sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Machete

O ex-policial Machete (Danny Trejo) é contratado para matar um senador corrupto, interpretado por Robert De Niro. Para alcançar seu objetivo ele recruta uma série de ajudantes improváveis entre eles Luz (Michelle Rodriguez), Padre (Chech Marin) e April (Lindsay Lohan). Antes porém tem que lidar com Sartana (Jessica Alba), uma agente que está em seu encalço. "Machete" é mais um filme dirigido por Robert Rodriguez e segue basicamente um modelo que o próprio diretor já havia explorado antes em sua filmografia com "Planeta Terror" e "Grindhouse", ou seja, um filme pretensamente ruim, feito para ser ruim, baseado nas antigas fitas que passavam por meses a fio em cinemas poeira na década de 70. É uma sátira, uma forma de realizar filmes novos com a falta de qualidade dessas antigas produções. Seria algo próximo do que acontece também no cinema de terror, filmes modernos que tentam recriar o clima e o jeito de produções trash.

Aqui a sátira é em cima dos filmes de ação obtusos dos anos 70. Tudo propositalmente mal feito, absurdo, até a má qualidade das cópias é recriada durante o filme. Funciona? Depende muito de cada um. Para alguns a coisa toda logo se torna cansativa, para outros se torna divertido ver algo assim. Isso é resultado da própria formação desses cineastas. Robert Rodriguez (e também Tarantino) passaram sua juventude assistindo podreiras como essa e agora que são diretores famosos em Hollywood resolveram recriar o mesmo estilo ruim de fazer cinema. O próprio personagem "Machete" foi aproveitado de um falso trailer que o diretor havia usado em seus filmes anteriores. O resultado é irregular. Geralmente é bem divertido assistir a um antigo filme ruim de ação mas não tão divertido quanto se trata de uma cópia como esse "Machete". A ruindade deve vir naturalmente, não forçada e é justamente nesse aspecto que o filme falha. Até a escolha de um elenco classe A para um filme que deveria ser classe Z acentua esse problema. No final das contas é uma brincadeira, não das mais divertidas. Talvez fosse bem melhor se fosse real, se fosse um filme naturalmente ruim. Como está "Machete" só consegue ser uma cópia falsa e forçada.

Machete (Machete, Estados Unidos, 2010) Direção: Robert Rodriguez, Ethan Maniquis / Roteiro: Robert Rodriguez, Álvaro Rodríguez/ Elenco: Danny Trejo, Robert De Niro, Jessica Alba, Michelle Rodriguez, Steven Seagal, Lindsay Lohan, Cheech Marin, Don Johnson / Sinopse: O ex-policial Machete (Danny Trejo) é contratado para matar um senador corrupto, interpretado por Robert De Niro. Para alcançar seu objetivo ele recruta uma série de ajudantes improváveis entre eles Luz (Michelle Rodriguez), Padre (Chech Marin) e April (Lindsay Lohan). Antes porém tem que lidar com Sartana (Jessica Alba), uma agente que está em seu encalço.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O Golpista do Ano

Finalmente assisti. Até agora não consegui entender as verdadeiras intenções de seus realizadores. O filme é diferente, não se assume nem como comédia e nem como drama. Também coloca como centro do roteiro um casal de gays presidiários que vivem de dar golpes em outras pessoas. O personagem de Jim Carrey é particularmente doentio, um mentiroso incontrolável que usa de suas falsas identidades para se dar bem na vida. Já Ewan McGregor vai deixar muito fã de "Star Wars" embaraçado, pois interpreta o companheiro de Jim, um homossexual de bom coração que o conhece na cadeia. Para completar temos o brasileiro Rodrigo Santoro fazendo o primeiro namorado de Carrey.

Pessoas sensíveis demais podem se sentir ofendidas com o filme. Há cenas de violência, fraude, falsidade ideológica etc. O personagem de Jim Carrey me lembrou bastante o que Leonardo Di Caprio interpretou em "Prenda Me Se For Capaz". O problema é que é difícil simpatizar com o golpista de Carrey. Ao contrário do filme de Spielberg, aqui temos poucos motivos para torcer pelo personagem principal. Nos Estados Unidos o filme foi boicotado por certos setores por causa de seu tema ofensivo. Os personagens principais são criminosos e não se arrependem pelo que fazem. Moralmente realmente a produção deixa a desejar, não pelo fato de serem homossexuais mas pelo fato de serem criminosos sem culpa. Enfim, um filme complicado que provavelmente não vai cair no gosto dos fãs de Jim Carrey.

