumava dizer que o diretor William Wyler era um verdadeiro tirano durante as filmagens e que paradoxalmente a isso ele havia conseguido lhe tirar as melhores interpretações de sua carreira. O filme "Jezebel" vem justamente para confirmar as afirmações de Davis. Aqui ela interpreta Julie Marsden, uma jovem dama sulista na New Orleans do século XIX. Mimada, geniosa e dada a ataques de capricho, ela coloca seu romance com o banqueiro Preston Dillard (Henry Fonda) em risco, justamente por causa de sua personalidade.

Preston gosta dela, é verdadeiramente apaixonado, porém a paciência vai se acabando. Durante um tradicional baile sulista, onde as jovens solteiras sempre vão com lindos vestidos brancos, numa tradição muito valorizada no sul, Julie decide aparecer com um vestido todo vermelho, bem berrante, para escândalo da sociedade local. Essa "vergonha" começa a minar o romance dela com o jovem banqueiro, que afinal de contas é muito suscetível a qualquer problema dentro das regras daquela sociedade, uma vez que é um banqueiro que precisa preservar sua imagem perante seus clientes.

Dois aspectos históricos bem interessantes acompanham o enredo de "Jezebel". O primeiro é o fato da história se passar apenas poucos anos antes do começo da guerra civil americana. Já naquela época os ânimos surgem bem aflorados, dominando as conversas dos sulistas pelos salões das cidades. Outro é o surgimento da febre amarela no sul, levando morte e destruição em uma escala jamais vista. Essa doença que se dissemina com extrema rapidez vai ser essencial no desenrolar da história, culminando numa forte cena final que certamente marcou época e é o grande momento de todo o filme.

"Jezebel" foi baseado numa peça escrita por Owen Davis. De certa forma foi uma produção que antecipou em um ano o impacto do clássico "E o Vento Levou". As duas histórias dos filmes são bem parecidas, com enredos se passando no sul escravocrata, nos tempos da guerra civil. As duas protagonistas também são bem semelhantes. Até mesmo em termos de premiação da academia temos semelhanças pois Bette Davis foi merecidamente premiada com a estatueta de melhor atriz do ano com essa interpretação. Ela era ainda bem jovem, mas já imprimia a marca de sua forte personalidade em sua personagem. Décadas mais tarde, após o falecimento de Bette Davis, o diretor Steven Spielberg compraria o Oscar que ela havia sido premiada por esse filme e que estava à venda em um leilão em Londres. Ele comprou a estatueta e a devolveu para o museu da academia em Hollywood. Um gesto de preservação da história do cinema. Em suma, esse é de fato um dos melhores filmes históricos desse momento crucial na história dos Estados Unidos. Um clássico absoluto do cinema americano em sua era de ouro.

Jezebel (Jezebel, Estados Unidos,1938) Direção: William Wyler / Roteiro: Clements Ripley, Abem Finkel / Elenco:  Bette Davis, Henry Fonda, George Brent / Sinopse: Julie (Bette Davis) é uma jovem mimada e de personalidade forte. Ela tem um romance com um jovem banqueiro chamado Preston (Fonda), mas esse vai aos poucos perdendo a paciência com seus inúmeros caprichos. Quando a febre amarela assola a região o casal se colocará a prova, principalmente quando Julie descobrir que o grande amor de sua vida se casou com uma jovem do norte após o rompimento de seu conturbado namoro. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Fotografia (Ernest Haller) e Melhor Música (Max Steiner). Vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Bette Davis) e Melhor Atriz Coadjuvante (Fay Bainter).

Pablo Aluísio.

sábado, 13 de maio de 2017

A Mocidade de Lincoln

Título no Brasil: A Mocidade de Lincoln
Título Original: Young Mr. Lincoln
Ano de Produção: 1939
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: John Ford
Roteiro: Lamar Trotti
Elenco: Henry Fonda, Alice Brady, Marjorie Weaver, Arleen Whelan, Eddie Collins, Richard Cromwell
  
Sinopse:
O sonho do jovem Abraham Lincoln (Henry Fonda) é se tornar um grande advogado. Até chegar lá porém ele terá que superar muitos desafios. Filho de uma humilde família da interiorana Hodgenville, no Kentucky, trabalhador rural, ele precisa mostrar seu valor nos estudos, mesmo sem muito apoio ou incentivo por parte de seus pais. O filme narra justamente os anos iniciais de sua vida profissional, quando apenas sonhava em vencer na vida.

Comentários:
Quando se fala em filmes sobre a figura do presidente Abraham Lincoln, sempre se lembra dessa produção dos anos 30. É um dos clássicos da brilhante carreira do mestre John Ford. O filme foi vencedor do Oscar na categoria de Melhor Roteiro (Lamar Trotti) justamente por romantizar os primeiros anos de atuação de Lincoln, quando ele era apenas um jovem advogado desconhecido, do interior do Kentucky. Apesar de ser inegavelmente um grande filme, desses para se ter em sua coleção, o fato é que há dois pequenos erros em sua narrativa. O primeiro diz respeito aos próprios fatos mostrados na tela, todos eles meramente ficcionais. Obviamente Lincoln realmente foi um advogado de interior antes de entrar na vida política. Isso é certo, porém os acontecimentos mostrados no filme, os detalhes, as causas, essas são frutos da imaginação do roteirista Lamar Trotti. Outro erro digno de nota vem da própria personalidade do protagonista. Interpretado por Henry Fonda, o jeito de ser e agir do seu Lincoln tem mais a ver com a imagem simbólica que ele construiu em seus anos na Casa Branca, do que com a do jovem advogado cheio de prosa que é encontrado nos livros de história. Em sua juventude Abraham Lincoln era dado a contar causos, piadas e anedotas divertidas, muitas delas explorando a vida de um homem simples do campo. Nada a ver com atitudes gloriosas, majestosas, da imagem oficial. O Lincoln da história era bem mais divertido. Assim o filme perde bastante no quesito veracidade histórica, embora como puro cinema é realmente uma excelente obra cinematográfica.

Pablo Aluísio.

sábado, 24 de dezembro de 2016

Mister Roberts

Título no Brasil: Mister Roberts
Título Original: Mister Roberts
Ano de Produção: 1955
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: John Ford, Mervyn LeRoy
Roteiro: Frank S. Nugent, Joshua Logan
Elenco: Henry Fonda, Jack Lemmon, James Cagney, William Powell, Nick Adams, Betsy Palmer
  
Sinopse:
Segunda Guerra Mundial. Pacífico Sul. O Tenente 'Doug' Roberts (Fonda) serve em um velho cargueiro da Marinha americana. Ele a cada dia se sente mais frustrado pois sua embarcação não está relacionada diretamente a entrar em combate, se limitando a suprir as mercadorias das tropas aliadas naquela região. Com apenas 62 homens a bordo eles precisam aguentar as manias e ataques de maluquice de seu comandante, o capitão Morton (Cagney) que não parece disposto a facilitar a vida de ninguém. O que mais deseja Doug é ir embora do navio, para ser transferido para um destróier da armada, mas isso, como ele logo descobrirá, não será nada fácil. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme e Melhor Som. Vencedor do Oscar na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Jack Lemmon).

Comentários:
Baseado numa peça de grande sucesso da Broadway, "Mister Roberts" é uma simpática comédia ambientada na Segunda Guerra dirigida pelo mestre John Ford. É interessante que Ford pouco se aventurou nesse estilo, mas o apelo de levar a famosa e bem sucedida peça teatral falou mais alto e ele aceitou o convite da Warner para dirigir o filme. Inicialmente a produção seria estrelada por Marlon Brando (como Mister Roberts) e Spencer Tracy (como o médico a bordo, Doc), mas por motivos variados eles não foram contratados. O destino tem suas próprias razões e isso foi muito bom, uma vez que a dupla Fonda / Powell funcionou muito bem. Henry Fonda inclusive havia estrelado a peça da Broadway e seria naturalmente, mais do que qualquer outro ator, o nome ideal para a adaptação cinematográfica. Já Lemmon acabou levando o único Oscar do filme, numa interpretação muito divertida do desastrado segundo tenente Frank Thurlowe Pulver, oficial da lavanderia de roupas e da moral da tripulação (imaginem que mistura esquisita!). O roteiro foi escrito por dois diretores, Frank S. Nugent e Joshua Logan, e tem realmente um timing excelente. 

