domingo, 9 de dezembro de 2012

A Dama e o Vagabundo

Walt Disney (1901 - 1966) era um perfeccionista. Todos os anos, geralmente na época do natal, ele fazia questão de lançar nos cinemas um longa de animação de seu estúdio. Durante o ano inteiro ele supervisionava os menores detalhes de sua equipe para que tudo saísse com um nível de qualidade que não era superado por nenhum outro estúdio na época. Visionário, sonhador e sempre zelando por uma postura de extremo respeito ao seu público, Disney acabou criando  um império. Esse "A Dama e o Vagabundo" mostra bem a filosofia do grande criador. Se trata de mais uma de suas amadas animações onde ele conseguiu reunir com rara beleza todo o romantismo da estória com um nível técnico espetacular. Aqui ele de forma muito lírica faz uma espécie de homenagem ao melhor amigo do homem, o cão. Na singela estorinha da paixão de uma cadela fina e elegante por um vira-latas de rua, Disney mostrou mais uma vez porque foi um dos grandes gênios criadores do século XX.

Apesar de não assinar a direção, o dedo de Disney  (aqui creditado apenas como produtor) aparece em cada cena, em cada sequência. Os humanos são vistos sob o ponto de vista dos caninos, onde seus rostos praticamente não aparecem. A diferença de classes entre Lady e o Vagabundo é um dos aspectos mais curiosos do filme. Baseado no conto de Ward Greene, Disney até criou um certo receio em fazer o filme pois a paranóia da caça às bruxas poderia pensar que se tratava de um argumento comunista. Felizmente o bom senso prevaleceu e o lado mais lírico e doce da produção se sobressaiu de forma maravilhosa. A crítica especializada até esperava por algo mais arrebatador pois a animação anterior de Disney, "Peter Pan", tinha sido recebido como uma obra prima. "A Dama e o Vagabundo" foi bem mais modesto em suas intenções. Apesar disso hoje é considerado um dos clássicos da carreira de Walt Disney e realmente não há como discordar dessa visão. O clima romântico desse enredo parece ter inspirado ainda mais Disney já que no ano seguinte ele lançaria aquele que seguramente foi seu trabalho mais romântico: "A Bela Adormecida". Mas isso é uma outra história que vamos contar aqui em uma próxima ocasião. Por enquanto fica a recomendação de "A Dama e o Vagabundo" uma bela animação com muito romance no ar.

A Dama e o Vagabundo (Lady and the Tramp, Estados Unidos, 1955) Direção: Clyde Geronimi, Wilfred Jackson, Hamilton Luske / Roteiro: Joe Grant, Erdman Penner, Joe Rinaldi, Ralph Wright, Don DaGradi / Elenco (Vozes): Peggy Lee, Barbara Luddy, Larry Roberts, Bill Thompson, Bill Baucom / Sinopse: Lady é uma fina cadela da raça Cocker Spaniel que acaba se apaixonando pelo esperto vira-latas Vagabundo. Juntos vivem grandes aventuras.

Pablo Aluísio.

O Escritor Fantasma

A primeira constatação sobre "Escritor Fantasma" é a de que Polanski definitivamente não perdeu a mão. Ainda continua um cineasta muito competente e com pleno domínio da arte de se dirigir um filme. "Escritor Fantasma" realmente me envolveu da primeira à última cena (coisa que anda cada vez mais rara). Embora seja uma ficção todos sabem que é baseado quase que inteiramente no ex-primeiro ministro inglês Tony Blair, que em sua gestão foi tão submisso aos interesses de George W Bush que ficou conhecido como "O Poodle de Bush". Realmente, para quem é tão cioso de suas tradições o povo inglês deve ter realmente ficado assustado com esse político totalmente medíocre que enviou tropas britânicas para o Oriente Médio sem motivo justificado.

O elenco está ótimo mas destaco duas presenças magníficas. A primeira é a de Tom Wilkinson. Ele tem duas cenas no filme mas rouba todas as atenções. Seu personagem é um poço de simpatia e cortesia mas no fundo é a chave central de toda a trama. Sua cena com McGregor em sua casa é uma pintura de interpretação de alto nível. Outra presença marcante é a de Eli Wallach. Pouca gente vai reparar no velhinho que mora no litoral e que dá valiosas informações ao personagem de McGregor. Pois saibam que aquele velhinho é um dos atores mais consagrados da história de Hollywood, com uma lista enorme de filmes importantes no currículo. O único senão que tenho a fazer ao filme é a morte do primeiro ministro. Achei desnecessária e de certa forma sensacionalista em um roteiro que vinha se desenvolvendo de forma tão sutil. Mas isso é o de menos - "O Escritor Fantasma" é sem dúvida um excelente filme. Valeu velho Polanski.

O Escritor Fantasma (The Ghost Writer, Estados Unidos, Inglaterra, 2010) Direção: Roman Polanski / Roteiro: Robert Harris, Roman Polanski, baseados no livro homônimo de Robert Harris./ Elenco: Ewan McGregor, Pierce Brosnan, Eli Wallach, Kim Cattrall, Olivia Williams, Tom Wilkinson, James Belushii, Timothy Hutton, Jon Bernthal, Robert Pugh, Daphne Alexander, Jaymes Butler./ Sinopse: Adam Lang (Pierce Brosnan), primeiro-ministro da Inglaterra. resolve contratar os serviços de um ghostwriter (autor que escreve em nome de outra pessoa uma obra literária, omitindo seu nome dos créditos) interpretado por Ewan McGregor. O problema é que existe toda uma conspiração mundial em andamento o que poderá colocar inclusive sua própria segurança em risco.

