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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Carol

Ao ir até uma loja de departamentos para comprar uma boneca para sua filha, a bela e elegante Carol (Cate Blanchett) acaba se encantando com a vendedora de brinquedos Therese Belivet (Rooney Mara). Quando vai embora deixa suas luvas sob o balcão. No dia seguinte Therese as envia para Carol que lhe retorna agradecendo por telefone. Aos poucos o que parecia ser apenas um flerte casual ganha contornos mais sérios quando Carol convida Therese para almoçar fora. Elas estão inegavelmente atraídas uma pela outra, mas há vários problemas nesse relacionamento, entre eles o fato de Carol ser casada e estar enfrentando uma série crise em seu casamento, o que ocasionará um divórcio complicado e doloroso com seu marido. Em disputa, a guarda de pequenina filha de Carol. Oscar Wilde costumava dizer que o amor homossexual era o amor que não ousava dizer seu nome. Pensei exatamente nessa frase durante o transcorrer de todo o filme. As duas protagonistas parecem saber desde o começo que há algo maior e mais profundo entre elas, mas nenhuma parece disposta a cruzar a linha que as mantém separadas. Em determinado momento, ao telefone, Carol (Blanchett) implora para que Belivet (Mara) diga o que está pensando ou sentindo, mas ela recua. Realmente é um tipo de amor que não pode muitas vezes se revelar, dizer o seu nome. 

"Carol" é um filme de momentos. Se você prestar bem a atenção perceberá que o roteiro nem está muito preocupado em contar uma história linear, mas sim em captar o sentimento envolvido no encontro dessas duas pessoas apaixonadas que, por acaso, são duas mulheres. Esse aspecto aliás é certamente um dos grandes méritos desse texto. Ele não se torna chato ou cansativo justamente por não levantar bandeiras, por não se transformar em algo planfletário da causa gay ou qualquer outra  coisa parecida. Na realidade o mais importante é mostrar como elas se conhecem, como surge desde o começo um lapso de atração, logo no primeiro olhar, e como aos poucos vão se aproximando. Tudo é muito sutil, elegante e com classe. Por isso não existe espaço para o vulgar e nem para o grotesco. Há detalhes que fazem toda a diferença. Só para citar um, aquele momento em que as mãos finalmente se encontram sobre a mesa de um restaurante. Não é necessário palavras, apenas olhares. Toda a sutileza do roteiro se revela ali. Por essa razão também nem é tão significativo que estejamos na presença de um casal de lésbicas, afinal de contas as mesmas cenas que vamos acompanhando poderiam também se referir a um casal hétero, sem problemas. Sentimentos são sentimentos. Como eu disse, o grande valor de "Carol" vem de sua profundidade emocional, de seu jogo de pequenos momentos que vão formando algo maior. Nesse aspecto realmente não há como negar que se trata de um belo filme, feito de, como frisei, pequenos detalhes que vão revelando o despertar da paixão entre as protagonistas. Deixe-se levar e entenda que o amor não tem barreiras, limites ou fronteiras.

Carol (Carol, EUA, 2015) Direção: Todd Haynes / Roteiro: Phyllis Nagy, baseado no livro escrito por Patricia Highsmith / Elenco: Cate Blanchett, Rooney Mara, Kyle Chandler, Sarah Paulson / Sinopse: O filme mostra o relacionamento homossexual entre uma mulher casada que enfrenta problemas em seu casamento e divórcio e uma tímida e bela vendedora de uma loja de departamentos. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Cate Blanchett), Melhor Atriz Coadjuvante (Rooney Mara), Melhor Roteiro Adaptado, Fotografia, Figurino e Música original (Carter Burwell). Também indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama, Melhor Atriz (Cate Blanchett), Melhor Atriz (Rooney Mara), Melhor Direção e Melhor Trilha sonora original.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Carol

Baseado na obra literária homônima da escritora americana Patricia Highsmith de 1952, o thriller-romance-homoerótico, "Carol", Dirigido pelo californiano Todd Haynes, conta a bela história de amor entre Carol Aird (Cate Blanchett) e Therese Belivet (Rooney Mara). Carol, uma rica, charmosa e classuda mulher novaiorquina e mãe de uma garotinha, vive uma vida infeliz atrelada a um casamento de fachada. Certo dia, vai até a uma loja de departamento para comprar uma boneca para a sua filhinha. A bela ninfeta Therese, balconista da seção de brinquedos, ajuda a loura charmosa a escolher o melhor presente para a menina, dando início assim aos primeiros olhares de ternura. Na saída, Carol esquece o par de luvas de couro no balcão, pronto! é a senha para as duas voltarem a se encontrar. Sufocada por um marido rico, ciumento e desinteressante e absolutamente atraída por Therese, a louraça pede o inexorável divórcio, despertando assim a ira de seu marido. Livre das algemas de um casamento fracassado, Carol convida Therese a viajarem juntas pelas estradas americanas, sem destino e sem data para voltar. Therese, que além de vendedora sonha em ser fotógrafa, aceita sem pestanejar o convite. Faz as malas, separa do noivo chato e preconceituoso e mergulha de cabeça num verdadeiro conto de fadas com Carol.

O roteiro, transformado pelas lentes de Haynes numa ode ao mais puro e singelo amor, faz de "Carol" uma celebração poética do amor contido, dos gestos contidos, do medo e da incrível, não paixão. Isso mesmo, "não paixão", pois paixão é para os fracos e Carol e Therese foram direto ao amor. O amor e o desejo são prospectados num cruzamento constante, e quase ininterruptos, de olhares, toques e finalmente o sexo. Aliás, sejamos honestos: o filme é sobre o amor e não sobre sexo. Haynes foi brilhante na criação de uma estética puramente retrô, mostrando uma América dos anos 50, com suas cores pastéis, vermelhos e mostardas, predominando sobre o cinza escuro dos prédios de Nova York. Têm ainda os estilosos carrões arredondados americanos da época, com sua pompa, seu charmes, seus vidros ovais, além de suas arestas e vincos insuspeitados. Nas cenas de viagem das duas amigas pelas estradas, a leveza, a pureza, uma paz incontida e desejos reprimidos, esboçam um verdadeira celebração, não só do amor, mas de uma paz e liberdade que quase faz as duas mulheres levitarem de tanta felicidade. A visão de Haynes sobre a nobreza, a pureza e o brilho iridescente do amor entre Carol e Therese é tão honesta e tão marcante que o termo "amor lésbico" acaba ficando em segundo (ou terceiro) plano. Realmente, um belíssimo e singelo filme.

Carol (Carol, Inglaterra, Estados Unidos, 2015) Direção: Todd Haynes / Roteiro: Phyllis Nagy, Patricia Highsmith / Elenco: Cate Blanchett, Rooney Mara, Sarah Paulson. / Sinopse: O filme narra o romance entre duas mulheres diante das pressões e preconceitos da sociedade. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Cate Blanchett), Melhor Atriz Coadjuvante (Rooney Mara), Melhor Roteiro Adaptado (Phyllis Nagy), Melhor Fotografia (Edward Lachman), Melhor Figurino (Sandy Powell) e Melhor Música original (Carter Burwell).

Telmo Vilela Jr.