segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Na Estrada

Jack Kerouac (1922 -1969) não era um escritor comum. Após fracassar com seu primeiro livro, “The Town and The City”, dito por alguns como convencional demais, até conservador, ele resolveu chutar o balde e partiu para o extremo oposto disso. O que era “certinho” e “quadrado” virou puro caos nas linhas de sua nova obra, “On The Road”. Numa linguagem alucinada o livro se destacava por fugir das amarras da literatura da época. O texto simplesmente fluía sem muita ordem ou sentido. Tudo era literalmente jogado pelo autor em suas páginas e o leitor é que deveria colocar uma certa ordem naquela narrativa um tanto desconexa, baseada muito mais em sensações do que em organização e sentido. O livro marcou época dentro da literatura americana justamente por se livrar das amarras que impediam a plenitude criativa dos autores. O enredo, se é que se podia definir assim, mostrava flashes de um grupo de amigos que simplesmente cruzavam o interior dos Estados Unidos em busca de aventuras e autoconhecimento. Desde o início o cinema quis adaptar para as telas esse texto de Kerouac mas sua narrativa dispersa e sem foco tornava tudo muito complicado. Até mesmo o mito Marlon Brando quis interpretar a estória em um filme mas seus planos foram por água abaixo após um dos mais famosos roteiristas da época lhe explicar que o livro era simplesmente “inadaptável”.

Assim chegamos nessa produção dirigida pelo cineasta brasileiro Walter Salles. Como quase sempre acontece quando um livro famoso vira filme houve muitas reações acaloradas sobre o resultado final da obra cinematográfica. Aqui a crítica (principalmente a brasileira) resolveu expor os problemas do filme de forma muito exagerada. Reclamaram de praticamente tudo, do elenco, da edição, do roteiro (simplista para alguns), da direção e da falta de uma melhor abordagem em torno do tema. Superficial para alguns, maçante para outros, sobraram reações negativas a esse “Na Estrada”. Bobagem. Jamais alguém vai conseguir transpor um texto como esse com extrema fidelidade. A linguagem literária é bem diferente da linguagem cinematográfica. Um evento banal pode ser descrito de forma maravilhosa em um texto, com palavras que tocam profundamente o leitor. No cinema essa mesma passagem pode soar completamente sem importância dentro do que se mostra na tela. São linguagens totalmente diferentes. A primeira funda suas raízes no sensorial e a segunda no visual. Por essa razão não vejo qualquer motivo justificado para falarem tão mal do filme. Eu particularmente gostei do resultado. Obviamente não é perfeito mas é bem realizado. Certamente vai despertar a curiosidade dos mais jovens sobre a obra do autor Jack Kerouac – e isso já justifica a existência da produção. Claro que o filme tem eventuais problemas, mas dentro dos limites que uma adaptação como uma obra dessas impõe o resultado se mostra bem satisfatório e competente. Por isso pegue a estrada com Kerouac e se divirta – nas telas e no livro.

Na Estrada (On The Road, Estados Unidos, 2011) Direção: Walter Salles / Roteiro: Jose Rivera, baseado na obra de Jack Kerouac / Elenco: Kristen Stewart, Amy Adams, Viggo Mortensen, Kirsten Dunst, Garrett Hedlund, Alice Braga, Sam Riley, Elisabeth Moss, Steve Buscemi, Terrence Howard, Tom Sturridge, / Sinopse: Dois amigos de Nova Iorque e a namorada de um deles resolvem cruzar os Estados Unidos praticamente de costa a costa. No caminho conhecem os mais diversos tipos de pessoas e lugares numa aventura on the road em busca de autoconhecimento e diversão escapista.

