segunda-feira, 19 de março de 2012

Vejo Você No Próximo Verão

Jack (Philip Seymour Hoffman) é um motorista de limusines de luxo, pacato, tímido e que não tem o menor jeito com as mulheres. Em vista disso seu amigo Clyde (John Ortiz) e a esposa (Daphne Rubin-Vega) resolvem lhe apresentar Connie (Amy Ryan), uma garota tão tímida quanto Jack. Juntos eles tentam manter um relacionamento amoroso apesar das dificuldades em comum. "Vejo Você no Próximo Verão" é um filme sobre pequenos momentos na vida de algumas pessoas comuns que sentem grande dificuldade em se relacionar entre si. Gostei muito da tônica do roteiro, que tem um ritmo próprio, calmo, sem grandes pretensões. A direção de Phillip Seymour Hoffman, muito boa por sinal, segue pelo mesmo caminho. O filme exige uma certa cumplicidade com o espectador por causa dessas características mas se engana quem pensa que esse desenrolar cadenciado o torna cansativo. Longe disso. Após embarcar na proposta do filme tudo se torna bem prazeroso e fácil de digerir. Além disso Hoffman teve a sensibilidade de não esticar demais a estória, que por si é bem simples mesmo.

O quarteto central do filme é muito bom. Hoffman está excelente em sua caracterização, assim como Amy Ryan (alguns degraus abaixo de seu colega de cena). O nível de constrangimento que eles alcançam em suas cenas de relacionamento é abissal, chegando a dar agonia no espectador! Outro ponto forte é a trilha sonora adequada. Aqui vemos como uma boa seleção musical consegue ajudar a contar uma boa estória. De resto nada que macule a produção. Philip Seymour Hoffman mostra muito talento na direção, obviamente fruto de sua longa carreira como ator teatral de sucesso aonde aprendeu os segredos da direção com alguns dos maiores talentos americanos na área. Sem cair no dramalhão ou na pieguice o ator conseguiu extrair o melhor da peça teatral no qual o filme foi baseado. De uma forma em geral gostei de praticamente tudo mas principalmente de sua simplicidade cativante. Em resumo posso dizer que "Vejo Você no Próximo Verão" é um filme delicado para pessoas sensíveis.

Vejo Você no Próximo Verão (Jack Goes Boating, Estados Unidos, 2010) Direção: Philip Seymour Hoffman / Roteiro: Robert Glaudini baseado na peça de Robert Glaudini / Elenco: Philip Seymour Hoffman, Amy Ryan, John Ortiz, Daphne Rubin-Vega / Sinopse: Jack (Philip Seymour Hoffma) é um motorista de limusines de luxo, pacato, tímido e que não tem o menor jeito com as mulheres. Em vista disso seu amigo Clyde (John Ortiz) e a esposa (Daphne Rubin-Vega) resolvem lhe apresentar Connie (Amy Ryan), uma garota tão tímida quanto Jack. Juntos eles tentam manter um relacionamento amoroso apesar das dificuldades em comum.

Pablo Aluísio.

domingo, 18 de março de 2012

Nascido em 4 de Julho

O EUA é uma nação que foi forjada na violência e no capitalismo selvagem. Em essência esses são os verdadeiros pilares da América. Nessa engrenagem o complexo industrial militar norte-americano sempre deve ser suprido por guerras e conflitos, façam sentido ou não. A Guerra do Vietnã é um exemplo claro disso. Um aparato militar jamais visto foi deslocado para um pobre país asiático sem importância em uma matança sem sentido. Jovens na flor da idade foram para aquela nação que nunca tinham nem ouvido falar para morrerem em suas selvas. Quem ganhou com o envolvimento dos EUA no Vietnã? Obviamente que não foram esses soldados. Quem lucrou realmente com essa barbaridade foi justamente o complexo militar da nação Ianque. Guerras são caras e alguém sempre lucra com elas, não se engane. Fortunas foram feitas com o sangue alheio. Violência e capitalismo, eis o segredo da existência desse conflito. Violência e capitalismo, eis o DNA da alma norte-americana. Nada mais, nada menos. Nesse ínterim o ser humano se torna peça descartável, sem a menor importância. Uma estatística, um número qualquer na mesa de algum burocrata. O indivíduo perde toda a sua importância. "Nascido em 4 de Julho" dá voz a uma dessas peças sem importância no tabuleiro da guerra capitalista. Em um roteiro excepcional acompanhamos a transformação de um jovem que ousou tentar de alguma forma lutar contra essa situação. O filme é sobre ele, Ron Kovic (Tom Cruise), que se tornou paralítico aos vinte e um anos de idade após levar um tiro durante uma batalha numa praia do Vietnã. Sua vida, seus pensamentos, seus conflitos internos, tudo ecoa na tela com raro brilhantismo.

Oliver Stone, ele próprio um veterano da Guerra do Vietnã, já havia revisitado esse conflito no premiado "Platoon". O diferencial de "Nascido em 4 de Julho" para o filme anterior é que nesse acompanhamos os efeitos da guerra, as consequências. O tema já havia sido retratado no cinema antes em "Espíritos Indômitos" com Marlon Brando. O enfoque é sobre os soldados que voltam da guerra mutilados, feridos, estraçalhados emocionalmente. As bandeiras, as medalhas e os uniformes militares diante dessa situação perdem totalmente a relevância. O que fica é um dos efeitos mais cruéis desse tipo de luta armada. Homens jovens, incapazes de viverem em sua plenitude, condenados a uma cadeira de rodas pelo resto de suas vidas e o pior por um evento histórico sem qualquer sentido ou justificativa. Stone foi muito feliz nessa direção que na minha opinião foi a melhor de sua carreira. O enredo socialmente relevante faz pensar, desperta consciências. Filmes devem existir não apenas para entreter mas também para conscientizar. Nesse aspecto "Nascido em 4 de Julho" é uma obra prima do cinema americano.

