segunda-feira, 22 de abril de 2013

Drogas S.A.

Sempre gostei bastante dos programas e documentários do canal National Geographic e isso não é de hoje. Eu me recordo bem que o selo foi um dos pioneiros no lançamento de documentários em nosso país. Na época do mercado de vídeo VHS não existia ainda o advento dos canais a cabo e as fitas lançadas pela National Geographic eram praticamente a única opção para se assistir a algo com mais conteúdo e cultura. Agora já temos no conforto de nossas casas o canal Nat Geo em que programas e documentários de alto nível são exibidos diariamente. Entre tantos eu destaco essa série chamada “Drogas S.A”. Os produtores desse programa se propõem a expor o lado mais disseminado das drogas dentro da cultura americana, mostrando o lado mais comercial, sem freios ou regras, que impera entre traficantes, usuários e o departamento de repressão do governo americano, o DEA. Existem programas temáticos – como por exemplo aqueles que mostram uma droga especifica como cocaína, maconha, heroína, etc – ou então que mostram a situação das drogas em determinadas cidades americanas.

Desse último tipo eu chamo a atenção para os episódios que mostram as drogas em Hollywood e em Las Vegas. Para quem cresceu amando filmes americanos é muito chocante ver a realidade das ruas próximas aos famosos letreiros de Hollywood. Muitos moradores de rua, prostitutas baratas e viciados em drogas. A chamada calçada da fama – onde estão os nomes dos grandes ídolos do cinema do passado e do presente – nada mais é do que uma rua decadente localizada numa área barra pesada nos arredores de Los Angeles. O documentário mostra um veterano da guerra do Vietnã que pede esmolas no local para turistas para depois comprar crack com o dinheiro que as pessoas lhe dão. Em outro momento um sem-teto viciado em metafentamina (a droga dos pobres, muito popular hoje nos EUA) monta sua barraca a poucos metros do famoso letreiro. Ele vive nas colinas de Hollywood HIlls, passa fome, mas não deixa de adquirir suas drogas diárias. Muitos dos que perambulam pelas ruas são pessoas que foram até Hollywood em busca do sonho de se tornarem astros famosos. Infelizmente só encontram a sarjeta a lhes esperar. Uma viciada em heroína resume tudo a comparar o brilho de Hollywood com uma ilusão. Outro, um ator desempregado que virou traficante de drogas, afirma que apenas 1% dos artistas que vivem por lá conseguem viver de sua arte. O resto se torna morador de rua, viciado em crack ou então prostituta (isso se tiveram atributos físicos para isso). Assim a verdadeira face do sonho americano se revela sem meias verdades. Um tapa na cara para quem ainda acredita em estrelas que não estão no céu.

Drogas S.A. (Drugs, Inc, Estados Unidos, 2010 - 2013) Direção: David Herman, Tom Willis / Produzido por National Geographic / Apresentado por Mike Secher / Sinopse: A série mostra o lado mais terrível do comércio de drogas nos EUA. Traficantes, usuários e policiais são entrevistados mostrando um dos maiores problemas da nação: o disseminado uso de drogas entre a população americana.

Pablo Aluísio.

The Wicked

Um grupo de jovens decide passar o fim de semana em um acampamento no meio da floresta. Nesse local há uma lenda envolvendo uma bruxa que havia sido queimada durante o século XVII. Sua casa ainda se encontra de pé no meio da floresta sinistra e está abandonada há séculos. Sabendo dessa velha estória de fantasma os jovens decidem ir conhecer a velha cabana da bruxa. Chegando lá eles começam a jogar pedras na casa e são surpreendidos pela presença de uma entidade maligna em trajes medievais. Agora terão que pegar por suas brincadeiras juvenis! Sinceramente há pouco coisa boa a dizer desse “The Wicked”. As bruxas não tem tido muita sorte em Hollywood gerando uma sucessão de filmes ruins, de baixo orçamento, com roteiros previsíveis e sem inspiração. Aqui nessa produção temos uma enxurrada de clichês batidos sem nenhuma originalidade.

Os jovens obviamente começam a ser caçados no meio da floresta pela tal bruxa e eventualmente acabam em seu moedor de carne humana nos fundos do porão da casa da bruxa! As situações são todas batidas e pouca coisa convence. Será que nunca vão se cansar dessa coisa de jovens se dando mal em cabana no meio da floresta? O roteiro também tem muitos furos. A tal bruxa aparece e desaparece ao seu bel prazer dentro de uma nuvem de fumaça escura mas depois fica presa dentro de um dos cômodos da casa! Vai entender uma coisa dessas... Há cenas grotescamente mal realizadas com efeitos especiais amadores e mal realizados. Para completar o festival de clichês aqui também temos uma dupla de policiais patetas para completar o quadro. Em suma pouca coisa realmente presta aqui nesse “The Wicked”. Tudo é muito derivativo, mal feito e bobo. Melhor procurar por algo melhor dentro do gênero.

The Wicked (Idem, Estados Unidos, 2013) Direção: Peter Winther / Roteiro: Michael Vickerman / Elenco: Devon Werkheiser, Diana Hopper, Nicole Forester / Sinopse: Bruxa secular resolve voltar a atacar após um grupo de jovens perturbar seu descanso numa velha cabana perdida no meio de uma floresta sinistra.