Pablo Aluísio.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Um Dia de Fúria

Hoje em dia Michael Douglas está com um pé na aposentadoria definitiva mas nas décadas de 80 e 90 ele saboreou uma excelente fase na carreira com muitos sucessos e êxitos de bilheteria. Um dos mais bem sucedidos foi esse “Um Dia de Fúria” que está completando agora exatos 20 anos de seu lançamento. O filme explora muito bem os limites de tolerância que cada um possui dentro da sociedade altamente estressante em que vivemos. No caso acompanhamos a rotina de William Foster (Michael Douglas) que durante um congestionamento infernal simplesmente chega ao seu limite. Irritado, não suportando mais uma rotina tão cheia de pressões e desapontamentos ele simplesmente se arma de um bastão de beisebol e uma arma de fogo e sai para a desforra completa, apelando para uma violência irracional e sem freios contra tudo e contra todos que ousam cruzar seu caminho. O curioso em “Dia de Fúria” é que apesar de ser um drama por definição algumas de suas cenas acabam deflagrando um humor involuntário quando o engomadinho Foster perde a compostura e parte para a porrada desenfreada, não poupando ninguém pela frente. Há cenas bem significativas nesse ponto como a da lanchonete quando ele novamente tem um acesso de fúria descontrolada.

“Um Dia de Fúria” é seguramente um dos melhores trabalhos do irregular Joel Schumacher que conseguiu ao longo da carreira mesclar grandes bombas com filmes acima de média. Não há outra definição melhor para Schumacher, ele é realmente um cineasta complicado, onde não sabemos de antemão se vamos assistir alguma pequena obra prima ou um grande abacaxi. Aqui felizmente temos um de seus melhores trabalhos na carreira. Michael Douglas está perfeito no papel e conta com um outro grande ator para contracenar com ele, o veterano Robert Duvall. Ele interpreta o detetive Prendergast que sai em perseguição ao descontrolado personagem de Michael Douglas. O curioso é que ele parece entender bem lá no fundo os motivos que desencadearam a violência sem fim em William Foster. Prendergast se mostra inclusive solidário com o insano Foster na cena final, embora ciente da situação extrema em que se encontra. Assim se você ainda não assistiu procure ver, é um interessante filme de ação com subtexto sobre os limites de tolerância de cada um.

Um Dia de Fúria (Falling Down, Estados Unidos, 1993) Direção: Joel Schumacher / Roteiro: Ebbe Roe Smith / Elenco: Michael Douglas, Robert Duvall, Barbara Hershey, Frederic Forrest / Sinopse: Durante um engarrafamento infernal um homem comum alcança seu limite de tolerância e literalmente sai na porrada com quem lhe cruza o caminho. Descontrolado ele passa a ser perseguido por um veterano policial que sai em seu encalço.

Pablo Aluísio.

sábado, 12 de janeiro de 2013

A Sombra e a Escuridão

Hollywood tem longa tradição em filmes ambientados na África Selvagem. Esse “A Sombra e a Escuridão” é mais um nessa longa e tradicional linha de produções filmadas no continente africano. O roteiro foi baseado em fatos reais. No final do século XIX uma empresa britânica passou por vários problemas ocasionados pelas mortes cometidas por dois leões da região, durante a construção de uma importante ferrovia que cortava a África Oriental, no Quênia, em Tsavo. Particularmente sanguinários as duas feras mataram juntas, segundo estimativas, mais de 140 homens ao longo de vários meses durante a construção da ferrovia. O número de mortes foi tão elevado que chegou-se ao ponto de ninguém mais querer trabalhar np local. Leões são carnívoros por natureza mas ataques a seres humanos nessa proporção era completamente único. O que levou esses animais a esse tipo de massacre? Existem muitas teorias sendo as mais prováveis a falta de presas naturais ocasionadas pelo avanço da civilização ou uma mutação genética que os tornaram máquinas assassinas singulares. Após suas mortes foram pesquisados e levados até os EUA para novos estudos. Os verdadeiros leões foram então empalhados e estão expostos em Chicago no famoso Museu de história natural, o Chicago Field Museum. Como eram animais únicos eles eram considerados pelos trabalhadores nativos como encarnações de demônios da floresta e por isso eram chamados de Fantasma e Escuridão respectivamente – nomes que fazem parte do título original do filme.