Nascido em 4 de Julho (Born on the Fourth of July, Estados Unidos, 1989) Direção: Oliver Stone / Roteiro: Oliver Stone baseado no livro de Ron Kovic / Elenco: Tom Cruise, Willem Dafoe, Tom Berenger, Kyra Sedgwick / Sinopse: Ron Kovic (Tom Cruise) é um jovem americano que se alista voluntariamente no corpo de fuzileiros navais durante a Guerra do Vietnã. Ele tem convicção que deve lutar pelo seu país contra o chamado avanço comunista. Durante a guerra sua tropa é emboscada e Kovic leva um tiro que o torna paralítico pelo resto de sua vida. O filme é sobre sua luta pelo fim da guerra do Vietnã após retornar do sudoeste asiático.

Pablo Aluísio.

Parceiros da Noite

Steve Burns (Al Pacino) é um policial de Nova Iorque que decide se infiltrar dentro da comunidade gay para investigar uma série de assassinatos envolvendo homossexuais. A imersão nesse submundo acabará causando grandes mudanças em seu modo de pensar e agir. "Parceiros da Noite" é um dos filmes mais polêmicos da filmografia de Al Pacino. Tocando em um tema complicado o filme tenta trazer uma boa trama policial com a questão gay como pano de fundo. Eu nunca assisti um filme com Al Pacino que me decepcionasse. Sabia que com esse não seria diferente e não foi. "Parceiros da Noite" é um policial bem acima da média que apesar de ter sido lançado no começo dos anos 80 tem um jeitão de filme policial dos anos 70, característica que só pesa ao seu favor. Em muita coisa me lembrou outro grande filme de Pacino, o famoso "Serpico". Gostei do roteiro e como sempre da atuação de Pacino. Aqui ele surge um pouco mais contido do que de costume, é verdade, mas isso pode ser interpretado como parte de sua caracterização pois o personagem acaba passando por um dilema durante as investigações. 

 "Parceiros da Noite" foi produzido com tinhas fortes. Realmente a primeira hora do filme pode ser ofensiva para quem não gosta de ver cenas que mostrem homossexualismo entre homens. Por isso caso esse seja o seu caso é bom ir se preparado para essa terça parte inicial. Devo confessar que achei um pouco carregado nas tintas, criando uma tênue ligação, mesmo que involuntária, entre homossexualismo e criminalidade. Só não vou dizer que foi excessivo porque realmente não sei se o nível de promiscuidade entre os gays de Nova Iorque chegava naqueles extremos. Esse aspecto inclusive incomodou alguns setores GLS na época que protestaram contra a visão que o filme passava dos gays. Pois bem, de qualquer forma, passado essa parte o filme vai melhorando gradativamente e cresce absurdamente em seus vinte minutos finais. Aliás o final "em aberto" é genial. Não vou colocar aqui porque seria ruim para quem ainda não viu o filme, mas tenho certeza que grande parcela do público ficará intrigada. Enfim, deixem o preconceito de lado e não deixem de ver "Parceiros da Noite" pois vale muito a pena. Mais um ótimo momento de Pacino nas telas.

Parceiros da Noite (Cruising, Estados Unidos, 1980) Direção: William Friedkin / Roteiro: William Friedkin, baseado na novela de Gerald Walker / Elenco: Al Pacino, Paul Sorvino, Karen Allen / Sinopse: Steve Burns (Al Pacino) é um policial de Nova Iorque que decide se infiltrar dentro da comunidade gay para investigar uma série de assassinatos envolvendo homossexuais. A imersão nesse submundo acabará causando grandes mudanças em seu modo de pensar e agir.  

Pablo Aluísio.

sábado, 17 de março de 2012

Mande Lembranças Para Broad Street

Como o Paul McCartney está fazendo uma série de shows pelo Brasil é válido lembrar essa sua incursão no cinema durante os anos 80. O filme é mero pretexto para Paul desfilar novos e antigos sucessos durante a metragem de Broad Street. O roteiro em si é uma mera desculpa para a sequência de cenas (com linguagem de videoclip) em que McCartney mostra novos arranjos para velhos sucessos dos Beatles. "Yesterday", "The Long and Winding Road", "Eleanor Rigby", estão todas lá. Essas sequências são todas de muito bom gosto e certamente agradarão ao fã do quarteto britânico, já o cinéfilo comum que não gosta do conjunto ficará um pouco decepcionado pois o filme se resume a apenas isso. É um "clipão" musical do Paul. O curioso é que ao contrário de seu colega de banda, John Lennon, Paul McCartney nunca se furtou em usar farto material dos Beatles, seja em shows, seja em filmes como esse. Isso bem demonstra a diferença de personalidade entre eles. Lennon gostava de soltar farpas contra os Beatles, já Paul os louva sempre que possível. Ele tem orgulho das músicas do grupo e não esconde isso.