Pablo Aluísio.

domingo, 21 de abril de 2013

FTW

Frank T. Wells (Mickey Rourke) sai da prisão após longos anos encarcerado. De volta à liberdade ele pretende retomar sua carreira de cowboy de rodeios, onde sempre brilhou antes de ser preso. Ele quer se endireitar e levar uma vida honesta até que conhece Scarlett (Lori Singer) uma ladra de bancos que lhe convence a participar de um grande roubo que vai lhe trazer muito dinheiro, em um assalto considerado fácil e sem problemas. Como verá mais tarde essa será realmente uma péssima idéia. Passado no atual universo Country & Western americano, o filme FTW (também conhecido como “Last Ride”) foi um projeto pessoal do ator Mickey Rourke, feito em cima de um argumento original escrito por ele mesmo. Assim como aconteceu em “Homeboy” aqui o ator também assina o roteiro em uma produção modesta, quase um telefilme, que poucos viram na época e que hoje se tornou uma verdadeira raridade. O título do filme, com as iniciais FTW (Fuck The World), foram consideradas de extremo mau gosto na época mas segundo o próprio Rourke esse nome era na realidade um desabafo das coisas pelas quais vinha passando em sua carreira e em sua vida na época. Além disso eram as iniciais do nome de seu personagem.

Como era um projeto muito pessoal, Mickey Rourke trouxe para dirigir o filme o desconhecido Michael Karbelnikoff. Seu trabalho não se torna marcante e nem muito menos memorável mas diante das pretensões modestas de todo o projeto até que não faz feio. O filme obviamente não conseguiu espaço nos cinemas brasileiros sendo lançado diretamente no mercado de vídeo e mesmo assim em edição limitada, sem grande repercussão nas locadoras, isso apesar de Rourke ser considerado um ator popular aqui no Brasil. Após assistir ao filme chegamos na conclusão de que apesar das boas intenções de Rourke o argumento não é dos melhores. Rourke que aqui interpreta Frank Wells que após um período na prisão tenta reerguer sua vida como peão de rodeios, não convence muito. Apesar de curioso por explorar esse mundo de competições de rodeio o filme não consegue decolar, não conseguido atingir qualquer impacto, seja do público, seja da crítica. Fica apenas como curiosidade para os fãs do trabalho do ator e nada mais.

FTW (FTW, Estados Unidos, 1994) Direção: Michael Karbelnikoff / Roteiro: Mickey Rourke, Mari Kornhauser / Elenco: Mickey Rourke, Aaron Neville, Peter Berg / Sinopse: Após cumprir pena um ex-peão de rodeios tenta reerguer sua vida participando de competições pelo interior dos EUA. Seu envolvimento com  uma criminosa irá mudar os rumos de sua vida.

Pablo Aluísio.

A Ilha do Dr Moreau

Um aspecto que poucos cinéfilos sabem é que o ator Marlon Brando era intensamente interessado em ciência em geral. Ele estava sempre se atualizando sobre os últimos avanços científicos, lendo revistas especializadas e publicações das principais universidades americanas. Não é de se admirar então que tenha aceitado trabalhar nesse “A Ilha do Dr Moreau”, adaptação do famoso livro de autoria de H.G. Wells. Embora tenha sido escrito em 1921 o texto conseguia ser incrivelmente atual pois tratava de uma parte da ciência que era incrivelmente sedutora para Brando: a engenharia genética. A possibilidade de manipulação nas espécies e o resultado desses experimentos eram a base dessa estória clássica. Dr. Moreau (Marlon Brando) é um cientista brilhante que vive em uma ilha isolada no meio do oceano pacifico. Lá ele desenvolve uma série de testes genéticos, criando com suas experiências vários híbridos entre homens e animais. Seu objetivo é criar aquela que seria a criatura ideal, unindo a inteligência e os mais altos valores morais do ser humano com a força e a destreza das feras selvagens. Infelizmente enquanto vai tentando chegar nesse ser perfeito Moreau acaba criando uma série de pequenos monstros que passam a conviver ao seu lado na distante ilha. Não tarda porém para que as criaturas se voltem contra seu criador.

Uma das mais interessantes leituras dessa obra clássica é a questão da ética que move esse tipo de experiência. Em voga atualmente nos principais centros científicos,  dado o avanço das pesquisas genéticas, o roteiro poderia ser a base de discussão de valores envolvendo justamente essa nova postura, a bioética que deveria imperar nesse novo ramo da ciência. Assim queria Brando ao aceitar fazer o filme, levantar o debate sobre os rumos perigosos que a ciência poderia tomar. Infelizmente não era bem essa a intenção do diretor e nem do estúdio que queria em suma apenas realizar um filme de monstros que vivem numa ilha ao lado de um cientista louco. Quando as filmagens começaram Brando entendeu as reais intenções de seus realizadores e ficou obviamente decepcionado. Para não ser arruinado financeiramente por um pesado processo resolveu ir até o fim do filme, mesmo que a empolgação inicial tenha se transformado em decepção completa. Realmente “A Ilha do Dr Moreau” se revela muito fraco em seu resultado final. O único interesse nesse roteiro capenga é a presença de Brando que para aliviar o tédio de participar de algo assim tão obtuso caprichou no figurino esquisito (em determinada cena ele surge todo de branco, com forte maquiagem, tal como um Buda dos trópicos). No saldo final não há outra conclusão “A Ilha do Dr Moreau” é um equívoco, uma produção bem decepcionante apesar de contar em seu elenco com um dos maiores atores da história do cinema americano.

