quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Carol

Baseado na obra literária homônima da escritora americana Patricia Highsmith de 1952, o thriller-romance-homoerótico, "Carol", Dirigido pelo californiano Todd Haynes, conta a bela história de amor entre Carol Aird (Cate Blanchett) e Therese Belivet (Rooney Mara). Carol, uma rica, charmosa e classuda mulher novaiorquina e mãe de uma garotinha, vive uma vida infeliz atrelada a um casamento de fachada. Certo dia, vai até a uma loja de departamento para comprar uma boneca para a sua filhinha. A bela ninfeta Therese, balconista da seção de brinquedos, ajuda a loura charmosa a escolher o melhor presente para a menina, dando início assim aos primeiros olhares de ternura. Na saída, Carol esquece o par de luvas de couro no balcão, pronto! é a senha para as duas voltarem a se encontrar. Sufocada por um marido rico, ciumento e desinteressante e absolutamente atraída por Therese, a louraça pede o inexorável divórcio, despertando assim a ira de seu marido. Livre das algemas de um casamento fracassado, Carol convida Therese a viajarem juntas pelas estradas americanas, sem destino e sem data para voltar. Therese, que além de vendedora sonha em ser fotógrafa, aceita sem pestanejar o convite. Faz as malas, separa do noivo chato e preconceituoso e mergulha de cabeça num verdadeiro conto de fadas com Carol.

O roteiro, transformado pelas lentes de Haynes numa ode ao mais puro e singelo amor, faz de "Carol" uma celebração poética do amor contido, dos gestos contidos, do medo e da incrível, não paixão. Isso mesmo, "não paixão", pois paixão é para os fracos e Carol e Therese foram direto ao amor. O amor e o desejo são prospectados num cruzamento constante, e quase ininterruptos, de olhares, toques e finalmente o sexo. Aliás, sejamos honestos: o filme é sobre o amor e não sobre sexo. Haynes foi brilhante na criação de uma estética puramente retrô, mostrando uma América dos anos 50, com suas cores pastéis, vermelhos e mostardas, predominando sobre o cinza escuro dos prédios de Nova York. Têm ainda os estilosos carrões arredondados americanos da época, com sua pompa, seu charmes, seus vidros ovais, além de suas arestas e vincos insuspeitados. Nas cenas de viagem das duas amigas pelas estradas, a leveza, a pureza, uma paz incontida e desejos reprimidos, esboçam um verdadeira celebração, não só do amor, mas de uma paz e liberdade que quase faz as duas mulheres levitarem de tanta felicidade. A visão de Haynes sobre a nobreza, a pureza e o brilho iridescente do amor entre Carol e Therese é tão honesta e tão marcante que o termo "amor lésbico" acaba ficando em segundo (ou terceiro) plano. Realmente, um belíssimo e singelo filme.

Carol (Carol, Inglaterra, Estados Unidos, 2015) Direção: Todd Haynes / Roteiro: Phyllis Nagy, Patricia Highsmith / Elenco: Cate Blanchett, Rooney Mara, Sarah Paulson. / Sinopse: O filme narra o romance entre duas mulheres diante das pressões e preconceitos da sociedade. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Cate Blanchett), Melhor Atriz Coadjuvante (Rooney Mara), Melhor Roteiro Adaptado (Phyllis Nagy), Melhor Fotografia (Edward Lachman), Melhor Figurino (Sandy Powell) e Melhor Música original (Carter Burwell).

Telmo Vilela Jr.

O Coração da Justiça

Título no Brasil: O Coração da Justiça
Título Original: The Heart of Justice
Ano de Produção: 1992
País: Estados Unidos
Estúdio: Amblin Television
Direção: Bruno Barreto
Roteiro: Keith Reddin
Elenco: Eric Stoltz, Jennifer Connelly, Dermot Mulroney, Dennis Hopper, William H. Macy, Vincent Price

Sinopse:
Investigando um caso de assassinato, o detetive David Leader (Eric Stoltz) acaba conhecendo a família Burgess, uma gente estranha, mas muito rica, que parece girar em todos os aspectos em torno de sua filha, a perigosa e igualmente sedutora Emma Burgess (Jennifer Connelly).

Comentários:
Filme fraquinho feito para a TV americana, com direção do brasileiro Bruno Barreto. O telefilme foi produzido pela produtora de Steven Spielberg. Tudo muito convencional, sem pretensão de ser algo a mais ou inovador. Se vale por alguma coisa, temos que admitir que a atriz Jennifer Connelly estava linda, bem na fase de sua transição de filmes adolescentes para algo mais sério. Já Eric Stoltz não ajuda muito. Sempre foi um ator por demais genérico, sem maiores atrativos. Desde que ele perdeu o papel do jovem McFly em "De Volta Para o Futuro", nunca mais acertou na carreira. De qualquer forma hoje em dia é um filme bem complicado de achar. Chegou a ser lançado no Brasil em VHS, mas depois desapareceu, inclusive da programação das TVs a cabo. No elenco, é sempre bom salientar, há a presença de dois veteranos importantes na história do cinema: Dennis Hopper e Vincent Price. Provavelmente a dupla seja a melhor razão para ver esse filme hoje em dia.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