Pablo Aluísio

Calafrios

Basicamente se trata de uma espécie de "Jogos Mortais" argentino. Explico. Dois velhos torturadores do antigo regime militar daquele país resolvem alugar uma velha casa para continuar sua série de torturas pois são sádicos e adoram infringir sofrimento alheio. O alvo escolhido são jovens argentinos que respondem a pedidos de encontros em fóruns de bate papo na Internet. Assim as garotas são atraídas até o local e lá sofrem todos os tipos de torturas promovidas pela dupla sinistra. Há de tudo, choques elétricos, mutilação e um método que eles acreditam ser muito eficiente: passam Nitroglicerina (um líquido altamente explosivo) pelos corpos das jovens que assim ficam completamente imobilizadas pois se ousarem se mexer acabam explodindo. Lá pela segunda metade do filme ainda aparecem um grupo de jovens que vivem acorrentadas no porão da velha casa soturna. Elas mais parecem Zumbis sedentos por carne humana, tal sua fome e estado precário.

Calafrios não chega a empolgar. O filme é bem curtinho e vai direto no ponto. As cenas de gore são exploradas mas não até suas últimas consequências. Há uma decapitação e vários ataques com ácido mas a falta de intimidade do cinema argentino com o gênero terror não deixa a coisa ficar mais explícita. De certa forma a produção evita mostrar em detalhes o resultado das torturas, provavelmente porque não dominam as técnica mais avançadas de efeitos e maquiagem. No saldo geral é apenas um filme curioso por ser argentino e por ter a coragem de realizar algo assim tão "americanizado". Como eu já disse "Jogos Mortais" é uma referência, embora aqui os torturadores não tenham a sofisticação de Jigsaw. No saldo geral até dá para assistir - e quem sabe até se divertir, mas não é algo que vá fazer falta em sua coleção de filmes de terror. Arrisque se tiver curiosidade em ver um filme desse gênero criado por nossos hermanos.

Calafrios (Sudor Frio, Argentina, 2011) Direção: Adrián García Bogliano / Roteiro: Adrián García Bogliano, Ramiro García Bogliano / Elenco: Facundo Espinosa, Marina Glezer, Camila Velasco / Sinopse: Dois torturadores do antigo regime militar argentino resolvem voltar aos bons tempos e montam uma central de torturas numa velha casa abandonada. Para atrair jovens ao local se fazem passar por garotos bonitos na Internet e marcam encontros com elas no local. Assim que chegam são presas e começam a sofrer todos os tipos de torturas possíveis.

Pablo Aluísio.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Ironias do Amor

Jordan (Elisha Cuthbert) é uma linda jovem que espanta a todos com seu comportamento fora do comum. Ela sempre surge com atitudes nada comuns. Casualmente conhece Charlie (Jesse Bradford), um sujeito que é exatamente o extremo oposto dela. Muito equilibrado, racional, sempre ponderando cada passo que dá. Não demora para que Jordan acabe colocando o rapaz em uma situação que ele jamais imaginaria. Nesse encontro de duas pessoas tão diferentes começa a surgir uma inegável atração entre eles, por mais improvável que isso fosse acontecer, provando de uma vez por todas que em relacionamentos amorosos realmente os opostos se atraem. "Ironias do Amor" é mais uma comédia romântica daquelas que as mulheres mais sonhadoras e meigas adoram. Há uma situação chave evocando muito romantismo e um casal de atores simpáticos e carismáticos. O curioso é que o filme é na realidade um remake de uma produção estrangeira. Hollywood em sua eterna crise de criatividade anda mesmo extrapolando. Antes eles só faziam remakes de filmes orientais de terror. O sucesso de "O Chamado" e "O Grito" acabaram causando uma avalanche de remakes de filmes orientais, com todas aquelas garotinhas fantasmas com cabelo molhado e escorrendo. Como se não bastasse agora eles começaram a importam também comédias românticas do outro lado do mundo. Esse "Ironias do Amor" é o maior exemplo disso.

O original foi dirigido pelo coreano Jae-young Kwak e foi lançado no mercado oriental em 2001. Como os produtores americanos viram potencial no roteiro resolveram importar tudo, escalando dessa vez a linda atriz Elisha Cuthbert (mais conhecida do grande público por seu papel na série 24 horas). Aliás devo confessar que a presença dela é a grande (e única) razão de se assistir essa comédia romântica de rotina. Realmente ela tem uma beleza clássica, de fechar quarteirão. Pena que o ator Jesse Bradford que atua ao lado dela deixe a desejar. Mas Elisha compensa tudo. É o tipo de filme que você sabe que não é nenhuma grande obra cinematográfica mas vai até o fim sem reclamar pois a atriz é linda demais. Afinal que homem vai reclamar de ficar vendo a beldade
Elisha Cuthbert por duas horas seguidas? Eu certamente não! Desse modo se você for um esteta como eu, vai logo perdoar esses e outros deslizes do filme e assistir tudo com um belo sorriso no rosto.

Ironias do Amor (My Sassy Girl, Estados Unidos, 2008) Direção:  Yann Samuell / Roteiro: Victor Levin / Elenco: Elisha Cuthbert, Jesse Bradford, Austin Basis, Chris Sarandon, Jay Patterson, Tom Aldredge, Louis Mustillo, Brian Reddy, Stark Sands, Joanna Gleason, Cherene Snow, Kimberly Youngblood, Don Sparks / Sinopse: Garota nada comum se apaixona por um cara quadradinho, que não consegue fugir da linha. O improvável romance porém passará por muitos problemas ao longo do tempo.

Pablo Aluísio.