A Ilha do Dr. Moreau (The Island of Dr. Moreau, Estados Unidos, 1996) Direção: John Frankenheimer / Roteiro: Richard Stanley baseado na obra de H.G. Wells / Elenco: Marlon Brando, Val Kilmer, David Thewlis / Sinopse: Brilhante cientista, o Dr. Moreau (Marlon Brando) deseja criar uma criatura perfeita que uma a inteligência do ser humano com as prestezas dos animais selvagens. Vivendo em uma ilha isolada ele logo terá que lidar com a rebelião das feras que ele mesmo criou.

Pablo Aluísio.

sábado, 20 de abril de 2013

Um Novato na Máfia

Outro filme da fase final da carreira do mito Marlon Brando em que ele contracena com um jovem e talentoso ator. Aqui temos Brando dividindo a tela com o ator Matthew Broderick (o eterno Ferris Bueller de “Curtindo a Vida Adoidado”). Seu personagem é claramente uma homenagem / paródia ao seu mais famoso papel, o Don Vito Corleone de “O Poderoso Chefão”. O fato de Brando brincar com esse ícone da história do cinema não foi totalmente bem aceito por muitos críticos que viram na postura do ator um ato de desvalorização com seu trabalho na saga de Francis Ford Coppola. Bobagem, Brando já estava em uma fase da vida que podia até mesmo tripudiar sobre seu próprio mito sem necessariamente sair arranhado em seu prestígio por isso. Aqui ele usa praticamente seu figurino tradicional de chefões italianos mas ao contrário de Corleone que tinha como única preocupação proteger seu clã tudo o que o personagem de Brando deseja aqui é realizar um grande jantar gourmet cujo prato principal era uma iguaria exótica, um animal em extinção.
   
E para transportar o tal réptil surge o tal “freshman” (novato, calouro) do título original, que tentará cumprir sua missão. Em sua autobiografia Brando admite que fez o filme única e exclusivamente por dinheiro. Estava precisando de altas somas pois os inúmeros processos judiciais em que se envolveu ao longo da vida (envolvendo ex-mulheres, filhos, filhas e tudo o mais) o tinham deixado esgotado financeiramente. Mesmo assim o ator deixa claro que gostou do resultado final. O clima no set era ameno e Brando sempre gostou de trabalhar em ambientes assim . Fora isso aconteceu fatos curiosos durante as filmagens. O filme foi rodado na chamada “Little Italy”, bairro de Nova Iorque com forte presença de imigrantes italianos. Brando conta em seu livro que não conseguiu pagar uma só conta nos restaurantes dessa região. Assim que entrava nos lugares era saudado como um verdadeiro herói pelos italianos donos desses estabelecimentos. Some-se a isso o fato de seu prato preferido (Lula) ser de conhecimento notório de todos, o que deixou o ator atônito sobre o vazamento dessa informação pelo bairro (fato que ele atribuiu a Máfia que deixou claro que ele deveria ser tratado com todas as regalias enquanto estivesse em “Little Italy”). Enfim, “Um Novato da Máfia” certamente não é nenhuma obra prima e não pode ser comparado a qualquer outro grande clássico da filmografia de Brando – mas mesmo assim é divertido, agradável, embora inofensivo. Vale como curiosidade e para os fãs de Brando se torna simplesmente imperdível. 

Um Novato na Máfia (The Freshman, Estados Unidos, 1990) Direção: Andrew Bergman / Roteiro: Andrew Bergman / Elenco: Marlon Brando, Matthew Broderick, Bruno Kirby / Sinopse: Jovem inexperiente é contratado por mafioso veterano para realizar uma pequeno serviço: levar uma espécime em extinção para seu restaurante.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Don Juan DeMarco

Por falar em Johnny Depp não há como esquecer de um de seus filmes mais curiosos, “Don Juan DeMarco”. Na trama ele interpreta um sujeito que está convencido que é o próprio Don Juan dos livros ultra românticos de Lord Byron. Levado ao consultório de um analista (interpretado pelo mito Marlon Brando) ele começa a contar as estórias de sua vida, o que acaba mudando os rumos e o modo de pensar do próprio psiquiatra que começa a ter arroubos de romantismo e sedução com sua companheira. Eu credito a esse “Don Juan deMarco” o título de ser um dos últimos filmes realmente bons da carreira de Marlon Brando. O ator interpreta seu personagem com doce frescor, muita suavidade e carinho, fruto obviamente da longa experiência que ele próprio teve em sua vida com esse tipo de profissional. Em sua autobiografia Brando narra várias experiências com analistas com quem se tratou por décadas. Alguns, como ele mesmo brinca, “eram mais malucos que seus próprios pacientes” mas de maneira em geral o ator prezava por esse tipo de tratamento.
   
O primeiro analista que Brando procurou foi ainda na década de 50. Ele estava esgotado emocionalmente e teve uma crise nervosa. Aconselhado por um amigo entrou no ciclo de análises que jamais abandonou, nem mesmo sem seus últimos dias. A parceria com o ator Johnny Depp também chama a atenção. Brando se afeiçoou ao jovem ator e viu nele um tipo de postura ousada e independente que o fez lembrar de si próprio no começo da carreira. Johnny era inclusive um dos poucos profissionais que eram constantemente convidados a visitar a mansão do ator situada em uma colina escondida nos arredores de Los Angeles. Brando até mesmo aceitou participar de outro filme ao lado de Depp, um drama sobre as duras condições em que viviam índios pobres nos EUA. Já aqui em “Don Juan DeMarco” não há nada parecido. O filme, apesar de bem dirigido e atuado, não passa de um agradável passatempo. Com trilha sonora de sucesso, puxada pela canção de Bryan Adams (o canadense de baladas românticas e pegajosas) e muito romantismo “Don Juan de Marco” é uma boa pedida para se assistir a dois. Um filme que no final das contas cumpriu bem seu papel.