O Inferno de São Judas

Irlanda, 1939. O professor William Franklin (Aidan Quinn) chega para ensinar em um reformatório católico. Ele acaba se tornando o único mestre laico da instituição pois todos os demais professores são padres. Os jovens que foram enviados para lá cometeram algum tipo de crime e por essa razão o local tem uma disciplina extremamente rígida e austera. O encarregado de cuidar da ordem é o Padre John (Iain Glen) um sujeito que não admite a menor indisciplina, impondo severas punições, inclusive com uso de violência física e psicológica contra os jovens internados na instituição. Sem dúvida é um filme com temática forte e até mesmo impressionante (acredite, vai marcar você por um bom tempo). Baseado em fatos reais, mostra um reformatório na Irlanda nas vésperas da Segunda Guerra Mundial. Em um ambiente extremamente controlado, onde qualquer sinal de desobediência gera uma reação violenta de volta, surge esse professor com um sentimento mais liberal, mas de acordo com os novos tempos. Franklin (Quinn) realmente acredita em um futuro para aqueles jovens, mesmo que eles tenham cometida alguma falha mais grave em seu precoce passado (até porque muitos não passam de garotos mal entrados na puberdade). O problema é que seu modo de ser logo o coloca em choque contra o Padre John (Glen) um religioso com requintes de sadismo, responsável pela disciplina do reformatório, que segue aproveitando qualquer deslize dos garotos para usar de toda a violência imaginável.

É um filme realmente muito bom, porém (quase) desliza em alguns aspectos mais maniqueistas. Os padres apresentados no filme são carregados com tintas fortes. O Padre John, por exemplo, é um infame e um calhorda, mais se parecendo com um psicopata nazista do que com um religioso que resolveu dedicar sua vida à Igreja. Seu auxiliar direto é ainda pior, mesmo sendo jovem e aparentando ser mais bondoso o Padre Mac (Marc Warren) não consegue esconder que é na verdade um pedófilo que abusa de um dos jovens internos, o violentando de todas as maneiras durante os intervalos das aulas. No meio de tantos canalhas surge então esse professor Franklin, um homem com formação de esquerda que inclusive chegou a lutar na guerra civil espanhola do lado dos camponeses sem terra. Em outros termos, um comunista de carteirinha. Colocar dois personagens antagônicos dessa maneira, representando cada um de certa maneira sua própria ideologia poderia ter sido o grande desastre do filme. Felizmente os roteiristas amenizam esse discurso, nem exaltando os socialistas como seres superiores e nem muito menos demonizando completamente a Igreja Católica. No final quem ganha é o espectador pois o filme, apesar de derrapar levemente em determinados momentos, conseguiu superar o panfletismo que todos esperavam. É uma obra muito tocante e com boa mensagem, que ainda bem fugiu do discurso barato. Como obra puramente cinematográfica porém não há o que criticar. É certamente um excelente filme, extremamente recomendado.

O Inferno de São Judas (Song for a Raggy Boy, Inglaterra, Irlanda, Dinamarca, 2003) Direção: Aisling Walsh / Roteiro: Aisling Walsh, Kevin Byron Murphy / Elenco: Aidan Quinn, Iain Glen, Marc Warren, John Travers / Sinopse: William Franklin (Aidan Quinn) é um professor de literatura e poesia que vai ensinar numa escola católica justamente quando a Europa começa a se preparar para entrar em um dos maiores conflitos armados da história, a II Grande Guerra Mundial. Roteiro baseado em fatos reais. Filme premiado no Copenhagen International Film Festival e no Irish Film and Television Awards na categoria de Melhor Filme.

Pablo Aluísio.

Meu Primeiro Amor

Título no Brasil: Meu Primeiro Amor
Título Original: My Girl
Ano de Produção: 1991
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Howard Zieff
Roteiro: Laurice Elehwany
Elenco: Anna Chlumsky, Macaulay Culkin, Dan Aykroyd
 
Sinopse:
Vada Sultenfuss (Anna Chlumsky) é uma garotinha obcecada pela morte. Sua mãe é falecida, e seu pai trabalha em uma funerária. Ela também é apaixonada por seu professor de Inglês, e se junta a uma aula de poesia durante o verão somente para impressioná-lo. Seu amiguinho Thomas J. Sennett (Macaulay Culkin) parece ser alérgico a tudo! No meio das brincadeiras típicas de crianças de sua idade eles começam a descobrir os segredos do amor e da paixão. Filme indicado aos prêmios da MTV Movie Awards, Chicago Film Critics Association Awards e Young Artist Awards.

Comentários:
Bem bonitinho esse filme sobre a descoberta do amor na infância / adolescência. Confesso que embora o roteiro seja bem escrito a relação dos dois guris nunca me convenceu muito, nem da parte dele e nem da parte dela. No fundo parecem estar mais se divertindo do que qualquer outra coisa. Rever filmes como esse (que foi reprisado à exaustão na Sessão da Tarde) também nos serve como um alerta da passagem do tempo. Nessa época Macaulay Culkin era o xodó de Hollywood, um dos grandes astros mirins da indústria. Infelizmente como acontece com atores mirins, que fazem sucesso bem cedo em suas carreiras, Macaulay Culkin também sucumbiu ao fato de ter se tornado um adulto. Longe do cinema, tentando fazer decolar uma banda de rock meio fracassada, ele não lembra mais em nada o garotinho que enchia as salas de cinema dos anos 90. De fato virou um sujeito esquisitão com problemas relacionados a drogas pesadas. Bom, melhor deixar isso de lado e curtir esse pequeno romance sobre duas crianças que descobrem as maravilhas de se estar apaixonado uma pela outra. O resto é irrelevante. PS: A trilha sonora é um achado, uma das melhores coisas da fita, cheia de canções clássicas dos tempos dourados do rock americano.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Com 007 Viva e Deixe Morrer

Título no Brasil: Com 007 Viva e Deixe Morrer
Título Original: Live and Let Die
Ano de Produção: 1973
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: Eon Productions
Direção: Guy Hamilton
Roteiro: Tom Mankiewicz
Elenco: Roger Moore, Yaphet Kotto, Jane Seymour
  
Sinopse:
O agente secreto inglês James Bond (Roger Moore) vai até os Estados Unidos para descobrir quem teria matado um agente britânico no país. Suas investigações o levam a procurar entender como funciona uma complexa rede de tráfico de drogas no país. Algo de muito estranho acontece pois um traficante conhecido apenas como Mr. Big está se propondo a vender drogas a um preço absurdamente baixo, a preço de custo praticamente, tudo para destruir a concorrência com quadrilhas rivais. O problema é que Bond nem desconfiaria que essa missão o levaria a um submundo ainda mais sinistro, de magia e vodu. Filme baseado no livro escrito por Ian Fleming.