O roteiro foi escrito justamente em cima dessa história quando a empresa inglesa resolveu contratar caçadores profissionais para matar os felinos. Quem matou os leões na história verídica foi o Coronel Inglês John Henry Patterson, um famoso aventureiro. No filme a sua função acabou sendo dividida entre dois personagens principais, o grande caçador branco  Charles Remington (Michael Douglas) e o próprio Coronel Patterson aqui interpretado por Val Kilmer. Michael Douglas aliás adorou a experiência de filmar em regiões próximas onde tudo realmente aconteceu. Ao custo de pouco mais de 35 milhões de dólares uma grande equipe de filmagem adentrou a savana africana para obter as melhores tomadas de cena. Revisto hoje em dia “A Sombra e a Escuridão” chegamos na conclusão de que o filme resistiu bem ao tempo. Ainda é uma boa aventura, com roteiro bem escrito e situações que mantém o interesse. Val Kilmer talvez fosse jovem demais para interpretar o Coronel britânico mas isso em si não chega a prejudicar o resultado final. A produção é bonita, com linda fotografia, e não perde seu foco que em si é centralizada na caçada aos dois leões. Provavelmente vá incomodar um pouco os mais ecologistas mas temos que ter em mente o contexto histórico em que se passa a estória do filme. Em essência é um excelente filme de aventuras, bem ao estilo antigo. Vale a pena ser redescoberto.

A Sombra e a Escuridão (The Ghost and the Darkness, Estados Unidos, 1995) Direção: Stephen Hopkins / Roteiro: William Goldman / Elenco: Michael Douglas, Val Kilmer, Tom Wilkinson / Sinopse: Dois leões começam a atacar trabalhadores nativos durante a construção de uma grande estrada de ferro no coração do Quênia durante o século XIX. Para caçar e matar as feras a companhia ferroviária chama um experiente Coronel britânico que ao lado de um caçador veterano partem em busca dos felinos assassinos. 

Pablo Aluísio.

A Hora do Pesadelo

É a obra prima do diretor Wes Craven. Esqueça o horrendo (no mal sentido) remake que foi lançado há pouco, prefira mesmo o original, essa pequena obra de arte do horror dos anos 80. O roteiro não foge muito à formula dos filmes de terror daqueles anos, isso é inegável, mas a produção se destaca por trazer aquele que provavelmente seja o personagem mais famoso da galeria de assassinos do cinema americano: o famigerado  Freddy Krueger. Fruto de um estupro coletivo onde participaram alguns dos maiores criminosos que se tem notícia, o velho Freddy teve seu destino traçado ao ser queimado vivo por seus crimes bárbaros. Agora povoa os pesadelos de jovens inocentes que se atrevem a cruzar seu caminho diabólico. O personagem encontrou seu ator perfeito na pele do também bastante carismático  Robert Englund. Com rosto de poucos amigos ele se tornou um ícone tão forte dentro do universo do horror que se tornou facilmente reconhecível, mesmo sem a forte maquiagem de Freddy. Muitos atores sentem bastante receio de ficarem marcados para sempre por um único personagem mas Englund jamais viu problemas nisso. Em diversas convenções de que participou sempre deixou muito claro seu prazer de ter encarnado Krueger em tantos filmes que fez ao longo da carreira.

Outro destaque do elenco nesse primeiro filme da longa franquia “A Hora do Pesadelo” é o ator Johnny Depp, na época ainda um jovem aspirante ao sucesso que topava qualquer coisa, até mesmo morrer logo nas primeiras cenas em um filme menor como esse (“A Hora do Pesadelo” foi realizado com orçamento restrito, até porque ninguém sabia se faria sucesso ou não). Wes Craven mostra aqui seu toque de Midas ao colocar todas as mortes de um jeito inventivo e diferente – algo que anos depois seria usado por outras franquias de sucesso como por exemplo “Jogos Mortais”. Com muito sangue de groselha, jovens bonitos prontos para morrer e um personagem pra lá de marcante, “A Hora do Pesadelo” só poderia ter se tornado o sucesso que foi. O psicopata dos pesadelos Freddy virou produto licenciado para bonequinhos, revistas, sabonetes e tudo mais que tinha direito. Ainda hoje é um dos mais lembrados em épocas festivas como Halloween. Enfim, “A Nightmare on Elm Street” é item obrigatório a todo fã de terror que se preze. Assista e depois sonhe com Krueger e... sobreviva se puder.