Don Juan DeMarco (Idem, Estados Unidos, 1994) Direção: Jeremy Leven / Roteiro: Jeremy Leven inspirado no personagem Don Juan de Lord Byron / Elenco: Marlon Brando, Johnny Depp, Faye Dunaway / Sinopse: Analista recebe um curioso paciente em seu consultório. Um jovem que está plenamente convencido que é o próprio Don Juan dos livros românticos.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Edward Mãos de Tesoura

Essa foi a primeira parceria entre o diretor Tim Burton e o ator Johnny Depp. É curioso porque na época de seu lançamento o filme causou certa perplexidade pois não havia nada igual no mundo do cinema parecido com aquilo. Era uma fábula com toques sombrios, uma direção de arte dark e original e um enredo muito estranho e fora dos padrões. Para completar “Edward Mãos de Tesoura” era estrelado por um jovem ídolo adolescente da TV, o quase garoto Johnny Depp, que na época estampava inúmeras revistas de teens por causa de seu sucesso na série policial “Anjos da Lei”. Ninguém também conhecia Tim Burton. As únicas referências diziam que ele era um diretor de curtas de animação que havia saído da Disney após ter alguns desentendimentos com o estúdio. Esse ar de novidade e originalidade foi um dos grandes trunfos de “Edward Mãos de Tesoura”. O personagem principal se vestia todo de couro negro e tinha ao invés de mãos, tesouras em seus braços. Seu criador, um homem bondoso, interpretado pelo fascinante ídolo de filmes de terror do passado, Vincent Price, completava o clima sombrio de fantasia e magia para o filme que apesar disso não poderia ser qualificado como uma fita de terror.
   
Depois do sucesso de público e crítica de “Edward Mãos de Tesoura” a dupla formada por Depp e Burton não mais se largou – e segue junta até os dias atuais. Com altos e baixos formaram uma extensa filmografia que ia tanto para o lado mais cômico como para o lado mais assustador, passando até mesmo por musicais. Como bem esclareceu recentemente o ator eles desenvolveram uma parceria tão bem sucedida que hoje em dia nem mais precisam da palavra para se comunicarem no set de filmagem. Basta um olhar, um gesto, que Depp imediatamente entende o que Burton deseja em cada cena. Outro fato marcante digno de nota sobre esse filme foi o famoso namoro que Johnny Depp teve com sua parceira de trabalho, a atriz Winona Ryder. Muitos anos antes de Brad Pitt e Angelina Jolie ou Tom Cruise e Nicole Kidman, o casal do momento em Hollywood era Depp e Winona. Ele inclusive, em um ato impensado, mandou tatuar em seu braço a expressão “Winona Forever”, algo que iria se arrepender depois quando o romance finalmente chegou ao fim. Enfim, fica a dica desse “Edward Mãos de Tesoura”, um filme diferente que marcou época e ainda hoje segue sendo bem interessante. 

Edward Mãos de Tesoura (Edward Scissorhands, Estados Unidos, 1990) Direção: Tim Burton / Roteiro: Tim Burton, Caroline Thompson / Elenco: Johnny Depp, Winona Ryder, Dianne Wiest / Sinopse: Edward é um jovem que tem no lugar das mãos, tesouras, que ele usa para aparar os gramados ou cortar os cabelos das madames de sua cidade. Tudo começa a mudar em sua bucólica existência quando se apaixona por uma linda jovem.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Sem Destino

A década de 1960 foi muito efervescente do ponto de vista cultural. O movimento hippie estava no ar e os jovens pensavam que tudo se resolveria através da singela filosofia da “Paz e Amor”. Infelizmente os fatos provaram que não era bem assim. Bom se todos aqueles movimentos se mostraram inócuos na vida real pelo menos na arte os anos 60 legaram para a posteridade ótimos discos, peças de teatro e filmes. Um dos mais celebrados foi justamente esse “Sem Destino”. O projeto nasceu de uma proposta de trabalho de Peter Fonda e Dennis Hopper que procuravam viabilizar a realização de filmes com baixo orçamento mas muitas idéias novas na cabeça. Peter, filho do ícone Henry Fonda, queria se afastar dos grandes estúdios e seus executivos, que não conseguiam mais entender a nova geração que estava aí. Ele racionalizou e entendeu que no máximo precisaria das grandes companhias cinematográficas apenas na fase de distribuição, já que na questão de produção e filmagem poderia bancar tudo praticamente sozinho. Hopper,  um notório “maluco beleza” daqueles anos, entendia que tudo o que precisava para realizar um bom filme era captar os novos tempos que pairavam dentro da sociedade americana naquele momento. Se afastar o máximo possível da mera ficção com o objetivo de retratar a realidade do cotidiano das pessoas ao redor.

