sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Todo Poderoso

Jim Carrey é o legítimo herdeiro do humor físico de Jerry Lewis. Cheio de caras e bocas é aquele tipo de comediante que não se preocupa em ser sutil ou contido, pelo contrário, o exagero faz parte essencial de seu trabalho. Hoje em dia é o nome mais popular da comédia americana. Esse “Todo Poderoso” passa longe daquelas produções que ele rodou nos últimos anos tentando provar que era um bom ator. Aqui a tônica é de escracho mesmo. O argumento é feito em cima de uma pergunta que provavelmente você já tenha feito a si mesmo em algum momento de sua vida: E se eu tivesse todos os poderes de Deus? Pois é, embora simplório esse argumento acaba divertindo bastante ainda mais quando esses poderes caem nas mãos de um sujeito completamente sem noção. O roteiro chega a brincar com várias passagens bíblicas mas como em essência é uma grande bobagem não chega ao extremo de ofender qualquer religião que seja.

Então Deus resolve premiar um mortal comum com seus poderes divinos. E é justamente isso o que acontece com Bruce Nolan (Jim Carrey), um jornalista de Nova Iorque que anda completamente descontente com os rumos de sua vida. Apesar de estar em um emprego muito interessante numa emissora de sucesso e namorar uma bela e jovem garota, a simpática Grace (Jennifer Aniston), ele se sendo frustrado, irritado, de mal com a vida. Em um dia particularmente complicado de sua vida ele perde a compostura e começa a dirigir impropérios a ninguém menos do que Deus e o desafia. Então eis que o Próprio surge em cena, interpretado pelo sempre ótimo Morgan Freeman (que parece estar se divertindo como nunca). Desafiado e cansado de sua posição de “Todo Poderoso” ele resolve passar todos os seus poderes supremos ao mortal e esquentado Bruce, que em pouco tempo descobre como é difícil a tarefa de literalmente tomar conta de toda a humanidade. Ele aprende facilmente que ser Deus não é nada fácil.  Bobinho o argumento? Claro que sim, até porque estamos na presença de mais uma comédia maluca de Jim Carrey. Mesmo assim vale a espiada por pelo menos uma vez. Desligue o cérebro e se divirta.

Todo Poderoso (Bruce Almighty,  Estados Unidos, 2003) Direção: Tom Shadyac / Roteiro: Tom Shadyac, Steve Oedekerk, Mark O'Keefe / Elenco: Jim Carrey, Jennifer Aniston, Morgan Freeman, Lisa Ann Walter, Steve Carell. / Sinopse: Deus resolve investir um homem comum, mero mortal, com seus poderes divinos. Não tardará para que comece uma grande confusão pelo mundo.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Invasão de Privacidade

Depois do grande sucesso comercial de “Instinto Selvagem” era natural que Sharon Stone, mais cedo ou mais tarde, voltasse a interpretar uma personagem parecida com a loira fatal do filme anterior. Também era mais do que esperado que os estúdios direcionassem seus futuros filmes para a sensualidade à flor da pele, marca registrada de seu maior sucesso nas telas. O fato é que “Instinto Selvagem” mudou o status de Sharon Stone em Hollywood. Ela deixou de ser apenas uma atriz bonita para se tornar uma estrela, com tudo de bom e ruim que isso possa significar. Inteligente e muito extrovertida ela conseguiu se manter na mídia, indo a programas de entrevistas, aparecendo em capas de revistas, alimentando fofocas sobre sua vida pessoal, sempre se promovendo da melhor forma possível. Dentro desse contexto o roteiro sensual e (novamente) pervertido de “Invasão de Privacidade” parecia cair como uma luva em suas pretensões de alcançar mais um grande sucesso de bilheteria em sua carreira. Por um cachê milionário ela finalmente aceitou realizar o filme. Tudo parecia se encaixar bem. O roteirista seria o mesmo Joe Eszterhas  de “Instinto Selvagem” e a trama baseada na novela de Ira Levin parecia ser suficientemente picante para atrair novamente um grande público aos cinemas. O diretor seria o premiado australiano Phillip Noyce que já havia causado bastante polêmica com seu visceral “Terror a Bordo”.

Sharon Stone sabia que para o filme se tornar um sucesso tão grande quanto o anterior ela deveria ir além nas cenas sensuais e de erotismo. De fato o enredo, focado bastante no lado mais voyeur dos homens serviria bem a esse propósito. No filme ela interpreta Carly Norris, uma mulher dona de si e do seu destino. Ela se muda para um novo apartamento em um dos endereços mais exclusivos de Nova Iorque. Na vida emocional acaba se envolvendo com dois homens ao mesmo tempo em um excitante jogo de poder e sedução. Tudo caminha bem até o momento em que começa a desconfiar que de alguma forma alguém anda espionando sua vida, até nos mínimos detalhes. O argumento assim abre um aspecto curioso, levando o espectador a uma posição de pleno voyeurismo, vendo a vida privada da personagem principal, se deliciando com cada momento de sua intimidade. Como se esperava um grande sucesso de bilheteria a Paramount investiu pesado em marketing e promoção. O resultado porém se mostrou muito fraco. A produção que custou 40 milhões de dólares conseguiu apurar apenas pouco mais de 100 milhões. Não foi um fracasso como se chegou a dizer na época mas foi um resultado bem abaixo do esperado. Um alto executivo do estúdio chegou a afirmar que a Paramount esperava por pelo menos uns 300 milhões de caixa. Passou bem longe disso.  Artisticamente falando “Invasão de Privacidade” também deixou a desejar. O filme de um modo geral confunde sensualidade com vulgaridade e termina por não se tornar eroticamente interessante. Além disso a conclusão é sensacionalista e de mal gosto. Assim o chamado filme da consagração de Sharon Stone não passou de uma decepção demonstrando mais uma vez que já não se fazem mais estrelas de cinema como antigamente.

Invasão de Privacidade (Sliver, Estados Unidos, 1993) Direção: Phillip Noyce / Roteiro: Joe Eszterhas baseado na novela de Ira Levin / Elenco: Sharon Stone, Tom Berenger, William Baldwin, Martin Landau, Colleen Camp, Polly Walker, C. C. H. Pounder, Nina Foch. / Sinopse: No filme Sharon Stone interpreta Carly Norris, uma mulher dona de si e seu destino. Ela se muda para um novo apartamento em um dos endereços mais exclusivos de Nova Iorque. Na vida emocional acaba se envolvendo com dois homens ao mesmo tempo em um excitante jogo de poder e sedução. Tudo caminha bem até o momento em que começa a desconfiar que de alguma forma alguém anda espionando sua vida, até nos mínimos detalhes.

Pablo Aluísio.