A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street, Estados Unidos, 1984) Direção: Wes Craven / Roteiro: Wes Craven / Elenco: Heather Langenkamp, Johnny Depp, Robert Englund / Sinopse: Um grupo de jovens começam a ter terríveis pesadelos com um assassino que foi morto pelos moradores da cidade no passado após ele cometer terríveis crimes contra crianças. Freddy Krueger, o terrível maníaco agora resolve se vingar de seus algozes ao infernizar a noite dos descendentes daqueles que o mataram em Elm Street.

Pablo Aluísio.

Mad Max

Hoje em dia o cinema australiano passa por uma crise criativa mas na década de 70 ele passou por uma fase extremamente interessante do ponto de vista artístico. Atualmente os filmes australianos praticamente apenas imitam os clichês do cinema americano (com pontuais exceções) mas o quadro já foi o inverso. O maior exemplo foi esse “Mad Max”, filme de baixo orçamento rodado nos desertos australianos que acabou criando um sub-gênero próprio, o dos filmes de ação pós apocalíptico. George Miller, o diretor, teve uma idéia genial nesse aspecto. Ele resolveu levar toda uma equipe de cinema para as regiões mais distantes e secas do deserto australiano (um lugar que faz o sertão nordestino parecer um oásis) para rodar uma aventura on the road completamente futurista. O enredo não perderia muito tempo com firulas, partindo logo para a ação desenfreada! Liderando o elenco ele trouxe um desconhecido, um jovem boa pinta, sem qualquer experiência em filmes de ação que só possuía no currículo uma pequenina produção da Austrália sobre Surf chamado “Summer City” (que chegou a ser lançado em vídeo no Brasil). Ele não era australiano mas americano, criado naquele país desde muito jovem. Seu nome? Mel Gibson! O sucesso estrondoso de Mad Max acabou abrindo as portas de Hollywood para Gibson e o resto é história pois ele acabou se tornando um dos mais bem sucedidos astros da indústria americana. Hoje em inferno astral, Gibson naquela época era apenas um garoto promissor que daria muito, muito certo na carreira.

Por falar em sucesso, “Mad Max” é até hoje um dos filmes mais lucrativos da história do cinema. Ele custou apenas 800 mil dólares – uma mixaria em se tratando de filmes – e rendeu mais de 100 milhões de dólares quando ganhou o mercado americano e europeu. Os críticos ianques aliás adoraram todo o conceito por trás do filme. Era algo inovador, genial, que chegava até mesmo a lembrar o clima árido e selvagem dos grandes clássicos do western americano. A identificação foi imediata. Anos depois George Miller explicaria que a idéia de filmar em um mundo pós-apocalipse nasceu mesmo por necessidade e conveniência. Ele só conseguiria rodar um filme com orçamento tão barato se não tivesse que pagar pelas locações. Os custos deveriam ser os menores possíveis. Assim a idéia de filmar no deserto australiano veio bem a calhar. Como não havia nada naquela região esquecida por Deus ele teve a genial idéia de inserir no argumento do filme que aquilo seria justamente o mundo após o fim da civilização. Tudo seria subentendido e o roteiro não deveria perder tempo explicando muito o que tinha acontecido. Junte a isso alguns carrões envenenados, perseguições, tiros e pronto! Estava criado um conceito inovador que seria imitado até a exaustão nos anos seguintes (continua sendo imitado até hoje é bom frisar). É certo que existiram vários filmes sobre o mundo após o Apocalipse mas nenhum tinha sido tão original e inovador como “Mad Max” que praticamente criou sozinho o estilo que seria seguido por décadas! O mais importante aqui porém é o fato de termos um filme australiano sendo copiado pela cinema americano, justamente o que o diferencia dos dias atuais onde encontramos o extremo oposto disso. Bons tempos aqueles.