E foi com esse espírito independente que nasceu seu maior filme, “Sem Destino”. Peter Fonda se uniu aos amigos Jack Nicholson (antes de virar um grande astro de Hollywood) e Dennis Hopper (símbolo da contracultura e do cinema de vanguarda) para literalmente cair na estrada, sem lenço e nem documento. Juntos a uma pequena equipe de filmagens saíram pelas highways americanas filmando tudo o que de interessante encontravam pela frente. Como a produção deveria ter custo mínimo o roteiro foi sendo escrito no calor dos acontecimentos, conforme as filmagens avançavam. Havia certamente uma linha narrativa muito tênue a seguir escrita pelo roteirista Terry Southern, mas o resto da estória foi sendo criado in loco por Fonda e Hopper durante as gravações. Uma das maiores ironias do elenco era certamente a presença de Jack Nicholson, um notório malucão dos anos 60, aqui interpretando um personagem careta! Assim que chegou nas telas o resultado comercial se revelou espetacular. “Sem Destino” custou a bagatela de meros 400 mil dólares e rendeu mais de 70 milhões de bilheteria, se tornando um dos filmes mais lucrativos da história. Peter Fonda se tornou um homem rico praticamente da noite para o dia, pois havia trocado seu cachê por um percentual nos lucros. “Sem Destino” no final das contas se revelou um ótimo produto do sistema capitalista americano que criticava, quem diria...

Sem Destino (Easy Rider, Estados Unidos, 1969) Direção: Dennis Hopper / Roteiro: Peter Fonda, Dennis Hopper, Terry Southern / Elenco: Peter Fonda, Dennis Hopper, Jack Nicholson / Sinopse: Dois motoqueiros vagam pelas estradas americanas em busca de aventuras. Em seu caminho conhecem os mais diferentes tipos de pessoas, desde caretas até hippies tentando viver o sonho da filosofia “Paz e Amor”. Premiado no Festival de Cannes com o prêmio de melhor filme de diretor estreante (Dennis Hopper). Indicado a Palma de Ouro. Indicado aos Oscars de melhor ator coadjuvante (Jack Nicholson) e melhor roteiro original.

Pablo Aluísio.

Um Estranho no Ninho

Segue sendo lembrado como um dos melhores filmes da carreira de Jack Nicholson. De certa forma ajudou até mesmo a compor sua mais conhecida persona nas telas – a do sujeito meio maluco, prestes a cruzar a fronteira entre sanidade e insanidade, sempre com um largo sorriso na face. Não é para menos, Jack Nicholson foi criado pensando ser irmão daquela que mais tarde revelou-se ser na verdade sua mãe! E a mulher que ele pensava ser sua mãe era na verdade sua avó! Confuso? Claro que sim mas a vida familiar complicada do ator se refletiria depois em ótimas perfomances como essa, excelentes interpretações que até hoje marcam a história do cinema. Afinal de contas de pessoas disfuncionais o velho Jack sabia tudo! O grande filme da carreira de Jack até aquele momento era “Chinatown”. É certo que “Sem Destino” foi a produção que mudou os rumos de sua carreira mas o filme de Polanski ajudou a sedimentar o caminho para o estrelato de Nicholson. Mesmo com toda sua repercussão apenas “Um Estranho no Ninho” trouxe o reconhecimento pleno da crítica e de seus colegas uma vez que o filme foi louvado pela Academia e pelos demais principais prêmios do cinema americano e internacional. De fato foi uma consagração pessoal de Nicholson mais do que qualquer outra coisa. 

Em “Um Estranho no Ninho” Jack interpreta Randle Patrick McMurphy, um prisioneiro que decide simular sintomas de doença mental para ser transferido da prisão onde cumpre pena para um hospital psiquiátrico pensando encontrar lá um sistema menos rígido e disciplinador do que dentro das grades da penitenciaria. Para sua surpresa porém nada era o que ele esperava encontrar. No hospício encontra um sistema rígido, baseado em um forte controle de cada passo dos pacientes, tudo sob comando da enfermeira-chefe Ratched (Louise Fletcher). A partir daí Patrick começa uma série de desentendimentos com a direção do lugar, tudo para conseguir impor um sistema bem mais liberal do que o que está em vigor. Esse é o tipo de papel em que Jack Nicholson se esbalda em cena. Cabelo despenteado, sorriso insano, olhar vidrado, tudo de acordo com o estilo indomado do ator. Sua interpretação de fato é brilhante, alternando momentos de pura malandragem de seu personagem com ataques de insanidade sem controle. Sem Jack o filme certamente não teria o impacto que teve. Por seu trabalho venceu o Oscar, o Globo de Ouro, o Bafta e o prêmio dos críticos de Nova Iorque (NYFCCA). Todos mais do que merecidos. Não se engane, “Um Estranho no Ninho” traz Jack Nicholson em sua mais pura essência. Uma verdadeira obra prima!

Um Estranho no Ninho (One Flew Over the Cuckoo's Nest, Estados Unidos, 1975) Direção: Milos Forman / Roteiro: Lawrence Hauben, Bo Goldman / Elenco: Jack Nicholson, Louise Fletcher, Danny DeVito, William Redfield, Brad Dourif / Sinopse: Preso se faz passar por maluco para ser levado para uma instituição psiquiátrica onde espera encontrar um lugar mais ameno, com mais regalias. Para sua surpresa porém o local é controlado rigidamente por uma enfermeira-chefe linha dura que não admite mudanças em seu cronograma pessoal. Filme vencedor dos Oscars de melhor filme, melhor ator (Jack Nicholson), melhor atriz (Louise Fletcher), melhor direção (Milos Forman) e melhor roteiro adaptado. Vencedor do Globo de Ouro nas categorias melhor filme / drama, melhor direção, melhor ator / drama (Jack Nicholson), melhor atriz / drama (Louise Fletcher), melhor revelação masculina (Brad Dourif) e melhor roteiro.