A Casa da Rússia

Alguns filmes são literalmente atropelados pela história. Um exemplo claro disso aconteceu com esse “A Casa da Rússia” que foi lançado no mesmo ano em que o Muro de Berlim caiu! Como adaptação de uma típica novela da Guerra Fria, com todos aqueles espiões russos retratados como vilões e malvados, o filme entrou em cartaz justamente no momento histórico em que tudo isso estava mudando de forma radical. A Perestroika e a Glasnost sob o comando do premier Mikhail Gorbachev simplesmente colocaram abaixo o antigo regime que era a essência do bloco soviético e do Pacto de Varsóvia. Assim a Rússia sempre vista como o “Império do Mal” deixou de ter essa conotação tão maniqueísta. Como conseqüência o filme também perdeu sua razão de existência, se tornando ultrapassado, anacrônico, fora de moda. E isso tudo aconteceu em questão de semanas. John Le Carré, o autor do livro no qual o filme foi baseado, que praticamente só escrevia sobre espiões da Guerra Fria, de repente se tornou um dinossauro ideológico. “A Casa da Rússia” hoje soa muito curioso pois capta todos aqueles valores que estavam na ordem do dia na época em que o mundo era basicamente dividido em dois grandes blocos, o dos países ocidentais capitalistas e o dos países comunistas orientais liderados pela temida União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Claro que hoje em dia isso tudo ficou para trás e só existe nos livros de história, mas mesmo assim é muito interessante acompanhar a mentalidade que predominava naqueles anos de grande tensão entre as potências mundiais.

A trama gira em torno de uma série de dossiês cujos conteúdos revelam terríveis planos do governo comunista de Moscou em relação aos Estados Unidos. Os textos foram escritos por um renomado cientista soviético de codinome Dante (Klaus Maria Brandauer, amigo pessoal de Sean Connery e incluído no elenco atendendo a seu pedido pessoal). Katya (Michelle Pfeiffer) é uma amiga de Dante que é designado por esse para levar os dossiês até o Ocidente. Sua intenção é revelar os planos do governo russo para assim impedir que uma catástrofe mundial ocorra entre as nações. Katya assim tenta passar os documentos para um famoso editor britânico chamado Barley (Sean Connery). Convencido pelo serviço secreto inglês, Barley então é enviado até Moscou para colocar as mãos nos dossiês ao mesmo tempo em tentará descobrir quem realmente é Dante. De quebra deverá se certificar se os documentos são verdadeiros ou não, uma vez que táticas de contra espionagem eram muito comuns na época. Como se pode perceber “A Casa da Rússia” é um típico filme de espionagem da Guerra Fria. É muito curioso ver Sean Connery nesse tipo de filme, uma vez que ele tentava se afastar de seu personagem mais famoso, justamente o espião 007.  Apesar de seu personagem não ser um espião aos moldes do anterior a trama cheia de reviravoltas, planos e espionagem lembrava bastante os livros de Ian Fleming. Mais interessante ainda é saber que ele fez o filme logo após sua premiação de Melhor Ator por “Os Intocáveis” que de certa forma coroavam esses novos rumos trilhados em sua carreira, ao se distanciar da franquia que o tornou famoso. O filme acabou não dando certo nas bilheterias pelas razões já expostas. Um famoso crítico americano inclusive denominou a produção de “um fantasma da guerra fria”. Assim foi um dos últimos de uma grande série de películas que mostravam o eterno conflito entre União Soviética e Estados Unidos. O mundo definitivamente havia mudado e para melhor e não havia mais espaço para esse tipo de roteiro. Não havia outra conclusão, o filme “A Casa da Rússia” havia sido literalmente atropelado pela história.  

A Casa da Rússia (The Russia House, Estados Unidos, 1989) Direção: Fred Schepisi / Roteiro: Tom Stoppard baseado na obra de John Le Carré /  Elenco: Sean Connery, Michelle Pfeiffer, Roy Scheider, Klus Maria Brandauer, James Fox, John Mahoney, Michael Kitchen, J.T. Walsh, Ken Russell. / Sinopse: Uma série de arquivos contendo um complexo dossiê revela segredos do governo russo durante a Guerra Fria. Para tentar colocar as mãos neles o serviço secreto britânico envia um editor até Moscou onde ele acaba se vendo envolvido numa grande conspiração de espionagem.

Pablo Aluísio.

Splice

Confesso que estava esperando outra coisa desse filme. Pensei que ele era mais centrado na questão cientifica do tema mas me enganei. O filme é fantasioso em seu roteiro, da primeira à última cena. Nem por isso desgostei de Splice, achei um bom thriller de terror, com um roteiro bem resolvido, principalmente quando mostra o desenvolvimento psicológico da criatura. Esse aliás é o grande mérito do filme pois ao contrário de outros de temas semelhantes (como a Experiência) o filme procura dar uma personalidade e emoções à Dren.

Alguns pontos porém merecem críticas. O comportamento anti ético do casal é extremo, principalmente por parte do personagem de Adrien Brody. Não entrarei em detalhes mas seus atos beiram à monstruosidade (mais do que as da criatura). O desfecho me incomodou um pouco, achei extremamente violento, principalmente para quem vinha acompanhando o envolvimento da criatura com os dois personagens principais. Algumas mutações da Dren também me soaram muito, digamos assim, à la "Van Helsing", mas tirando esse tipo de coisa o filme como um todo pode divertir. Não foi dessa vez que trataram o tema da engenharia genética com a devida seriedade. Apesar disso, como diversão, o filme até cumpre a que se propõe, isso se você não for esperar demais.

Splice (Splice, Estados Unidos, 2009) Direção: Direção: Vincenzo Natali / Roteiro: Vincenzo Natali (screenplay), Antoinette Terry Bryant / Elenco: Adrien Brody, Sarah Polley, Delphine Chanéa / Sinopse: Cientistas desenvolvem pesquisas no campo da biogenética para a criação de uma nova forma de vida. O resultado é uma espécie nova com instintos assassinos.

Pablo Aluísio.

RoboCop 3

Título no Brasil: RoboCop 3
Título Original: RoboCop 3
Ano de Produção: 1993
País: Estados Unidos
Estúdio: Orion Pictures Corporation
Direção: Fred Dekker
Roteiro: Frank Miller, Fred Dekker, Edward Neumeier
Elenco: Nancy Allen, Robert John Burke, Mario Machado

Sinopse: 
A OCP é comprada por um grupo corporativo japonês que resolve finalmente colocar em prática a construção de Delta City. Para isso tem que expulsar os moradores da antiga Detroit o que acaba criando um grupo de ativistas de resistência. Seguindo as diretrizes de sua programação de proteger os inocentes, RoboCop entra na luta a favor da população. Para combater sua força a OCP então resolve enviar um novo ciborgue ninja cuja missão será destruir RoboCop definitivamente.