O Golpista do Ano (I Love You Phillip Morris, Estados Unidos, 2008) Direção: Glenn Ficarra, John Requa / Roteiro: Glenn Ficarra, John Requa / Elenco: Jim Carrey, Ewan McGregor, Rodrigo Santoro, Leslie Mann, Jessica Heap, Michael Wozniak, Tony Bentley, Nicholas Alexander, Michael Beasley, Marcus Lyle Brown. / Sinopse: Um casal de gays vive de dar golpes em pessoas honestas. Com o dinheiro fazem viagens, compram roupas caras e se divertem.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Sherlock Holmes

Sherlock Holmes (Robert Downey Jr) e seu amigo John Watson (Jude Law) decidem entrar na luta contra o crime na Inglaterra durante a era vitoriana. Esse é o primeiro filme da nova franquia sobre Sherlock Holmes no cinema. O interessante é que recentemente assisti dois filmes sobre Sherlock Holmes em um curto espaço de tempo. Primeiro vi esse blockbuster e depois assisti "A Vida Intima de Sherlock Holmes" dirigido por Billy Wilder. A diferença é grande entre as produções. O Sherlock de Guy Ritchie, como todo blockbuster que se preze, valorizou muito mais a ação do que a inteligência e esse é seu grande erro. Convenhamos que Sherlock Holmes é um personagem de intelecto. Ele não resolve seus casos dando murros nos outros, o verdadeiro Sherlock resolve os mistérios usando da inteligência e dedução. O problema é vender um filme assim para os adolescentes que vão aos cinemas hoje em dia. Simplesmente não dá. Hoje impera a linguagem do videogame entre os mais jovens onde tudo é muito rápido e movimentado. Tramas elaboradas demais também podem confundir o público acostumado a filmes fast food.

Desse modo pouca coisa sobrou do verdadeiro Sherlock Holmes. Provavelmente apenas o nome do personagem, aqui utilizado como chamariz comercial. O charme, a elegância e a inteligência foram deixados de lado. Se você não exigir muito na fidelidade com o Sherlock original a produção pode até se tornar um entretenimento ligeiro. Sherlock é visualmente bem realizado e algumas pequenas passagens até que nos lembram, mesmo que vagamente, ser esse um filme do personagem de Conan Doyle. Agora, se formos comparar com o personagem da literatura, aí realmente o filme se torna bem sofrível. Acertou quem disse que no fundo apenas usaram a popularidade do nome Sherlock Holmes. Queriam criar uma nova franquia e usaram o nome do morador mais famoso de Baker Street para fins puramente comerciais. Os fãs dos livros certamente ficarão decepcionados, já os adolescente que vão ao cinema podem, quem sabe, se interessar pelo personagem, indo atrás para conhecer o verdadeiro Sherlock Holmes, aquele que está nas páginas escritas por Arthur Conan Doyle. Se isso acontecer então já valeu a existência dessa produção.

Sherlock Holmes (Sherlock Holmes, Estados Unidos, 2009) Direção: Guy Ritchie / Roteiro: Anthony Peckham, Michael Robert Johnson, Simon Kinberg, Lionel Wigram baseados na obra de Arthur Conan Doyle / Elenco: Robert Downey Jr., Jude Law, Rachel McAdams, Mark Strong, Kelly Reilly, Eddie Marsann, James Fox, Hans Matheson / Sinopse: Sherlock Holmes (Robert Downey Jr) e seu amigo John Watson (Jude Law) decidem entrar na luta contra o crime na Inglaterra durante a era vitoriana.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