Pablo Aluísio.

domingo, 14 de abril de 2013

Veículo 19

Michael Wood (Paul Walker) é um americano que chega em Johannesburg, na África do Sul, para encontrar sua ex-esposa que trabalha na embaixada americana. Ao desembarcar no aeroporto ele aluga um carro e aí começam seus problemas. O veículo não parece ser o certo, não é o modelo que ele pediu para a locadora de automóveis. Para piorar há um celular e uma arma de fogo dentro. Após receber uma ligação ameaçadora de uma pessoa que ele não tem a menor idéia de quem seja começa a ser perseguido pelas ruas da cidade. Como se não fosse azar suficiente ele descobre que há uma mulher amordaçada no porta malas do carro! Ao que tudo indica é uma assistente de promotoria que está sendo perseguida pela polícia local por ter descoberto uma rede de tráfico de pessoas comandada pelo próprio chefe de polícia! A partir desse momento Wood (Walker) tentará sobreviver de todas as formas.

“Vehicle 19” foi produzido pelo próprio ator Paul Walker que estrela o filme. Seu personagem não larga o volante em nenhum momento do filme. Na verdade a estória se passa em apenas seis horas, desde o momento em que o americano aluga o carrro errado até o clímax, quando ele tentará sobreviver a um intenso cerco policial comandado por um chefe de polícia corrupto. Nesse meio termo acontecerá várias perseguições, tiroteios e tudo o mais que fazem a festa dos fãs de filmes de ação. As filmagens foram todas realizadas na maior cidade da África do Sul. Ao lado de prédios majestosos convive toda uma população (em sua maioria negra) na mais absoluta miséria. O roteiro claro não perde muito tempo com isso mas essas locações já dão uma boa idéia da cidade. Algumas cenas foram feitas em favelas de Johannesburg, locais bem parecidos com as favelas cariocas. Em suma é isso. Paul Walker em um genérico mais modesto de seu maior sucesso, “Velozes e Furiosos”. Pise fundo e se divirta!

Veículo 19 (Vehicle 19, Estados Unidos, África do Sul, 2013) Direção: Mukunda Michael Dewil / Roteiro: Mukunda Michael Dewil / Elenco: Paul Walker, Naima McLean, Gys de Villiers / Sinopse: Americano na África do Sul aluga sem querer um veículo que está sendo perseguido pela polícia local. Agora é pisar fundo para sobreviver ao cerco policial.

Pablo Aluísio.

Amistad

Um navio de bandeira espanhola, chamado La Amistad, chega na costa dos EUA e é imediatamente capturado. Havia acontecido uma rebelião em seu interior, promovido pelos 53 escravos aprisionados, e agora em território americano a situação jurídica do navio negreiro dá origem a uma intensa disputa de direito internacional. Para defender os escravos surge a figura do ex-presidente John Quincy Adams (Anthony Hopkins) que mesmo não sendo um abolicionista declarado pretende lutar pelos direitos básicos dos negros africanos uma vez que entende que eles estão sendo violados. O caso acaba indo parar na mais alta corte dos Estados Unidos, a Suprema Corte, onde irão aflorar sentimentos nacionalistas, abolicionistas e raciais, criando dentro do tribunal um microcosmo da própria sociedade americana, que naquele momento vivia um de seus momentos mais turbulentos. Assim o filme “Amistad” pretende discutir a questão da escravidão e racismo dentro dos EUA usando como palco esse famoso caso.

Quando assisti recentemente o filme “Lincoln” me lembrei imediatamente desse filme anterior de Spielberg que tem uma estrutura muito semelhante. Spielberg se propõe a usar um fato da história americana para trazer de volta ao debate temas caros ao povo americano. No roteiro de Amistad várias questões atuais voltam ao centro de discussões, inclusive o racismo, a posição do negro dentro da sociedade e a batalha entre direito e moral. O negro africano que chegava nas colônias americanas não era sequer considerado uma pessoa, um ser humano, mas sim um objeto, que deveria ser considerado mera propriedade de seu senhor. Spielberg fez um filme correto, historicamente preciso (embora com algumas licenças históricas) e assim como aconteceu com “Lincoln” foi acusado de ter realizado uma obra muito burocrática, fria e sem emoção dramática. Não compartilho dessa visão. Acredito que “Amistad” é um momento muito interessante da filmografia de Spielberg que tem a coragem de tocar novamente em uma das feridas mais abertas da nação americana. Produção requintada, com atuações marcantes, “Amistad” é mais uma chance de ter contato com um Spielberg mais adulto e socialmente consciente.

Amistad (Amistad, Estados Unidos, 1997) Direção: Steven Spielberg / Roteiro: David H. Franzoni / Elenco: Anthony Hopkins, Morgan Freeman, Matthew McConaughey, Nigel Hawthorne, Djimon Hounsou, David Paymer, Pete Postlethwaite / Sinopse: Após a captura de um navio negreiro espanhol na costa dos Estados Unidos se instala um conflito de direito internacional na Suprema Corte daquele país. Para defender os negros surge a figura do ex-presidente americano, John Quincy Adams (Anthony Hopkins). Filme indicado aos Oscars de Ator Coadjuvante (Anthony Hopkins), Fotografia, Figurino e Trilha Sonora). Indicado aos Globos de Ouro de Direção, Melhor Filme Drama, Ator (Djimon Hounsou), Ator Coadjuvante (Anthony Hopkins).