Comentários:
Assim que o nome de Frank Miller foi anunciado para RoboCop 3 muita gente pensou que viria um grande filme pela frente. Infelizmente quem apostou nisso acabou se decepcionando. Frank Miller escreveu a estória de RoboCop 3 e também participou ativamente do roteiro mas nada disso salvou o filme de ser um fracasso. Os problemas são muitos. O enredo é pouco original, apenas uma salada dos dois filmes anteriores e os clichês estão em todos os lugares. Um novo ator entrou na franquia para interpretar Alex Murphy - RoboCop mas sem surpreender ninguém. Curiosamente também a atriz Nancy Allen deu adeus aos filmes já que sua personagem morre na estória, de forma gratuita e sem graça. E para piorar um filme bem equivocado ainda temos que ver uma das maiores bobagens da cultura pop pois Frank Miller caiu na besteira de colocar RoboCop voando pelos ares como se fosse um novo Superman! Achou péssimo isso? Imagine ver a cena em si com efeitos especiais nada convincentes, mesmo para a época. Enfim, RoboCop 3 foi de fato uma grande decepção para os fãs dos filmes do tira robô.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Instinto Selvagem

Provavelmente seja um dos thrillers eróticos mais conhecidos da história do cinema. O roteiro de Joe Eszterhas já vinha circulando em Hollywood há um bom tempo e despertado interesse de vários estúdios. Após começar um verdadeiro leilão pela venda de seus direitos a Carolco em sociedade com a produtora Canal + finalmente bateram o martelo e o compraram por uma soma substancial – três milhões de dólares – uma das maiores quantias já pagas dentro da indústria americana por um roteiro original. Michael Douglas usando de seu poder dentro de Hollywood logo conseguiu entrar no projeto para interpretar o detetive Nick Curran. Já o principal personagem feminino, a bela Catherine Tramell, se tornou um desafio e tanto. Afinal a atriz que iria interpretá-la tinha que ter o sex appeal perfeito aliado a um certo charme fatal. Conciliar ambas as características não seria nada fácil. Foi aí que Sharon Stone resolveu se candidatar antes mesmo que fosse procurada pelos produtores. Através de contatos conseguiu uma cópia do roteiro e gravou por conta própria um teste de câmera vestida como a sensual personagem. Foi até o diretor Paul Verhoeven e lhe deu a fita dizendo que era a atriz perfeita para o papel. E era mesmo. Não demorou muito para ser finalmente escalada para o personagem que seria o mais popular e icônico de toda a sua carreira.

O filme começa com um misterioso assassinato. Um importante homem de negócios da vida noturna de San Francisco é localizado morto, numa execução com tintas de sadismo e perversão. Logo o policial Nick Curran (Michael Douglas) é designado para investigar a morte do executivo. Seguindo pistas ele chega até a escritora de livros de mistério Catherine Tramell (Sharon Stone). O fato é que o crime cometido tinha enormes semelhanças com uma morte de ficção de um de seus mais populares livros. Além disso a vítima tinha um conhecido romance com a autora. Sensual, provocadora e muito sedutora ela logo joga todo o seu charme no velho tira que não demora a cair de amores pela beldade. Enquanto segue o jogo de sensualidade entre o casal, novas mortes vão surgindo em série mostrando que o policial está inerte, pois se encontra completamente seduzido pela bonita escritora. O filme fez um sucesso estupendo. Sharon Stone no auge da beleza deita e rola (literalmente) usando de todo seu charme para encantar o público masculino. Sua famosa cena quando cruza as pernas, revelando estar sem calcinhas, entrou para o imaginário erótico dos homens que ficaram extasiados. Michael Douglas conseguiu mais um grande sucesso numa fase de muitos êxitos comerciais em sua carreira de ator. O problema é que ele literalmente sumiu ao lado de Sharon Stone. Foi ofuscado completamente pela loira sensual. De qualquer modo o filme marcou muito e se tornou um pequeno clássico moderno. Infelizmente há alguns anos resolveram apelar ao realizaram uma continuação (péssima por sinal). Ignore e reveja o original, simplesmente perfeito em seu resultado final.

Instinto Selvagem (Basic Instinct, Estados Unidos, 1992) Direção: Paul Verhoeven / Roteiro: Joe Eszterhas, Gary L. Goldman / Elenco: Michael Douglas, Sharon Stone, George Dzundza, Jeanne Tripplehorn, Denis Arndt, Leilani Sarelle./ Sinopse: Tira veterano (Michael Douglas) se apaixona por autora de livros de mistério (Sharon Stone) que pode estar relacionada a uma série de mortes em San Francisco. Indicado ao Globo de Ouro de Melhor Atriz para Sharon Stone.

Pablo Aluísio.

A Vila

Muitas pessoas torceram o nariz para “A Vila”, um dos filmes mais conhecidos do diretor indiano M. Night Shyamalan. Eu me recordo perfeitamente da reação do filme na época de seu lançamento. Ao final da exibição muitos espectadores declararam que se sentiram literalmente traídos pois pensavam estar vendo um tipo de filme para no final se revelar outro completamente diferente. Eu penso diferente, da safra lançada desse cineasta após o grande marco “O Sexto Sentido”, “A Vila” pode ser até mesmo ser considerado um de seus melhores momentos no cinema. De fato é aquele tipo de roteiro onde se deve falar o mínimo possível pois a surpresa das cenas finais é que dá a tônica do filme. A estória de “A Vila” se passa supostamente no ano de 1897. Em uma comunidade rural do Estado da Pensilvânia de apenas 60 moradores encontramos uma perene sensação de medo e suspense entre os habitantes. Acontece que a vila é cercada por uma extensa floresta que seria habitada por criaturas terríveis e sobrenaturais. Há anos que nenhum morador local adentra a mata fechada. O confinamento porém começa a ser questionado pelos mais jovens, entre eles Lucious (Joaquin Phoenix) que tem o desejo de conhecer terras distantes, novos lugares, novas pessoas. Seu desejo de ultrapassar as fronteiras de sua pequenina vila, chamada de Covington, acabará por revelar um grande segredo, guardado a sete chaves pelos mais velhos.