Um Olhar do Paraíso

Achei um bom filme, não é uma maravilha mas é bom entretenimento. Como estamos em um tipo de moda do espiritismo no cinema o filme certamente irá agradar a quem segue essa doutrina religiosa. O roteiro nunca se assume como tal mas os dogmas do Kardecismo estão praticamente todos lá. É uma produção que se revela apenas boa mas não excepcional. O problema é que muitos foram com expectativas altas, por se tratar de Peter Jackson. A direção dele não é excelente mas é correta. Visualmente o filme é bem feito e tem ótimas soluções visuais nas cenas ambientadas no "lado de lá" (o mundo espiritual é retratado com requinte e bom gosto). Não parece mas no fundo estamos na presença de um filme sobre um Serial Killer com mensagem espiritualista! Além disso o argumento inova ao ser contado sob o ponto de vista das vitimas. Isso não deixa de ser uma boa inovação já que estamos acostumados a assistir filmes de assassinos em série em que quase sempre as vitimas são ignoradas ou então transformadas em mero objeto dos assassinos nos roteiros. Aqui ela tem voz. Narrado em primeira pessoa a garotinha assassinada vai localizando o espectador na trama. O argumento também está correto do ponto de vista técnico, já que serial killers geralmente são como retratados no filme: para a sociedade se mostram de forma cordial, acima de quaisquer suspeitas e levam uma fachada de vida pacata. São ótimos camaleões sociais. Por baixo dessa fachada são assassinos cruéis e brutais. Esses são os pontos positivos.

A parte negativa surge em determinadas atuações. O elenco é irregular. Ao lado da ótima atuação de Stanley Tucci temos que aguentar Mark Wahlberg, péssimo como sempre. A garota Saoirse Ronan é talentosa e tem futuro. Já tinha gostado dela em "Desejo e Reparação" e agora seu talento se confirma. Dona de um olhar muito marcante ela se sobressai e consegue carregar uma produção desse porte sem se intimidar. Para minha total surpresa temos uma surpreendente fraca atuação de Rachel Weisz (e olha que considero ela uma boa atriz). Aqui surge sem inspiração e envolvimento. Quem acaba salvando o filme é realmente Susan Sarandon. Com boa postura e trabalho elegante ela mostra porque é considerada uma das grandes profissionais do cinema americano. Talvez o filme soasse melhor se não tivesse uma duração tão longa. Ela me pareceu excessiva. Além disso os efeitos digitais muitas vezes perdem o foco do enredo apenas para deixar impressionado o público. Um pouco mais de inibição nesse ponto cairia bem. Apesar de todas essas observações não deixarei de recomendar essa obra. O título original, que pode ser traduzido como “ossos queridos”, se refere aos restos mortais da jovem garota que seguem desaparecidos. Assim, em conclusão digo que é aquele tipo de filme que você deve procurar assistir pelo menos uma vez na vida.

Um Olhar do Paraíso (The Lovely Bones, Estados Unidos, 2009) Direção: Peter Jackson / Roteiro: Fran Walsh, Philippa Boyens, Peter Jackson / Elenco: Saoirse Ronan, Mark Wahlberg, Rachel Weisz, Susan Sarandon, Stanley Tucci. / Sinopse: Susie Salmon (Saoirse Ronan) é uma jovem garota de apenas 14 anos que é assassinada de forma brutal por um vizinho, um serial killer que se faz passar por um pacato e simples cidadão em seu bairro. Narrado em primeira pessoa a garota acaba narrando tudo o que lhe aconteceu e os efeitos de sua morte na existência de todos que viveram e a amaram em vida. Indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante (Stanley Tucci).

Pablo Aluísio.

A Missão

No século XVII o mercador de escravos Mendoza (Robert De Niro) entra em crise existencial após a morte de Felipe (Aidan Quinn) em um duelo. Era seu irmão. Os problemas começaram após ele se envolver amorosamente com Carlotta (Cherie Lunghi), um romance que não contava com a aprovação de Mendoza. No funfo ele sabia que a formosa jovem não era a esposa ideal pois moralmente deixava a desejar em seus atos e romances com outros homens da colônia. Para tentar superar sua dor, Mendoza resolve entrar para o clero e se torna padre. Junto ao jesuíta Gabriel (Jeremy Irons) ele começa uma nova fase em sua vida, marcada pela luta em defesa das populações nativas do novo mundo. O Índio é visto como um produto e um instrumento de trabalho pelos colonizadores. Não tarda a nascer assim um conflito envolvendo de um lado os membros da coroa e o clero religioso dos jesuítas. "A MIssão" é um filme de encher os olhos. Filmado em belas locações na Colômbia, Argentina e Brasil, o filme ainda hoje causa impacto pela beleza de suas imagens. A natureza do chamado "novo mundo" nunca esteve tão belamente fotografada como aqui.

Tudo foi filmado praticamente no meio da selva, com índios verdadeiros como figurantes. As próprias filmagens se tornaram um grande problema para a equipe de ingleses e americanos que se aprofundaram nas selvas tropicais da América do Sul. Vários membros pegaram doenças tropicas e tiveram que retornar ao seu país para tratamento. Os equipamentos também sofreram diversas panes por causa do excessivo calor e umidade da mata fechada. Mesmo com tantos problemas o filme é um dos mais belos e historicamente corretos já lançados no cinema até hoje. Mostra muito bem os diversos interesses envolvidos no período de colonização da América espanhola e portuguesa. De um lado os traficantes de escravos, do outro os missionários jesuítas em sua luta para catequizar os nativos e no meio dessa batalha entre a cruz e a espada as populações indígenas, que sofreram todos os tipos de abusos e explorações imagináveis. O roteiro é muito bem trabalhado. O bom resultado facilmente se vê na tela. A consagração veio em Cannes quando finalmente ganhou, merecidamente, a Palma de Ouro. Imperdível para amantes da história e do bom cinema.