O tenente Roberts (Fonda) passa o tempo todo em uma guerra surda e não declarada para com o esquisito e carreirista capitão do barco, Morton (Cagney) que é um sujeitinho cheios de manias, como a de cultivar uma palmeira no convés do navio, sem que ninguém pudesse nem ao menos tocá-la. Como o filme é baseado numa peça teatral alguns aspectos de palco acabaram passando para a tela, como por exemplo, o desenrolar de toda a estória acontecendo em praticamente apenas um ambiente (o próprio cargueiro decadente chamado de "banheira" por todos os tripulantes). É lá que tudo se desenvolve. Curiosamente Fonda interpreta o bom oficial, amigo de todos, um colega de farda que é acima de tudo um apoio contra os desmandos do capitão, de quem ninguém gosta de verdade. O final, quando o tenente Roberts finalmente consegue sua tão sonhada transferência da embarcação para um navio poderoso da esquadra e o seu destino que o aguarda, é um dos mais tocantes que já vi. Uma lição irônica e ao mesmo tempo realista da vida e da luta que aguardavam todos aqueles militares no maior e mais sangrento conflito armado de todos os tempos.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Era uma Vez no Oeste

Título no Brasil: Era uma Vez no Oeste
Título Original: C'era una volta il West
Ano de Produção: 1968
País: Estados Unidos, Itália
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Sergio Leone
Roteiro: Sergio Donati, Sergio Leone
Elenco: Henry Fonda, Charles Bronson, Claudia Cardinale, Jason Robards, Gabriele Ferzetti, Paolo Stoppa
  
Sinopse:
Quando a bela Jill McBain (Claudia Cardinale) chega de viagem de New Orleans em uma pequenina cidade do velho oeste americano para se unir ao homem com o qual se casou e descobre que toda a sua família foi morta, ela percebe que sua vida praticamente acabou. O lugar está dominado pela quadrilha liderada pelo pistoleiro e sádico Frank (Henry Fonda), um mercenário que protege com extrema violência os interesses da companhia ferroviária, cujas linhas irião passar em breve pela região. O marido de Jill estava atrapalhando os planos da ferrovia e por essa razão foi eliminado por Frank e seus bandoleiros. Apenas dois homens parecem dispostos a proteger Jill da ameaça sempre constante de Frank, o rápido no gatilho Cheyenne (Jason Robards), um foragido da lei, e o introspectivo "Harmonica" (Bronson), um pistoleiro misterioso de origem desconhecida.

Comentários:
Para muitos críticos e especialistas em cinema esse é o melhor western spaghetti de todos os tempos. É a obra máxima que sintetiza como nenhuma outra a genialidade do mestre Sergio Leone. De fato, sob qualquer ponto de vista é impossível negar as qualidades cinematográficas desse verdadeiro clássico. Leone construiu uma verdadeira ópera visual, explorando com maestria todos os valores e dogmas sagrados do faroeste. Uma prova de seu inigualável talento acontece logo na primeira cena. Um grupo de pistoleiros mal encarados chegam em uma estação ferroviária. Eles esperam a chegada do próximo trem. Aqui Leone explora todas as possibilidades narrativas sem praticamente usar o recurso do diálogo. Tudo acontece apenas se utilizando os elementos que estão ao redor. O ruído de um velho moinho todo enferrujado, o som desolador do vento do deserto e até mesmo uma mosca incômoda que insiste em pousar no rosto do bandido, se tornam elementos narrativos extremamente ricos nas mãos de Leone. Essa sequência inicial aliás entrou na história do western como uma das mais bem realizadas já mostradas na história do cinema. Um verdadeiro toque de mestre. E assim seguirá no transcorrer de todo o filme. Sergio Leone não parece apressado em contar sua estória, mas sim em explorar todos os elementos narrativos e psicológicos possíveis. 

A simples chegada de um bando de assassinos numa fazenda já se torna para ele uma ótima oportunidade de mostrar e explorar toda a sua técnica de narração cinematográfica. Leone parecia realmente se deliciar com esse tipo de situação. O close nos olhos dos bandidos, as situações minuciosamente trabalhadas (como a da morte do irmão do personagem de Charles Bronson, ainda criança) demonstram bem como Leone era mestre nesse tipo de cena. Além do domínio completo na arte de narrar a estória de seu filme, o diretor ainda conseguiu a proeza de extrair ótimas interpretações de todo o seu elenco. Henry Fonda, por exemplo, um veterano, poucas vezes esteve tão assustador em cena. Claudia Cardinale, uma das atrizes mais bonitas do cinema europeu, nunca esteve tão talentosa como aqui sob a direção de Leone. Até mesmo Charles Bronson, com seus poucos recursos dramáticos, acaba se saindo muito bem como o pistoleiro calado, introspectivo e misterioso, sempre com uma gaita na boca, tentando com isso trazer alguma mensagem sombria que poucos conseguem decifrar. Enfim, se você tiver que ter apenas um western na sua coleção de filmes recomendamos esse grande clássico assinado por Sergio Leone. Uma obra prima maravilhosa, realmente indispensável para todo e qualquer cinéfilo que se preze.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Mister Roberts

Em 1955 o mestre John Ford rodou uma de suas poucas comédias na carreira. Ford se celebrizou na história do cinema por causa de seus faroestes clássicos, grandes produções que louvavam a coragem do pioneiro colonizador americano que foi para o oeste selvagem com o objetivo de construir uma nação. Quando os Estados Unidos entraram na II Guerra Mundial Ford se alistou para trabalhar no esforço de guerra. São suas as imagens mais impressionantes das grandes batalhas desse conflito, como as que mostram o desembargue das forças aliadas na Normandia no Dia D.

Esse filme "Mister Roberts" foi realizado dez anos após o fim da guerra. Nesse tempo já havia uma certa tranquilidade em tratar aquele conflito, onde muitos americanos morreram, de uma forma mais bem humorada, sem tanto heroísmo como era comum em filmes do gênero na época. Assim as câmeras de Ford se concentram na história de marinheiros que poderiam ser tudo, menos heróis de guerra ao velho estilo. Enquanto seus companheiros de farda lutavam em grandes e decisivas batalhas épicas contra as forças japonesas a tripulação desse velho cargueiro caindo aos pedaços (chamado de "banheira" por seus próprios marinheiros) se limitava a transportar papel higiênico, frutas e utensílios para as tropas que lutavam no front.

Essa aliás passa a ser a grande frustração do Tenente Doug Roberts (Henry Fonda). Ele se alistou para ser um herói, não para transportar papel higiênico. Pior do que isso é estar sob o comando de um louco varrido, o Capitão Morton (James Cagney), um oficial que só pensa em subir na carreira, tratando mal todos os seus subordinados, com uma estranha obsessão por uma palmeira que ele mantém a bordo do navio, longe do alcance de todos os seus homens. Essa obsessão maluca dá origem a uma das melhores (e mais divertidas) cenas do filme quando Doug em um ato de revolta joga a planta no mar! O que pode parecer um ato sem maiores consequências acaba virando o fim do mundo para seu capitão!

"Mister Roberts" foi a adaptação para o cinema de uma peça de teatro da Broadway que fez muito sucesso na década de 1940. Isso também trouxe certas características teatrais ao filme, principalmente em relação aos diálogos e a própria forma da dramaturgia do roteiro pois tudo se passa dentro do navio, sem muitas cenas externas. Melhor para Jack Lemmon que levou o Oscar. Percebam como ele manteve a postura teatral em sua atuação. Esse foi o segredo do prêmio que acabou levando para casa. No fim de tudo o grande interesse em assistir "Mister Roberts" é conferir como um grupo de atores não acostumados ao gênero comédia (com exceção do próprio Lemmon, é claro), dirigido por um diretor de épicos do velho oeste (John Ford) conseguiu realizar um filme tão bom e divertido como esse. Quem diria que tantos veteranos dramáticos teriam tanto êxito assim em uma produção como "Mister Roberts"...

Pablo Aluísio.

sábado, 25 de junho de 2016

Paul Newman - Uma Lição Para Não Esquecer

Eu costumo dizer que em termos de cinema clássico o céu é o limite. Sempre há coisas novas e interessantes a se descobrir dentro desse vasto universo. Procurando fugir das obras clássicas mais óbvias (como por exemplo "E O Vento Levou", "Casablanca", etc) o cinéfilo mais curioso sempre encontrará pequenas obras primas que hoje em dia já não são mais tão conhecidas e comentadas, mas que são sem dúvida excelentes filmes. É justamente o caso desse "Sometimes a Great Notion" (que no Brasil recebeu o inadequado título de "Uma Lição Para não Esquecer").

O filme mostra a família Stamper formada pelo pai Henry (o grande Henry Fonda) e pelos três filhos, Hank (interpretado pelo próprio Paul Newman que também dirigiu o filme), Joe Ben (Richard Jaeckel, indicado ao Oscar por sua atuação) e o caçula Leeland Stamper (Michael Sarrazin). Esse último nunca quis seguir o destino dos irmãos. Ao invés de ser um operário, um lenhador nas florestas, decidiu ir embora para cursar uma universidade. As coisas porém não deram muito certo, ele se envolveu com drogas (maconha, em especial), se tornou um péssimo aluno e depois de formado ficou desempregado. Após o suicídio da mãe não viu outra alternativa a não ser voltar para a casa do pai, Henry, que não deixou barato o colocando para trabalhar cortando árvores na floresta como seus dois irmãos. "Para comer nessa mesa terá que trabalhar!" - decreta o velho patriarca.