Um dos maiores exageros em relação a Shyamalan ocorreu justamente no lançamento desse filme. De uma hora para outra muitos admiradores e até críticos renomados de cinema começaram a afirmar que o cineasta era o legítimo sucessor do cinema de Alfred Hitchcock. Afinal de contas seus intrigados roteiros também se sustentavam em muito suspense e tensão. Conforme se descobriu depois pouca consistência existia nessa comparação. Além de ser um erro em si comparar dois diretores diferentes, a semelhança só serviu para mostrar a debilidade da obra do indiano. Certamente ele sabe criar climas e momentos de suspense, o problema é que seus roteiros muitas vezes são mal trabalhados e não dão a estrutura necessária para suas tramas. A Vila é um exemplo. Ele arquiteta toda uma situação para enganar o espectador na cena final. Não que isso seja ruim, faz parte do jogo, o problema é que a revelação se mostra apressada, mal revelada, jogada de qualquer jeito no colo do público. Não é de se admirar o descontentamento que houve nas primeiras sessões. Faltou sutileza a ele no momento da revelação, algo que jamais faltou ao velho e bom mestre do suspense, Hitchcock. Além do mais uma vez revelado o tal segredo pouca coisa sobreviveu do filme – e os furos começam a surgir quando o espectador começa a levantar hipóteses que desmascarariam tudo com certa singeleza. Como resultado descobrimos que “A Vila” passa longe da boa trama de “O Sexto Sentido”, sendo no fundo apenas um simulacro, assim como as tais criaturas da floresta.

A Vila (The Village, Estados Unidos, 2004) Direção: M. Night Shyamalan / Roteiro: M. Night Shyamalan / Elenco: Joaquin Phoenix, Bryce Dallas Howard, William Hurt, Sigourney Weaver, Adrien Brody./ Sinopse: Numa pequena comunidade rural do século XIX um grupo de moradores vivem com medo de estranhas e misteriosas criaturas que habitam a floresta que cerca sua vila. Tudo porém começa a desmoronar quando os mais jovens tentam explorar os segredos da região adentrando a mata local em busca de respostas.

Pablo Aluísio.

Duro de Matar

Na década de 80 o cinema americano era povoado por uma série de heróis de ação – homens de um exército só, que enfrentavam batalhões praticamente sozinhos e conseguiam sair completamente ilesos desses conflitos. Stallone, Schwarzenegger e Chuck Norris conseguiram emplacar vários sucessos com esse tipo de personagem invencível. Foi então que quase no final da década surgiu finalmente um tipo de herói diferente para essas produções. O oficial John McClane (Bruce Willis) do Departamento de Polícia de Nova Iorque não apenas se machucava nos tiroteios em que se envolvia como também sangrava e se feria para valer em cena. Era um novo tipo de atitude dentro dos filmes de ação ininterrupta. 

Interpretado por Bruce Willis em seu primeiro filme nesse gênero a fragilidade e vulnerabilidade do tira logo caiu no gosto do grande público e “Duro de Matar” se tornou um sucesso estrondoso de bilheteria. O curioso é que ninguém em Hollywood apostava muito em Bruce Willis para estrelar um filme desse tipo. Na época ele era apenas um ator de TV que interpretava o cínico e engraçadinho detetive da série “A Gata e o Rato”. Fazer a transição da telinha para a telona dos cinemas não estava muito fácil para ele. Seu primeiro filme, uma comédia romântica chamada “Encontro às Escuras” com Kim Basinger, tinha feito um sucesso apenas modesto nas bilheterias. Ninguém realmente esperava que Willis iria emplacar um sucesso tão grande como esse “Duro de Matar”.

O roteiro era bem simples mas procurava tirar o melhor proveito possível da situação limite mostrada no filme. Um grupo de terroristas tomava controle de um grande arranha-céu. Exigindo um resgate milionário os terroristas só não contavam com a presença no local do tira casca grossa McClane (Willis) que a partir daí faria qualquer coisa para libertar sua esposa que se encontrava entre os reféns. Com a trama armada o espectador passa a acompanhar uma sucessão de cenas de ação no monumental edifício (na verdade a sede dos estúdios Fox em Los Angeles). O sucesso espetacular de “Duro de Matar” daria origem a uma franquia praticamente sem fim, com várias sequências nos anos seguintes. Bruce Willis também redirecionaria completamente sua carreira a partir daqui. Deixaria o estilo de comediante simpático e cheio de cinismo de lado para investir firme em várias fitas de ação nos anos que viriam. Mesmo com longo currículo de produções no gênero depois de tantos anos o fato é que nenhuma delas conseguiu superar o impacto e a qualidade desse primeiro “Duro de Matar”, um dos melhores filmes de ação de uma década que ficou marcada justamente pela profusão desse tipo de filme. Era o melhor do cinema de ação da década de 80.

Duro de Matar (Die Hard, Estados Unidos, 1988) Direção: John McTiernan / Roteiro: Steven E. de Souza, Jeb Stuart, baseado no livro de Roderick Thorp / Elenco: Bruce Willis, Alan Rickman, Bonnie Bedelia, Reginald VelJohnson / Sinopse: Policial de Nova Iorque acaba se envolvendo em um seqüestro em andamento sob liderança do terrorista Hans Gruber (Alan Rickman) que exige uma grande quantia em ações para libertar um grupo de reféns.

Pablo Aluísio.

Esfera

Junte um grupo de atores desesperados por um sucesso de bilheteria após sucessivos fracassos comerciais, una a uma adaptação de livro de sucesso de autoria de Michael Crichton e acrescente um diretor veterano. O resultado? “Esfera”, uma ficção científica que foi criada para se tornar um blockbuster mas que falhou completamente em suas pretensões pois foi um fracasso de bilheteria. A trama acompanha um grupo de cientistas das mais diferentes áreas do conhecimento humano (astrofísica, matemática, bioquímica, psicologia, etc) que partem para uma missão das mais complexas: analisar o que parece ser uma espaçonave secular afundada nas profundezas do Oceano Pacífico. Como não poderia deixar de ser o contato com essa tecnologia extraterrestre é ultra confidencial, de ciência apenas dos altos escalões do governo americano. O que encontram porém irá mudar o destino de todas aquelas pessoas da equipe de pesquisa, alterando psicologicamente o modo deles entenderem o universo e o mundo ao redor.

A obra de Michael Crichton não tem segredo. Sob uma falsa capa de ciência e seriedade sempre se escondeu um escritor pop por excelência. Seus livros nunca foram feitos para serem levados à sério do ponto de vista científico. São no fundo apenas aventuras infanto-juvenis sob uma máscara de profundidade. Do ponto de vista da ciência são apenas bobagens divertidas. Esse “Esfera” não foge desse padrão. Como se não bastasse ter que encarar a loira Sharon Stone como cientista, o espectador ainda tem que esquecer os vários furos do roteiro que vão surgindo em seqüência para aproveitar o filme apenas como passatempo ligeiro, mesmo que a produção tenha muitas pretensões de ser levada a sério. O resultado é pífio do ponto de vista científico e fraco no quesito diversão. A única coisa que salva “Esfera” de ser um desperdício completo é a excelente qualidade técnica de seus efeitos digitais (ainda em fase de experimentalismo no mundo do cinema). Esses realmente fazem valer a pena o tempo em que se perde vendo todo o restante do papo pseudo científico mostrado nas cenas. De resto Sharon Stone tenta mas não consegue demonstrar que era uma boa atriz e Dustin Hoffman mostra certo constrangimento por estar fazendo papel de coadjuvante de luxo. E a tal esfera do título? Do que se trata? Ora, veja o filme para descobrir e boa sorte!