Por falar em Beatles aqui temos em cena bancando o ator, o baterista Ringo Starr. Depois do fim do grupo ele tentou emplacar uma carreira de ator em filmes como Caveman. Depois de algumas produções horríveis ele finalmente se conscientizou que não havia espaço para ele nessa carreira, o que não o impediu de voltar aqui em "Broad Street" para dar uma força ao amigo. Eu simpatizo com o Ringo mas certas coisas devem ser ditas. Não há uma única cena do filme em que Ringo consiga mostrar o menor talento dramático, é engraçado e divertido ver como ele é mal ator. Um refinado canastrão em essência. Já sua mulher, a lindona Barbara Bach, está lá também para dar uma força ao marido e desfilar seu repertório de caras e bocas. Era bonita mas talentosa, não. De qualquer forma tudo isso é de menor importância pois o que vale mesmo é assistir Paul mandando bem em seus clássicos e na muito bonita "No More Lonely Nights" que fez muito sucesso na época! O curioso é que mesmo tendo a trilha sonora uma boa repercussão "Broad Street" não conseguiu se destacar nas bilheterias, se tornando um grande fracasso (um dos poucos na carreira vitoriosa de Paul McCartney). Ninguém é perfeito. De qualquer forma vale a revisão, assista e se divirta.

Mande Lembranças Para Broad Street (Give My Regards To Broad Street, Estados Unidos, 1984) Direção: Peter Webb / Roteiro: Paul McCartney, Peter Webb / Elenco: Paul McCartney, Ringo Starr, Barbara Bach, Linda McCartney / Sinopse: Músico (Paul McCartney) tem as matrizes de seu último disco roubadas. Ao lado de amigos tenta recuperar os valiosos registros fonográficos.

Pablo Aluísio.

Barfly

"Barfly" (literalmente "mosca de bar") foi baseado nos escritos do autor maldito Charles Bukowski. Seu foco se concentra nos chamados "losers" da sociedade americana, os pobres, os marginalizados, os alcoólatras, as prostitutas e os moradores de rua. Ele própria definiu Barfly como uma crônica de muitas de suas noites de bebedeiras na juventude. Aqui Mickey Rourke encarna o próprio alter ego de Bukowski em uma caracterização brilhante que injustamente não foi indicada ao Oscar! Ele se despe de qualquer inibição e surge em cena barbado, gordo, decadente, bêbado. Contracenando com ele a grande atriz Faye Dunaway em delicada atuação. O filme tem um clima de melancolia e falta de esperanças que incomoda mas ao mesmo tempo consegue criar lirismo e afeição do espectador com os personagens, por mais complicados que eles sejam. 

Mickey Rourke para melhor atuar passou a frequentar o submundo de Los Angeles bem antes do começo das filmagens. Também procurou conhecer o autor. Em entrevista Mickey explicou que teve um certo receio em encontrar-se pessoalmente com Bukowski pois podia não ir com sua cara e isso prejudicaria sua atuação e o filme em si. Mas depois ponderou e decidiu que seria melhor o encontrar cara a cara. Depois de apresentações formais Rourke então o chamou para tomar todas num boteco perto do set de filmagens e assim acabaram se aproximando. Não demorou para que uma simpatia mútua surgisse entre eles. O filme foi dirigido pelo mestre Barbet Schroeder que já havia mostrado seu grande talento em vários filmes de grande sensibilidade emocional. Sua direção é concisa mas marcante. "Barfly" é uma produção indispensável para quem admira o trabalho de Mickey Rourke, um filme que é uma das maiores obras primas de sua filmografia. Imperdível.  

Barfly (Barfly, Estados Unidos, 1987) Direção: Barbet Schroeder / Roteiro: Charles Bukowski / Elenco: Mickey Rourke, Faye Dunaway, Alice Krige, Jack Nance, J.C. Quinn / Sinopse: Henry Chinaski (Mickey Rourke) é um alcoólatra que passeia pela noite de Los Angeles frequentando os lugares mais obscuros do submundo da cidade. Lá conhece e se apaixona por Wanda Wilcox ( Faye Dunaway) que tem um estilo de vida que se parece demais com seu próprio jeito de ser.  

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Serpico

Frank Serpico (Al Pacino) é um jovem policial que é transferido para uma corporação da polícia de Nova Iorque onde impera a corrupção e a fraude. Tendo sempre uma postura ética sua forma de atuar e agir logo entra em confronto com seus colegas policiais. Disposto a revelar a situação em seu trabalho, Serpico começa a ser hostilizado e ameaçado pelos tiras corruptos de sua unidade. "Serpico" faz parte de uma série de filmes americanos que na década de 70 tocaram em temas polêmicos e controversos. O foco aqui é na corrupção policial que imperava em Nova Iorque na época. Pequenos e grandes golpes eram comuns entre a força policial. A onda de crimes ia desde extorsão até mesmo assassinatos encomendados. Tentando ser um policial honesto, Serpico foi diretamente ameaçado pela banda podre do regimento do qual fazia parte. 

O filme é baseado em fatos reais. Até hoje o verdadeiro Frank Serpico vive no serviço de proteção às testemunhas, isso porque ele ajudou efetivamente a condenar vários policiais corruptos de Nova Iorque. Nem é preciso dizer que isso automaticamente o transformou em um alvo ambulante, colecionando inúmeras ameaças de morte ao longo de sua vida. "Serpico" consagrou o talento de Al Pacino. De fato essa foi uma das fases mais brilhantes de sua carreira. Ele acabara de fazer "O Poderoso Chefão" onde sua atuação foi unanimemente elogiada e estava prestes a filmar sua continuação, também igualmente maravilhosa. Além disso nos anos seguintes novas atuações magníficas surgiriam em sequência: "Um Dia de Cão", "Justiça Para Todos" e "Parceiros da Noite". Uma sucessão de grandes filmes e inspiradas atuações. Para dirigir um tema tão instigante e desafiador a Paramount escalou o cineasta Sidney Lumet (falecido em 2011). O diretor procurou por uma linha narrativa quase jornalística, justamente para lembrar constantemente ao espectador de que se tratava de um filme fundado numa história verídica acontecida há pouco tempo. Aliás a questão envolvendo "Serpico" ainda estava na ordem do dia quando as filmagens começaram e muitos membros da equipe temiam até mesmo sofrer algum tipo de represália pelo tema do filme. No final tudo correu bem. Al Pacino foi premiado com o Globo de Ouro por sua atuação e a produção foi indicada a várias categorias da Academia, entre elas, melhor ator e melhor roteiro adaptado. Um merecido reconhecimento a um simples policial de Nova Iorque que só queria ser honesto e correto. 

