Muitas pessoas torceram o nariz para “A Vila”, um dos filmes mais conhecidos do diretor indiano M. Night Shyamalan. Eu me recordo perfeitamente da reação do filme na época de seu lançamento. Ao final da exibição muitos espectadores declararam que se sentiram literalmente traídos pois pensavam estar vendo um tipo de filme para no final se revelar outro completamente diferente. Eu penso diferente, da safra lançada desse cineasta após o grande marco “O Sexto Sentido”, “A Vila” pode ser até mesmo ser considerado um de seus melhores momentos no cinema. De fato é aquele tipo de roteiro onde se deve falar o mínimo possível pois a surpresa das cenas finais é que dá a tônica do filme. A estória de “A Vila” se passa supostamente no ano de 1897. Em uma comunidade rural do Estado da Pensilvânia de apenas 60 moradores encontramos uma perene sensação de medo e suspense entre os habitantes. Acontece que a vila é cercada por uma extensa floresta que seria habitada por criaturas terríveis e sobrenaturais. Há anos que nenhum morador local adentra a mata fechada. O confinamento porém começa a ser questionado pelos mais jovens, entre eles Lucious (Joaquin Phoenix) que tem o desejo de conhecer terras distantes, novos lugares, novas pessoas. Seu desejo de ultrapassar as fronteiras de sua pequenina vila, chamada de Covington, acabará por revelar um grande segredo, guardado a sete chaves pelos mais velhos.
Um dos maiores exageros em relação a Shyamalan ocorreu justamente no lançamento desse filme. De uma hora para outra muitos admiradores e até críticos renomados de cinema começaram a afirmar que o cineasta era o legítimo sucessor do cinema de Alfred Hitchcock. Afinal de contas seus intrigados roteiros também se sustentavam em muito suspense e tensão. Conforme se descobriu depois pouca consistência existia nessa comparação. Além de ser um erro em si comparar dois diretores diferentes, a semelhança só serviu para mostrar a debilidade da obra do indiano. Certamente ele sabe criar climas e momentos de suspense, o problema é que seus roteiros muitas vezes são mal trabalhados e não dão a estrutura necessária para suas tramas. A Vila é um exemplo. Ele arquiteta toda uma situação para enganar o espectador na cena final. Não que isso seja ruim, faz parte do jogo, o problema é que a revelação se mostra apressada, mal revelada, jogada de qualquer jeito no colo do público. Não é de se admirar o descontentamento que houve nas primeiras sessões. Faltou sutileza a ele no momento da revelação, algo que jamais faltou ao velho e bom mestre do suspense, Hitchcock. Além do mais uma vez revelado o tal segredo pouca coisa sobreviveu do filme – e os furos começam a surgir quando o espectador começa a levantar hipóteses que desmascarariam tudo com certa singeleza. Como resultado descobrimos que “A Vila” passa longe da boa trama de “O Sexto Sentido”, sendo no fundo apenas um simulacro, assim como as tais criaturas da floresta.
A Vila (The Village, Estados Unidos, 2004) Direção: M. Night Shyamalan / Roteiro: M. Night Shyamalan / Elenco: Joaquin Phoenix, Bryce Dallas Howard, William Hurt, Sigourney Weaver, Adrien Brody./ Sinopse: Numa pequena comunidade rural do século XIX um grupo de moradores vivem com medo de estranhas e misteriosas criaturas que habitam a floresta que cerca sua vila. Tudo porém começa a desmoronar quando os mais jovens tentam explorar os segredos da região adentrando a mata local em busca de respostas.
Pablo Aluísio.
A Vila
ResponderExcluirPablo Aluísio.