Comentários:
Com a saída definitiva de Sean Connery da série sobre o agente inglês mais famoso da história do cinema os produtores tiveram que correr atrás de um sucessor. Encontraram o que procuravam na figura do ator Roger Moore. Ele quase havia sido escolhido alguns anos antes, mas acabou perdendo a disputa justamente para Connery. Depois de tantos anos a oportunidade voltou a bater em sua porta e dessa vez Moore estava mais preparado para viver o famoso 007 nos cinemas. Curiosamente ele resolveu também imprimir suas próprias características ao personagem nascendo daí um James Bond mais divertido, irônico e até mesmo bonachão. Esse filme acabou sendo uma grata surpresa pois ao contrário dos que viriam (que iriam exagerar no deboche) esse aqui ainda conseguia manter bem os pés no chão, assumindo uma postura bem humorada, é verdade, mas não galhofeira. O grande destaque além da presença de Roger Moore veio da música tema, uma das mais populares de todos os tempos, que foi composta, gravada e lançada pelo ex-Beatle Paul McCartney. O grupo mais famoso da história do rock havia se separado há apenas 3 anos e Paul estava disposto a mostrar serviço, mostrando que tinha talento suficiente para se destacar como artista solo (algo aliás que ele faria de forma maravilhosamente brilhante nos anos que viriam, sozinho ou com seu grupo The Wings). Além do sucesso de público (o single com a música vendeu milhões de cópias ao redor do mundo) a canção ainda conseguiu a proeza de ser indicado ao Oscar de Melhor Música original. Nada mal para um filme de James Bond estrelado por Roger Moore.

Pablo Aluísio.

Os Oito Odiados

Como o próprio material promocional do filme deixa claro temos aqui o oitavo filme de Quentin Tarantino, o segundo no gênero western. O enredo é dos mais simples: O caçador de recompensas John Ruth (Kurt Russell) aluga uma diligência para levar sua prisioneira Daisy (Leigh) até Red Rock. A viagem é dura pois é realizada no meio de uma forte nevasca. No caminho eis que surge o Major Marquis (Jackson). Seu cavalo morreu por causa do clima hostil e ele está com dois corpos de foragidos. Pretende também levá-los a Red Rock para embolsar o prêmio de suas capturas. No começo Ruth reluta em lhe dar uma carona, mas depois de um diálogo dos mais interessantes (marca registrada de Tarantino) resolve lhe ajudar. A viagem segue. Mais a frente outra surpresa. Eles encontram Chris Mannix (Goggins) no meio da estrada coberta de neve. Ele se diz o novo xerife de Red Rock. Abrindo mais uma exceção Ruth resolve lhe ajudar também. Juntos acabam parando em uma estalagem, usualmente usada como posto de paradas em longas viagens. Ela pertence a uma velha conhecida de Ruth, mas para sua surpresa ela não está lá. Também não está seu fiel companheiro. No lugar deles há um grupo de homens. Não demora muito para que Marquis desconfie que algo muito estranho está prestes a acontecer naquele lugar esquecido por Deus.

"Os Oito Odiados" é mais uma tentativa de Tarantino em levar seu estilo único para o velho oeste. A boa notícia é que ele realizou realmente um bom filme. Não diria porém que está isento de críticas. Há uma duração excessiva (quase três horas de duração para um enredo tão simples é certamente um exagero), violência insana e gratuita (nada que irá decepcionar os fãs do diretor), atos de vulgaridade desnecessários (como a cena de sexo oral com o personagem de Samuel L. Jackson) e uma quebra de ritmo no terceiro ato do filme. Mesmo assim diverte e agrada. O que salva esse filme é a mesma característica que salvou em último análise todos os filmes anteriores do diretor, ou seja, uma profusão de ótimos diálogos, o desenvolvimento psicológico de praticamente todos os personagens, além do sempre presente clima surreal de contar suas histórias. Tarantino parece ter uma mente dual, pelo menos em relação aos seus personagens e isso volta a se refletir por aqui. No geral é certamente muito interessante, longe da banalidade do que anda se vendo nas telas. Não é o melhor em termos de Quentin Tarantino, mas certamente é muito melhor do que noventa por cento do que se vê hoje em dia nas telas. Vale a pena assistir, não tenha dúvidas disso.

Os oito odiados (The Hateful Eight, EUA, 2015) Direção: Quentin Tarantino / Roteiro: Quentin Tarantino / Elenco: Kurt Russell, Samuel L. Jackson, Jennifer Jason Leigh, Tim Roth, Walton Goggins, Demián Bichir, Michael Madsen, Bruce Dern / Sinopse: O caçador de recompensas John Ruth (Kurt Russell) acaba levando de carona em sua diligência dois homens que encontrou por acaso no meio da estrada, durante uma forte tempestade. Eles acabam parando numa velha estalagem que mais se parece com um armadilha mortal. Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Trilha Sonora (Ennio Morricone).

Pablo Aluísio. 