O roteiro do filme investe na maneira turrona que os Stampers enxergam a vida. A ética que move suas vidas é o trabalho, por isso quando o sindicato da região promove uma greve geral dos trabalhadores de madeireiras, eles se recusam a participar. Para Henry e Hank, os sindicalistas seriam na verdade comunistas, pessoas que corroíam a base da sociedade americana, seus valores e ideais. Tudo isso porém não é colocado por Newman no filme como algo pesado, doutrinário ou panfletário. Ele optou por uma outra abordagem, mostrando tudo com certa leveza - apesar do filme ser um drama. O humor está sempre presente dentro daquela família nada funcional. A rudeza e a forma pragmática que enxergam a vida dá o tom de toda a narrativa.

Uma personagem interessante dentro daquele universo masculino vem na figura de Viv Stamper (Lee Remick), Ela é a esposa de Hank. Em uma família tão machista ela mal é ouvida sobre nada, embora tenha uma bela percepção da vida. Após anos tentando engravidar do marido - seu primeiro e único filho nascera natimorto - ela decide dar um novo rumo na vida, procurar por novos horizontes. A novela de Ken Kesey que deu origem ao filme já chamava a atenção para essa nova mulher que nascia naquele momento, não apenas disposta a ser unicamente esposa e mãe, mas também ter a chance de escrever seu próprio destino, indo atrás dos seus sonhos de realização pessoal e profissional. Enfim, um belo trabalho de direção de Paul Newman que conseguiu provar que era tão bom atrás das câmeras, dirigindo, como na frente delas, atuando. Um profissional completo. Não deixe de conhecer.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 10 de junho de 2016

John Wayne - A Primeira Vitória

John Wayne se notabilizou pelos clássicos de western que estrelou ao longo da carreira. Isso não significou que ele não tenha também brilhado em outros gêneros cinematográficos. Wayne também fez grandes filmes de guerra. Um exemplo é esse "In Harm's Way" de 1965 que no Brasil recebeu o título nacional de "A Primeira Vitória". Dirigido pelo excelente e premiado cineasta Otto Preminger e com um elenco de apoio de encher os olhos (contando com Kirk Douglas, Burgess Meredith e Henry Fonda, entre outros) o filme foi lançado para comemorar os vinte anos do fim da II Guerra Mundial.

E é justamente um dos eventos mais marcantes dessa guerra que marca a cena inicial do filme: o ataque japonês ao porto militar americano de Pearl Harbor. Até aquele momento os americanos mantinham uma postura de neutralidade em uma guerra que parecia se alastrar pelo mundo. Havia um sentimento de não se envolver na Guerra pois os americanos ainda amargavam as perdas provenientes da I Guerra Mundial. A neutralidade assim parecia ser um bom caminho a seguir. Essa posição diplomática porém não duraria muito. Sem aviso prévio e contando com um ataque surpresa arrasador a força aérea imperial japonesa arrasou a esquadra americana estacionada no Havaí. A partir daí não houve outra saída e os Estados Unidos entraram definitivamente na guerra, lutando uma feroz luta ilha a ilha no Pacífico Sul contra os japoneses.

O personagem de John Wayne é um comandante de cruzador da marinha americana chamado Rockwell 'Rock' Torrey. Durante o ataque em Pearl Harbor ele, por pura sorte, não estava ancorado no porto atacado, mas sim em alto-mar. Tentando dar uma resposta ao ataque acabou sendo encurralado por um submarino japonês. Sua manobra é considerada temerária pelo comando da marinha e ele é afastado do comando, indo parar em um serviço burocrático atrás de uma escrivaninha. Para um velho marinheiro não poderia ser pior. Seu homem de confiança, o tenente Paul Eddington (Kirk Douglas) também é colocado para escanteio.

Aproveitando sua estadia forçada em terra firme, Rock acaba resolvendo colocar alguns assuntos pessoais em dia. Procura finalmente por seu filho que não vê há anos (e que também está servindo na Marinha) e acaba tendo um caso amoroso tardio com uma enfermeira pelo qual acaba sentindo atração. Seus problemas privados porém são colocados de lado quando é chamado novamente para o comando. A guerra precisa de homens experientes e Rock acaba sendo designado para uma importante missão. O filme é longo, com quase três horas de duração, e isso se deve ao fato de que Otto Preminger priorizou o desenvolvimento de cada personagem da estória (que inspirada em fatos reais teve seu roteiro baseado no livro escrito por James Bassett). È um ótimo filme histórico de guerra, mostrando não apenas o lado combativo dos militares americanos na chamada guerra do Pacífico, como também valorizando o lado mais humano desses homens. Um clássico do cinema mais do que recomendado.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O Homem Que Odiava as Mulheres

Na década de 1960 uma série de mortes envolvendo jovens mulheres coloca a polícia em alerta. A imprensa logo denomina o novo serial killer de "O Estrangulador de Boston" por causa da forma que mata suas vítimas. Após várias investigações finalmente se chega ao principal suspeito dos crimes: Albert de Salvo (Tony Curtis). História baseada em fatos reais. O interessante nesse "O Homem que Odiava as Mulheres" é que ele foi feito ainda no calor dos acontecimentos, o serial killer tinha acabado de ser preso e ainda nem havia ido a julgamento. Havia todo um debate se ele era ou não mentalmente capaz de ir para o tribunal do juri por seus crimes. Curioso é que assisti também um filme feito recentemente sobre o mesmo caso. Hoje, por exemplo, há sérias dúvidas se o homem que foi preso pela policia era o verdadeiro assassino. Muito se especula e grande parte dos especialistas entende que Albert de Salvo foi apenas um bode expiatório arranjado pelo departamento de policia para aliviar a pressão popular sobre si. No filme isso não aparece. Ele é mostrado como o serial killer, indiscutivelmente. Na verdade o próprio De Salvo se beneficiou diretamente desse filme pois ganhou muito com os lucros do uso de sua história. Isso indignou tanto os familiares das vítimas que foi aprovada uma lei depois proibindo esse tipo de comercialização sobre crimes violentos.

Deixando esses detalhes de lado é bom deixar claro que apesar de ser estrelado por Tony Curtis o filme é todo de Henry Fonda, trazendo uma dignidade enorme ao seu papel (ele faz o chefe da operação de caça ao criminoso). Grande ator, prova todo seu talento em cada diálogo. Nas cenas de interrogatório fica claro a diferença de grandeza entre ele e Tony Curtis, que apesar do esforço não consegue ficar à altura do papel. Nas cenas em que aparece perturbado mentalmente sua falta de preparo aparece nitidamente. Sinceramente não deu para o Curtis. Nas mãos de um grande ator roubaria o filme de Fonda, como isso não acontece só resta ao veterano dominar completamente a cena. O diretor Fleischer optou por um tom quase documental, com muito uso de câmera subjetiva para colocar o espectador no centro dos acontecimentos. O filme assim se torna bem interessante para pessoas que estudam o tema envolvendo matadores em série. Vale a pena ser conhecido.

O Homem que Odiava as Mulheres (The Boston Strangler, Estados Unidos, 1968) Direção: Richard Fleischer /  Roteiro: Edward Anhalt baseado no livro de Gerold Frank / Elenco: Tony Curtis, Henry Fonda, George Kennedy, Mike Kellin e Hurd Hatfield / Sinopse: Na década de 1960 uma série de mortes envolvendo jovens mulheres coloca a polícia em alerta. A imprensa logo denomina o novo serial killer de "O Estrangulador de Boston" por causa da forma que mata suas vítimas. Após várias investigações finalmente se chega ao principal suspeito dos crimes: Albert de Salvo (Tony Curtis). História baseada em fatos reais.

Pablo Aluísio.

sábado, 14 de julho de 2012

O Último Tiro

No mesmo ano em que Henry Fonda estrelou o clássico “Era uma Vez no Oeste” ele realizou ao lado do amigo James Stewart esse “Firecreek” um de seus melhores westerns. Infelizmente não é de seus trabalhos mais conhecidos hoje em dia, o que é uma injustiça. Muito subestimada a fita tem um excelente roteiro, um argumento excepcional e é muito bem produzida. Na estória acompanhamos a chegada do bando de Bob Larkin (Henry Fonda) na pequenina cidadela de Firecreek. Essa é uma comunidade extremamente pacífica cuja população é formada basicamente por humildes comerciantes e pequenos proprietários rurais, entre eles Johnny Cobb (James Stewart) cuja esposa está em trabalho de parto em seu rancho. Ao visitar a cidade para comprar mantimentos acaba encontrando Larkin e seus facínoras no local. O problema maior para Cobb é que apesar de não ter treinamento e nem experiência responde pela segurança da cidade, servindo no posto de Xerife interino enquanto não é nomeado um oficial da lei pelo Estado. Obviamente Larkin e sua quadrilha não deixarão os moradores em paz após descobrir que o homem responsável pela lei no lugar não é páreo para eles, pistoleiros profissionais.