Mad Max (Mad Max, Austrália, 1979) Direção: George Miller / Roteiro: James McCausland, George Miller / Elenco: Mel Gibson, Joanne Samuel, Hugh Keays-Byrne / Sinopse: Policial conhecido como Mad Max vai a desforra contra uma gangue de bandidos no deserto australiano. Armado e furioso ele pretende impor seu conceito de justiça contra os criminosos que caça pelas estradas inóspitas. Espetacular sucesso comercial do cinema Australiano. Deu origem a duas continuações e centenas de filmes que seguiam a mesma linha de mundo pós-apocalíptico.
   
Pablo Aluísio.

Fortaleza Secreta

O cinema australiano é bem conhecido por sua originalidade. Basta lembrar de Mad Max ou até mesmo Razorback, filme que virou cult na década de 80. Assim era de supor que essa ficção com toques de terror fosse mais inovadora, seguindo a tradição do país dos coalas mas não é bem isso que acontece. A estória se passa numa instalação do governo situada bem no meio do deserto Australiano (um dos mais hostis do mundo). O que parece ter sido uma rebelião logo aciona as forças de segurança que são enviadas ao local. Chegando lá os militares começam a sofrer delírios, perdendo completamente a razão. Muitos deles visualizam monstros inexistentes ou então pensam estar em chamas, quando na verdade tudo não passa de alucinações. Em busca de respostas um dos comandantes acaba encontrando um grupo de cientistas entre o caos instalado nas instalações. Logo a situação é explicada. Trata-se de um centro de pesquisas que utiliza cobaias humanas para testes de energia psíquica. Há uma garota que acaba se tornando extremamente poderosa do ponto de vista mental, a ponto inclusive de causar inúmeras alucinações nos militares que estão dentro do centro.

Não há nada de muito original aqui. De certa forma o diretor, um novato, se rendeu aos velhos clichês do cinema americano. Os soldados, por exemplo, parecem ter saídos de Starship Troppers. São violentos, viscerais e explosivos. Para piorar não sabem ou não entendem o que combatem. O filme como é de baixo orçamento não tem como mostrar efeitos digitais de última geração, para compensar isso o roteiro mostra apenas em detalhes analógicos a guerra psicológica travada. Melhor assim já que um dos monstros que surgem em cena nada mais é do que um tipo de gorila espacial nada convincente. A produção também tenta pegar carona com franquias de sucesso da indústria americana sendo a mais óbvia referência a série de filmes Resident Evil - embora aqui não haja zumbis em cena. De maneira em geral o resultado é bem decepcionante mas não é de todo ruim, principalmente na reviravolta das cenas finais quando conseguimos saber mais sobre Eve (Amber Clayton) - a garota com poderes mentais acima da média. Para quem sente saudade de “Scanners – Sua Mente Pode Destruir” há também cenas de cabeças explodindo como no clássico de David Cronenberg. Em conclusão é isso: ficção B do cinema australiano que tenta copiar o estilo americano. Não consegue se sobressair e nem empolgar, se revelando mesmo uma ficção de rotina, rendida aos clichês do gênero.

Fortaleza Secreta (Crawlspace, Austrália, 2012) Direção: Justin Dix / Roteiro: Justin Dix, Eddie Baroo / Elenco: Eddie Baroo, Justin Batchelor, Nicholas Bell, Amber Clayton / Sinopse: Grupo de militares invade centro de pesquisas do governo onde encontram uma garota aparentemente normal mas que na realidade é fruto de uma experiência de engenharia genética que lhe trouxe grande poder de sua mente dos que estão ao seu redor. Não demora muito para que todos os membros da equipe comecem a sofrer alucinações e delírios em série.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Todo Poderoso

Jim Carrey é o legítimo herdeiro do humor físico de Jerry Lewis. Cheio de caras e bocas é aquele tipo de comediante que não se preocupa em ser sutil ou contido, pelo contrário, o exagero faz parte essencial de seu trabalho. Hoje em dia é o nome mais popular da comédia americana. Esse “Todo Poderoso” passa longe daquelas produções que ele rodou nos últimos anos tentando provar que era um bom ator. Aqui a tônica é de escracho mesmo. O argumento é feito em cima de uma pergunta que provavelmente você já tenha feito a si mesmo em algum momento de sua vida: E se eu tivesse todos os poderes de Deus? Pois é, embora simplório esse argumento acaba divertindo bastante ainda mais quando esses poderes caem nas mãos de um sujeito completamente sem noção. O roteiro chega a brincar com várias passagens bíblicas mas como em essência é uma grande bobagem não chega ao extremo de ofender qualquer religião que seja.