Esfera (Sphere, Estados Unidos, 1998) Direção: Barry Levinson / Roteiro: Kurt Wimmer,Stephen Hauser e Paul Attanasio baseados no livro de Michael Crichton / Elenco: Dustin Hoffman, Samuel L. Jackson, Sharon Stone, Queen Latifah / Sinopse: A trama acompanha um grupo de cientistas das mais diferentes áreas do conhecimento humano (astrofísica, matemática, bioquímica, psicologia, etc) que partem para uma missão das mais complexas: analisar o que parece ser uma espaçonave secular afundada nas profundezas do Oceano Pacífico.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Elizabeth - A Era de Ouro

Com o êxito do primeiro filme, “Elizabeth”, era natural que os produtores levassem adiante a saga da Rainha Elizabeth I nos cinemas. Praticamente toda a equipe do filme anterior foi mantida. Uma vez contada sua origem o roteiro de “Elizabeth – A Era de Ouro” se concentra agora em um dos maiores desafios da Rainha durante os anos em que esteve à frente da coroa britânica. A trama se passa no ano de 1585. Nessa época a Espanha se torna a maior potência do planeta, fruto de sua política de expansionismo além-mar. As novas colônias descobertas no chamado novo mundo trouxeram uma riqueza inimaginável para o país Ibérico. Ouro, metais preciosos, tudo parecia brotar da terra com incrível facilidade. De posse de tanta riqueza a Coroa espanhola logo tratou de construir uma poderosa armada para consolidar seus domínios nas terras da chamada América. Como todo império que se preze os interesses da coroa espanhola logo entraram em choque com a Inglaterra, outra potência colonialista. Para piorar o Rei espanhol defendia abertamente a irmã de Elizabeth, Mary Stuart, como a verdadeira Rainha da Inglaterra, sucessora legítima do Rei Henrique VIII. Católica fervorosa, filha de mãe espanhola, Mary era a preferida das cortes espanholas para assumir o trono inglês. Não apenas por ser a filha mais velha de Henrique VIII mas também por causa de suas origens que a ligavam diretamente com o trono espanhol. Seria maravilhoso para a Espanha ter naquele momento histórico uma Rainha com sangue espanhol correndo em suas veias. Na visão das cortes espanholas Elizabeth era apenas a filha da devassa Ana Bolena, uma mulher sem virtudes.

Com tantos interesses conflitantes não é de se admirar que as duas potências tenham entrado numa feroz guerra que iria determinar os rumos da Europa (e do mundo) nos séculos seguintes. Para suportar todas as pressões externas, Elizabeth ainda teve que lidar com problemas internos, entre eles sua indefinição para se casar e ter filhos, garantindo assim uma sucessão tranqüila para sua dinastia. E é justamente nesse momento em que ela acaba simpatizando com a chegada do nobre aventureiro Walter Raleigh (Clive Owen) que logo se tornou inaceitável para as cortes como seu par romântico. Ele definitivamente não tinha as qualificações certas para se tornar o consorte real da Rainha. “Elizabeth – A Era de Ouro” é uma produção bem mais movimentada que o primeiro filme sobre Elizabeth I. As grandes batalhas, os conflitos em mar e terra, tudo isso deixa a produção com um aspecto bem mais atrativo para o público atual. Some-se a isso o ótimo uso de efeitos digitais nos momentos mais cruciais da guerra entre Inglaterra e Espanha. O saldo final como sempre é muito bom. A crítica adorou e o público prestigiou. Outro ponto positivo foi o fato de finalmente ter sido agraciado com o Oscar de Melhor Figurino, sanando um erro na premiação do primeiro filme. Para Cate Blanchett o resultado também não poderia ter sido melhor pois conseguiu indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro de melhor atriz. Um reconhecimento merecido de seu trabalho nas duas produções enfocando a Rainha Elizabeth I.

Elizabeth – A Era de Ouro (Elizabeth: The Golden Age, Estados Unidos, 2007) Direção: Shekhar Kapur / Roteiro: Michael Hirst, William Nicholson / Elenco: Cate Blanchett, Clive Owen, Samantha Morton, Geoffrey Rush, Tom Holland, Abbie Cornish / Sinopse: Segundo filme sobre a rainha Elizabeth I. Lutando contra os interesses da coroa espanhola que deseja colocar Mary Stuart no trono inglês e de pressões internas que querem que se case para garantir uma sucessão tranqüila, a Rainha tenta sobreviver dentro do quadro político de sua época.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Elizabeth

Elizabeth I (1533 -1603) também conhecida no Brasil como Isabel I, foi uma das rainhas mais controvertidas da história britânica. Governou a nação em um período particularmente turbulento onde se proliferaram as pestes, as guerras e a forme em seus vastos domínios. Vivendo em um mundo dominado por interesses poderosos e líder de uma corte onde planos de conspiração para matá-la estavam na ordem do dia, Elizabeth teve que adotar uma postura dura e implacável contra seus inimigos. Era filha de Henrique VIII, um dos monarcas absolutistas mais sanguinários que se tem notícia. Para se ter uma idéia ele matou a mãe de Elizabeth, Ana Bolena, após ter desconfianças de que ela o estaria traindo. Elizabeth foi poupada embora muitos nobres da época defendessem que também deveria ser morta para erradicar a sujeira e a raça de Ana Bolena dentro da linhagem real. Em um raro caso de bom senso Henrique poupou sua jovem filha de ser decapitada como a mãe. Como se pode perceber foi nesse meio violento e hostil que Elizabeth cresceu. A monarquia inglesa era notória pelas mortes de nobres patrocinadas por outros nobres, geralmente familiares na luta pelo poder. Isso prova que dentre todos os sistemas existentes a monarquia é seguramente um dos piores.