A Missão (The Mission, Estados Unidos, Inglaterra, 1986) Direção: Roland Joffé / Roteiro: Robert Bolt / Elenco: Robert De Niro, Jeremy Irons, Ray McAnally, Aidan Quinn e Cherie Lunghi / Sinopse: Após a morte de seu irmão, Mendoza (Robert De Niro) resolve entrar para o clero onde fica sob as ordens do bem intencionado padre Gabriel (Jeremy Irons) que luta para preservar os direitos dos povos nativos da região. Lutando contra ele estão os exploradores de mão de obra escrava que tencionam vender as populações indígenas para o mercado negro da escravidão.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Tiros em Columbine

Ótimo filme. Eu gosto do Michael Moore, embora ele muitas vezes coloque seu partidarismo acima de tudo (os democratas sempre são mocinhos e os republicanos sempre são vilões em sua forma de pensar). Aqui ele debate a questão das armas nos EUA, que infelizmente podem ser encontradas para venda em qualquer lugar, até mesmo no posto de gasolina mais próximo. Com mais gente armada, mais chances de acontecer uma tragédia como aconteceu no colégio em Columbine quando dois jovens alucinados se armaram até os dentes e mandaram fogo em colegiais inocentes. Em minha opinião a tese defendida por Michael Moore é válida e concordo com ele. A par disso a cena que mais lembro de Columbine é aquela em que Charlton Heston aparece defendendo o uso de armas de fogo. Velho e alquebrado o ídolo do passado não lembra em nada seus heróicos papéis no cinema. É duplamente deprimente a cena. Primeiro por ver um ídolo como aquele defendendo esse tipo de ideologia que hoje em dia não mais se sustenta. Segundo porque vemos um homem no crepúsculo de sua vida ignorando massacres como o de Columbine, que de certa forma foi um efeito cruel das idéias que defende em cena. Ele simplesmente se nega a falar sobre o assunto. Lamentável.

O calcanhar de Aquiles do filme porém é a falta de parcialidade de Michael Moore. Assim você nunca vai ver uma crítica a um democrata nos filmes dele. Nenhum parlamentar do partido que defenda a comercialização das armas aparece em cena. Michael Moore é um membro desse partido e sendo assim só sabe falar mal do partido republicano. Uma pena que ele partidarize tanto o tema. Outro aspecto a se criticar é o pouco espaço que o diretor abre para as vítimas de Columbine. Os dois estudantes que mataram seus colegas acabam ganhando mais espaço em cena, o que acho bem equivocado. Para sanar isso eu aconselho ao espectador que pesquise no Youtube pois há vários vídeos feitos por familiares e amigos sobre os jovens que foram mortos, alguns são muito tocantes, como a de uma jovem que sonhava virar uma missionária nos países pobres. É realmente lamentável que pessoas tão boas, com esse tipo de índole, tenham sido mortas de forma tão sem sentido e brutal. Por essas e outras razões também defendo, como o diretor, um rígido controle de vendas de armas pois nunca se sabe em quais mãos elas vão parar. Lamentavelmente os eventos de Columbine acabaram se multiplicando em vários outros colégios e universidades americanas nos anos seguintes. Virou uma espécie de modelo do crime. Pessoas descontentes com suas vidas acabaram cometendo atos terríveis em um espiral de insanidade sem freios. Aonde afinal tudo isso vai parar? Será que algum dia Columbine deixará de inspirar todos esses homicidas? Só nos resta esperar que sim.

Tiros em Columbine (Bowling For Columbine, Estados Unidos, 2002) Direção: Michael Moore / Roteiro: Michael Moore / Elenco: Michael Moore, Charlton Heston,  Mike Bradley, Marilyn Manson / Sinopse: Documentário em que o diretor Michael Moore tenta lançar uma luz sobre o terrível massacre ocorrido em Columbine, quando dois jovens fortemente armados atiraram em seus colegas de escola. Treze estudantes foram mortos e vinte e um feridos. "Tiros em Columbine" foi o vencedor do Oscar de Melhor Documentário e o César de Melhor Filme Estrangeiro.

Pablo Aluísio.

O Poderoso Joe

Esse personagem surgiu pela primeira vez no cinema americano na década de 40. Ele é de certa forma  um reflexo do enorme sucesso que King Kong alcançou. Seria um genérico criado por um estúdio rival para capitalizar em cima do tema que foi tão bem explorado por Kong. O filme original se chamava "Mighty Joe Young" e foi lançado em 1949. Cinquenta anos depois os estúdios Disney resolveram ressuscitar o antigo gorila e o trouxeram de volta nesse bom remake, que não chega a surpreender em nada, mas que pode ser visto como boa diversão. Bem realizado, com efeitos especiais de primeira linha (que podem soar levemente datados hoje em dia), o filme é indicado para o público mais jovem, na faixa etária que vai até os 16 anos. O enredo é simples: Gregg O´Hara (Bill Pacton) é um especialista em expedição pelo continente africano. Ele procura por um lendário gorila de tamanho desproporcional, quase gigante, que virou um tipo de lenda em sua região. Seu objetivo é encontrar o animal para levá-lo a um santuário nos Estados Unidos. Agindo assim ele o salvará de ser alvejado por caçadores ambiciosos.

Para tornar mais fácil sua localização o cientista conta com a ajuda de Jill (Charlize Theron) que conhece o grande primata desde garota. Ao longo dos anos ela conseguiu desenvolver uma espécie de linguagem que lhe permite se comunicar com Joe. A ida de Joe para a América porém não será tão fácil como se imagina. Basta ler esse argumento para perceber como ele é praticamente semelhante ao do clássico King Kong. No fundo o filme original da década de 40 nada mais era do que uma bela desculpa para trazer novamente um monstro em forma de gorila gigante destruindo a civilização. E isso "O Poderoso Joe" tem de sobra. No elenco o que se destaca mesmo é a presença da linda Charlize Theron, ainda uma desconhecida tentando alcançar um lugar ao sol. Jovem e bonita ela ofusca totalmente o grande Joe, que obviamente fica babando em sua estonteante presença. Enfim, fica aí a dica para hoje: O Poderoso Joe, um filme genérico para quem adora o velho King Kong. 