Serpico (Serpico, Estados Unidos, 1973) Direção: Sidney Lumet / Roteiro: Waldo Salt, Norman Wexler baseados no livro "Serpico" de Peter Maas / Elenco: Al Pacino, John Randolph, Jack Kahoe / Sinopse: Frank Serpico (Al Pacino) é um jovem policial que é transferido para uma corporação da polícia de Nova Iorque onde impera a corrupção e a fraude. Tendo sempre uma postura ética sua forma de atuar e agir logo entra em confronto com a banda podre da polícia de Nova Iorque.  

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Homens em Fúria

Justiça seja feita: achei "Stone - Homens em Fúria" um bom filme, realmente bom. Depois de tantas críticas negativas pensei que o filme fosse ruim mas não, pelo menos na minha ótica o roteiro é muito bem escrito, as atuações, tanto de De Niro quanto de Norton, não caem no marasmo e a trama em si é bem construída com desenvolvimento satisfatório. Talvez nas mãos de um diretor mais competente e experiente a atuação dos dois atores teria rendido mais, porém isso é apenas uma suposição pois de maneira geral o diretor John Curran (o mesmo de "Despertar de Uma Paixão) entregou um trabalho coeso, bem feito. Não sei até que ponto o fato de gostar de De Niro influenciou essa minha opinião. Acontece que tenho assistido tantos filmes medíocres de sua carreira nos últimos anos que qualquer coisa que seja ao menos mediano com esse ator me enche os olhos. Algo parecido já havia acontecido com "Estão Todos Bem". Não são filmes excepcionais, maravilhosos, tais como aqueles que ele fez no passado, mas pelo menos conseguem passar pequenos momentos de boas atuações dele.

O único ponto fraco indiscutível de Stone é a atuação pouco inspirada de Milla Jovovich. Ela definitivamente não convence em nenhum momento. Jovovich mostra bem os danos que podem ser causados a certos filmes pela equivocada escalação de profissionais que na realidade nem formação dramática possuem. Milla nunca foi atriz, é em essência uma modelo com conexões na indústria cinematográfica. Seu agente é muito influente no meio e por isso ela consegue ser escalada em produções como essa o que é um erro grasso. A filmografia de Milla é composta por obras que nem são filmes para falar a verdade, coisas como "Resident Evil" definitivamente não são cinema e sim videogame. Até aí tudo bem mas escalar uma modelo dessas para contracenar com Robert De Niro e Edward Norton só pode ser uma piada de humor negro. Ela pode ser aceitável matando zumbis digitais mas aqui em um roteiro que exige boas atuações soa desproporcional. Apesar de sua presença insignificante em cena os danos são minorados. No saldo final "Homens em Fúria" consegue superar tudo isso para se tornar um bom filme, sem a menor sombra de dúvidas.

Homens em Fúria (Stone, Estados Unidos, 2010) Direção: John Curran / Roteiro: Angus MacLachlan / Elenco: Edward Norton, Milla Jovovich, Robert De Niro / Sinopse: Jack (Robert De Niro) é um agente da condicional que nas portas de sua aposentadoria tem que lidar com o problemático presidiário Gerald (Edward Norton) e sua esposa Lucetta (Milla Jovovich).

Pablo Aluísio.

O Poderoso Chefão

Nesse ano "O Poderoso Chefão" completa 40 anos. Um dos grandes clássicos da história do cinema americano o filme segue inspirando cineastas e conquistando novas gerações. Baseado na obra imortal do escritor Mario Puzo o filme resistiu muito bem ao tempo mesmo revendo nos dias atuais sob uma ótica mais contemporânea. E pensar que o projeto quase foi arquivado pela Paramount por achá-lo fora de moda e sem chances de trazer grande retorno de bilheteria. Apenas a persistência pessoal do produtor Robert Evans salvou o filme, pois insistiu muito na idéia de trazer do papel para a tela a saga da família Corleone. Até a escalação do elenco gerou brigas internas dentro do estúdio. A simples menção do nome de Marlon Brando já causava arrepios na direção da Paramount. O ator era considerado naquele momento um astro decadente que havia arruinado sua carreira com brigas e confusões nos sets de filmagens pelos quais passou. Além de seu temperamento imprevisível Brando já não era mais visto como sinônimo de bilheteria há muito tempo pois suas últimas produções tinham se tornado grandes fracassos de público e crítica. 