Assim são colocados em lados extremos o pistoleiro rápido no gatilho, com várias mortes nas costas e um simples e pacato cidadão que apenas quer que a lei e a ordem continue reinando em Firecreek. É a antiga metáfora do cordeiro contra o lobo, que se sacrificará se for necessário para proteger os que lhe são queridos e caros. Assistir Fonda e Stewart no mesmo filme já é um prazer, agora imaginem ver esses dois grandes astros duelando pelo que é certo e justo numa cidade perdida do velho oeste americano! Não existe melhor representatividade da mitologia do velho oeste do que essa. Henry Fonda era um ator extremamente expressivo que conseguia transmitir tudo apenas com um olhar. Seu Bob Larkin é um envelhecido pistoleiro tentando manter a autoridade entre seu grupo de bandidos. Já James Stewart explora muito bem sua imagem de homem trabalhador, ético, honesto, devotado à sua família e íntegro (algo que aliás era parte de sua personalidade real e não apenas um jogo de imagem ou marketing pois ele era exatamente assim). Esse é o melhor filme do diretor Vincent McEveety um veterano da TV que dirigiu entre outros os grandes ícones televisivos Jornada nas Estrelas, Os Intocáveis e Columbo. Sua direção aqui é segura e centrada, tudo resultando em um faroeste realmente excepcional, bem acima da média. Em conclusão podemos classificar “Firecreek” como um belo momento, resultado de mais uma feliz união profissional entre Stewart e Fonda em um faroeste puro sangue que agradará em cheio os fãs e puristas do gênero.

O Último Tiro (Firecreek, Estados Unidos, 1968) Direção: Vincent McEveety / Roteiro: Calvin Clement Sr / Elenco: James Stewart, Henry Fonda, Inger Stevens, Gary Lockwood, Dean Jagger, Ed Begley / Sinopse: Após participar de um tiroteiro Bob Larkin (Henry Fonda) procura por abrigo na pequena cidade de Firecreek com seu bando de pistoleiros. No local acaba entrando em confronto com Johnny Cobb (James Stewart) um simples rancheiro nomeado xerife honorário do local.

 Pablo Aluísio.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Filmografia Comentada: Henry Fonda

Ícone do cinema clássico de Hollywood, Henry Fonda brilhou nos mais diversos gêneros cinematográficos. Dramas, aventuras, westerns, comédias, não importa. O que fica desse grande ator além de sua extrema versatilidade é sua filmografia incomparável com alguns dos melhores filmes já feitos pela indústria americana. Segue abaixo alguns dos grandes momentos do astro em cena.

O Homem dos Olhos Frios
Caçador de recompensas (Henry Fonda) chega em uma pequena cidade do oeste com o corpo de um bandido. Ele vem em busca do prêmio prometido pela captura do foragido morto. Assim conhece o Xerife local (Anthony Perkins) um jovem e inexperiente homem da lei que em pouco tempo se verá numa situação de vida ou morte. Lida assim a sinopse pode-se pensar que o filme é mais um faroeste de rotina entre tantos que foram produzidos durante os anos 50. Mero engano. "The Tin Star" (que recebeu um título nada adequado no Brasil de "O Homem dos Olhos Frios") é um excelente estudo psicológico daqueles homens que tinham a audácia e a coragem de impor a lei em lugares distantes e violentos do oeste americano no século 18. Eram mal remunerados, geralmente encontravam a morte cedo e mesmo assim procuravam exercer sua função da melhor forma possível. Aqui temos um jovem sem a malícia e a experiência necessárias para fazer valer a lei em uma cidade lotada de mal feitores. Curiosamente acaba encontrando seu mentor em um velho caçador de recompensas (Henry Fonda, ótimo) que só está ali atrás de seu dinheiro e nada mais. Os acontecimentos porém o farão mudar de ideia. Na realidade ele próprio era um xerife que largou a estrela de lata após perceber que ganharia muito mais caçando bandidos perigosos pelo deserto. Assim temos de um lado um jovem ainda idealista que tem que se confrontar com um experiente e calejado ex homem da lei que sabe exatamente o que ostentar aquela estrela significava no velho oeste. O "duelo" de personalidades deles é a base de todo o argumento do filme. O elenco é excelente. Henry Fonda não precisava de muita coisa para se impor em qualquer filme que trabalhasse. Ícone do western o ator se saí extremamente bem no papel do ex-xerife e atual caçador de recompensas Morg Hickman. Agora verdade seja dita: embora Fonda brilhe mais uma vez o destaque vai mesmo para Anthony Perkins. Ele mesmo, o ator que ficaria marcado para sempre como o psicopata Norman Bates de "Psicose" aqui interpreta um papel totalmente diferente, demonstrando que era realmente um bom ator e não apenas um intérprete de um personagem só (como muitos pensam). O xerife que interpreta é um sujeito sem moral, meio abobalhado, receoso e inseguro que tem que lidar com uma situação limite ao qual não tem o menor controle. "The Tin Star" ("A Estrela de Lata" no original) é isso, uma crônica muito bem estruturada sobre o modo de pensar e agir dos homens da lei em uma terra que passou para a história justamente por não ter lei, a não ser a lei do mais forte. Excelente western, procurem assistir.

Tempestade Sobre Washington
Depois de conferir "Tudo Pelo Poder" procurei por um filme de temática semelhante, mas da era clássica de Hollywood. Acabei me deparando com esse "Tempestade Sobre Washington". Excelente drama que mostra todo o jogo sujo que acontece na capital dos Estados Unidos. Cartas marcadas, pressões, extorsões, compras de consciências, chantagem, tudo o que rola por debaixo do tapete para que o presidente americano possa nomear para Secretário do Estado um nome que escolheu (personagem interpretado pelo grande Henry Fonda). Acontece que no meio da sabatina promovida pelo senado descobre-se que o preferido do presidente tem um passado obscuro, que o liga inclusive a um movimento radical de esquerda! Imaginem o rebuliço dentro do senado quando se descobre que um comunista de carteirinha está prestes a ser nomeado para um dos mais altos cargos do executivo americano! O elenco é todo bom. Charles Laughton como o Senador Seabright Cooley deita e rola em cena. Que grande ator! Merecidamente foi premiado com o prêmio de melhor ator da Academia Britânica. Já Henry Fonda no papel de Robert A. Leffingwell é outro destaque. Um personagem muito dúbio, que ora surge como íntegro, honesto para logo depois se revelar mais sinistro do que se esperava. Pena que como o filme gravita em torno de sua nomeação ou não ele acaba aparecendo pouco em cena. Por fim nada mais justo do que a Palma de Ouro em Cannes para premiar o grande Otto Preminger, cineasta sério, inteligente, competente, avesso a sentimentalismos e sensacionalismos baratos. Aqui temos uma grande obra, um filme tecnicamente impecável que mostra as vísceras da democracia americana. Se você gosta desse tipo de filme não perca de jeito nenhum.

The Cheyenne Social Club
The Cheyenne Social Club é um western diferente, mais leve e com muito bom humor. Só o fato de reunir esses dois mitos, James Stewart e Henry Fonda, já o tornaria obrigatório a qualquer fã de cinema mas ainda tem mais, outro grande nome na direção: Gene Kelly! Muitos podem torcer o nariz para o fato do filme ter sido dirigido por um ator e dançarino especialista em musicais mas podem ficar tranquilos, o resultado é muito satisfatório. Obviamente que a ação fica em segundo plano, revelando-se o roteiro uma fina comédia de humor de costumes, mas isso não é um empecilho. O filme foi lançado em 1970, quando o gênero faroeste já estava saindo de moda, mas vamos convir que tudo aqui se encaixa perfeitamente, até mesmo na idade mais avançada dos atores, que interpretam cowboys velhos de guerra que são surpreendidos por uma "herança" no mínimo inusitada. Imagine herdar um bordel numa cidade do velho oeste! É justamente em cima dessa situação curiosa e cômica que o roteiro se desenvolve. James Stewart novamente faz o papel de um personagem com grande virtude e valores morais. Embora inicialmente isso não fique muito claro logo o roteiro toma rumos para reafirmar essa característica que de uma forma ou outra sempre marcou todos os seus personagens de sua carreira. Já Henry Fonda está ótimo. Fazendo um cowboy casca grossa o ator está mais carismático do que nunca. Realmente adorei sua caracterização ao estilo interiorano esperto. Na trama ele funciona como escada para o amigo James Stewart mas isso em nenhum momento é um problema pois ambos sempre trabalharam excepcionalmente bem juntos. A dupla está perfeita em todas as cenas, demonstrando mesmo como eram bons atores, na verdade eram grandes amigos na vida real e isso passa para a tela. Enfim é isso, embora não seja tão conhecido "The Cheyenne Social Club" é no final das contas uma excelente diversão, com tudo o que o estilo western pede: bom humor, cenas de duelo, tiroteios e grandes atores em cena. Quem precisa de mais do que isso?