O Poderoso Joe (Mighty Joe Young, Estados Unidos,1998) Direção: Ron Underwood / Roteiro: Lawrence Konner, Mark Rosenthal, Holly Goldberg Sloan / Elenco: Charlize Theron, Bill Paxton, Rade Serbedzija, Naveen Andrews, David Paymer, Peter Firth, Regina King, John Alexander. / Sinopse: Cientista americano tenta levar um gorila gigante da África para os Estados Unidos, uma tareja que se mostrará muito complicada.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O Diário de Bridget Jones

O tempo passa rápido demais. Eu me recordo que há mais de dez anos quando o nome da texana Renée Zellweger foi anunciado para fazer o papel de Bridget Jones a reclamação foi generalizada. Isso porque Jones era uma personagem tipicamente britânica que já tinha seu público formado por causa dos livros de grande sucesso editorial. E qual era a razão de todo esse sucesso? Bridget Jones era muito humana, uma mulher comum que lutava contra os estereótipos impostos pela sociedade. Ela tinha mais de 30 anos, era solteira, com peso acima da média, fumava e se comportava de forma inadequada. Se em países como Brasil mulheres com esse perfil sofrem preconceito imagine na Inglaterra onde os padrões sociais são bem mais rígidos! Mesmo com toda essa pressão Bridget Jones não deixava de sonhar, ser irônica e dentro de suas possibilidades, ser feliz. Com tanta personalidade não é de se admirar que tenha criado tanta identificação em suas leitoras. Claro que uma personagem tão querida assim se torna bem complicada de transpor para as telas mas diante do resultado final desse filme podemos ter certeza que tudo saiu a contento. Até a americana Renée Zellweger se saiu maravilhosamente bem. Contratou uma especialista em sotaques e realmente brilhou falando exatamente como uma inglesa de sua posição social.

Como se não bastasse a atriz ainda se esforçou para trazer o biótipo de Bridget Jones, engordando vários quilos em um curto espaço de tempo. Em entrevistas defendeu o direito das mulheres serem acima de tudo "normais", bem longe dos ideais de beleza impostos por revistas e agências de moda. Eu achei bem curiosas suas declarações pois logo após a conclusão do filme Renée se submeteu a um rigoroso regime com baterias de exercícios físicos para recuperar a forma, ficando mais de acordo com os mesmos padrões de magreza que criticou durante o lançamento do filme! Será que tudo o que falou foi da boca pra fora? É possível. Voltando ao filme: O Diário de Bridget Jones é uma comédia romântica muito simpática mas de certa forma menos ácida do que o livro no qual se inspirou. Isso porém não é defeito ou demérito até porque nem sempre adaptações de livros no cinema costumam ser fiéis. Agora inegavelmente o charme e o carisma de Renée Zellweger emprestaram muita força para a personagem em cena. Ela tem esse jeito pessoal de ficar bem pouco á vontade, nervosinha, chegando a se tornar atrapalhada. Isso casou muito bem com sua personagem resultando tudo em ótimos momentos de humor. O filme não foi um sucesso espetacular nas bilheterias mas se saiu bem, rendendo quase quatro vezes o seu custo inicial o que abriu as portas para uma continuação. Para quem ainda duvidava do potencial de se tornar uma estrela de Renée Zellweger a produção veio como uma confirmação do brilho próprio da atriz.

O Diário de Bridget Jones (Bridget Jones' Diary, Estados Unidos, 2001) Direção: Sharon Maguire / Roteiro: Helen Fielding, Richard Curtis, Andrew Davies / Elenco: Rénee Zellweger, Colin Firth, Hugh Grant, Gemma Jones, Jim Broadbent, Embeth Davidtz, Shirley Henderson, Sally Phillips, James Callis./ Sinopse: Bridget Jones (Renée Zellweger) é um solteirona com problemas de auto estima que encontra uma grande chance de finalmente subir em sua carreira. Além disso está prestes a encontrar o homem de seus sonhos. Porém nada disso será fácil.

Pablo Aluísio.

Quatro Amigas e Um Jeans Viajante

O cinema direcionado ao público jovem já teve dias melhores mas de vez em quando surge alguma produção que vale a pena assistir pelo menos uma vez. É o caso desse "Quatro Amigas e um Jeans Viajante" que foi baseado no livro de sucesso da escritora Anne Brashares, muito querida entre o público adolescente feminino. Seu universo obviamente se baseia na vida de garotas da idade de seu público leitor. Assim acompanhamos em sua sobras os amores, os pensamentos e anseios de jovens na faixa de 15 a 18 anos. Esse aqui conta a estória de quatro amigas que vão vivendo as experiências dessa fase de sua vida. Ligando tudo uma velha calça jeans surrada vai sendo  usada sucessivamente por todas elas. O elenco é especialmente interessante para o público mais ligado em séries americanas pois o quarteto principal do filme é todo dessa área. Lá estão Alexis Bledel de "Gilmore Girls", Blake Lively de "Gossip Girl" e Amber Tamblyn de "Joan of Arcadia". O filme é indicado, claro, para adolescentes pois certamente elas vão se identificar com as situações que as protagonistas vivem.