Pablo Aluísio.

sábado, 13 de abril de 2013

Wall Street

Depois do grande sucesso de “Atração Fatal” o ator Michael Douglas resolveu unir forças com o polêmico diretor Oliver Stone. Ambos sempre foram ideologicamente muito próximos, seguindo a linha mais liberal e essa sincronia de pensamentos os levou a trabalhar juntos nesse “Wall Street”. O filme obviamente soava como uma crítica nada sutil aos executivos de Wall Street, o centro financeiro de Nova Iorque. Lá, onde fortunas eram ganhas praticamente da noite para o dia, convive uma série de "tubarões" do sistema capitalista americano, entre eles um dos mais agressivos é justamente Gordon Gekko (Michael Douglas), um sujeito sem qualquer escrúpulo que está mais interessado em especular e ganhar rios de dinheiro a todo custo, mesmo que de modo fraudulento, do que qualquer outra coisa. Do outro lado surge um recém chegado naquele mundo, o jovem Bud Fox (Charlie Sheen), que não demora a entender as regras do jogo naquele ambiente hostil e realmente selvagem.

Por falar em Charlie Sheen o ator era na época de “Wall Street” um dos mais promissores astros da nova geração de Hollywood. Ele havia estrelado o sucesso “Platoon” com o mesmo diretor Oliver Stone e na época era apontado, ao lado de Tom Cruise, como um dos grandes mega astros do futuro. O problema é que enquanto Cruise fazia de tudo para manter sua vida pessoal e imagem na linha, Sheen seguia o caminho oposto se envolvendo em escândalos com esquemas de prostituição e drogas, afundando suas pretensões de virar realmente uma estrela de cinema de primeira grandeza. Já Oliver Stone encontrou aqui um palco adequado para dar mais uma vez seu recado. Profundo contestador do sistema americano ele aqui centra fogo contra o lado mais desumano do capitalismo ianque, criticando dentro de sua estória um regime onde muitos não possuem quase nada e pouquíssimos se esbaldam em luxos e riqueza (muitas vezes sem nada terem feito de concreto para isso). Com sua visão política apurada Oliver Stone logo virou alvo de muitas críticas mas isso no fundo não importa pois o que sobressai no final é o fato de que o filme “Wall Street” é realmente muito bom, se tornando ainda hoje muito atual.

Wall Street – Poder e Cobiça (Wall Street, Estados Unidos, 1987) Direção: Oliver Stone / Roteiro:  Stanley Weiser, Oliver Stone / Elenco: Michael Douglas, Charlie Sheen, Tamara Tunie, Franklin, Martin Sheen / Sinopse: No mundo de Wall Street um velho e um novo especulador tentam enriquecer dentro do milionário mercado de ações da economia americana.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

O Novato

Um ator do nível de Al Pacino certamente coleciona em sua filmografia clássicos absolutos da história do cinema que ficam lado a lado com filmes que em pouco tempo são esquecidos pelo público. Não que tais produções sejam ruins ou desprovidas de valor, apenas não conseguem se firmar com o status que alguns outros filmes de Pacino alcançaram com o passar dos anos. Esse “O Novato” é exatamente o tipo de película estrelada por Pacino que acabou caindo no esquecimento até mesmo de seus fãs. O curioso é que se trata de um roteiro bem trabalhado, com situações interessantes. Na trama acompanhamos a chegada do jovem James Clayton (Colin Farrell) na famosa agência de inteligência dos EUA, a CIA. Sua presença logo chama a atenção do veterano instrutor de agentes, Walter Burke (Al Pacino). Em pouco tempo Clayton se transforma no pupilo de Burke que começa a enxergar no novato uma extensão de si próprio quando começou sua carreira.

Como acontece em todo filme sobre espionagem fica logo óbvio que nada é realmente o que aparenta ser. Um dos maiores perigos dentro de uma agência de inteligência, seja de que país for, é a infiltração dos chamados agentes duplos. É dentro dessa perspectiva que as coisas começam a realmente complicar dentro de seu treinamento. “O Novato” foi dirigido por Roger Donaldson. Sempre considerei esse cineasta muito eficiente e competente, basta lembrar de seus filmes ao lado de Kevin Costner (“Sem Saída” e “Treze Dias Que Abalaram o Mundo”) para perceber que Donaldson transita muito bem nesse mundo de filmes sobre espionagem e política internacional. Aqui porém se percebe um certo clima de preguiça por parte dele em avançar mais nas possibilidades do roteiro. O que poderia desbancar para uma intrigada e complexa rede de inteligência acaba trilhando o caminho da acomodação pura e simples, se rendendo a clichês batidos do gênero. Mesmo com esses problemas o filme não pode ser considerado ruim, em absoluto, as presenças de Pacino e Farrell conseguem manter o interesse, só não espere nada excepcional em cena.