Já Elizabeth, o filme, é um show aos olhos. Produção rica, de bom gosto, com figurinos deslumbrantes é aquele tipo de filme que marca e fica na mente do espectador pela beleza técnica de cenários, roupas e perfeita reconstituição de época. Cate Blanchett é um destaque em sua interpretação. Fisicamente parecida com a verdadeira Rainha ela dá um show de postura, elegância e sofisticação. Elizabeth I, que ficou conhecida na história como a "Rainha Virgem", era dura com os inimigos mas nunca se descuidava dos protocolos reais, o que incluía ter uma educação das mais finas e um código de comportamento que não poderia ser quebrado. Desfilando com réplicas perfeitas das melhores roupas reais da época - algumas que hoje em dia soam bem estranhas - a atriz de fato nos leva a acreditar que estamos vendo a própria Elizabeth em cada cena. O elenco de apoio também é excepcional com destaque para o sempre marcante Geoffrey Rush. Já Joseph Fiennes encarna com perfeição seu papel, um tipo que oscila entre a canalhice completa e o heroísmo inesperado. Em seu lançamento Elizabeth foi aclamado pela crítica e concorreu ao Oscar de Melhor filme perdendo infelizmente para outra produção de época, “Shakespeare Apaixonado”. Uma injustiça sem a menor sombra de dúvidas. Outra injustiça foi ter perdido os Oscars de Melhor Figurino e Direção de Arte - dois prêmios que eram dados como certos para o filme. No final levou apenas a estatueta de melhor Maquiagem mostrando mais uma vez como a Academia pode ser injusta em sua premiação. Isso não atrapalhou que o filme tivesse uma continuação chamada “Elizabeth e a Era de Ouro” ao qual falaremos aqui no blog em uma outra oportunidade. De qualquer modo fica a dica: Elizabeth, uma produção atual com o estilo das grandes produções do passado. Um belo retrato de uma das figuras históricas mais marcantes da Inglaterra.

Elizabeth (Elizabeth, Estados Unidos, 1998) Direção: Shekhar Kapur / Roteiro: Michael Hirst / Elenco: Cate Blanchett, Geoffrey Rush, Joseph Fiennes, Christopher Eccleston, Richard Attenborough / Sinopse: Cinebiografia da rainha inglesa Elizabeth I. Monarca em um época particularmente conturbada da história inglesa se destacou pelo pulso forte e firme na condução dos assuntos de Estado.

Pablo Aluísio.

X-Men Origens: Wolverine

Após o sucesso da trilogia original que adaptava as aventuras dos heróis Marvel X-Men para o cinema era natural que o estúdio investisse mais uma vez em um novo longa. Como a estória da trilogia já estava devidamente concluída e bem fechada em si criou-se a idéia de trazer o mais carismático personagem do universo X-Men para um filme solo, focando tudo apenas em sua figura. Claro que estamos falando de Wolverine, que também no mundo dos quadrinhos ganhou um título próprio apenas com suas aventuras. Inicialmente os fãs adoraram a idéia, até porque o ator Hugh Jackman que havia interpretado tão bem o personagem na trilogia inicial seria mantido nessa nova produção. O roteiro contaria a estória do surgimento de Wolverine, desde os seus primórdios, detalhando sua origem. Tudo corria muito bem no projeto Wolverine. Os primeiros sinais de que algo sairia errado surgiram com o anúncio do nome do diretor Gavin Hood que nunca havia dirigido um filme de super-herói antes. Cineasta especializado em dramas como “Infância Roubada” sua escolha se revelaria um erro pois ele definitivamente não soube dar o timing certo ao filme que se tornou pesado, cansativo e o pior, bem chato em algumas partes.

O fato é que Wolverine, como não poderia deixar de ser, fez sucesso de bilheteria mas não agradou a praticamente ninguém. O roteiro mostrou-se pouco eficaz com excesso de idas e vindas em sua estória, que se revela confusa em certos aspectos e pouco atraente. O excesso de tramas paralelas sendo contadas ao mesmo tempo acaba cansando o espectador. O resultado assim se mostrou muito disperso. O pior é que para uma produção de 150 milhões de dólares Wolverine decepciona na questão técnica. O filme não enche os olhos em nenhum momento e em certas passagens mais lembra um filme B de baixo orçamento, tipicamente daqueles que vão parar diretamente no mercado de venda direta ao consumidor. Nenhuma cena de efeitos digitais é particularmente bem feita ou marcante. Victor Creed (Michael-James Olsen) também é um personagem bem chato para falar a verdade e não diz a que veio. A recepção foi tão fria e negativa que levou o estúdio a colocar a idéia de uma seqüência no armário. A franquia de Wolverine, planejada desde o início, também foi arquivada, pelo menos por enquanto. Assim o que sobra no final das contas é um filme que deixa a desejar em vários aspectos se tornando no máximo uma película de mediana para ruim. Certamente não agradará aos fãs de quadrinhos que ainda não assistiram ao longa e para os cinéfilos em geral não traz qualquer atrativo que justifique sua existência.

Wolverine (X-Men Origins: Wolverine, Estados Unidos, 2008) Direção: Gavin Hood / Roteiro: David Benioff, Skip Woods baseados no personagem criado por Stan Lee / Elenco: Hugh Jackman, Liev Schreiber, Danny Huston, Will i Am, Lynn Collins, Kevin Durand, Dominic Monaghan, Taylor Kitsch, Daniel Henney, Ryan Reynolds, Tim Pocock / Sinopse: Prequel que mostra as origens do personagem Wolverine do universo X-Men. Fruto de um projeto secreto do governo americano ele ganha ossos de adamantium o que lhe torna um ser praticamente indestrutível.

Pablo Aluísio.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Wall-E

Não há motivos para duvidar que hoje vivemos a era de ouro da animação no cinema. A Pixar é o grande nome nessa retomada. Algumas de suas animações são verdadeiras obras primas. E não estou aqui categorizando, afirmando que são apenas obras primas de animação mas sim de cinema em geral. Algumas dessas obras estão à altura de qualquer filme convencional que se possa comparar. Dentre todas as animações a que considero a melhor, sem medo de errar, é justamente esse Wall-E. Poucas vezes assisti a tanto lirismo e poesia em forma de arte como aqui. É impossível ficar insensível ao que se passa na tela. O pequeno robô que fica para trás em um planeta atolado em lixo industrial é um dos grandes personagens da história da Pixar. Apesar de ser um mecanismo criado pelo homem ele tem muitos sentimentos humanos como amor, compaixão e solidariedade. Uma inteligência artificial fundada nos bons sentimentos. Wall-E é tão inovador em sua estrutura que em sua parte inicial sequer existem diálogos! É de arrepiar realmente! Logo tomamos consciência de que será impossível não se emocionar com a ternura das cenas. Perdido em um mundo que parece não ter salvação o pequeno robozinho consegue criar vínculos emocionais genuínos com o que existe ao seu redor, formado basicamente por objetos inanimados e pequenos insetos. O personagem logo mostra uma personalidade muito rica, cativando o espectador de forma absoluta. Simplesmente emocionante.