Como se trata de uma adaptação de um livro famoso entre o público teen e como o tom da produção é livre de baixarias e afins, "Quatro Amigas e um Jeans Viajante" acabou fazendo bastante sucesso, o que garantiu uma continuação alguns anos depois. O diretor  Ken Kwapis também veio do mundo das séries de TV americanas e esse segue, até o momento, como seu maior sucesso de bilheteria. Como não poderia deixar de ser para um filme como esse a trilha sonora também se destaca com vários sucessos que depois fizeram bonito nas principais paradas dos EUA. Enfim, é isso. "Quatro Amigas e um Jeans Viajante" é uma boa opção para a galerinha mais jovem, que ainda está naquele momento tão complicada da vida de todos, a conturbada adolescência. Para eles fica a dica.

Quatro Amigas e Um Jeans Viajante (The Sisterhood Of The Traveling Pants, Estados Unidos, 2005) Direção: Ken Kwapis / Roteiro: Delia Ephron, Elizabeth Chandler / Elenco: Amber Tamblyn, Blake Lively, Alexis Bledel, America Ferrera, Bradley Whitford, Nancy Travis, Rachel Ticotin, Jenna Boyd / Sinopse: Quatro amigas na adolescência passam por mudanças, amores e situações dramáticas em suas vidas. Baseado no best seller da literatura juvenil de mesmo nome escrito por Anne Brashares.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Espelho, Espelho Meu

Depois do grande sucesso da versão cinematográfica de Alice dirigido por Tim Burton praticamente todo estúdio em Hollywood anunciou uma nova versão de algum conto de fadas. Esse "Espelho, Espelho Meu" foi apenas mais um deles. O mais curioso é que não é o único a ser feito tentando trazer de volta às telas o conto de fadas "Branca de Neve e os Sete Anões". Há um outro projeto bem mais ambicioso estrelado por Kristen Stewart. Se aquele tem cara de "Branca de Neve invade a Terra Média" por causa da semelhança absurda da produção com a franquia "O Senhor dos Anéis" esse aqui é bem mais modesto em suas pretensões. O projeto é mais um ataque de egolatria de Julia Roberts que há tempos procura reencontrar o caminho do sucesso. Não será com esse "Mirror, Mirror" que ela vai alcançar os seus objetivos. O filme foi lançado na semana em que "Jogos Vorazes" dominava as bilheterias o que fez o filme ser praticamente ignorado - embora não tenha sido o fracasso todo que algumas notícias divulgaram. A tônica aqui é realmente de filme infantil, uma produção feita para as crianças embora tome certas liberdades com o conto original (nem sempre de forma feliz). Os anões foram provavelmente os personagens mais prejudicados. Na versão de Disney - a melhor já feita até hoje - eles eram trabalhadores divertidos, pessoas do bem. Já aqui viram um bando de ladrões, salteadores, infames. Embora o roteiro tente trazer um certo humor e suavidade ao grupo eles surgem em cena mal encarados, antipáticos, nada parecidos com os anões que conhecemos em nossa infância. Também surgem com nomes diferentes, nada simpáticos, um inclusive é chamado de "Açougueiro", imagine você! As pernas de pau que usam é outra coisa totalmente fora de propósito, sem qualquer atrativo.

A atriz que faz Branca de Neve, Lily Collins, foi prejudicada por uma maquiagem muito pesada, nada sutil ou elegante. Com sobrancelhas enormes e pretas tudo soa muito deselegante. O pior é que a moça é bonita, não precisavam estragar seu bonito rosto com tudo aquilo. Será que a Julia Roberts a enfeiou propositalmente com medo dela roubar o filme? Não duvido nada. Se fez isso então ela agiu exatamente como a rainha má que interpreta o que não seria surpresa nenhuma. Ao natural Lily é bela, delicada e lembra em certos momentos Audrey Hepburn mas no filme surge praticamente "escondida" sob a maquiagem fora de tom. A produção do filme também não é melhor. A direção de arte é muito excessiva, não particularmente bonita ou de bom gosto. Tudo é muito kitsch, mesmo sendo um conto de fadas deveriam ter trilhado um caminho mais soft do que é apresentado em cena. O roteiro também não agrada. Tenta contar a velha estória de uma forma inovadora o que é um erro. Contos de fadas foram escritos e passados de gerações em gerações para ensinar valores morais e culturais para a criançada. São simples por natureza e devem permanecer assim. Qualquer tentativa de mudar sua essência é bem condenável sob qualquer ponto de vista. Provavelmente Jacob e Wilhelm Grimm estejam se revirando na tumba com o que fizeram com sua estorinha. Lamentável.

Espelho, Espelho Meu (Mirror, Mirror, Estados Unidos, 2012) Direção: Tarsem Singh / Roteiro: Jason Keller, Marc Klein, Melisa Wallack baseado no conto de fadas escrito por Jacob Grimm e Wilhelm Grimm / Elenco: Lily Collins, Julia Roberts, Armie Hammer, Nathan Lane, Sean Bean / Sinopse: Branca de Neve (Lily Collins) fica sob os cuidados da madrasta, a Rainha (Julia Roberts) após seu pai desaparecer na floresta negra.

Pablo Aluísio.

Cosmópolis

"Cosmópolis" não é um filme fácil. A estória se passa quase toda dentro de uma limousine de luxo. É de dentro dela que o excêntrico milionário Eric Packer (Robert Pattinson) vê o mundo ai seu redor. No fundo ele apenas tenciona ir até o seu barbeiro preferido, que fica do outro lado de Nova Iorque. O problema é que o caminho de seu escritório até lá não será nada fácil pois o presidente dos Estados Unidos se encontra na cidade, o que significa avenidas interditadas, muita segurança pelas ruas e manifestações generalizadas atrapalhando o já caótico trânsito da cidade. Assim, enquanto ele não consegue chegar em seu destino vai recebendo as pessoas dentro de sua carro. Executivas de sua indústria, jovens gênios da informática (retratados como nerds bobocas), prostitutas e até seu médico pessoal entram na limousine para tratar assuntos com o milionário. Ele por sua vez tem dois problemas urgentes a lidar: seu casamento com uma garota muito incomum (e milionária como ele) e a preocupação com a moeda chinesa pois sua valorização ou desvalorização nas bolsas pode significar lucros imensos ou prejuízos avassaladores para ele. 