A Cruz dos Executores

Título no Brasil: A Cruz dos Executores
Título Original: Gli Esecutori
Ano de Produção: 1976
País: Itália
Estúdio: Aetos Produzioni Cinematografiche
Direção: Maurizio Lucidi, Guglielmo Garroni
Roteiro: Roberto Leoni, Franco Bucceri
Elenco: Roger Moore, Stacy Keach, Ivo Garrani
 
Sinopse:
Um chefão mafioso italiano fica furioso quando é acusado de ser o responsável pelo tráfico de heroína para a região de San Francisco. Em vista da falsa acusação ele resolve enviar seu próprio sobrinho, um advogado americano, para investigar a origem da droga e quem seria o responsável pelo tráfico internacional. O advogado então decide pedir ajuda a um velho amigo nessa tarefa, um piloto de corridas com queda para aventuras.

Comentários:
É interessante perceber que enquanto estrelava a franquia 007 James Bond o ator Roger Moore tenha ido até a Europa para rodar essa produção de ação. O diretor Guglielmo Garroni (assinando a fita com o nome americanizado de William Garroni) conseguiu convencer o ator a atravessar o oceano para estrelar esse filme. Não consegui, sendo bem sincero, ver qualquer coisa que justificasse tanto trabalho por parte de Moore. Sim, tudo bem, a produção pode até ser muito movimentada, com bela fotografia e cenas de ação realmente bem feitas, mas isso, de uma maneira em geral, já era encontrado nos filmes de James Bond. Roger Moore fez o filme entre "007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro" e "007 - O Espião Que Me Amava". Para muitos a razão do ator ter estrelado esse action movie italiano foi uma cláusula contratual que o impedia de participar de outros filmes americanos nesse período de sua carreira. Cláusula essa que Moore conseguiria derrubar nos tribunais alguns anos depois. Em um país estrangeiro ele teria maior liberdade de trabalhar em outras produções. Foi o que ocorreu nesse caso. Em termos puramente cinematográficos porém "A Cruz dos Executores" não acrescenta grande coisa em seu currículo.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Othelo

A peça "Othelo" de William Shakespeare teve ao menos cinco grandes adaptações famosas no cinema americano. Essa versão aqui ficou conhecida por um fato até singelo, mas importante para o público afrodescendente. Pela primeira vez na história um ator realmente negro interpretou o personagem principal, o mouro atormentado pela dúvida da existência ou não de uma suposta traição por parte da mulher que ama, a bela (e branca) lady Desdemona (Irène Jacob). Coube a Laurence Fishburne a honra de defender o papel com toda a extensão de seu talento dramático. Interessante que na versão cinematográfica mais famosa o grande Orson Welles precisou se pintar de negro para convencer nas telas como Othelo, o que resultou em algo até estranho, embora o talento de Welles conseguisse sobreviver realmente a tudo - até mesmo a algo tão equivocado como se pintar para parecer um mouro verdadeiro.

Nesse Othelo dos anos 90 alguns outros aspectos também chamam a atenção, a começar pelo brilhante trabalho do ator (e especialista na obra de Shakespeare) Kenneth Branagh. Ele interpreta o vilão vil e inescrupuloso Iago. Ouso até escrever que essa foi a melhor transposição desse personagem para as telas. No quesito atuação não há como negar que Branagh roubou o filme inteiro para si. O ator conseguiu o tom certo, trazendo com sua atuação uma qualidade incrível para o filme como um todo. Outro ponto que merece destaque é o lado sensual das cenas de amor entre Othelo e Desdemona! Pelo visto o diretor tentou mesmo realçar o calor dessa paixão de todas as maneiras possíveis. Essa sensualidade à flor da pele inclusive serviu de munição para algumas críticas que desaprovaram o filme na época de seu lançamento. Bobagem, os tempos eram outros e penso que o próprio William Shakespeare teria aprovado a maior ênfase no lado sensual desse romance de destino trágico.

Othelo (Othello, Estados Unidos, 1995) Direção: Oliver Parker / Roteiro: Oliver Parker, baseado na obra de William Shakespeare / Elenco: Laurence Fishburne, Kenneth Branagh, Irène Jacob, Michael Sheen / Sinopse: Mesmo contra a vontade de sua família a jovem Desdemona (Irène Jacob) resolve se casar com mouro Othelo (Fishburne). Com o tempo, apesar do calor da paixão, ele começa a desconfiar que estaria sendo traído pela sua esposa. Filme indicado ao Screen Actors Guild Awards ma categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Kenneth Branagh).

Pablo Aluísio.

A Torre de Londres

Título no Brasil: A Torre de Londres
Título Original: Tower of London
Ano de Produção: 1962
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: Roger Corman
Roteiro: Leo Gordon
Elenco: Vincent Price, Michael Pate, Joan Freeman
  
Sinopse:
Com o rei Edward IV (Justice Watson) em seu leito de morte, seus dois irmãos são chamados às pressas para o castelo real. Edward quer uma transição pacífica no trono e para isso resolve deixar a sua coroa para seu irmão mais jovem, Clarence (Charles Macaulay), pois ele é considerado um homem sábio que poderá levar em frente a Inglaterra rumo ao seu destino. A escolha deixa estarrecido seu outro irmão, o invejoso e vil Richard de Gloucester (Vincent Price), que quase que imediatamente decide apunhalar Clarence pelas costas para ser coroado o futuro rei. Ao assumir a coroa como Richard III, ele começa a dar sinais de insanidade, vendo velhos fantasmas de pessoas assassinadas por ele, inclusive de seu irmão Clarence. 