As Torres Gêmeas

Como hoje é 11 de setembro vale a pena recordar desse filme que enfocou a grande tragédia que se abateu sobre a cidade de Nova Iorque em 2001. Antes de qualquer coisa é interessante citar o fato de que mesmo após mais de uma década dos atentados nenhum grande filme foi realizado sobre o trágico acontecimento. Nenhuma produção de ponta ou obra de arte foi criada em cima do 11 de setembro. Isso é um fato. O que temos até agora são apenas filmes medianos como esse. Por que isso aconteceu? Penso que o 11 de setembro atingiu tão fundo na alma daquele país que até hoje eles não conseguiram assimilar bem tudo o que aconteceu. A impressão que fica foi que toda a nação americana realmente ficou traumatizada com o tamanho e a eficiência do ataque terrorista. Os americanos tinham aquela mentalidade de que eram inatingíveis, que suas forças de segurança jamais deixariam que algo assim acontecesse. 

Quando os aviões bateram nas torres eles ficaram sem reação imediata. Como se viu eles realmente não estavam preparados para o que efetivamente ocorreu em Nova Iorque naquela data. Foi realmente uma surpresa e um choque. Dito isso vamos ao filme propriamente dito. "As Torres Gêmeas" conta a história real dos policiais John McLoughlin (Nicolas Cage) e Will Jimeno (Michael Pena). Após o colapso de uma das torres eles ficaram soterrados sob centenas de toneladas de escombros! De fato foram um dos poucos sobreviventes do ataque terrorista. A primeira parte do filme, mostrando os acontecimentos anteriores ao atentado, tem um ritmo lento, pouco interessante. Já o segundo ato é mais interessante pois a reconstituição é extremamente bem feita em seus mínimos detalhes. O problema é que o filme mesmo melhorando levemente nunca emplaca, nunca empolga. Talvez todos nós estejamos fartos do assunto que foi massivamente explorado pela mídia desde 2001 ou talvez o roteiro não seja tão instigante, caindo na vala comum. A escolha de Oliver Stone para dirigir o filme também foi equivocada. Esse é um cineasta contestador que gosta de expor as feridas da América. Já o roteiro desse filme tem doses extras de patriotada, como não poderia deixar de ser. O texto tenta a todo custo lamber as feridas deixadas pelos ataques. Em vão. Stone certamente não foi a escolha certa, notamos nitidamente um desconforto no trabalho dele. O resultado se vê na tela pois o filme parece truncado. A verdade pura e simples é que talvez nunca tenhamos um grande clássico no cinema sobre o 11 de setembro. O povo americano é muito centrado em si mesmo e odeia ver eventos históricos como esses retratados na tela grande. Eles não querem recordar suas derrotas mas sim suas vitórias, o que é normal. A conclusão que chegamos é que as feridas do 11 de setembro ainda estão bem abertas e longe de serem cicatrizadas.  

As Torres Gêmeas (World Trade Center, Estados Unidos, 2006) Direção: Oliver Stone / Roteiro: Andrea Berloff / Elenco: Nicolas Cage, Michael Pena, Douglas J. Aguirre, Maria Bello, Maggie Gyllenhaal, Jon Bernthal, Stephen Dorff / Sinopse: "Torres Gêmeas" acompanha a história de dois policiais que se encontram no centro do grande atentado terrorista ocorrido em 11 de setembro de 2001. 

Pablo Aluísio.

Conduzindo Miss Daisy

Quando "Conduzindo Miss Daisy" venceu o Oscar de Melhor Filme muitos ficaram surpresos. O filme era considerado o azarão daquele ano e conseguiu superar todos os favoritos. Produção pequena, mas muito charmosa, "Conduzindo Miss Daisy" mostrava a relação de amizade que se prolongava por muitos anos entre a senhora branca do título e seu chofer negro. O filme é cativante e trata a questão racial com extremo cuidado e bom gosto. O fato de ter vencido o Oscar não deveria ter surpreendido tantos assim. O problema do racismo, principalmente em Estados do Sul dos EUA, jamais foi superado de verdade, ainda é uma chaga aberta naquela sociedade. O roteiro ao mostrar uma amizade verdadeira entre um negro e uma branca tocou fundo novamente no problema, levando a simpatia dos membros da Academia, sempre dispostos a premiar filmes que tenham a coragem de tocar em assuntos polêmicos e relevantes. 