Como se pode perceber "Cosmópolis" não é uma produção feita para agradar a todo mundo. De fato o filme acabou se tornando campeão no quesito "abandono". Muitas pessoas simplesmente não compram a idéia do filme (que se passa todo dentro do banco traseiro de um carro) e simplesmente vão embora no meio da exibição. As duas pessoas que assistiam ao meu lado não aguentaram e abandonaram a exibição com pouco mais de 30 minutos. Realmente sua narrativa pode se tornar absolutamente intragável para o grande público. A idéia pouco usual é mais um projeto do sempre surpreendente cineasta David Cronenberg. O problema é que agora nem a crítica e nem o público gostaram do resultado. O filme foi lançado em Cannes pois o diretor esperava uma reação maravilhosa ao argumento inovador. Não foi o que aconteceu. O público odiou e a crítica detestou. Assim "Cosmópolis" naufragou no grande festival, sendo acusado de ser muito enfadonho, chato e aborrecido. Para piorar o filme é estrelado pelo ídolo teen Robert Pattinson, que surge em cena apático, desmotivado, sem inspiração. De fato nem as fãs de Crepúsculo apreciarão o filme. É uma idéia que simplesmente não deu certo. Até dá para assistir sem abandonar pela metade mas isso vai exigir um esforço extra do espectador que terá que ter uma dose extra de paciência para aguentar as excentricidade de Cronenberg. Arrisque e tente chegar até o final.

Cosmópolis (Cosmópolis, Estados Unidos, 2012) Direção: David Cronenberg / Roteiro: David Cronenberg / Elenco: Robert Pattinson, Samantha Morton, Jay Baruchel, Paul Giamatti, Kevin Durand, Juliette Binoche, Sarah Gadon, Mathieu Amalric, Emily Hampshire / Sinopse: Enquanto tenta atravessar Nova Iorque para ir em seu barbeiro preferido, um milionário vai recebendo diversas pessoas no banco de trás de sua luxuosa limousine.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Dúvida

Meryl Streep tem uma filmografia muito rica e para minha surpresa a cada ano praticamente surge uma obra prima estrelada pela atriz. Sua capacidade de estar em excelentes produções é incomparável. No meio de tantas preciosidades é até comum que alguns desses filmes passem relativamente despercebidos. Um exemplo é esse "Dúvida". Baseado na peça teatral de John Patrick Shanley, que também assina o roteiro e a direção, a trama se passa em uma escola católica no ano de 1964. O mundo havia mudado, havia um ar de renovação e frescor nos costumes e na nova geração mas dentro dos muros daquela instituição de ensino ainda reinava a disciplina e a austeridade, tão inerentes à doutrina católica. Nesse ambiente de forte tradição chega para lecionar um padre jovem, cheio de novas idéias. O padre Flynn (Philip Seymour Hoffman, como sempre ótimo) tenta trazer um pouco de inovação dentro daquele ambiente mas bate de frente com a conservadora irmã Aloysius Beauvier (Meryl Streep), que deseja que tudo continue do jeito como está. Ela acredita na força da disciplina e do respeito e não parece nem um pouco disposta a abrir mão disso.

Assim a escola St. Nicholas vira palco de um luta interna pelo coração e mente de seus alunos. De um lado o pensamento mais inovador e liberal do padre Flynn, do outro a austeridade e autoridade da irmã Beauvier. Com o advento da política de direitos civis a escola acaba aceitando seu primeiro aluno negro, o rapaz Donald Miller (Joseph Foster). Sua entrada na instituição é vista como uma revolução pelo padre Flynn que se aproxima do novo aluno para lhe orientar em sua nova escola. Essa estreita amizade porém acaba criando boatos, alimentados pela jovem irmã James (Amy Adams). Era justamente isso que esperava a personagem de Meryl Streep pois o rumor se torna uma grande arma para ela em sua queda de braço com Flynn. "Dúvida" é um filme extremamente inteligente, bem escrito, que se baseia principalmente em atuações de alto nível e diálogos ricamente construídos. A presença de um trio de atores tão talentoso torna a experiência de assistir "Doubt" um enorme prazer. A guerra entre os dois personagens principais é sutil, psicológica, mas não menos cruel. De certa forma é um retrato do conflito interno vivido hoje pela Igreja Católica. Em suas entranhas também se trava uma guerra entre membros mais conservadores e outros mais liberais. A tensão é latente e o roteiro de "Dúvida" joga excepcionalmente bem com esse dualismo. Em suma, eis uma das melhores obras cinematográficas surgidas nos últimos anos. Não deixe de assistir.

Dúvida (Doubt, Estados Unidos, 2008) Direção: John Patrick Shanley / Roteiro: John Patrick Shanley / Elenco:  Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Viola Davis, Alice Drummond / Sinopse: Um jovem padre da linha mais liberal da Igreja Católica, Flynn (Philip Seymour Hoffman), entra em choque com a conservadora Aloysius Beauvier (Meryl Streep). Em jogo o modo de administrar a escola. A irmã acredita em disciplina, ordem e tradição. Já o padre acredita em liberdade, inovação e renovação. Está assim armado o conflito entre ambos. Vencedor do Screen Actors Guild Awards de melhor atriz para Meryl Streep.