Sangue de Heróis
Baseado no livro de James Warner Bellah, "Fort Apache - Sangue de Heróis" é um ótimo faroeste. Produzido e dirigido por John Ford, ele é o primeiro de uma trilogia realizada pelo cineasta sobre a cavalaria do exército americano, pós-guerra civil. Os dois outros, igualmente ótimos, são "Legião Invencível", de 1949, e "Rio Grande", de 1950. O filme gira em torno de um arrogante coronel da cavalaria americana, disposto a tudo para ter o reconhecimento do governo dos EUA por seus relevantes serviços prestados à nação. Para tanto, despreza os conselhos de seus auxiliares mais próximos, conhecedores dos problemas vividos pelos apaches, no longínquo território do Arizona e se envolve numa guerra desnecessária e suicida contra os indígenas, que só queriam ser tratados com um pouco de respeito e justiça. E o que chama a atenção é que, após sua morte, ele consegue ser oficialmente reconhecido como herói, muito embora tenha injustificadamente sacrificado a vida de centenas de homens sob seu comando. Além do belo trabalho realizado por Ford, o filme conta com um roteiro muito bem estruturado e com a magnífica fotografia de Archie Stout. Henry Fonda está soberbo no papel do coronel Thursday, seguido de John Wayne, como o oficial que se rebela contra suas ordens. Adicionalmente "Fort Apache - Sangue de Heróis" conta ainda com um elenco coadjuvante de primeira linha, com nomes como Ward Bond, Victor McLaglen, George O'Brien e Pedro Armendáriz, entre outros. Shirley Temple, a garota prodígio da década de 30, faz um bom trabalho como adulta, na época com 20 anos de idade. O roteiro (e obviamente o livro que lhe deu origem) são em essência uma romantização em cima da história real do General Custer. Após ser morto pelas tribos comandadas por Cavalo Louco e Touro Sentado, Custer virou um herói nacional nos EUA. Na realidade ele era um carreirista que não media esforços para subir na carreira, não importando as consequências de seus atos. O Coronel Thursday do filme nada mais é do que uma alegoria da personalidade verdadeira do Custer histórico. Por tudo isso e muito mais o filme hoje é simplesmente essencial para os fãs do grande cinema da era de ouro de Hollywood. Sem dúvida uma obra magnífica.

O Homem que Odiava as Mulheres
O interessante nesse "O Homem que Odiava as Mulheres" é que ele foi feito ainda no calor dos acontecimentos, o serial killer tinha acabado de ser preso e ainda nem havia ido a julgamento. Havia todo um debate se ele era ou não mentalmente capaz de ir para o tribunal do juri por seus crimes. Curioso é que assisti também um filme feito recentemente sobre o mesmo caso. Hoje, por exemplo, há sérias dúvidas se o homem que foi preso pela policia era o verdadeiro assassino. Muito se especula e grande parte dos especialistas entendem que Albert de Salvo foi apenas um bode expiatório arranjado pelo departamento de policia para aliviar a pressão popular sobre ela. No filme isso não aparece. Ele é mostrado como o serial killer, indiscutivelmente. Na verdade o verdadeiro assassino se beneficiou diretamente desse filme pois ganhou muito com os lucros do uso de sua história. Isso indignou tanto os familiares que foi aprovada uma lei depois proibindo esse tipo de comercialização sobre crimes violentos. Deixando esses detalhes de lado é bom deixar claro que apesar de ser estrelado por Tony Curtis o filme é todo de Henry Fonda, trazendo uma dignidade enorme ao seu papel (ele faz o chefe da operação de caça ao criminoso). Grande ator prova todo seu grande talento. Nas cenas de interrogatório fica claro a diferença de grandeza entre ele e Tony Curtis, que apesar do esforço não consegue ficar à altura do papel. Nas cenas em que aparece perturbado mentalmente sua falta de preparo aparece nitidamente. Sinceramente não deu para o Curtis. Nas mãos de um grande ator roubaria o filme de Fonda, como isso não acontece só resta ao veterano ator dominar completamente a cena.

O Último Tiro
No mesmo ano em que Henry Fonda estrelou o clássico “Era uma Vez no Oeste” ele realizou ao lado do amigo James Stewart esse “Firecreek” um de seus melhores westerns. Infelizmente não é de seus trabalhos mais conhecidos hoje em dia, o que é uma injustiça. Muito subestimada a fita tem um excelente roteiro, um argumento excepcional e é muito bem produzida. Na estória acompanhamos a chegada do bando de Bob Larkin (Henry Fonda) na pequenina cidadela de Firecreek. Essa é uma comunidade extremamente pacífica cuja população é formada basicamente por humildes comerciantes e pequenos proprietários rurais, entre eles Johnny Cobb (James Stewart) cuja esposa está em trabalho de parto em seu rancho. Ao visitar a cidade para comprar mantimentos acaba encontrando Larkin e seus facínoras no local. O problema maior para Cobb é que apesar de não ter treinamento e nem experiência responde pela segurança da cidade, servindo no posto de Xerife interino enquanto não é nomeado um oficial da lei pelo Estado. Obviamente Larkin e sua quadrilha não deixarão os moradores em paz após descobrir que o homem responsável pela lei no lugar não é páreo para eles, pistoleiros profissionais. Assim são colocados em lados extremos o pistoleiro rápido no gatilho, com várias mortes nas costas e um simples e pacato cidadão que apenas quer que a lei e a ordem continue reinando em Firecreek. É a antiga metáfora do cordeiro contra o lobo, que se sacrificará se for necessário para proteger os que lhe são queridos e caros. Assistir Fonda e Stewart no mesmo filme já é um prazer, agora imaginem ver esses dois grandes astros duelando pelo que é certo e justo numa cidade perdida do velho oeste americano! Não existe melhor representatividade da mitologia do velho oeste do que essa. Henry Fonda era um ator extremamente expressivo que conseguia transmitir tudo apenas com um olhar. Seu Bob Larkin é um envelhecido pistoleiro tentando manter a autoridade entre seu grupo de bandidos. Já James Stewart explora muito bem sua imagem de homem trabalhador, ético, honesto, devotado à sua família e íntegro (algo que aliás era parte de sua personalidade real e não apenas um jogo de imagem ou marketing pois ele era exatamente assim). Esse é o melhor filme do diretor Vincent McEveety um veterano da TV que dirigiu entre outros os grandes ícones televisivos Jornada nas Estrelas, Os Intocáveis e Columbo. Sua direção aqui é segura e centrada, tudo resultando em um faroeste realmente excepcional, bem acima da média. Em conclusão podemos classificar “Firecreek” como um belo momento, resultado de mais uma feliz união profissional entre Stewart e Fonda em um faroeste puro sangue que agradará em cheio os fãs e puristas do gênero.

Consciências Mortas
Baseado no livro de Walter Van Tilburg Clark, o diretor William Welman construiu uma pequena obra-prima. Um libelo poucas vêzes visto num filme de faroeste. Tudo nessa obra é fatalista e minimalista - desde a pequena duração da fita até o cenário da minúscula cidade e do Vale de Ox- Bow, que de tão pequeno beira o sufocante. A história se passa em 1885 quando dois forasteiros, Gil Carter (Henry Fonda) e Art Croft (Harry Morgan) chegam à pequena cidade de Bridger's Wells. Cansados, os dois vão para o saloon mais próximo, a fim de beber e jogar conversa fora. Porém eles sentem o ambiente carregado de desconfiança devido aos constantes roubos de gado na região. Logo depois chega a terrível notícia sobre um fazendeiro de nome Kinkaid que tinha sido roubado e assassinado. Bastou esta notícia estourar para que vários homens da cidade - incluindo Carter e Croft - se unissem numa verdadeira caçada humana liderados pelo ex-major Tetley (Frank Conroy). Depois de muita procura o grupo encontra uma carruagem onde os guardas informam que três homens estão no Vale de Ox-Bow com algumas vacas que pertenciam ao vaqueiro assassinado. Impossível não lembrar do extraordinário clássico e com o mesmo Henry Fonda, "12 Homens e Uma Sentença" produzido 14 anos depois. O enredo impecável revela a mão pesada que faz mover a roda da estupidez humana. É o ódio cego que transforma homens em bestas; inocentes em mortalhas, fazendo brotar em cada um daqueles vaqueiros os piores sentimentos possíveis. É o grito surdo da covardia, da injustiça e da terrível justiça com as próprias mãos. O filme é tão bom, que pouco a pouco o pequeno Vale de Ox-Bow vai se moldando à imagem e semelhança daquela trupe insana que busca vingança a qualquer preço; é a sombra negra do golgota que pulveriza a justiça, negando, aos três infelizes, um julgamento decente e humano - apesar dos constantes apelos do forasteiro Gil Carter. A horda insana transforma Ox-Bow numa distopia monumental regada a muita ira e muita injustiça. A categoria do triunvirato formado por Henry Fonda, Dana Andrews e Anthony Quinn, dá um toque especial a um roteiro espetacular, capitaneado por uma direção primorosa de Welman. O final é arrebatador, surpreendente e emocionante. Realmente, um dos faroestes mais marcantes já produzidos. Nota 10