A Paramount definitivamente não queria nem ouvir falar no nome do ator. Foi Evans que comprou a briga e apostou em Brando novamente. Ele inclusive teve que se passar por uma verdadeira humilhação para um nome de seu porte: fazer um teste de câmera para o papel, algo só destinado para novatos e inexperientes atores em começo de carreira. Como estava desesperado para voltar ao primeiro time Brando topou a situação, encheu as bochechas de algodão e mostrou sua visão pessoal de Vito Corleone para os chefões do estúdio. O resultado veio logo após quando todos ficaram maravilhados com o resultado. Certamente não havia mais dúvida e Brando foi contratado. Visto hoje em dia o filme se mostra muito atual e resistente ao tempo. Um de seus trunfos vem justamente da brilhante interpretação de Brando. Como conta em seu livro o ator não interpretou Corleone como um facínora e criminoso mas apenas como um pai de família que fez o que tinha que ser feito para proteger seus filhos. Brando inclusive chega a afirmar que Corleone seria mais ético e honesto do que muito executivo de multinacional que coloca os interesses de sua empresa acima do bem comum de todos. Sua postura de respeito com o personagem se mostrou muito acertada. No final todos ficaram gratificados. 

"O Poderoso Chefão" que foi realizado ao custo de meros seis milhões de dólares rendeu mais de trezentos milhões em bilheteria. Além disso foi premiado com os Oscars de Melhor Ator (Marlon Brando), Melhor Filme e Roteiro Adaptado e foi indicado aos de Ator Coadjuvante (James Caan, Robert Duvall e Al Pacino), Figurino, Direção, Edição, Trilha Sonora e Som. Um êxito sem precedentes. O Oscar de melhor ator para Marlon Brando aliás foi recusado por ele por causa do tratamento indigno que o cinema americano dava aos povos indígenas. O ator mandou uma atriz interpretar uma jovem índia na noite de entrega do prêmio, fato que causou muitas reações, inclusive de membros da Academia como John Wayne que quis entrar no palco para acabar com aquilo que em sua visão era uma "verdadeira palhaçada"! Quem pode entender os gênios como Brando afinal? Enfim escrever sobre "The Godfather" é secundário. O mais importante mesmo é assistir a essa grande obra prima de nosso tempo.  

O Poderoso Chefão (The Godfather, Estados Unidos, 1972) Direção: Francis Ford Coppola / Roteiro: Francis Ford Coppola, Mario Puzo / Elenco: Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, John Cazale, Richard Conte, Robert Duvall, Diane Keaton. / Sinopse: "O Poderoso Chefão" conta a saga de uma família de imigrantes italianos liderados pelo grande patriarca Dom Vito Corleone (Marlon Brando).  

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Possuída

Eu já assisti muito filme esquisito na minha vida mas como esse aqui tá difícil. O roteiro é uma das maiores misturebas que já vi, atira para todos os lados, passeia por todos os gêneros e no final não consegue acertar o alvo em nada. Começa com ecos de "Amytiville" (a casa com passado obscuro, o ranger das portas, pegadas misteriosas pela casa, a família com medo), depois vira "Cemitério Maldito" (montes de sepultamento dos nativos americanos, objetos indígenas estranhos, florestas assustadoras) e termina como uma produçãozinha B ao estilo dos anos 50 (nem vou revelar do que se trata de tão absurdo que é o clímax).

Saber que Kevin Costner foi um dos maiores astros do cinema e vê-lo em um filme como esse me deu uma certa melancolia. A produção é nitidamente modesta (tanto que praticamente não existem efeitos visuais, mas apenas sonoros), com economia em locações, elenco e tudo mais. Na maioria das cenas não se vê absolutamente nada, ficando tudo escuro, mas em compensação ouve-se de tudo, desde gemidos, gritos de macacos a elefante com dor de barriga. Pelo visto não é apenas o roteiro que é mistureba, mas os efeitos sonoros também. O diretor trocou os altos custos de efeitos especiais por jogos de luz e sonoplastia. Não deu muito certo. Também esqueçam o péssimo título "Possuída" já que não é do sobrenatural do que se trata o filme, mas algo bem mais tosco. Enfim, filme fraco, confuso, que promete muito ao longo de sua duração mas que no final só consegue entregar muito pouco.

Possuída (The New Daughter, Estados Unidos, 2009) Direção: Luiso Berdejo / Roteiro: John Travis, John Connolly / Elenco: Kevin Costner, Ivana Baquero, Samantha Mathis / Sinopse: Ao se mudar para uma nova casa o pai de família John James (Kevin Costner) percebe que há algo de muito errado com sua nova morada.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 13 de março de 2012

Condenação Brutal

Pois é, "Lock Up" foi o adeus de Stallone aos melhores anos de sua carreira. Na década de 1980 o ator colecionou um sucesso atrás do outro, liderou a lista das maiores bilheterias e ganhou o título de maior cachê de Hollywood. Revisto hoje esse "Condenação Brutal" (que em Portugal recebeu o estranho título de "Stallone Prisioneiro") envelheceu um pouco. O roteiro é simples, tudo é armado seguindo a fórmula que deu certo em outros filmes do ator, principalmente Rocky e Rambo (ou seja seus personagens são provocados até o limite para depois reagirem com fúria). Quem é fã desse estilo de cinema certamente não terá do que reclamar.

A diferença aqui é que Stallone é prisioneiro de uma cadeia cujo diretor sádico (Donald Sutherland) quer se vingar dele por um evento que os ligou no passado. Esse tipo de filme de prisão acabou virando um subgênero cinematográfico e todos os ingredientes que já conhecemos estão aqui (os prisioneiros durões, os guardas corruptos e masoquistas, a lei da selva que impera entre os detentos, o diretor torturador, etc, etc). O grande problema de "Condenação Brutal" na minha opinião nem é tanto essa falta de maiores surpresas mas sim seu final. Muito anticlimático, tenta resolver vários problemas de forma muito simplista (e irreal). Talvez se o roteirista tivesse sido mais ousado o filme teria marcado mais. Como ficou o filme serviu apenas como mais um veículo promocional do ator.