Então Deus resolve premiar um mortal comum com seus poderes divinos. E é justamente isso o que acontece com Bruce Nolan (Jim Carrey), um jornalista de Nova Iorque que anda completamente descontente com os rumos de sua vida. Apesar de estar em um emprego muito interessante numa emissora de sucesso e namorar uma bela e jovem garota, a simpática Grace (Jennifer Aniston), ele se sendo frustrado, irritado, de mal com a vida. Em um dia particularmente complicado de sua vida ele perde a compostura e começa a dirigir impropérios a ninguém menos do que Deus e o desafia. Então eis que o Próprio surge em cena, interpretado pelo sempre ótimo Morgan Freeman (que parece estar se divertindo como nunca). Desafiado e cansado de sua posição de “Todo Poderoso” ele resolve passar todos os seus poderes supremos ao mortal e esquentado Bruce, que em pouco tempo descobre como é difícil a tarefa de literalmente tomar conta de toda a humanidade. Ele aprende facilmente que ser Deus não é nada fácil.  Bobinho o argumento? Claro que sim, até porque estamos na presença de mais uma comédia maluca de Jim Carrey. Mesmo assim vale a espiada por pelo menos uma vez. Desligue o cérebro e se divirta.

Todo Poderoso (Bruce Almighty,  Estados Unidos, 2003) Direção: Tom Shadyac / Roteiro: Tom Shadyac, Steve Oedekerk, Mark O'Keefe / Elenco: Jim Carrey, Jennifer Aniston, Morgan Freeman, Lisa Ann Walter, Steve Carell. / Sinopse: Deus resolve investir um homem comum, mero mortal, com seus poderes divinos. Não tardará para que comece uma grande confusão pelo mundo.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Invasão de Privacidade

Depois do grande sucesso comercial de “Instinto Selvagem” era natural que Sharon Stone, mais cedo ou mais tarde, voltasse a interpretar uma personagem parecida com a loira fatal do filme anterior. Também era mais do que esperado que os estúdios direcionassem seus futuros filmes para a sensualidade à flor da pele, marca registrada de seu maior sucesso nas telas. O fato é que “Instinto Selvagem” mudou o status de Sharon Stone em Hollywood. Ela deixou de ser apenas uma atriz bonita para se tornar uma estrela, com tudo de bom e ruim que isso possa significar. Inteligente e muito extrovertida ela conseguiu se manter na mídia, indo a programas de entrevistas, aparecendo em capas de revistas, alimentando fofocas sobre sua vida pessoal, sempre se promovendo da melhor forma possível. Dentro desse contexto o roteiro sensual e (novamente) pervertido de “Invasão de Privacidade” parecia cair como uma luva em suas pretensões de alcançar mais um grande sucesso de bilheteria em sua carreira. Por um cachê milionário ela finalmente aceitou realizar o filme. Tudo parecia se encaixar bem. O roteirista seria o mesmo Joe Eszterhas  de “Instinto Selvagem” e a trama baseada na novela de Ira Levin parecia ser suficientemente picante para atrair novamente um grande público aos cinemas. O diretor seria o premiado australiano Phillip Noyce que já havia causado bastante polêmica com seu visceral “Terror a Bordo”.