Esse também é um filme de atuações, acima de tudo. O roteiro se apóia quase que inteiramente entre a relação de amizade dos personagens interpretados por Morgan Freeman e Jessica Tandy. Ambos estão muito inspirados em cena, esbanjando talento e carisma. Para Jessica Tandy em particular a produção pode ser considerada uma justiça tardia feita em homenagem à longa carreira da atriz nos palcos e telas. Embora muito respeitada no meio teatral americano Jessica Tandy jamais conseguiu se tornar uma estrela de primeira grandeza no cinema, embora fosse mais talentosa que muitas delas. De certo modo foi uma atriz injustiçada pelo cinema ao longo de sua extensa carreira artística. O Oscar que recebeu por sua interpretação de Miss Daisy foi de certa forma um pedido de desculpas da indústria de cinema americano em relação a ela, por ter sido tão subestimada por tantos anos. Morgan Freeman também foi indicado mas não conseguiu levar o Oscar para casa. Idem Dan Aykroyd, um ator de comédias, que conseguiu pela primeira e única vez uma indicação ao prêmio. "Conduzindo Miss Daisy" acabou sendo indicado a nove prêmios e venceu quatro (Filme, Atriz, Roteiro Adaptado e Maquiagem). Também venceu o Globo de Ouro de Melhor Filme e Melhor Atriz (Jessica Tandy). Com tanto reconhecimento não precisa mais de recomendação. Tudo é extremamente delicado e bem escrito. Mostra acima de tudo que basta um roteiro bem desenvolvido, bem trabalhado para realizar um belo filme, aqui no caso um pequeno belo filme, quase um poema cinematográfico. Merece ser redescoberto.  

Conduzindo Miss Daisy (Driving Miss Daisy, Estados Unidos, 1989) Direção: Bruce Beresford / Roteiro: Alfred Uhry, baseado em sua própria peça teatral / Elenco: Jessica Tandy, Morgan Freeman, Dan Aykroyd, Patti LuPone, Esther Rolle / Sinopse: O filme retrata a longa amizade de uma senhora branca do sul dos EUA, Miss Daisy (Jessica Tandy), e seu chofer negro, Hoke Colburn (Morgan Freeman).  

Pablo Aluísio.

Batman: O Cavaleiro das Trevas - Parte 1

Já bastante envelhecido e afastado do uniforme de Batman há dez anos o milionário Bruce Wayne vê sua Gotham City ser devorada por uma onda de crimes sem precedentes. Liderados por um criminoso irracional, centenas de jovens resolvem entrar para as fileiras de uma gangue auto denominada “Os Mutantes”. Espalhando terror e violência entre os habitantes da cidade o grupo acaba ameaçando a vida do comissário Gordon, nas portas de sua aposentadoria. Vendo tudo ruir ao seu redor Bruce Wayne resolve agir vestindo novamente seu personagem, Batman, para limpar as ruas da cidade pela última vez. Essa nova animação da Warner e DC Comics traz para as telas uma das estórias mais conhecidas do universo de Batman, a Graphic Novel de Frank Miller. Não é de hoje que a Warner vem investindo em produções assim, animações feitas para venda direta aos fãs de Batman. Curiosamente o resultado tem sido muito acima da média, para a alegria dos fãs do homem morcego.

A técnica segue a animação mais tradicional com pequenos trechos feitos em efeitos digitais. O Batman retratado aqui está com 55 anos de idade, melancólico e deprimido. Mesmo sentindo o peso da idade ele resolve retornar para mais um confronto contra o crime. Ao seu lado surge um novo Robin, na verdade uma garota, que sendo fã do super-herói decide segui-lo em suas aventuras. Dois vilões tradicionais do universo Batman surgem em cena, Duas Caras e Coringa, mas esse último aparece apenas em cenas pontuais. Sua participação certamente será decisiva na continuação que está prevista para ser lançada no ano que vem nos EUA. O traço foi feito em cima do que os fãs já conhecem da Graphic Novel original. Batman está pesado, soturno e velho. Sua forma física volumosa vai deixar muita gente surpreso. Seu maior inimigo é o chefe da gangue “Mutantes”, um sujeito musculoso e casca grossa que sai no braço com ele numa bem realizada sequência final, no meio da lama e do esgoto de Gotham. Outros acessórios e equipamentos de Batman surgem com algumas modificações interessantes. O Batmóvel, por exemplo, mais parece um tanque de guerra, com artilharia pesada. Há boas cenas de lutas e diálogos bem trabalhados. Embora essa adaptação seja sombria e pessimista não há como comparar com os filmes de Christopher Nolan. Como animação porém é bem eficiente. Produto bem feito que merece ser assistido pelos fãs do universo do homem morcego mesmo que ele esteja na terceira idade.