Condenação Brutal (Lock Up, Estados Unidos, 1989) Direção: John Flynn / Roteiro: Richard Smith, Jeb Stuart / Elenco: Sylvester Stallone, Donald Sutherland, John Amos / Sinopse: Frank Leone (Sylvester Stallone) é um prisioneiro que tem que lidar com um diretor sádico (Donald Sutherland) que quer vingança contra ele por causa de um evento ocorrido no passado.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Red Tails

Esquadrilha da força aérea americana formada apenas por pilotos negros durante a II Guerra Mundial tenta provar seu valor em missões perigosas e vitais para o esforço de guerra aliada. "Red Tails" (em português "caudas vermelhas" pois os aviões desse esquadrão pintavam suas caudas dessa cor) é a nova produção de George Lucas. Esse é um filme que tenta a todo custo reviver os clássicos filmes de aviação realizados nas décadas de 40 e 50. Embora seja assinado pelo diretor Anthony Hemingway ninguém duvida que é um projeto pessoal de Lucas que se envolveu em todos os aspectos da produção mas optou por não assinar a direção (talvez por receio após sofrer tantas críticas na nova trilogia de "Star Wars"). O pior de tudo é saber que mesmo não colocando a cara para bater Lucas erra e muito aqui - e de certa forma repete todos os seus erros recentes em termos de direção e roteiro. "Red Tails" é do ponto de vista técnico simplesmente irretocável. A produção é de primeira, todas as cenas recriadas digitalmente dos combates aéreos são extremamente bem feitas, nada há o que criticar nesse aspecto. A Industrial Light and Magic, braço da Lucasfilm para efeitos especiais, continua em um nível absurdo de qualidade.

O problema de "Red Tails" é outro, o que incomoda aqui é a falta de um roteiro melhor que fuja de clichês, de uma direção mais bem elaborada de atores e o mais importante, de uma alma ao filme. "Red Tails" em certos momentos mais parece um daqueles videogames de última geração. Em essência tudo é muito vazio, sem coração, sem alma. O espectador não consegue criar vínculo com os personagens que sempre são muito rasos e nada desenvolvidos. Lembrou dos novos filmes de "Star Wars"? Pois tudo se repete novamente aqui. O argumento é bem intencionado, vai de encontro com o politicamente correto tão em moda hoje em dia e aposta numa ação afirmativa que tenta dar o devido reconhecimento e valor de pilotos negros que lutaram nos céus da Itália. Tudo isso é muito louvável mas o bom cinema não vive apenas de boas intenções. Tem que haver mais, tem que priorizar não apenas o aspecto técnico do filme mas seu lado humano também. Os pilotos de "Red Tails" são meros soldadinhos de chumbo. O espectador perde o interesse por eles logo. Uma pena. Enfim, espero que George Lucas volte a fazer cinema de carne e osso um dia. Apenas belos efeitos digitais já não bastam para qualificar um filme como bom atualmente.

Red Tails (Red Tails, Estados Unidos, 2012) Direção: Anthony Hemingway / Roteiro: John Ridley, Aaron McGruder / Elenco: Cuba Gooding Jr., Gerald McRaney, David Oyelowo / Sinopse: Esquadrilha da força aérea americana formada apenas por pilotos negros durante a II Guerra Mundial tenta provar seu valor em missões perigosas e vitais para o esforço de guerra aliada.

Pablo Aluísio.

domingo, 11 de março de 2012

Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme

Eu não levava muita fé nesse "Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme". Isso porque já faz tanto tempo desde o lançamento do Wall Street original em 1987 que o público atual dificilmente se lembraria do fio da meada daquela estória. É o que eu denomino de continuação tardia, tardia demais é bom frisar. Além disso o projeto desde que foi anunciado sempre me pareceu apenas uma tentativa de ressuscitar a decadente carreira de Michael Douglas no cinema, ainda mais agora já que ele já está com idade avançada e sofrendo de uma doença grave. Eu pensei sinceramente que tudo seria uma nulidade, um ato de desespero de Douglas e Stone atrás do sucesso há muito perdido. Confesso que me enganei em termos. Esse novo Wall Street até que é digno, bem escrito, um bom filme afinal. Para falar a verdade tem mais conteúdo do que o primeiro, que se focava demais apenas nos aspectos técnicos do mundo financeiro. Esse aqui também tem disso mas o roteiro é muito mais humano e a família de Gordon Gekko ganha mais destaque. Ele não é apenas um tubarão unidimensional de Wall Street. Dessa vez Oliver Stone trouxe mais profundidade ao personagem Gekko. Ele é mostrado em cena com problemas familiares, problemas de relacionamento e isso no final trouxe muito ao resultado final.

No Wall Street de 1987 o roteiro centrava fogo no relacionamento entre Gekko e um pupilo (interpretado por Charlie Sheen que aqui no 2 faz uma pontinha bem humorada). Naquele ano Charlie Sheen estava sendo apontado como um novo Tom Cruise, ele vinha do sucesso "Platoon" do mesmo diretor Oliver Stone e era um ator mais do que promissor. Depois como todos sabemos ele afundou sua carreira com drogas e prostitutas. Já o elenco aqui está muito bem, com destaque para Michael Douglas e a gracinha Carey Mulligan (que despontou para o sucesso com o filme "Educação") O ponto fraco no quesito atuação porém é novamente de Shia LaBeouf, que não adianta tentar pois é um ator muito fraco, chegando a comprometer o filme em certos momentos. Em papel central tudo o que ele consegue em cena é confirmar sua fama de profissional medíocre. De qualquer forma Oliver Stone (em aparições à la Hitchcock) segura as pontas nessas horas. A fina ironia de tudo nessa continuação fora de hora porém é saber que apesar do filme falar sobre dinheiro o tempo todo, ele mesmo não conseguiu fazer grana nas bilheterias pois seu resultado comercial foi considerado pífio. Com esse resultado Hollywood deve finalmente enterrar a franquia. Por essa nem Gordon Gekko esperava...

Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme (Wall Street: Money Never Sleeps, Estados Unidos, 2010) Direção: Oliver Stone / Roteiro: Allan Loeb, Stephen Schiff / Elenco: Shia LaBeouf, Michael Douglas, Carey Mulligan / Sinopse: Após cumprir pena de prisão por crimes contra o sistema financeiro, Gordon Gekko (Michael Douglas) tenta se reerguer no mundo de Wall Street reconstruindo seu império na bolsa de valores.

Pablo Aluísio.

sábado, 10 de março de 2012

Mississippi em Chamas

Dois Agentes do FBI, Rupert Anderson (Gene Hackman) e Alan Ward (Willem Dafoe), chegam a uma pequena cidade do Mississippi para investigar a morte de três militantes dos direitos civis durante a década de 60. Lá encontram pela frente todo tipo de dificuldade para levar em frente as investigações, tendo que lidar com a hostilidade das autoridades e da população local. "Mississippi em Chamas" é um dos melhores trabalhos do excelente cineasta Alan Parker. O filme mostra como poucos a engrenagem do ódio racial que insiste em perdurar em certas localidades mais distantes dos grandes centros urbanos dos EUA. Essa região é formada por vários Estados de forte tradição em segregação racial. Localidades onde a igualdade racial ainda não fez morada. Não é demais lembrar que foram esses mesmos Estados que tentaram sair da federação americana por causa da questão da escravidão, gerando a Guerra Civil entre norte e sul. Pelo visto a velha mentalidade confederada ainda persiste mesmo após décadas do fim do conflito. O governo americano sob a presidência de John Kennedy sancionou várias leis de igualdade entre brancos e negros mas como mostrado no filme nem sempre leis são suficientes para mudar décadas de mentalidade segregacionista.

O grande nome do elenco aqui é Gene Hackman. Ele interpreta um agente do FBI que, tendo nascido no sul racista, acaba ficando entre a cruz e a espada, entre os valores no qual foi criado e as regras da sua agência de investigação. Já Willem Dafoe interpreta o parceiro que segue as regras do Bureau mais de perto, procurando seguir os procedimentos à risca. Entre o elenco de apoio os destaques são dois: R. Lee Ermey (o sargento durão de Nascido Para Matar) na pele do prefeito da cidade e Frances McDormand como a sofrida esposa de um policial e membro da Klu Klux Klan. O roteiro é muito bem elaborado, fugindo sempre dos clichês que poderiam surgir nesse tipo de filme que mostra dois agentes da lei durante uma investigação complicada. O roteirista Chris Gerolmo foi muito feliz na condução da estória fugindo sempre de situações convencionais ou burocráticas. Já sobre Alan Parker não há muito o que falar. Sempre foi um dos meus cineastas preferidos, um diretor com uma filmografia cheia de filmes intrigantes ou viscerais tais como "Coração Satânico" (sua obra prima na minha opinião) e "O Expresso da Meia Noite". Infelizmente recentemente esteve no Brasil e explicou que anda no ostracismo pois os estúdios atualmente preferem não mais bancar filmes com temáticas sociais como a que vemos nessa produção. Pelo jeito a mentalidade tacanha não é privilégio apenas dos sulistas norte-americanos. Só podemos mesmo lamentar. De qualquer forma fica a dica - se ainda não assistiu não deixe de conferir esse grande filme dos anos 80.

Mississippi em Chamas (Mississippi Burning, Estados Unidos, 1988) Direção: Alan Parker / Roteiro: Chris Gerolmo / Elenco: Gene Hackman, Willem Dafoe, Frances McDormand, R. Lee Ermey, Brad Dourif / Sinopse: Dois Agentes do FBI, Rupert Anderson (Gene Hackman) e Alan Ward (Willem Dafoe), chegam a uma pequena cidade do Mississippi para investigar a morte de três militantes dos direitos civis durante a década de 60. No local encontram pela frente todo tipo de dificuldade para levar em frente as investigações, tendo que lidar com a hostilidade das autoridades e da população local.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Laços de Ternura

Aurora Greenway (Shirley MacLaine) é uma viúva que não concorda com o casamento prematuro e impensado de sua única filha, Emma (Debra Winger). Aurora considera o genro, o professor Flap Horton (Jeff Daniels), um sujeito sem ambições e sem um grande futuro pela frente. Além de lidar com um casamento que desaprova Aurora ainda tem que aturar um vizinho espalhafatoso e fanfarrão, o astronauta aposentado Garret Breedlove (Jack Nicholson) que apesar da idade não deixa de aproveitar cada momento de sua vida, sempre se envolvendo com mulheres mais jovens em festas e bebedeiras. "Laços de Ternura" é um filme sobre relações humanas. Não apenas entre mães e filhas mas também sobre o complicado cotidiano de envolvimentos amorosos que nem sempre parecem o ideal. O roteiro muito bem escrito se foca em Aurora, uma mãe super protetora que acaba sufocando a própria filha, se metendo em demasia em sua própria vida conjugal, ligando a toda hora. Um tipo de mãe que muitas pessoas conhecem bem. A personagem Emma, a filha, também é muito curiosa. Remando contra a maré das conquistas femininas ela se torna uma esposa ao velho estilo, sem trabalho, sem profissão, apenas uma dona de casa com um monte de filhos ao redor (uma vida que para a maioria das mulheres hoje em dia seria um verdadeiro horror!). Além do mais descobre tarde demais que o pacato professor com quem se casou é um marido infiel e sonso que não perde a chance de dar em cima de suas alunas mais bonitas.