Sharon Stone sabia que para o filme se tornar um sucesso tão grande quanto o anterior ela deveria ir além nas cenas sensuais e de erotismo. De fato o enredo, focado bastante no lado mais voyeur dos homens serviria bem a esse propósito. No filme ela interpreta Carly Norris, uma mulher dona de si e do seu destino. Ela se muda para um novo apartamento em um dos endereços mais exclusivos de Nova Iorque. Na vida emocional acaba se envolvendo com dois homens ao mesmo tempo em um excitante jogo de poder e sedução. Tudo caminha bem até o momento em que começa a desconfiar que de alguma forma alguém anda espionando sua vida, até nos mínimos detalhes. O argumento assim abre um aspecto curioso, levando o espectador a uma posição de pleno voyeurismo, vendo a vida privada da personagem principal, se deliciando com cada momento de sua intimidade. Como se esperava um grande sucesso de bilheteria a Paramount investiu pesado em marketing e promoção. O resultado porém se mostrou muito fraco. A produção que custou 40 milhões de dólares conseguiu apurar apenas pouco mais de 100 milhões. Não foi um fracasso como se chegou a dizer na época mas foi um resultado bem abaixo do esperado. Um alto executivo do estúdio chegou a afirmar que a Paramount esperava por pelo menos uns 300 milhões de caixa. Passou bem longe disso.  Artisticamente falando “Invasão de Privacidade” também deixou a desejar. O filme de um modo geral confunde sensualidade com vulgaridade e termina por não se tornar eroticamente interessante. Além disso a conclusão é sensacionalista e de mal gosto. Assim o chamado filme da consagração de Sharon Stone não passou de uma decepção demonstrando mais uma vez que já não se fazem mais estrelas de cinema como antigamente.

Invasão de Privacidade (Sliver, Estados Unidos, 1993) Direção: Phillip Noyce / Roteiro: Joe Eszterhas baseado na novela de Ira Levin / Elenco: Sharon Stone, Tom Berenger, William Baldwin, Martin Landau, Colleen Camp, Polly Walker, C. C. H. Pounder, Nina Foch. / Sinopse: No filme Sharon Stone interpreta Carly Norris, uma mulher dona de si e seu destino. Ela se muda para um novo apartamento em um dos endereços mais exclusivos de Nova Iorque. Na vida emocional acaba se envolvendo com dois homens ao mesmo tempo em um excitante jogo de poder e sedução. Tudo caminha bem até o momento em que começa a desconfiar que de alguma forma alguém anda espionando sua vida, até nos mínimos detalhes.

Pablo Aluísio.

A Casa da Rússia

Alguns filmes são literalmente atropelados pela história. Um exemplo claro disso aconteceu com esse “A Casa da Rússia” que foi lançado no mesmo ano em que o Muro de Berlim caiu! Como adaptação de uma típica novela da Guerra Fria, com todos aqueles espiões russos retratados como vilões e malvados, o filme entrou em cartaz justamente no momento histórico em que tudo isso estava mudando de forma radical. A Perestroika e a Glasnost sob o comando do premier Mikhail Gorbachev simplesmente colocaram abaixo o antigo regime que era a essência do bloco soviético e do Pacto de Varsóvia. Assim a Rússia sempre vista como o “Império do Mal” deixou de ter essa conotação tão maniqueísta. Como conseqüência o filme também perdeu sua razão de existência, se tornando ultrapassado, anacrônico, fora de moda. E isso tudo aconteceu em questão de semanas. John Le Carré, o autor do livro no qual o filme foi baseado, que praticamente só escrevia sobre espiões da Guerra Fria, de repente se tornou um dinossauro ideológico. “A Casa da Rússia” hoje soa muito curioso pois capta todos aqueles valores que estavam na ordem do dia na época em que o mundo era basicamente dividido em dois grandes blocos, o dos países ocidentais capitalistas e o dos países comunistas orientais liderados pela temida União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Claro que hoje em dia isso tudo ficou para trás e só existe nos livros de história, mas mesmo assim é muito interessante acompanhar a mentalidade que predominava naqueles anos de grande tensão entre as potências mundiais.