Comentários:
Em 1939 o ator Vincent Price atuou na primeira versão de "A Torre de Londres". Ele ainda estava no começo da carreira (esse foi seu quarto filme) e ele interpretava o jovem Duque de Clarence. Nessa primeira versão o insano Richard era interpretado por Basil Rathbone. Outro grande ídolo do terror também estava no elenco, Boris Karloff. Os anos se passaram e Price virou um ídolo do gênero. Nesse remake de 1962 ele foi escalado pelo diretor Roger Corman para atuar como o insano Richard III. A nova versão é bem curiosa, embora você tenha que ter em mente que não encontrará nada aqui remotamente parecido com as outras versões da obra de William Shakespeare que foram realizadas ao longo de todos esses anos. Corman não está interessado em ser fiel ao histórico dramaturgo e nem sua famosa peça. Ao contrário disso tenta aproveitar todos os elementos fantasmagóricos dessa estória para criar um filme bem aterrorizante. A sua opção por filmar em preto e branco foi muito acertada. Filmes de época, com baixo orçamento, sempre acabavam ficando melhor na fotografia preto e branco. Se Corman tivesse escolhido o sistema de cores tudo soaria mais falso. Price adorou sua caracterização do insano Rei Richard III, um homem não apenas fisicamente defeituoso, mas moralmente também. Mentiroso, cruel e assassino ele não mede qualquer esforço para se coroar rei da Inglaterra. Para isso vale tudo, até mesmo matar seu próprio irmão Clarence. Extremamente falso em suas atitudes o rei não encontra qualquer limite ou barreira ética para impor sua vontade, satisfazendo sua ganância pessoal por poder e riquezas. Assim gostei bastante desse remake de "Tower of London". Não é tão criativo e original como o primeiro filme, mas tem seus méritos cinematográficos. Vale a pena assistir.

Pablo Aluísio.

domingo, 10 de janeiro de 2016

Os Bad Boys

Michael Bay nunca pensou em realizar filmes com muito conteúdo. Na verdade de todos os cineastas em atividade hoje em dia ele é o mais sincero em dizer que realiza filmes para pura diversão, chicletes de consumo rápido e fácil. Por isso não adianta procurar pelo em casca de ovo, você jamais encontrará um grande roteiro em obras assinadas por Bay. Nem atuações Shakesperianas, nem dramas profundos, nem... nada! Os filmes de Bay são assim mesmo, produções vazias para o grande público - em especial jovens - que não possuem muita coisa na cabeça. Por essa razão também os filmes de Bay via de regra são extremamente bem sucedidos nas bilheterias. Agora verdade seja dita, para quem dirigiu grandes pastéis de vento ao longo de toda a carreira esse "Os Bad Boys" é pelo menos bem divertido.

Claro que grande parte do charme e da qualidade da fita vem dos atores protagonistas. Will Smith é aquele negócio. Ele veio da TV onde interpretava um jovem negro que ia morar com os tios ricaços de Beverly Hills na série popular "Um Maluco do Pedaço". Como fez muito sucesso logo tentou a carreira no cinema (e novamente de deu bem). Smith nesse papel não foge muito do lugar comum, do tipo habitual que vinha apresentando em seus trabalhos anteriores. Na verdade em muitos aspectos ele funciona apenas como escada para Lawrence, esse o verdadeiro comediante da fita. Some-se a isso (em um roteiro tendente para o lado do humor mais acentuado) um monte de carros voando, inúmeras explosões gratuitas (marca registrada do diretor) e você vai entender direitinho a fórmula de Michael Bay para fazer sucesso. Seus filmes são como aquele fast food da esquina: não alimentam, não trazem nada de substancial, mas pelo menos servem para divertir a garotada. Só não vá engordar muito os meninos só consumindo esse tipo de porcaria.

Os Bad Boys (EUA, 1995) Direção: Michael Bay / Roteiro: Michael Barrie, George Gallo / Elenco: Will Smith, Martin Lawrence, Lisa Boyle / Sinopse: Dois tiras, colegas de trabalho, são designados para proteger uma testemunha importante em um perigoso caso envolvendo traficantes de heroína. Logo percebem que a missão não será nada fácil e nem tampouco tranquila.

Pablo Aluísio.

Arnold Schwarzenegger

Recentemente assisti a uma palestra do ator Arnold Schwarzenegger e achei tudo muito interessante. Bom, quem foi jovem na década de 80 sabe muito bem o impacto que o sobrenome Schwarzenegger causava nas bilheterias. Certamente seu nome era praticamente impronunciável, porém era ao mesmo tempo um chamariz de público como pouco se via naqueles tempos. Talvez apenas Steven Spielberg (o Midas de Hollywood em seu auge criativo e comercial) e Stallone rivalizavam com ele em termos de popularidade.

Pois bem, nessa palestra o ator austríaco relembra que seu sobrenome fora dos padrões, o fato de ser um Mister Universe e o seu péssimo sotaque foram logo apontados como fatores que o fariam fracassar em Hollywood. Todos diziam que ele jamais seria um astro do cinema americano, que era esquisito demais, sem paralelo com qualquer outra história de sucesso na capital do entretenimento mundial. O segredo de seu sucesso, segundo o próprio Arnold, foi ignorar todos eles. Não dar ouvidos a quem o puxava para baixo, quem profetizava seu insucesso. Ao invés disso Schwarzenegger continuou batalhando, brigando por oportunidades e por bons papéis em filmes de sucesso.

Olhando para trás o que definiu Schwarzenegger como grande campeão de bilheteria foi o filme "Conan, O Bárbaro" de 1982. O personagem dos quadrinhos já era conhecido e todos queriam ter a oportunidade de ver nas telas uma super produção com suas aventuras. Para aquele papel o halterofilista se mostrava ideal. Quem o escolheu a dedo foi o famoso produtor Dino de Laurentiis, um sujeito que sabia encontrar o caminho do sucesso cinematográfico. Dirigido por John Milius, o mesmo cineasta de obras como "O Vento e o Leão" e "Amargo Reencontro" o filme mostrava a simbiose perfeita entre a aventura mitológica e o drama trágico do personagem criado por Robert E. Howard. Até hoje a fita é considerada a melhor transposição de Conan para as telas.