Batman: O Cavaleiro das Trevas - Parte 1 (Batman: The Dark Knight Returns, Part 1, Estados Unidos, 2012) Direção: Jay Oliva / Roteiro: Bob Goodman baseado nos personagens criados por Bob Kane e na Graphic Novel escrita por Frank Miller / Elenco: Peter Weller, Ariel Winter, Michael McKean / Sinopse: Um envelhecido Batman volta às ruas de Gotham City pela última vez para tentar barrar a onda de criminalidade que asola a cidade. Para isso terá que enfrentar uma gangue de jovens criminosos auto denominada "Os Mutantes".

Pablo Aluísio.

Falcão, O Campeão dos Campeões

Sylvester Stallone nunca foi bobo. Se uma fórmula estava dando certo por que mudá-la? O exemplo maior é esse filme “Over The Top” (que no Brasil recebeu um título espalhafatoso e, na minha opinião, sem impacto). A fórmula em questão já havia dado muito certo na série Rocky então o próprio Stallone resolveu requentar esse prato, criando uma espécie de genérico daquele seu personagem mais famoso. Aqui temos o mesmo argumento que foi usado em Rocky: um homem comum que tenta superar seus problemas pessoais vencendo no mundo dos esportes. A única diferença é que sai o boxe de Rocky e entra as competições de queda de braço de Falcão. No núcleo familiar acompanhamos a tentativa de Lincoln Hawk (Stallone) em se aproximar de seu único filho, um garoto introspectivo que foi criado em uma escola militar. Stallone repete aqui todos os seus maneirismos em cena. Usando de seu carisma ele tenta conquistar a amizade do filho que não vê há anos. “Falcão, o Campeão dos Campeões” foi lançado no auge da popularidade de Stallone na carreira mas curiosamente não conseguiu repetir o êxito de bilheteria de seus outros filmes na época. Só para relembrar o filme foi lançado nas telas logo após “Stallone Cobra” e pouco antes de “Rambo III” mas teve desempenho apenas mediano nas bilheterias americanas. Provavelmente o público não comprou a idéia de ver o astro disputando competições de quedas de braços com outros caminhoneiros ao longo de toda a fita.

O filme foi dirigido por Menahem Golan. Ele era um dos donos da Cannon Group, produtora muito atuante no cinema de ação da década de 80. Tendo dirigido Chuck Norris no sucesso “Comando Delta”, Golan agora dava um passo ousado contratando o maior nome do cinema na época. Por um cachê milionário ele trouxe Stallone para a Cannon mas o resultado modesto de faturamento logo desfez a parceria. Pouco tempo depois a própria Cannon fecharia as portas encerrando definitivamente suas atividades. Visto hoje em dia “Falcão – O Campeão dos Campeões” se revela até um bom passatempo. Claro que os longos anos que separam de seu lançamento deixaram “Falcão” datado. De qualquer forma se o espectador deixar isso de lado pode até mesmo se divertir com as cenas de queda de braço, tudo com muito suor e caretas por parte de Stallone e elenco. Embora tenha rendido uma bilheteria de respeito no Brasil o filme anda esquecido. No saldo final não deixa de ser uma boa opção para se conhecer a fórmula Stallone de fazer cinema na década de 80. Um pipocão que apesar dos anos ainda pode funcionar caso você não seja demasiadamente exigente.