A trama gira em torno de uma série de dossiês cujos conteúdos revelam terríveis planos do governo comunista de Moscou em relação aos Estados Unidos. Os textos foram escritos por um renomado cientista soviético de codinome Dante (Klaus Maria Brandauer, amigo pessoal de Sean Connery e incluído no elenco atendendo a seu pedido pessoal). Katya (Michelle Pfeiffer) é uma amiga de Dante que é designado por esse para levar os dossiês até o Ocidente. Sua intenção é revelar os planos do governo russo para assim impedir que uma catástrofe mundial ocorra entre as nações. Katya assim tenta passar os documentos para um famoso editor britânico chamado Barley (Sean Connery). Convencido pelo serviço secreto inglês, Barley então é enviado até Moscou para colocar as mãos nos dossiês ao mesmo tempo em tentará descobrir quem realmente é Dante. De quebra deverá se certificar se os documentos são verdadeiros ou não, uma vez que táticas de contra espionagem eram muito comuns na época. Como se pode perceber “A Casa da Rússia” é um típico filme de espionagem da Guerra Fria. É muito curioso ver Sean Connery nesse tipo de filme, uma vez que ele tentava se afastar de seu personagem mais famoso, justamente o espião 007.  Apesar de seu personagem não ser um espião aos moldes do anterior a trama cheia de reviravoltas, planos e espionagem lembrava bastante os livros de Ian Fleming. Mais interessante ainda é saber que ele fez o filme logo após sua premiação de Melhor Ator por “Os Intocáveis” que de certa forma coroavam esses novos rumos trilhados em sua carreira, ao se distanciar da franquia que o tornou famoso. O filme acabou não dando certo nas bilheterias pelas razões já expostas. Um famoso crítico americano inclusive denominou a produção de “um fantasma da guerra fria”. Assim foi um dos últimos de uma grande série de películas que mostravam o eterno conflito entre União Soviética e Estados Unidos. O mundo definitivamente havia mudado e para melhor e não havia mais espaço para esse tipo de roteiro. Não havia outra conclusão, o filme “A Casa da Rússia” havia sido literalmente atropelado pela história.  

A Casa da Rússia (The Russia House, Estados Unidos, 1989) Direção: Fred Schepisi / Roteiro: Tom Stoppard baseado na obra de John Le Carré /  Elenco: Sean Connery, Michelle Pfeiffer, Roy Scheider, Klus Maria Brandauer, James Fox, John Mahoney, Michael Kitchen, J.T. Walsh, Ken Russell. / Sinopse: Uma série de arquivos contendo um complexo dossiê revela segredos do governo russo durante a Guerra Fria. Para tentar colocar as mãos neles o serviço secreto britânico envia um editor até Moscou onde ele acaba se vendo envolvido numa grande conspiração de espionagem.

Pablo Aluísio.

Splice

Confesso que estava esperando outra coisa desse filme. Pensei que ele era mais centrado na questão cientifica do tema mas me enganei. O filme é fantasioso em seu roteiro, da primeira à última cena. Nem por isso desgostei de Splice, achei um bom thriller de terror, com um roteiro bem resolvido, principalmente quando mostra o desenvolvimento psicológico da criatura. Esse aliás é o grande mérito do filme pois ao contrário de outros de temas semelhantes (como a Experiência) o filme procura dar uma personalidade e emoções à Dren.

Alguns pontos porém merecem críticas. O comportamento anti ético do casal é extremo, principalmente por parte do personagem de Adrien Brody. Não entrarei em detalhes mas seus atos beiram à monstruosidade (mais do que as da criatura). O desfecho me incomodou um pouco, achei extremamente violento, principalmente para quem vinha acompanhando o envolvimento da criatura com os dois personagens principais. Algumas mutações da Dren também me soaram muito, digamos assim, à la "Van Helsing", mas tirando esse tipo de coisa o filme como um todo pode divertir. Não foi dessa vez que trataram o tema da engenharia genética com a devida seriedade. Apesar disso, como diversão, o filme até cumpre a que se propõe, isso se você não for esperar demais.

Splice (Splice, Estados Unidos, 2009) Direção: Direção: Vincenzo Natali / Roteiro: Vincenzo Natali (screenplay), Antoinette Terry Bryant / Elenco: Adrien Brody, Sarah Polley, Delphine Chanéa / Sinopse: Cientistas desenvolvem pesquisas no campo da biogenética para a criação de uma nova forma de vida. O resultado é uma espécie nova com instintos assassinos.

Pablo Aluísio.