Depois veio o estouro de "O Exterminador do Futuro" de James Cameron. Era uma ficção B que tinha um grande fator a seu favor: um roteiro com uma trama muito bem bolada e até mesmo inteligente. "Terminator" selou o destino de Arnold Schwarzenegger para sempre. Como Stallone despontava também como ator de sucesso em filmes de ação ao estilo Rambo, a indústria correu para explorar o novo filão, nascendo daí o cinema brucutu cheio de violência e ação dos anos 80. Nada foi tão marcante naquela época como esse estilo de fazer fitas com muita adrenalina e um toque de absurdo que hoje em dia soa até mesmo charmoso aos que viveram aqueles tempos. Provavelmente se Arnold tivesse ouvido todos aqueles que diziam que ele não conseguiria ele não teria feito parte desse momento. Teria voltado para a Áustria para se concentrar ao mundo do fisiculturismo. Fica então sua lição de vida para todos nós.

Pablo Aluísio.

sábado, 9 de janeiro de 2016

Karate Kid 3 - O Desafio Final

Título no Brasil: Karate Kid 3 - O Desafio Final
Título Original: The Karate Kid, Part III
Ano de Produção: 1989
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: John G. Avildsen
Roteiro: Robert Mark Kamen
Elenco: Ralph Macchio, Pat Morita, Robyn Lively
  
Sinopse:
Ignorando os conselhos de seu instrutor, professor e mestre Sr. Miyagi (Pat Morita) o agora já adulto Daniel LaRusso (Ralph Macchio) decide treinar de forma exaustiva para vencer um campeonato de Karatê de sua cidade. O romance com a linda japonesa que havia conhecido no filme anterior chega ao final e Daniel assim resolve se empenhar para a vitória. Só que ele terá que passar por velhos rivais do passado que não querem deixar passar barato a derrota que sofreram no campeonato anterior. Filme dirigido por John G. Avildsen, o mesmo cineasta que dirigiu os dois primeiros filmes da série.

Comentários:
Ralph Macchio já estava com 27 anos de idade quando realizou essa terceira parte da franquia "Karate Kid". Obviamente já estava ficando velho demais para o papel de Daniel LaRusso. A série na verdade deveria ter se encerrado no segundo filme que ainda era bom, embora mostrasse já um certo sinal de repetição. Aqui os roteiristas resolveram tornar o personagem principal um pouco mais cínico e adulto. A grande diferença também vem pelo fato de Daniel começar a ignorar os conselhos de seu mestre, o Sr. Miyagi (Pat Morita). Segundo o guru as artes marciais deveriam ser usadas como uma filosofia de vida e não apenas como trampolim para vencer competições de luta. Daniel esquece tudo o que aprendeu e parte justamente para conquistar o tal almejado prêmio. O instrutor que havia sido derrotado por Daniel no filme anterior está arruinado financeiramente por causa da desmoralização que sofreu e agora conta com um amigo dos tempos da Guerra do Vietnã - uma amizade que sugere até mesmo toques de homossexualismo, mas tudo de forma bem escondida e amena. Enfim, um filme apenas mediano, repetindo velhos clichês da própria franquia. Rendeu bem menos do que o esperado e por isso a série em pouco tempo seria cancelada pelo estúdio. Também passou pela vergonha de ter sido "agraciado" com várias indicações ao Framboesa de Ouro (que coloca em destaque os piores filmes do ano). Hoje só funciona como diversão nostálgica dos anos 80 e nada mais.

Pablo Aluísio.

Religulous

Título Original: Religulous
Título no Brasil: Sem Título Definido
Ano de Produção: 2008
País: Estados Unidos
Estúdio: Lions Gate Entertainment
Direção: Larry Charles
Roteiro: Larry Charles
Elenco: Bill Maher, Tal Bachman, Jonathan Boulden
  
Sinopse:
Documentário onde o comediante e ator Bill Maher, um ateu convicto, procura demonstrar o lado ridículo das religiões. Ao lado de uma pequena equipe de filmagem ele visita templos e igrejas, mostrando o lado histérico e monetarista dos evangélicos, a estranha história que deu origem à Igreja dos Santos dos Últimos Dias (Mórmons), as loucuras da Cientologia e as contradições existentes entre a doutrina e a prática do Catolicismo Romano, tudo baseando-se em entrevistas de membros e ex-membros de todas essas vertentes religiosas. Documentário premiado pela Sitges - Catalonian International Film Festival na categoria de Melhor Filme de Não Ficção.

Comentários:
Se você estiver interessado em entender como funciona o modo de pensar de um ateu, uma boa dica é esse documentário americano dirigido pelo humorista de stand up Bill Maher. Católico de formação, ele resolveu deixar de acreditar em Deus após entender que tudo não passaria de uma invenção da mente humana. Para provar seu ponto de vista Bill e sua equipe resolveram percorrer os bastidores das mais populares religiões dos Estados Unidos. A proposta de Maher não é colocar um ponto final nesse polêmico assunto, mas sim mostrar o lado mais ridículo das igrejas americanas. Assim ele procura entrevistar líderes religiosos, seguidores e críticos das chamadas religiões institucionalizadas. Não deixa de ser interessante. Ao lado de um bem sucedido pastor ele se surpreende ao perceber que o tal sujeito defende a riqueza material como símbolo de bênção divina. Chega ao ponto de defender um Jesus histórico rico, cheio de posses e se vestindo com as melhores roupas de sua época. Depois conversa com ex-membros da Igreja Mórmon e expõe a estranha doutrina da religião que afirma que um americano chamado Joseph Smith teria sido visitado pelo próprio Jesus que o teria revelado ter estado na América antes da chegada do colonizador europeu, para pregar para judeus que viviam nas terras do novo continente. 