Minha Vontade é Lei
Warlock é uma cidadezinha do velho oeste que é constantemente atormentada por um bando de mal feitores que cometem crimes à luz do dia, na frente de todos, aterrorizando a pacata população local. Após assassinar o último xerife da cidade um conselho de cidadãos resolve contratar dois famosos pistoleiros para proteger e impor ordem na localidade. Clay Blaisedell (Henry Fonda) e Tom Morgan (Anthony Quinn) são então chamados a Warlock para impor através de seus colts a ordem e a lei para todos. "Minha Vontade é Lei" é um western muito bem escrito, com excelente trama que consegue unir um dos melhores elencos que já vi reunidos: Além de Henry Fonda (sempre ótimo) e Anthony Quinn (interpretando um velho pistoleiro com os dias contados) o filme ainda traz o eficiente e subestimado Richard Widmark como um auxiliar do xerife que tenta de alguma forma estabelecer uma ordem na caótica Warlock. Para os fãs de "Star Trek" uma curiosidade: a presença de DeForest Kelley como um membro do bando de bandidos que aterrorizam a cidade. Assim que surge em cena lembramos automaticamente de seu maior personagem, o médico da nave espacial Enterprise. "Minha Vontade é Lei" foi dirigido pelo veterano Edward Dmytryk (1908–1999) . Ele não era um diretor especializado em westerns, tendo dirigido mais dramas o que talvez explique algumas características desse filme. O roteiro não tem pressa em apresentar os personagens e nem em desenvolvê-los de forma bem gradual, aos poucos. Todos possuem personalidades complexas, que podem transitar tranquilamente entre a lei e a desordem. Os pistoleiros interpretados por Fonda e Quinn são exemplos disso. Não são mocinhos absolutos, pelo contrário, podem facilmente mudar de lado caso isso seja de seu interesse. A direção de Dmytryk é adequada mas não tão ágil como alguns fãs de western preferem (principalmente os adeptos de bangue-bangue mais viris) mesmo assim não faltam os momentos vitais no desenrolar do filme, como os confrontos, brigas e por fim o duelo final. De fato é uma produção acima da média, um faroeste um pouco mais dramático do que habitual mas não menos interessante e bom. Recomendo com absoluta certeza.

A Caçada
Ben Chamberlain (Henry Fonda) chega numa pequena cidade localizada no final da estrada de ferro, bem no meio de um deserto inóspito. Ele vai ao vilarejo atrás de notícias do paradeiro de Alma Britten (Madylen Rhue). O problema é que os moradores locais se recusam a dar maiores informações sobre a garota. Depois de muito procurar finalmente Ben a localiza em uma cabana nos arredores da cidadela mas para seu infortúnio a encontra morta por espancamento. Para piorar ainda mais o que já era ruim logo é acusado pelo Xerife Vince McKay (Michael Parks) de ter assassinado a jovem. Sem saída foge para o deserto e é caçado pelos homens da lei. "A Caçada" é uma experiência que Henry Fonda fez em 1967. Ator consagrado de cinema aceitou realizar esse telefilme para a Universal. O curioso é que apesar de ser um produto televisivo "Stranger On The Run" não apresenta uma produção modesta, pelo contrário, o filme mostra uma boa reconstituição de época, inclusive com o uso de toda uma cidade cenográfica com direito a trilhos de ferrovia e trens antigos. Certamente não é um telefilme típico da TV americana dos anos 60. É bem melhor. Henry Fonda surge em um papel diferente dos que estava acostumado a interpretar em westerns. Aqui ele não é um ás do gatilho e nem muito menos um pistoleiro profissional. Na realidade seu personagem Ben Chamberlain é apenas um cidadão comum acusado de um crime que não cometeu. Fonda como sempre está muito bem, numa interpretação muito coesa e adequada. Sua partner em cena, Anne Baxter, também demonstra talento e carisma. O problema em termos de elenco surge na figura do ator Michael Parks que faz o xerife que caça Fonda. Sem muita expressão não consegue ficar à altura de Henry em nenhum momento. No elenco de apoio ainda temos Sal Mineo fazendo um membro do bando do Xerife. "A Caçada" foi dirigido por Don Siegel, diretor de TV que depois iniciaria uma ótima parceria com Clint Eastwood em alguns dos mais lembrados faroestes da década de 1970. Pelo jeito tomou gosto pela mitologia do western. Então é isso, "A Caçada" é uma produção feita para a TV que está bem acima da média do que se produzia naquela década. É sem dúvida um filme menor dentro da rica filmografia do mito Henry Fonda mas não deixa de ser um bom bangue-bangue que merece ser redescoberto nos dias atuais.

Jesse James
Elenco: Um dos grande méritos do filme “Jesse James” é o seu elenco. Tyrone Power está bem como o personagem principal embora haja limitações em sua caracterização pois ele está de certa forma muito polido em cena (o verdadeiro Jesse James era mais turrão e rude). Melhor se sai Henry Fonda, com trejeitos rústicos do interior, sempre cuspindo fumo e com olhar de caipirão desconfiado. Sua atuação demonstra uma preocupação maior em construir um personagem mais próximo da realidade. Seu Frank James não aparece muito mas quando surge chama bem a atenção. A atriz Nancy Kelly que faz a esposa de James surpreende em ótimas cenas. São dela inclusive os momentos mais dramáticos como àquele em que resolve ir embora com o filho recém nascido. Por fim, completando o núcleo do elenco principal temos Randolph Scott. Em papel coadjuvante o ator está excepcionalmente bem na pele de um sujeito que caça Jesse James no começo do filme mas que depois compreende a situação do criminoso e acaba mudando de atitude, ajudando inclusive sua família. / Roteiro e Argumento: Não há como negar que o roteiro de Jesse James é romanceado mas mesmo assim tenta manter um pé na realidade (o filme inclusive contou com consultores históricos para recriar a biografia do famoso criminoso de forma mais fiel aos acontecimentos reais). No começo da estória ainda há uma tentativa de justificar a entrada de Jesse James no mundo do crime mas depois, de forma acertada, o texto demonstra a mudança em sua personalidade quando ele se torna realmente um criminoso por vontade própria, ciente de seus atos. Embora haja traços do Jesse James da literatura de entretenimento, dos famosos livros de bolso (que ajudou a popularizar seu nome) o roteiro procura sempre seguir os fatos reais quando possível. A cena final de seu assassinato, embora com erros históricos, é bem realizada. / Produção: Embota não tenha sido creditado o filme foi produzido pessoalmente pelo chefão da Fox, Darryl F. Zanuck. Isso significa que “Jesse James” contou com o melhor que estava disponível na época no estúdio. De fato a produção é de muito bom gosto, com boa reconstituição de época (inclusive no que diz respeito a pequenos detalhes como figurino). Há ótimas cenas de roubos de trens, bancos e perseguições. Uma sequência que inclusive chama a atenção até hoje é aquela em que Jesse e Frank James pulam com seus cavalos do alto de um despenhadeiro em um rio abaixo. Pela altura e pela coragem dos dublês o resultado final realmente impressiona. A nota triste é que os animais foram sacrificados após soltarem daquela altura o que levou o filme a ser enquadrado em uma lista do American Human Associate por crueldade animal em filmes de Hollywood. / Direção: O diretor Henry King soube ser conciso em “Jesse James” e realizou um trabalho enxuto e eficiente. Evitou glamourizar a vida do criminoso. Como o filme teve um cronograma de filmagens muito austero Henry King contou com a ajuda de outro diretor da Fox, Irving Cummings, que acabou não sendo creditado. Henry King aqui trabalhou novamente ao lado de um de seus atores preferidos, Tyrone Power. Juntos tiveram grandes êxitos de bilheteria em filmes de capa e espada – sendo esse “Jesse James” mais uma bem sucedida parceria entre ambos. O filme foi a quarta maior bilheteria do ano só ficando atrás apenas de fenômenos como “E o Vento Levou” e “O Mágico de Oz”.