Falcão – O Campeão dos Campeões (Over The Top, Estados Unidos, 1987) Direção: Menahem Golan / Roteiro: Sylvester Stallone, Gary Conway, David Engelbach, Stirling Silliphant / Elenco: Sylvester Stallone, Robert Loggia, Susan Blakely, Rick Zumwalt / Sinopse: Lincoln Hawk (Sylvester Stallone) é um caminhoneiro que participa de competições de quedas de braço. Agora terá que lidar com seu filho que não vê há muito tempo.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Cocoon

Alguns filmes vencem pela simpatia e boas intenções. Esse foi o caso dessa simpática produção, "Cocoon". Sucesso de bilheteria o filme inovava dentro do gênero ficção científica ao colocar em cena um grupo de velhinhos em um asilo que recuperava a energia de sua juventude ao mergulhar em uma piscina onde extraterrestres guardavam grandes casulos, os tais que dão origem ao título do filme. "Cocoon" de certa forma era inspirado na imagem positiva dos ETs que o público havia visto no grande sucesso de Steven Spielberg, "ET - O Extraterrestre". Como se sabe os seres de outros planetas quase sempre eram retratados como agentes do mal, invasores e dominadores em relação ao nosso planeta. Essa visão era extremamente popular na década de 50 com poucas exceções (como "O Dia em Que a Terra Parou"). No geral prevalecia o retrato malvado dos seres espaciais como em "Guerra dos Mundos". 

Depois de ET de Spielberg a coisa mudou de foco. Se eram seres tão avançados a ponto de virem até nosso planeta não fazia o menor sentido serem guerreiros ou destruidores, pelo contrário o nível que tinham atingindo só poderia ser fruto de uma civilização avançada e bondosa. Assim são os extraterrestres de "Cocoon". Seres que não se importam em ajudar os idosos que se tornam seus amigos. E por falar em velhinhos simpáticos "Cocoon" trazia para as telas um excelente grupo de atores veteranos (alguns em seu último trabalho nas telas). Os destaques são Don Ameche (sempre ótimo, com um feeling de humor raro) e Jessica Tandy (uma veterana dos palcos e dos filmes, a primeira atriz a contracenar com Marlon Brando em "Uma Rua Chamada Pecado" no teatro). Completando o elenco dois atores que fizeram muito sucesso na década de 80: Steve Guttenberg (da franquia de humor de grande sucesso "Loucademia de Polícia") e Brian Dennehy (dos sucessos "Rambo" e "Silverado"). Na direção o subestimado diretor Ron Howard, amado por uns e odiado por outros que o consideram superficial em excesso. Aqui pelo menos em "Cocoon" ele encontrou o tom certo, uma fábula muito graciosa sobre amizade, dignidade na terceira idade e beleza interior. Teve uma continuação dispensável alguns anos depois por causa do sucesso de bilheteria desse. Bons tempos em que os efeitos existiam para dar suporte a um bom roteiro e argumento. Se você gosta de um bom filme de ficção não pode deixar de assistir "Cocoon".  

Cocoon (Cocoon. Estados Unidos, 1985) Direção: Ron Howard / Roteiro: Tom Benedek baseado na estória de David Saperstein / Elenco: Don Ameche, Jessica Tandy, Steve Guttenberg, Brian Dennehy, Wilford Brimley, Hume Cronyn, Maureen Stapleton / Sinopse: Um grupo de velhinhos em um asilo recupera a energia e a alegria de sua juventude ao mergulhar em uma piscina onde extraterrestres guardam grandes casulos, os tais que dão origem ao título do filme.  

Pablo Aluísio.

Conspiração Xangai

Um agente da inteligência americana investiga a morte de um amigo em Xangai, na China, durante a invasão japonesa ao país. "Conspiração Xangai" é um filme irregular. A trama segue com problemas de ritmo e roteiro. De fato se percebe facilmente que o texto de autoria de Hossein Amini não é muito bom pois não consegue apresentar os personagens de forma satisfatória pois tudo é jogado na tela sem maiores explicações. Desse modo o espectador demora um pouco para entender bem quem é quem e quais são os objetivos deles dentro da estória. Além do roteiro desencontrado a direção de Mikael Håfström não é nada brilhante pois não sabe muito bem criar o clima adequado para filmes de espionagem. Aos poucos porém as coisas vão melhorando, vamos nos situando melhor na trama e o filme fica melhor. O problema é que muitos espectadores não terão paciência para chegar até lá e simplesmente abandonarão o filme pela metade. 