Todos os personagens.de "Laços de Ternura" são bem construídos mas nenhum consegue superar o astronauta interpretado por Jack Nicholson. É curioso que muita da personalidade do próprio Jack foi passado para seu papel em cena. Até no figurino (óculos escuros, roupas nada convencionais), o estilo de vida, o envolvimento com jovens garotas, enfim tudo remete ao próprio Jack Nicholson em sua vida pessoal. Por essa razão ele está particularmente bem à vontade em sua brilhante caracterização que aliás lhe valeu o Oscar de melhor ator coadjuvante, um prêmio mais do que merecido. Por falar em prêmios o papel de Aurora foi o mais premiado da carreira de Shirley MacLaine. Ela não apenas venceu o Oscar de melhor atriz por sua interpretação como também levou outros importantes prêmios na mesma categoria para casa como o Globo de Ouro e o BAFTA. O filme em si também abocanhou todos os demais Oscar importantes da noite (Melhor Filme, Diretor e Roteiro Adaptado), coroando de vez sua consagração. Em conclusão podemos afirmar que "Laços de Ternura" é um sensível e delicado drama sobre relacionamentos humanos, suas contradições e seus desgastes. Um bom estudo sobre os dramas cotidianos que são consequências de nossas escolhas ao longo da vida. Uma obra cinematográfica que merece ser vista (e revista) sempre que possível.

Laços de Ternura (Terms of Endearment, Estados Unidos, 1982) Direção: James L. Brooks / Roteiro: Larry McMurtry, James L. Brooks / Elenco: Shirley MacLaine, Debra Winger, Jack Nicholson, Jeff Daniels, John Lithgow, Danny De Vito / Sinopse: Aurora Greenway (Shirley MacLaine) é uma viúva que não concorda com o casamento prematuro e impensado de sua única filha, Emma (Debra Winger). Aurora considera o genro, o professor Flap Horton (Jeff Daniels) um sujeito sem ambições e sem um grande futuro pela frente. Além de lidar com um casamento que desaprova Aurora ainda tem que aturar um vizinho espalhafatoso e fanfarrão, o astronauta aposentado Garret Breedlove (Jack Nicholson) que apesar da idade não deixa de aproveitar cada momento de sua vida, sempre se envolvendo com mulheres mais jovens em festas e bebedeiras.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Os Especialistas

A primeira impressão ao assistir "Os Especialistas" é de tristeza ao ver o grande ator de outrora, Robert De Niro, se prestando ao papel de alugar seu nome a quem pagar melhor. Sim, não existe função ou importância no personagem que ele interpreta aqui - tanto faz ele existir ou não, nada mudaria nesse filme. O Jason Statham está na dele, esse é o tipo de produção que ele sempre estrelou mas De Niro exercendo um papel tão sem relevância como esse é realmente desanimador. O roteiro é banal, a velha fórmula do assassino profissional que tem que cumprir uma série de mortes. A única diferença aqui é que ele realiza os assassinatos por causa do sequestro de seu amigo por um xeique do Oriente Médio. O roteiro só não explica como é que um profissional desse tipo consegue ter sentimentos de amizade tão fortes a ponto de se colocar em risco por qualquer pessoa que seja. Ficou forçado e bobo. Jason Statham repete seu personagem habitual, o sujeito durão que distribui farpas e tiros para todos os lados. Ele atualmente é o legítimo sucessor herdeiro dos brutamontes dos anos 80 como Chuck Norris e Arnold Scharzennegger. Seguindo nessa linha vai construindo uma vasta filmografia com muitos títulos, tantos filmes que fica até complicado de acompanhar. Algumas dessas produções são boas enquanto outras são completamente medíocres. De qualquer forma ele já tem seu público formado e por isso nada vai mudar com mais esse filme de ação de rotina.

Um dos problemas de "Killer Elite" é sua duração excessiva. É muita metragem para pouca estória. Eu sou da opinião que filmes de ação devem primar pela agilidade, pela rapidez. Filmes que não tem o que contar e que duram tanto como esse aqui geram no espectador a sensação de impaciência e nada mais. Público de filme de ação gosta de uma coisa só, não tem paciência para enrolação. Talvez a inexperiência do diretor Gary McKendry justifique isso. Com apenas 3 filmes em seu currículo a impressão que tive é que ele não soube chegar ao corte ideal, trazendo dinamismo para o argumento em si. Enfim, "Os Especialistas" deveria ser menos longo, com menos enrolação e Robert De Niro deveria ter vergonha na cara e manter a dignidade de uma filmografia tão importante como a dele. Fazendo filmes desse naipe só conseguimos ficar com vergonha alheia de sua presença insignificante em cena.

Os Especialistas (Killer Elite, Estados Unidos, 2011) Direção: Gary McKendry / Roteiro: Matt Sherring baseado no livro de Ranulph Fiennes / Elenco: Jason Statham, Clive Owen, Robert De Niro / Sinopse: Assassino profissional (Jason Statham) tem como missão cumprir uma série de mortes. Ele realiza os assassinatos por estar sendo chantageado por um xeique do Oriente Médio que sequestrou seu melhor amigo.

Pablo Aluísio.