A Vingança de Frank James
Elenco: “A Vingança de Frank James” traz vários atores do primeiro filme, embora também haja mudanças em relação ao elenco original. A ausência mais sentida é justamente a de Randolph Scott e Nancy Kelly pois seus personagens foram eliminados da trama dessa sequência. O ponto positivo fica com Henry Fonda que no papel de Frank James assume o filme como protagonista. Ele repete seu bom desempenho do filme anterior e segura muito bem as pontas. Um novo personagem é acrescentado na estória, Eleanor Stone, uma jovem jornalista que se interessa pela história dos irmãos James. Ela é interpretada pelo correta Gene Tierney. Outro destaque é a ótima interpretação de Henry Hull, o dono do jornal e advogado que vai ao tribunal defender Frank James. / Roteiro e Argumento: O roteiro de “A Vingança de Frank James” toma várias liberdades com a história original. Embora Frank tenha sido realmente inocentado de todas as acusações (em dois e não em apenas um julgamento como se vê no filme) ele não teve qualquer ligação com a morte de Robert Ford, assassino de seu irmão Jesse James. No roteiro aqui Frank James sai no encalço de Robert Ford dentro de um estábulo. Na história real Ford foi morto em seu Saloon por um sujeito que queria ter a honra de matar o homem que matou Jesse James. Mesmo com a pouca fidelidade histórica o roteiro de “A Vingança de Frank James” é muito bem escrito, contando uma longa história sem se tornar cansativo e enfadonho. Além disso consegue se fechar muito bem em si mesmo. Tudo muito bem arranjado, mesmo que misture fatos reais com eventos meramente fictícios. / Direção: Mudanças na direção. Sai Henry King e entra o genial Fritz Lang. Lang imprime um tom mais sério no filme mas ao mesmo tempo se mostra fiel à estrutura de dramaturgia do filme anterior. Os personagens de “Jesse James” que reaparecem aqui usam da mesma caracterização e tom, o que demonstra que Fritz Lang, apesar de ter sido um dos cineastas mais autorais da história do cinema mantém a espinha dorsal montada por Henry King em “Jesse James”. Fritz Lang foi escalado por Zanuck depois que esse teve alguns atritos com Henry King que não aceitava muito bem as inúmeras interferências do produtor em seu filme. O resultado final aqui como se nota é muito bom, mostrando que Fritz Lang também poderia ser um cineasta de estúdio, sem maiores vôos autorais como conhecemos de outros filmes seus. / Produção: Novamente se faz presente a mão forte de Darryl F. Zanuck como produtor. Embora não tenha sido creditado em “Jesse James” aqui ele fez questão de assinar o filme, fruto obviamente de seu grande sucesso. Ao lado de Fritz Lang construiu uma continuação de excelente nível. O produtor também interferiu bastante no roteiro e na escalação do elenco. Trocou alguns nomes e eliminou personagens. Foi dele inclusive a idéia de colocar cenas de “Jesse James” aqui no começo do filme (inclusive a cena da morte de Jesse, extraída da primeira produção com Tyrone Power sendo assassinado).

A Conquista do Oeste
Quando a Metro anunciou "A Conquista do Oeste" o estúdio deixou claro suas intenções: realizar o filme definitivo sobre a expansão da civilização norte-americana em direção ao oeste selvagem.  Para isso não mediu esforços colocando à disposição do filme tudo o que estúdio tinha de mais importante na época. Atores, diretores, roteiristas, tudo do bom e do melhor foi direcionado para esse projeto. Além do capital humano a Metro resolveu investir em um novo formato de exibição onde três telas enormes projetavam cenas do filme. A técnica conhecida como Cinerama visava proporcionar ao espectador uma sensação única de imersão dentro do filme. Para isso há uso de longas tomadas abertas, tudo para dar a sensação ao público de que realmente está lá, no velho oeste. Era claramente uma tentativa da Metro em barrar o avanço da televisão que naquele ano havia tirado uma grande parte da bilheteria dos filmes. Assim "A Conquista do Oeste" chegava para marcar a história do cinema, pelo menos essa era a intenção. Realmente é uma produção de encher os olhos, com três diretores e um elenco fenomenal. O resultado de tanto pretensão porém ficou pelo meio do caminho. "A Conquista do Oeste" passa longe de ser o filme definitivo do western americano. Na realidade é uma produção muito megalomaníaca que a despeito dos grandes nomes envolvidos não passa de uma fita convencional, pouco memorável. O problema é definitivamente de seu roteiro. São várias estórias com linhas narrativas que as ligam numa unidade mas nenhuma delas é bem desenvolvida. Tudo soa bem superficial. O grande elenco também é outro problema. Apesar dos mitos envolvidos nenhum deles tem oportunidade de disponibilizar um bom trabalho, realmente marcante. John Wayne, por exemplo, só tem praticamente duas cenas sem maior importância. Ele interpreta o famoso general Sherman mas isso faz pouca diferença pois tão rápido como aparece, desaparece do filme, deixando desolados seus fãs que esperavam por algo mais substancioso. James Stewart tem um papel um pouquinho melhor, de um pioneiro que vive nas montanhas mas é outro grande nome que também é desperdiçado. A única que faz parte de todos os segmentos é a personagem de Debbie Reynolds mas ela não é uma figura de ponta no mundo do faroeste. Quem não gosta dela certamente torcerá o nariz. Assim em conclusão podemos definir "A Conquista do Oeste" como um filme grande mas não um grande filme. Faltou um texto melhor escrito, certamente.

Pablo Aluísio, exceto "Consciências Mortas" de autoria de Telmo Vilela Jr.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Galeria Cine Western - William Holden


Na foto acima o ator William Holden posa para foto promocional de um western dos estúdios Columbia. Seu faroeste preferido na carreira foi The Man from Colorado, que rodou ao lado do astro e amigo Glenn Ford. Nesse filme Holden interpretava um veterano de guerra, braço direito de um velho coronel da União (interpretado pelo próprio Glenn Ford) que o seguia depois do fim da guerra civil até uma cidadezinha do velho oeste. Lá se tornava xerife, porém tinha que lidar com seu velho companheiro de armas que aos poucos ia ficando enlouquecido por traumas de guerra. Para Holden aquele era um faroeste diferente, com foco direcionado para os problemas psicológicos dos personagens principais, algo que era bem raro em filmes de western dos anos 1950. No fim da carreira Holden se dizia arrependido por não ter rodado mais filmes passados no oeste americano já que ele próprio era um fã e admirador do gênero. 


Henry Fonda em foto promocional do clássico Paixão dos Fortes (My Darling Clementine, EUA, 1946). O filme, considerado um dos melhores dirigidos pelo mestre John Ford, contava parte da história do lendário xerife Wyatt Earp e o histórico tiroteio acontecido no OK Curral, um dos momentos mais memoráveis da história do velho oeste americano. Na ocasião Earp, seus irmãos e um velho conhecido, Doc Holiday, dentista, pistoleiro e apostador, iam até um pequeno curral para enfrentar um bando de criminosos armados. Em questão de segundos tudo seria resolvido com muitos tiros e momentos de tensão. História real, baseada na própria vida de Earp que na velhice teria ido até Hollywood para contar parte de sua própria vida, criando assim uma das mitologias mais usadas e filmadas da indústria do cinema. Leia mais sobre o filme Paixão dos Fortes clicando aqui.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Henry Fonda

Henry Fonda
O ator Henry Fonda em dois momentos marcantes de sua carreira. Na primeira foto vemos o ator no clássico western "Paixão dos Fortes" (My Darling Clementine, Estados Unidos, 1948). Dirigido pelo mestre da sétima arte John Ford e co-estrelado por Linda Darnell e Victor Mature, o filme mostrava mais uma versão dos fatos históricos ocorridos no OK Corral. Henry Fonda interpretava o próprio xerife Wyatt Earp e Mature dava vida ao pistoleiro, dentista e jogador de cartas inveterado Doc Holliday. 

Já a carismática atriz Cathy Downs interpretava a bela Clementine Carter do título original. O filme hoje é considerado um dos grandes clássicos da história do oeste americano, devidamente preservado pelo congresso dos Estados Unidos. Já logo abaixo vemos outro momento importante da carreira de Fonda no gênero western. Em "Consciências Mortas" (The Ox-Bow Incident, Estados Unidos, 1943) de William A. Wellman, Fonda interpretava Gil Carter, figura central em um momento conturbado de uma pequena cidadezinha do velho oeste cuja população se dividia entre linchar ou não um homem acusado de um crime. 