Depois fica pasmo ao saber que os Mórmons batizam pessoas mortas (como Hitler e Stálin) e que acreditam que Deus seria uma pessoa de 1,89 de altura vivendo em uma galáxia distante. Os cientologistas também não escapam da acidez de Maher, principalmente pelo fato de acreditarem que todos os seres humanos carregam ETs em seus próprios corpos e que são fruto de um Império Intergaláctico que já dura 80 trilhões de anos! O mais curioso é que o ex católico Bill Maher em seu documentário acabou encontrando as pessoas mais sensatas justamente em sua antiga religião. Ele bate um excelente papo com o astrônomo do Vaticano que tenta lhe explicar que religião e ciência podem sim andar juntas. Depois encontra um bem humorado padre na praça de São Pedro (um dos momentos mais divertidos do documentário). Em suma, embora teologicamente bem vazio (já que seu realizador não tem muito conhecimento dos assuntos que trata em seu filme), o documentário não deixa de ser divertido. Só não deixe de perceber que o texto é bem maniqueísta e em certos casos mal intencionado, sempre tentando retratar as pessoas religiosas como incultas ou estúpidas (a entrevista com o senador americano é bem óbvia nesse aspecto). Mesmo assim, tirando esses deslizes, até que não deixa de ser um programa interessante.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Globo de Ouro 2016

Ontem aconteceu a festa de premiação do Globo de Ouro. Muitos gostam de dizer que o Golden Globe é a verdadeira prévia do Oscar ou seu termômetro. Eu prefiro encarar de outro modo, como uma premiação própria, singular, com identidade bem particular. Nesse ano o destaque (pelo menos para nós, brasileiros) foi para a indicação de Wagner Moura por "Narcos". E como sempre acontece houve muita torcida para que ele vencesse, o que só não aconteceu porque no meio do caminho havia Jon Hamm e a maravilhosa série "Mad Men". Quem acompanha o blog sabe que gosto muito dessa série, para mim uma das marcantes dos últimos tempos, então na minha forma de ver não houve nenhuma injustiça. Como a série chegou ao final recentemente era mesmo de se esperar que os membros que votaram resolvessem premiar o conjunto da obra. Foi merecido. "Narcos" e a atuação de Wagner Moura realmente não conseguem chegar perto da qualidade de "Mad Men" que acompanho há anos sem me decepcionar. Cabe a Wagner Moura agora agradecer pela indicação e partir para frente, sem reclamar.

Outro fato que chamou muito a atenção na premiação - a ponto de virar piada na internet - foi a reação do ator Leonardo DiCaprio quando Lady Gaga (por "American horror story: Hotel") foi anunciada como vencedora na categoria de Melhor atriz em minissérie ou filme para a TV. Leo parecia se divertir muito e acabou levando um "chega pra lá" nada sutil da cantora. Nem se fosse proposital, escrita por roteiristas da cerimônia, seria tão divertida a cena. Foi o momento mais comentado da noite. Por falar em DiCaprio ele também levou seu prêmio pelo elogiado "O Regresso", um dos melhores filmes de sua carreira que em breve irei comentar por aqui. Essa produção também levou o prêmio mais importante da noite, o da categoria Melhor Filme Drama. E como se isso não fosse o bastante ainda levantou o prêmio de Melhor Direção. Nada mal. Com isso se torna o favorito ao Oscar. Os outros atores premiados da noite foram Sylvester Stallone (por "Creed", quem diria) e Matt Damon (por "Perdido em Marte", um prêmio um pouco exagerado). No campo da animação "Divertida Mente" foi premiada. Muitos apostavam no filme do Snoopy.

Entre as atrizes foram premiadas Jennifer Lawrence (por "Joy", um filme apenas mediano), Brie Larson (por "O quarto de Jack", desbancando a favorita Cate Blanchett por "Carol") e Taraji P. Henson (pela série "Empire"). Na categoria comédia musical a simpática Rachel Bloom foi premiada por sua atuação em "Crazy ex-girlfriend". Kate Winslet também não foi esquecida e acabou sendo premiada pelo fraco "Steve Jobs". Um prêmio de consolação por um filme que foi muito esperado, mas que passou longe de cumprir as expectativas criadas. Já para os nostálgicos o grande momento da noite veio com o reconhecimento e o prêmio de Ennio Morricone pela trilha sonora do faroeste"Os 8 odiados". Merecido? Mais do que isso. Já o prêmio de Melhor Canção achei bem fraco ( a chatinha "Writing on the wall" de "007 contra Spectre" se tornou vencedora). Por fim, as séries. A estranha "Mr. Robot" caiu nas graças dos membros do Globo de Ouro e levou dois prêmios importantes: Melhor Ator Coadjuvante para Christian Slater e Melhor Série Drama, vencendo fortes concorrentes como "Game of Thrones" e "Narcos". Por essa pouca gente realmente esperava. Bom, se você estava precisando de um empurrão para conhecer a nova série eis ai sua deixa. Outra surpresa e tanto foi a premiação de "Mozart in the jungle", passando por cima da grande favorita "Orange is the New Black" (que tem um imenso fã clube no Brasil) na categoria de Melhor série de comédia ou musical. Pois é, para que tudo não ficasse muito chato não faltaram zebras nessa noite. Foi a cereja do bolo de uma noite divertida e agradável.