Pablo Aluísio.

domingo, 2 de dezembro de 2012

O Lorax

Mais uma animação baseada na obra de Theodor Seuss Geisel (1904 - 1991), autor mais conhecido como Dr. Seuss. Suas estórias, muito líricas e singelas, procuravam ensinar valores humanos às crianças. Seu texto é muito rico e em sua singeleza conseguia passar grandes mensagens para os mais jovens. Esse "O Lorax" é uma de suas obras mais conhecidas. Publicado originalmente em 1971, esse pequeno conto ecológico demonstrava a preocupação do autor em relação ao desmatamento sem controle das grandes reservas florestais. Seu alvo é a indústria, que destrói a natureza para lucrar cada vez mais. Na estória acompanhamos um jovem garoto de 12 anos que resolve ir atrás de uma árvore de verdade pois na cidade em que mora tudo é feito de plástico e materiais industriais. Não existe mais natureza pois ela foi devastada por um poderoso industrial que agora enriquece vendendo ar puro engarrafado. Lorax é o guardião da floresta que tenta de algum modo salvar a natureza. A mensagem como se vê é muito bonita e tocante e cria consciência ecológica nas crianças, isso muito antes da ecologia virar moda mostrando que o Dr. Seuss estava bem à frente de seu próprio tempo. Era um humanista e esse humanismo ele conseguiu passar com raro brilhantismo para seus 60 livros publicados. De certa forma era um artista tão inspirado quanto Walt Disney, só que de forma mais modesta ia divulgando suas idéias através de seus vários personagens, muitos dos quais estão sendo adaptados para o cinema.

A animação é uma produção conjunta entre a Universal e a Illumination Entertainment. Como se pode perceber ao longo do filme esse é a mesma companhia que produziu o grande sucesso "Meu Malvado Favorito". Alguns personagens desse filme inclusive fazem pequenas aparições ao longo de "Lorax". A  Illumination deixou bastante a desejar com sua animação anterior, "Hop - Rebeldes sem Páscoa" mas agora voltam à boa forma e ao sucesso de bilheteria pois "Lorax" conseguiu romper a barreira dos 300 milhões de dólares em faturamento, um número realmente excepcional para uma animação como essa. No fundo esse sucesso prova apenas a imensa qualidade do material que foi criado pelo Dr. Seuss. Não basta apenas ter tecnologia para produzir uma animação bonita, tem que ter conteúdo e isso Seuss tinha de sobra. Assim fica a recomendação. "O Lorax", uma pequena parábola sobre os problemas da sociedade industrial em que vivemos.

O Lorax (The Lorax, Estados Unidos, 2012) Direção: Chris Renaud, Kyle Balda / Roteiro: Ken Daurio baseado na obra do Dr. Seuss / Elenco (Vozes):  Zac Efron, Taylor Swift,  Danny DeVito,  Taylor Swift,  Betty White / Sinopse: Um jovem ambicioso pretende vender seu novo produto, uma malha resistente e eclética feita a partir de árvores da floresta. Após conseguir industrializar sua invenção ele começa a destruir toda a floresta da região onde mora. Para defender a natureza surge Lorax.

Pablo Aluísio.

sábado, 1 de dezembro de 2012

O Aviador

Howard Hughes (1905 - 1976) não era um sujeito comum. Filho único de um dos maiores industriais dos Estados Unidos, já nasceu bilionário. Excêntrico ao extremo, cheio de manias, entrou para a história americana por causa de seus projetos ousados e inovadores. Foi o primeiro a visualizar a oportunidade de tornar comercialmente viável uma rota de aviação para transporte regular de passageiros entre Estados Unidos e Europa. Investiu em filmes na era de ouro de Hollywood, criando sob sua produção alguns clássicos imortais da sétima arte. Além disso foi figura de ponta em suas indústrias pois amava tecnologia e investiu pesadamente na área criando nesse processo uma série de invenções que até hoje fazem parte do dia a dia de milhares de pessoas mundo afora. Era aventureiro e revolucionário mas em segredo escondia vários problemas mentais que foram minando o homem ao longo dos anos. Com uma história tão rica não faltaria assunto certamente para contar sua biografia no cinema. O diretor Martin Scorsese há muitos anos queria mostrar a vida de Howard Hughes nas telas e conseguiu após receber um excelente roteiro feito sob encomenda escrito por John Logan. O texto era enxuto e se focava nos aspectos mais interessante da vida de Hughes, exatamente o que Scorsese buscava há muitos anos.

Para surpresa de muitos o diretor acabou escalando para o papel principal o ator Leonardo DiCaprio. Certamente ele não era parecido com Howard Hughes mas demonstrou ter tanta paixão pelo material e pelo roteiro que Scorsese simplesmente não conseguiu recusá-lo. Decisão acertada pois Leonardo demonstra muita sensibilidade para interpretar o famoso industrial. Fugindo de armadilhas fáceis que poderia cair por interpretar uma pessoa com problemas mentais, ele optou por uma atuação no tom correto, respeitosa e que nunca cai na caricatura. Embora excelente o ator foi completamente ignorado pelo Oscar que resolveu premiar sua partner em cena, a talentosa Cate Blanchett que aqui interpreta a grande Katherine Hepburn, um mito do cinema que era amiga pessoal de Hughes. Por falar em Oscar o filme teve várias indicações mas fora o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante dado a Blanchett, tudo o que conseguiu vencer foram Oscars técnicos (Edição, Direção de Arte, Figurino e Fotografia). Em minha opinião merecia mais. Uma produção que consiga captar tão bem a essência de uma pessoa tão complexa como Hughes merecia bem mais.

O Aviador (The Aviator, Estados Unidos, 2004) Direção: Martin Scorsese / Roteiro: John Logan / Elenco: Leonardo DiCaprio, Cate Blanchett, Kate Beckinsale, Jude Law / Sinopse: Cinebiografia do industrial Howard Hughes, um homem à frente de seu tempo que tinha que lidar não apenas com os desafios de sua posição mas também com um terrível problema mental que o afligia.

Pablo Aluísio.