Essa produção é considerada hoje um dos faroestes psicológicos mais celebrados de todos os tempos. Ao lado de Henry Fonda contracenaram Dana Andrews e Anthony Quinn. O filme levou uma indicação ao Oscar na categoria de Melhor filme do ano, mas todos estão de acordo que por sua importância e roteiro inovador essa foi uma obra cinematográfica que certamente foi subestimada em seu lançamento. Hoje em dia, aparando as injustiças, é considerado uma verdadeira obra prima do western american

Pablo Aluísio.

terça-feira, 24 de outubro de 2006

Sangue de Heróis (1948)

Sangue de Heróis (Fort Apache, EUA, 1948) é considerado um dos grandes filmes de cavalaria da história do cinema americano. Estrelado pelos astros John Wayne e Henry Fonda e dirigido pelo mestre John Ford, a fita é considerada um patrimônio cultural dos Estados Unidos pelo congresso. Aqui vão algumas curiosidades sobre esse clássico absoluto do western:

1. John Ford não se deu bem com a estrelinha Shirley Temple. Na época em que o filme foi realizado ela já tinha 19 anos de idade. Acontece que Temple foi a maior estrela mirim da história de Hollywood. Conforme foi ficando mais velha seus filmes foram fazendo menos sucesso a cada ano. Ela foi imposta pelo estúdio a Ford que se aborreceu com isso.

2. John Ford usou descendentes nativos Navajos para interpretar Apaches. Em sua visão esses indígenas eram mais profissionais para se trabalhar. Ele também descartou completamente a possibilidade de usar figurantes brancos pintados como índios. Para Ford isso era absurdo e não parecia convincente nas telas. Mais de 200 Navajos foram contratados para trabalharem como guerreiros e outro 100 para atuarem como crianças e mulheres da tribo.

3. Henry Fonda trabalhou nove vezes ao lado de John Ford durante sua carreira. Apesar disso jamais se acostumou com a maneira truculenta do diretor que muitas vezes usava de linguagem rude para dirigir seus atores. Isso se mostrava adequado para John Wayne que costumava responder de forma igualmente rude às provocações e xingamentos de Ford, mas para Fonda, que tinha uma educação mais elegante e refinada, tudo gerava apenas mal estar. Segundo algumas testemunhas Fonda chegava a tecer lágrimas após mais uma sessão de desaforos de Ford durante as filmagens.

4. John Ford mandou que o roteiro fosse o mais fiel possível aos fatos históricos. O enredo girava em torno dos erros cometidos pelo General Custer que levou ao massacre da Sétima Cavalaria do exército americano que estava sob seu comando. Inicialmente Ford queria filmar tudo na mesma região onde os fatos aconteceram - um lugar conhecido como Little Big Horn, mas depois foi convencido pelo estúdio que essa não seria uma boa ideia.

5. O forte construído para o filme ficou de pé por anos. Ele foi inclusive reutilizado para a série de TV "As Aventuras de Rin Tin Tin". Localizado na cidade de Simi Valley na Califórnia o local atrai turistas até os dias de hoje.

6. John Ford proibia a presença de filhos e esposas dos atores durante as filmagens, mas acabou deixando John Wayne trazer seu filho Michael Wayne para o set de filmagens no Monument Valley. Anos depois Michael lembraria como era duro trabalhar naquele lugar onde só havia deserto. Para ele não havia outra opção no lugar a não ser o trabalho e isso deixava Ford muito satisfeito.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 20 de junho de 2006

O Homem dos Olhos Frios

Caçador de recompensas (Henry Fonda) chega em uma pequena cidade do oeste com o corpo de um bandido. Ele vem em busca do prêmio prometido pela captura do foragido morto. Assim conhece o Xerife local (Anthony Perkins) um jovem e inexperiente homem da lei que em pouco tempo se verá numa situação de vida ou morte. Lida assim a sinopse pode-se pensar que o filme é mais um faroeste de rotina entre tantos que foram produzidos durante os anos 50. Mero engano. "The Tin Star" (que recebeu um título nada adequado no Brasil de "O Homem dos Olhos Frios") é um excelente estudo psicológico daqueles homens que tinham a audácia e a coragem de impor a lei em lugares distantes e violentos do oeste americano no século 18. Eram mal remunerados, geralmente encontravam a morte cedo e mesmo assim procuravam exercer sua função da melhor forma possível. 

Aqui temos um jovem sem a malícia e a experiência necessárias para fazer valer a lei em uma cidade lotada de mal feitores. Curiosamente acaba encontrando seu mentor em um velho caçador de recompensas (Henry Fonda, ótimo) que só está ali atrás de seu dinheiro e nada mais. Os acontecimentos porém o farão mudar de ideia. Na realidade ele próprio era um xerife que largou a estrela de lata após perceber que ganharia muito mais caçando bandidos perigosos pelo deserto. Assim temos de um lado um jovem ainda idealista que tem que se confrontar com um experiente e calejado ex homem da lei que sabe exatamente o que ostentar aquela estrela significava no velho oeste. O "duelo" de personalidades deles é a base de todo o argumento do filme.

O elenco é excelente. Henry Fonda não precisava de muita coisa para se impor em qualquer filme que trabalhasse. Ícone do western o ator se saí extremamente bem no papel do ex-xerife e atual caçador de recompensas Morg Hickman. Agora verdade seja dita: embora Fonda brilhe mais uma vez o destaque vai mesmo para Anthony Perkins. Ele mesmo, o ator que ficaria marcado para sempre como o psicopata Norman Bates de "Psicose" aqui interpreta um papel totalmente diferente, demonstrando que era realmente um bom ator e não apenas um intérprete de um personagem só (como muitos pensam). O xerife que interpreta é um sujeito sem moral, meio abobalhado, receoso e inseguro que tem que lidar com uma situação limite ao qual não tem o menor controle. "The Tin Star" ("A Estrela de Lata" no original) é isso, uma crônica muito bem estruturada sobre o modo de pensar e agir dos homens da lei em uma terra que passou para a história justamente por não ter lei, a não ser a lei do mais forte. Excelente western, procurem assistir.

O Homem dos Olhos Frios (The Tin Star, EUA, 1957) Direção de Anthony Mann / Roteiro de Joel Kane e Dudley Nichols / Elenco: Henry Fonda, Anthony Perkins, Lee Van Cleef, John McIntire / Sinopse: Caçador de recompensas (Henry Fonda) chega em uma pequena cidade do oeste com o corpo de um bandido. Ele vem em busca do prêmio prometido pela captura do foragido. Assim conhece o Xerife local (Anthony Perkins) um jovem e inexperiente homem da lei que em pouco tempo se verá numa situação de vida ou morte.

Pablo Aluísio.

domingo, 18 de junho de 2006

Sangue de Heróis

Baseado no livro de James Warner Bellah, "Fort Apache - Sangue de Heróis" é um ótimo faroeste. Produzido e dirigido por John Ford, ele é o primeiro de uma trilogia realizada pelo cineasta sobre a cavalaria do exército americano, pós-guerra civil. Os dois outros, igualmente ótimos, são "Legião Invencível", de 1949, e "Rio Grande", de 1950. O filme gira em torno de um arrogante coronel da cavalaria americana, disposto a tudo para ter o reconhecimento do governo dos EUA por seus relevantes serviços prestados à nação. Para tanto, despreza os conselhos de seus auxiliares mais próximos, conhecedores dos problemas vividos pelos apaches, no longínquo território do Arizona e se envolve numa guerra desnecessária e suicida contra os indígenas, que só queriam ser tratados com um pouco de respeito e justiça. E o que chama a atenção é que, após sua morte, ele consegue ser oficialmente reconhecido como herói, muito embora tenha injustificadamente sacrificado a vida de centenas de homens sob seu comando.

Além do belo trabalho realizado por Ford, o filme conta com um roteiro muito bem estruturado e com a magnífica fotografia de Archie Stout. Henry Fonda está soberbo no papel do coronel Thursday, seguido de John Wayne, como o oficial que se rebela contra suas ordens. Adicionalmente "Fort Apache - Sangue de Heróis" conta ainda com um elenco coadjuvante de primeira linha, com nomes como Ward Bond, Victor McLaglen, George O'Brien e Pedro Armendáriz, entre outros. Shirley Temple, a garota prodígio da década de 30, faz um bom trabalho como adulta, na época com 20 anos de idade. O roteiro (e obviamente o livro que lhe deu origem) são em essência uma romantização em cima da história real do General Custer. Após ser morto pelas tribos comandadas por Cavalo Louco e Touro Sentado, Custer virou um herói nacional nos EUA. Na realidade ele era um carreirista que não media esforços para subir na carreira, não importando as consequências de seus atos. O Coronel Thursday do filme nada mais é do que uma alegoria da personalidade verdadeira do Custer histórico. Por tudo isso e muito mais o filme hoje é simplesmente essencial para os fãs do grande cinema da era de ouro de Hollywood. Sem dúvida uma obra magnífica.

Sangue de Heróis (Fort Apache, Estados Unidos, 1948) / Direção: John Ford / Roteiro: Frank S. Nugent, James Warner Bellah / Elenco: John Wayne, Henry Fonda, Ward Bond, Shirley Temple e John Agar / Sinopse: Sangue de Heróis é o primeiro filme da grande trilogia western do renomado diretor John Ford. O filme é baseado na história real do famoso General Custer que na vida real era um carreirista que não media esforços para subir na hierarquia militar.

Pablo Aluísio.