Tamanha qualidade foi reconhecida pelos principais prêmios de cinema mundo afora. Venceu o Oscar de Melhor Animação embora para falar a verdade merecesse até mais do que isso, pois deveria ter vencido o Oscar de Melhor filme mesmo. No Globo de Ouro nova premiação, dessa vez na categoria Melhor Filme Animado. No Bafta mais um prêmio. A única injustiça cometida nesse mundo de premiações foi não ter vencido o Oscar de Melhor Roteiro Original. Nesse aspecto acredito que realmente houve um certo preconceito pelo fato de ser uma animação e não um filme convencional, o que penso ser um absurdo sem tamanho. Dá para acreditar que não premiaram algo tão maravilhoso apenas por essa razão? Infelizmente é o que ocorreu. Outro ponto muito importante do argumento que merece destaque é o fato dele mostrar os dois lados da tecnologia. Ao mesmo tempo em que se torna uma ferramenta fantástica para a humanidade pode também se transformar numa camisa de força. Isso é muito bem representado pelos humanos que surgem no filme, todos obesos, todos imprestáveis para o trabalho, para a recuperação de seu próprio planeta que afinal se transformou em um grande depósito de lixo! Um futuro sombrio para todos nós. É o que sempre digo, algumas animações trazem mais conteúdo e mensagem do que muitas bobagens por aí. Wall-E é sem dúvida uma obra prima, um primor, uma maravilha sem precedentes. Se ainda não viu corra atrás!

Wall-E (Wall- E, Estados Unidos, 2008) Direção: Andrew Stanton / Roteiro: Andrew Stanton, Pete Docter, Jim Reardon / Elenco (vozes): Ben Burtt, Elissa Knight, Jeff Garlin, Fred Willard, MacInTalk, John Ratzenberger, Kathy Najimy, Sigourney Weaver, Lori Alan / Sinopse: Sete séculos no futuro, o planeta Terra está transformada num enorme depósito de lixo. Nesse mar de detritos e sujeira se encontra um pequeno robozinho programado para recolher os materiais deixados para trás pela humanidade, que agora vive no espaço cercada de todos os confortos que a tecnologia pode proporcionar. Cheio de sentimentos humanos o robozinho em breve embarcará numa grande aventura.

Pablo Aluísio.

A Guerra dos Dálmatas

Primeiro filme de Walt Disney na década de 1960, “A Guerra dos Dálmatas” investe em uma estória ambientada em Londres. Disney tinha um velho sonho de construir um parque temático na Europa nos moldes da Disneylândia e uma produção assim, com personagens ingleses, caía muito bem em suas pretensões de tornar sua marca mais conhecida e familiar no velho mundo. Seu sonho porém só se tornaria realidade muitos anos após sua morte com a inauguração da Eurodisney em Paris (e não em Londres como ele inicialmente havia pensado). “A Guerra dos Dálmatas” tem muitas semelhanças com outra animação de Disney dos anos 50, “A Dama e o Vagabundo”. O traço é praticamente o mesmo e o enredo girando em torno de aventuras caninas até mesmo se assemelhava com a animação anterior. Deixando de lado as princesas e príncipes de “A Bela Adormecida”, Disney aqui se concentrou na estória de Roger, um compositor solteirão e seu cão de estimação, um dálmata de nome Pongo. Como seu dono só pensa em trabalho e não tem uma vida social, Pongo resolve dar uma forcinha para que ele arranje uma namorada. Ao ser levado para passear em um parque próximo ele faz de tudo para que Roger se aproxime da bela Perdita. Ela também é dona de uma bonita cadela Dálmata e assim os casais se formam. Após o casamento de Roger e Perdita, Pongo e sua nova companheira dão cria a 15 filhotinhos de Dálmatas. O problema é que uma grande amiga de Perdita, a fútil e fumante inveterada Cruella De Vil, tem especial interesse em comprar os filhotinhos. Embora se diga adoradora de animais ela na verdade está querendo colocar as mãos nos cachorrinhos para matá-los e com suas peles confeccionar um lindo casaco de pele com as pintas dos Dálmatas, algo que ela considera o máximo em beleza fashion.

Disney assim criou uma das primeiras animações realmente ecológicas da história do cinema. Indiretamente o enredo atacava a futilidade da alta costura que se utilizava de peles de animais mortos para a criação de todos aqueles casacos de peles luxuosos que naquele momento estavam na moda da alta costura em Paris. Disney pretendia denunciar essa situação com a personagem Cruella, uma perua rica e perversa que em muito se assemelhava a várias divas do mundo da moda. O curioso é que ao criar essa consciência ecológica nas crianças Disney acabou plantando uma semente que deu muitos frutos anos depois com a criação de várias entidades de defesa dos direitos dos animais, na Europa e no restante do mundo. De fato os antes glamourosos casacos de pele perderam ao longo dos anos seu status de alta costura para se transformarem em símbolos de mau gosto e perversidade contra animais em geral. Outro aspecto interessante sobre “A Guerra dos Dálmatas” foi a intensa popularização da raça após o sucesso do filme. De repente todas as crianças da época queriam criar um Dálmata após assistirem a essa animação. O problema é que os Dálmatas da vida real eram bem diferentes daqueles mostrados na estória do desenho. Raça diferenciada e geniosa, que precisa de cuidados especiais, os Dálmatas acabaram virando uma dor de cabeça para os donos menos preparados para lidar com o gênio desses cães. Infelizmente muitos foram abandonados depois de crescerem e hoje não é raro ver animais dessa raça vagando pelas ruas das principais cidades da Europa. Um efeito colateral jamais previsto por Walt Disney quando lançou o filme. Não faz mal, uma vez que sua mensagem ecológica se tornou muito mais perene e relevante. Não deixe de conhecer mais esse famoso clássico com a assinatura do genial Walt Disney.

A Guerra dos Dálmatas (One Hundred and One Dalmatians, Estados Unidos, 1961) Direção: Clyde Geronimi, Hamilton Luske / Roteiro: Bill Peet baseado na novela de Dodie Smith / Elenco (vozes): Rod Taylor, Betty Lou Gerson, J. Pat O'Malley, Betty Lou Gerson, Martha Wentworth  / Sinopse: A malvada Cruella De Vil deseja confeccionar um lindo casaco de peles com as pintinhas típicas da raça Dálmata. Para isso não medirá esforços para colocar as mãos nos 15 filhotinhos do casal de cães de propriedade dos simpáticos Roger e Perdita.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Southland

Brasileiro tem essa visão equivocada de que apenas em seu país a segurança pública está fora de controle. Isso é uma visão bem simplista e por demais míope da realidade do mundo em que vivemos. Nos Estados Unidos, principalmente nas grandes cidades, a coisa não está melhor. Com mais de dois milhões de pessoas encarceradas as autoridades americanas também procuram por uma solução. “Southland” é seguramente a melhor série policial atualmente em exibição sobre a rotina do dia a dia dos policiais de Los Angeles, uma das metrópoles mais importantes da grande nação ianque que também sofre com as drogas, os crimes e a desordem geral. O grande mérito de “Southland” é que seus roteiros não jogam panos quentes na realidade das ruas e nem tampouco procura transformar seus personagens em poços de virtude acima do bem e do mal. Pelo contrário, os tiras de “Southland” sofrem muitas vezes com problemas que eles próprios combatem em seu cotidiano. Há patrulheiros viciados em drogas, policiais violentos e beberrões e muitos deles com problemas emocionais, de relacionamento e pessoais interferindo em seu trabalho.