Mad Men - Jon Hamm foi novamente premiado no Globo de Ouro por sua atuação na consagrada série "Mad Men". Obviamente que houve quem não gostasse, principalmente para os brasileiros que torceram por Wagner Moura em Narcos. Bobagem. O prêmio de Hamm foi mais do que merecido. Grande parte do sucesso de "Mad Men" aliás se deve a ele, pois suas atuações são realmente na medida certa. Analise Don Draper. Ele passa longe de ser um personagem fácil de interpretar. Na superfície ele passa a imagem de um profissional bem sucedido, quase um gênio da publicidade. Por baixo de toda essa estampa se encontra um homem com muitos problemas emocionais e um passado conturbado. Draper nem é mesmo quem diz ser. Na verdade ele teve uma infância miserável, toda passada em um bordel imundo. Como se isso não fosse o bastante sua própria mãe era uma prostituta. Quem não levaria vários traumas de uma infância dessas?

O tempo passou e Draper deu a volta por cima, ainda mais depois que resolveu assumir a identidade de um colega morto em combate. Renovado, com outro nome, deixando tudo para trás ele acabou na verdade se reinventando. E é justamente dessa dualidade que vem o grande mérito do trabalho de Jon Hamm. Ele se saiu igualmente bem dando vida ao macho alfa bem sucedido que levava todas as mulheres para a cama, como também ao introspectivo, traumatizado e conturbado homem que tinha uma bagagem emocional muito pesada para levar nas costas. Com tudo isso toda crítica feita a Hamm se mostra vazia e sem sentido. Além do mais vamos convir que Wagner Moura não estava realmente bem como Pablo Escobar, principalmente por ostentar um péssimo sotaque, nada convincente. Juntando as falhas do ator brasileiro com o fato da série "Mad Men" ter encerrado suas temporadas (o que justificou um prêmio ao estilo "pelo conjunto da obra") você facilmente entenderá porque nenhum outro ator merecia levar o Globo de Ouro de 2016. Não apenas está de bom tamanho, como também, está mais do que justa sua premiação.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Pegando Fogo

Bom, se você considera cozinhar bem uma verdadeira arte, então vou deixar a dica desse interessante filme chamado "Pegando Fogo" (Lamentavelmente mais um título nacional completamente sem noção). O enredo gira em torno de Adam Jones (Bradley Cooper). No passado ele foi um consagrado chef de cuisine em Paris. Seus pratos eram respeitados e ele era admirado como profissional inovador e criativo. Em seu auge chegou a ser qualificado como um dos melhores da cidade, o que definitivamente não era pouca coisa, uma vez que Paris sempre foi o centro da gastronomia mundial. Infelizmente os anos de glória ficaram para trás após ele mesmo colocar tudo a perder por causa de mulheres, drogas e bebidas. Depois da queda resolveu então voltar para os Estados Unidos. Trabalhando em um boteco de quinta categoria em New Orleans ele decide se redimir de uma vez por todas, novamente jogando tudo para o alto, com a intenção de voltar para a Europa, para recuperar seu prestígio e fama do passado nos melhores restaurantes do continente. Ao invés de retornar a Paris, Jones resolve então ir dessa vez para Londres, onde um antigo colega de profissão agora trabalha como maitre. Será que haverá uma segunda oportunidade para ele no concorrido mercado de finas iguarias da capital inglesa?

Quando esse filme começou me recordei imediatamente de um filme mais antigo com Catherine Zeta-Jones e Aaron Eckhart chamado "Sem Reservas" (No Reservations, EUA, 2007). A temática é bem parecida e mostra o lado mais concorrido desse mundo da alta culinária mundial. Para trazer mais apelo dramático a esse roteiro os escritores criaram uma personalidade muito atormentada para o personagem central interpretado por Bradley Cooper. Ele aliás está muito bem no papel desse temperamental chefe que vira e mexe protagoniza acessos de fúria e raiva em sua cozinha. Basta um pequeno erro no sabor, um excesso de algum condimento para que tudo voe pelos ares. Como se isso não fosse o bastante há ainda explosões de raiva contra seus subordinados o que transforma seu ambiente de trabalho em um verdadeiro caos de tensão incontida. Ele deseja a cobiçada terceira estrela da famosa publicação Michelin, um guia com os melhores restaurantes e chefes de cozinha de todo o mundo e está decidido a ganhar sua redenção na profissão. Ser um profissional três estrelas no guia iria lhe transformar em um dos cozinheiros mais respeitados de todo o planeta. Para isso Jones realmente não está disposto a ser nada menos do que perfeito em suas criações, o que não será nada fácil uma vez que ele tem uma vida conturbada, com um passado complicado de apagar. No saldo final o filme me agradou, não apenas pela boa dramaticidade como também pelas cenas de preparo dos pratos finos. Cada refeição é tratada praticamente como uma obra de arte. Para um gourmet não poderia haver nada melhor do que isso. Não deixe de conferir e Bon Appétit!

Pegando Fogo (Burnt, EUA, 2015) Direção: John Wells / Roteiro: Steven Knight, Michael Kalesniko / Elenco: Bradley Cooper, Emma Thompson, Uma Thurman, Sienna Miller, Matthew Rhys, Daniel Brühl / Sinopse: Após arruinar sua carreira em Paris, um cozinheiro americano chamado Adam Jones (Bradley Cooper) resolve voltar para a Europa, mais especificamente Londres, para um retorno triunfal ao mercado mais concorrido da alta culinária em todo o mundo. Ele deseja ser reconhecido por seu talento, ganhando a tão cobiçada terceira estrela do Guia Michelin de restaurantes. O caminho até a consagração porém não será nada fácil.

Pablo Aluísio.