O Novato (The Recruit, Estados Unidos, 2002) Direção: Roger Donaldson / Roteiro: Roger Towne, Kurt Wimmer, Mitch Glazer / Elenco: Al Pacino, Eugene Lipinski, Colin Farrell, Bridget Moynahan, Brian Rhodes, Gabriel Macht / Sinopse: Jovem novato dentro da Agência de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) se tornar o preferido de veterano instrutor que parece ter algo muito sério a esconder de todos.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

As Cores da Violência

Os brasileiros reclamam com muita razão da violência extrema que impera em suas grandes cidades mas a verdade é que isso se tornou um problema mundial há muitos anos. As chamadas metrópoles não conseguem suprir as necessidades de uma coletividade enorme, com mais de um milhão de habitantes. Entre os problemas mais complicados está justamente a violência urbana. Para o jovem que mora em subúrbios, sem educação adequada e sem meios de sobrevivência, muitas vezes a única saída acaba sendo o mundo do crime, principalmente quando ele encontra um meio social que o aceita, geralmente grandes gangues formadas por outros jovens sem perspectivas como ele. Essa realidade foi muito bem captada por esse “Colors – As Cores da Violência” que mostra, sem amenizações, a criminalidade latente de uma grande cidade americana infestada de gangues de delinqüentes, geralmente identificadas por cores, formadas principalmente por jovens pobres e excluídos que se unem para dominar uma determinada região, impondo seus próprios códigos de condutas, baseados em violência e intimidação.

Sean Penn brilha ao lado do veterano (e excelente ator) Robert Duvall. É curioso ver o jovem Penn já muito preocupado em desenvolver um personagem socialmente consciente, que também parece caminhar numa fina linha que separa o crime da lei. Em um mundo tão selvagem não é de se admirar que os próprios policiais, forjados na guerra das ruas, incorporem muitos dos comportamentos dos próprios criminosos que perseguem. O filme na época de seu lançamento chocou o público por causa de sua crueza. A equipe de filmagem filmou toda a produção nas periferias mais violentas. Ao melhor estilo “câmera na mão” o elenco e o diretor Dennis Hopper saíram percorrendo becos, ruas sujas e locais perigosos para dar todo um realismo ao filme em si. O resultado é certamente dos melhores e mostra sem paleativos o problema do jovem pobre das grandes cidades. Não importa se é Rio ou Los Angeles, São Paulo ou Nova Iorque, o desafio segue anos após ano mostrando que Colors certamente está mais atual do que nunca!

As Cores da Violência (Colors, Estados Unidos, 1988) Direção: Dennis Hopper / Roteiro: Michael Schiffer / Elenco: Sean Penn, Robert Duvall, Maria Conchita Alonso / Sinopse: Dois policiais, um veterano e um novato, combatem gangues pelas ruas mais pobres de Los Angeles. Há uma guerra em curso entre os Crips e os Bloods, e os policiais tentarão evitar que tudo não acabe em uma grande explosão de violência e ódio racial.

Pablo Aluísio.

Amigos Inseparáveis

Al Pacino é como vinho, quanto mais envelhecido fica, mais valioso se torna. O ator que vem marcando a história do cinema desde a década de 70 está cada vez mais à vontade na arte de atuar. Quando não está esbanjando sua arte em filmes marcantes se dedica a pequenas produções, algo que definitivamente lhe dá grande satisfação pessoal e profissional já que nunca perdeu seu espírito independente. Um exemplo desse segundo tipo de filme é esse “Amigos Inseparáveis”. Com orçamento bem modesto, Pacino se uniu aos colegas (e amigos) Alan Arkin e Christopher Walken para contar uma estória das mais singelas. A trama começa após a saída da prisão de Valentine (Pacino). Ele ficou 28 anos cumprindo pena mas não se dobrou e nunca entregou seus comparsas de criminalidade.

De volta às ruas ele reencontra Doc (Christopher Walken) e Hirsch (Alan Arkin). O problema é que Doc está contratado para liquidar Valentine a mando de um poderoso chefão da máfia local. O mais interessante é que Valentine, bastante experiente, logo toma consciência disso. Afinal são negócios, nada pessoal. Assim ele parte para aqueles que são seus últimos momentos. Aproveitar o pouco tempo que lhe resta de vida. Junto aos colegas acaba se envolvendo em diversas situações, esperando com isso curtir suas últimas horas. “Amigos Inseparáveis” até que começa muito bem, afinal ver um trio de atores tão talentoso é ótimo para qualquer cinéfilo. O problema é que conforme o filme avança ele perde o foco, não mais se decidindo em ser um drama, uma comédia ou um filme policial. A única coisa que parece sobreviver a essa indecisão toda é o carisma imbatível de Al Pacino. Ele realmente parece estar se divertindo como nunca ao lado de Arkin e Walken, o que acaba salvando o filme do desastre completo. É lógico que com um elenco desses “Amigos Inseparáveis” poderia ser muito melhor, quase uma obra prima do cinema, mas não parece ter sido essa a escolha dos realizadores. De qualquer maneira é Pacino – o que já torna o filme obrigatório para qualquer fã de cinema. Afinal bons vinhos nunca devem ser desperdiçados.

Amigos Inseparáveis (Stand Up Guys, Estados Unidos, 2012) Direção: Fisher Stevens / Roteiro: Noah Haidle / Elenco: Al Pacino, Christopher Walken, Alan Arkin, Julianna Margulies, Katheryn Winnick, Vanessa Ferlito / Sinopse: Após sair da prisão por onde esteve por 28 anos, Valentine (Al Pacino) reencontra seus velhos amigos de criminalidade. O que parecia ser apenas um encontro amigável porém logo se revela um complicado acerto de contas.

Pablo Aluísio.