São vários os personagens em cena mas os episódios de uma maneira em geral são focados no novato Ben Sherman (Ben McKenzie). Recém saído da academia de polícia ele tem como parceiro o oficial John Cooper (Michael Cutlitz), um veterano das ruas casca grossa que sofre por ser dependente químico. Alguns episódios mais centrados nos conflitos da dupla são excelentes. Imagine ter um parceiro quase psicótico que não tem mais paciência com meliantes em geral. Ben até tenta seguir o regulamento mas é complicado quando se depara com uma verdadeira selva lá fora. As ruas vivem em eterna guerra de gangues em luta pelo controle do mercado de drogas. Muitos homicídios e medo imperando em cada beco de Los Angeles. Os dias de “Chips” realmente ficaram para trás. Agora impera o mundo cão nas melhores séries americanas. Que tal andar com esses tiras por aí, no meio do caos urbano? O convite está feito. “Southland” é uma boa pedida para quem gosta de seriados policiais americanos. Está mais do que recomendado.

Southland (Southland, EUA, 2009 - 2012)  Criado por Ann Biderman / Direção: Christopher Chulack, Nelson McCormick, J. Michael Muro / Roteiro: Ann Biderman, Heather Zuhlke, Chitra Elizabeth Sampath / Elenco: Michael Cudlitz, Shawn Hatosy, Regina King, Ben McKenzie, C. Thomas Howell / Sinopse: A série "Southland" acompanha o dia a dia de um grupo de policiais de Los Angeles. Detetives do departamento de homicídio e os patrulheiros de rua convivem de forma cotidiana com o caos e o crime pelas ruas da grande cidade.

Episódios Comentados:

Southland 5.05 - Off Duty
O cotidiano dos tiras de Los Angeles sempre rende ótimos episódios. Essa é outra série que está na minha lista de favoritos. Nesse episódio em particular temos a execução de um assassino em série. Capturado pela policial Lydia Adams, ele pede alguns momentos com ela antes de sua morte. Na outra linha narrativa Sammy Bryant salva uma celebridade de um atentado promovido por um maluco que sai atirando no meio da rua. Capturado pelas revistas de fofocas vira um herói instantâneo, embora a corregedoria esteja em sua pé por causa de problemas com sua ex-esposa. E por falar em ex-esposas, John Cooper reencontra com a sua ex-mulher no hospital após sofrer um ferimento na coluna em serviço (um grandalhão cai por cima dele). Como vimos nos episódios anteriores apesar de seu jeito de durão, John na realidade é um gay no armário. Para fechar o brincalhão e desbocado Dewey Dudek sofre um infarto enquanto persegue um ladrãozinho pé de chinelo. E o Ben Sherman? Sim, ele continua se envolvendo casualmente com as gatinhas que encontra pela frente. Bom episodio, sem dúvida. Estou chegando ao final dessa série e certamente ficarei com saudades - pois infelizmente ela já foi cancelada, para meu desapontamento! / Direção: Regina King / Roteiro: Ann Biderman, Zack Whedon / Elenco: Michael Cudlitz, Shawn Hatosy, C. Thomas Howell.

Southland 5.09 - Chaos
Que pena que estou chegando ao fim de Southland! Essa série policial já foi cancelada e me falta ainda apenas um episódio para chegar ao final. As temporadas são curtas, no máximo 10 episódios, e por isso é aquele tipo de seriado que logo chega ao seu final. Das séries policiais que acompanho certamente essa é disparada uma das minhas preferidas. Esse episódio "Chaos" é seguramente um dos mais violentos de toda a série. Dois patrulheiros são feitos de reféns, sendo um deles John Cooper (Michael Cudlitz). Seus sequestradores são dois viciados em metanfetamina, completamente alucinados pelas drogas, que podem promover qualquer tipo de violência insana contra eles - e é justamente isso que acontece. Enquanto a polícia de Los Angeles tenta encontrar os tiras eles são expostos a todos os tipos de terror, ameaça e tortura em um trailer abandonado no meio do deserto. Um episódio para testar os limites do espectador. Confesso que fiquei bem impressionado, principalmente pelo final, de uma brutalidade extrema, completamente irracional sob qualquer ponto de vista. Um grande episódio de uma série que deixará saudades - aliás já deixou! / Direção: Regina King / Roteiro: Ann Biderman, Zack Whedon / Elenco: Michael Cudlitz, Shawn Hatosy, C. Thomas Howell.

Southland 5.10 - Reckoning
Episódio final da série. É o que digo sempre, muitas vezes os roteiristas erram nos momentos finais de grandes seriados. Em "Southland" não foi diferente. O episódio anterior, "Chaos", é um primor, com ótimo enredo e cenas viscerais. Se tivesse sido o episódio final teria sido um grande desfecho. Infelizmente eles resolveram escrever mais um episódio para fechar tudo. Aqui o que temos é a mera tentativa de aparar as arestas do que aconteceu anteriormente. Se no capítulo anterior o policial Hank Lucero (Anthony Ruivivar) foi morto de forma brutal e covarde, aqui eles vão atrás da dupla de drogados responsáveis pelo crime. John Cooper (Michael Cudlitz) está tentando sem sucesso voltar às ruas e os demais policiais acabam encontrando os assassinos, sendo que um deles acaba fugindo para uma refinaria de combustível, o que torna tudo ainda mais perigoso, afinal um tiro pode explodir tudo pelos ares. No geral achei o episódio bem desnecessário, sem clímax e sem pegada. Para piorar o espectador teve que engolir o desfecho nada digno para o personagem John Cooper, que sinceramente falando me soou como uma grande tolice. E os roteiristas ainda tiveram a péssima ideia de escreverem um final em aberto, talvez por não terem certeza se a série seria cancelada ou não. De uma coisa porém tenho certeza, esse foi mais um episódio final a entrar no extenso rol de despedidas melancólicas de boas séries de TV. Espero que repensem melhor sobre isso daqui em diante. / Southland - Reckoning (EUA, 2013) Direção: Christopher Chulack / Roteiro: Ann Biderman, Jonathan Lisco / Elenco: Michael Cudlitz, Shawn Hatosy, C. Thomas Howell.

Pablo Aluísio.