Ontem aconteceu a festa de premiação do Globo de Ouro. Muitos gostam de dizer que o Golden Globe é a verdadeira prévia do Oscar ou seu termômetro. Eu prefiro encarar de outro modo, como uma premiação própria, singular, com identidade bem particular. Nesse ano o destaque (pelo menos para nós, brasileiros) foi para a indicação de Wagner Moura por "Narcos". E como sempre acontece houve muita torcida para que ele vencesse, o que só não aconteceu porque no meio do caminho havia Jon Hamm e a maravilhosa série "Mad Men". Quem acompanha o blog sabe que gosto muito dessa série, para mim uma das marcantes dos últimos tempos, então na minha forma de ver não houve nenhuma injustiça. Como a série chegou ao final recentemente era mesmo de se esperar que os membros que votaram resolvessem premiar o conjunto da obra. Foi merecido. "Narcos" e a atuação de Wagner Moura realmente não conseguem chegar perto da qualidade de "Mad Men" que acompanho há anos sem me decepcionar. Cabe a Wagner Moura agora agradecer pela indicação e partir para frente, sem reclamar.
Outro fato que chamou muito a atenção na premiação - a ponto de virar piada na internet - foi a reação do ator Leonardo DiCaprio quando Lady Gaga (por "American horror story: Hotel") foi anunciada como vencedora na categoria de Melhor atriz em minissérie ou filme para a TV. Leo parecia se divertir muito e acabou levando um "chega pra lá" nada sutil da cantora. Nem se fosse proposital, escrita por roteiristas da cerimônia, seria tão divertida a cena. Foi o momento mais comentado da noite. Por falar em DiCaprio ele também levou seu prêmio pelo elogiado "O Regresso", um dos melhores filmes de sua carreira que em breve irei comentar por aqui. Essa produção também levou o prêmio mais importante da noite, o da categoria Melhor Filme Drama. E como se isso não fosse o bastante ainda levantou o prêmio de Melhor Direção. Nada mal. Com isso se torna o favorito ao Oscar. Os outros atores premiados da noite foram Sylvester Stallone (por "Creed", quem diria) e Matt Damon (por "Perdido em Marte", um prêmio um pouco exagerado). No campo da animação "Divertida Mente" foi premiada. Muitos apostavam no filme do Snoopy.
Entre as atrizes foram premiadas Jennifer Lawrence (por "Joy", um filme apenas mediano), Brie Larson (por "O quarto de Jack", desbancando a favorita Cate Blanchett por "Carol") e Taraji P. Henson (pela série "Empire"). Na categoria comédia musical a simpática Rachel Bloom foi premiada por sua atuação em "Crazy ex-girlfriend". Kate Winslet também não foi esquecida e acabou sendo premiada pelo fraco "Steve Jobs". Um prêmio de consolação por um filme que foi muito esperado, mas que passou longe de cumprir as expectativas criadas. Já para os nostálgicos o grande momento da noite veio com o reconhecimento e o prêmio de Ennio Morricone pela trilha sonora do faroeste"Os 8 odiados". Merecido? Mais do que isso. Já o prêmio de Melhor Canção achei bem fraco ( a chatinha "Writing on the wall" de "007 contra Spectre" se tornou vencedora). Por fim, as séries. A estranha "Mr. Robot" caiu nas graças dos membros do Globo de Ouro e levou dois prêmios importantes: Melhor Ator Coadjuvante para Christian Slater e Melhor Série Drama, vencendo fortes concorrentes como "Game of Thrones" e "Narcos". Por essa pouca gente realmente esperava. Bom, se você estava precisando de um empurrão para conhecer a nova série eis ai sua deixa. Outra surpresa e tanto foi a premiação de "Mozart in the jungle", passando por cima da grande favorita "Orange is the New Black" (que tem um imenso fã clube no Brasil) na categoria de Melhor série de comédia ou musical. Pois é, para que tudo não ficasse muito chato não faltaram zebras nessa noite. Foi a cereja do bolo de uma noite divertida e agradável.
Mad Men - Jon Hamm
foi novamente premiado no Globo de Ouro por sua atuação na
consagrada série "Mad Men". Obviamente que houve quem não gostasse,
principalmente para os brasileiros que torceram por Wagner Moura em
Narcos. Bobagem. O prêmio de Hamm foi mais do que merecido. Grande parte
do sucesso de "Mad Men" aliás se deve a ele, pois suas atuações são
realmente na medida certa. Analise Don Draper. Ele passa longe de ser um
personagem fácil de interpretar. Na superfície ele passa a imagem de um
profissional bem sucedido, quase um gênio da publicidade. Por baixo de
toda essa estampa se encontra um homem com muitos problemas emocionais e
um passado conturbado. Draper nem é mesmo quem diz ser. Na verdade ele
teve uma infância miserável, toda passada em um bordel imundo. Como se
isso não fosse o bastante sua própria mãe era uma prostituta. Quem não
levaria vários traumas de uma infância dessas?
O tempo
passou e Draper deu a volta por cima, ainda mais depois que resolveu
assumir a identidade de um colega morto em combate. Renovado, com outro
nome, deixando tudo para trás ele acabou na verdade se reinventando. E é
justamente dessa dualidade que vem o grande mérito do trabalho de Jon
Hamm. Ele se saiu igualmente bem dando vida ao macho alfa bem sucedido
que levava todas as mulheres para a cama, como também ao introspectivo,
traumatizado e conturbado homem que tinha uma bagagem emocional muito
pesada para levar nas costas. Com tudo isso toda crítica feita a Hamm se
mostra vazia e sem sentido. Além do mais vamos convir que Wagner Moura
não estava realmente bem como Pablo Escobar, principalmente por ostentar
um péssimo sotaque, nada convincente. Juntando as falhas do ator
brasileiro com o fato da série "Mad Men" ter encerrado suas temporadas
(o que justificou um prêmio ao estilo "pelo conjunto da obra") você
facilmente entenderá porque nenhum outro ator merecia levar o Globo de
Ouro de 2016. Não apenas está de bom tamanho, como também, está mais do
que justa sua premiação.
Pablo Aluísio.