"Conspiração Xangai" se inspira em muitas fontes mas principalmente nos antigos filmes de espiões. Até a cena de cassino com o ator John Cusack vestindo um elegante terno branco (igual ao de Sean Connery na franquia 007) se encontra no filme. Felizmente as semelhanças param por aí, pois o roteiro segue a linha mais realista, sem os exageros pirotécnicos de Bond. Na minha concepção o desfecho do filme não é muito interessante uma vez que ficamos com a sensação de que tudo o que aconteceu durante todo o filme não tem a menor importância pois a guerra acontece do mesmo jeito e o Japão finalmente invade a cidade (coisa que era óbvia desde as primeiras cenas). Assim se fica com a sensação de perda de tempo. Enfim, poderia ser bem melhor, melhor dirigido e principalmente melhor roteirizado. Filmes de espionagem precisam do clima e suspense adequados e isso não é uma mera opção, é uma obrigação. Infelizmente "Conspiração Xangai" não é muito bom nesse aspecto.  

Conspiração Xangai (Shanghai, Estados Unidos, China, 2010) Direção: Mikael Håfström / Roteiro: Hossein Amini / Elenco: John Cusack, Li Gong, Yun-Fat Chow, David Morse, Ken Watanabe, Franka Potente, Jeffrey Dean Morgan, Hugh Bonneville, Yuan On, Hon Ping Tang, Benedict Wong / Sinopse: Um agente da inteligência americana investiga a morte de um amigo em Xangai, na China, durante a invasão japonesa ao país. 

Pablo Aluísio.

domingo, 9 de setembro de 2012

Meu Malvado Favorito

Outra animação para falarmos nesse domingão: Meu Malvado Favorito. Essa realmente é uma das melhores de 2010. Gostei de praticamente tudo, do bom roteiro, do design muito bem feito dos personagens, do estilo leve e divertido. Acredito que "Meu Malvado Favorito" seja indicado para crianças mais jovens - entre 8 e 10 anos - já que todos os personagens seguem a linha "fofinha". Seu grande sucesso de bilheteria (ficou entre os dez maiores campeões de bilheteria de 2010) parece confirmar que os produtores e os diretores acertaram em cheio ao mirar no gosto do público. Com tanto dinheiro em caixa agora resta apenas esperar pela continuação, já que essa é certa. Aliás é bom chamar a atenção para o fato de que o sucesso de tantas animações no cinema tem aberto as portas para muitos novos talentos na área. 

Pierre Coffin, um dos diretores desse filme por exemplo, é praticamente um novato, não tendo nada de muito significativa em seu curriculum. Idem para o outro diretor da animação, Chris Renaud, que apenas participou de "A Era do Gelo 2" mas não como diretor e sim apenas como animador. Com o sucesso absoluto de "Meu Malvado Favorito" certamente os dois entrarão no primeiro time da animação. Assim novos talentos são revelados. Essa parece ser a melhor coisa mesmo do êxito do filme. Enfim, recomendo, o filme me deixou bastante satisfeito. Vale a pena assistir.  

Meu Malvado Favorito (Despicable Me, Estados Undos, França, 2010) Direção: Pierre Coffin, Chris Renaud, Sergio Pablos / Elenco: Vozes de Steve Carell e Jason Segel / Roteiro: Ken Daurio, Cinco Paul / Gru (Steve Carell) sente orgulho de ser o "maior vilão do mundo". O problema é que surge um novato para atrapalhar seu posto, Vetor (Jason Segel). Para piorar tudo três meninas órfãs vão morar com ele, o que irá causar vários problemas na execução de seus planos de maldades. 

Pablo Aluísio.

Megamente

Megamente (Will Ferrell) é um vilão que deseja conquistar a cidade de Metro City. Para isso precisará enfrentar Metro Man (Brad Pitt), o super-herói da cidade. Como hoje é domingo vamos falar um pouco sobre animação aqui no blog. A começar por esse "Megamente". Duas coisas me chamaram a atenção: a repetição do argumento que já tinha sido usado em "Meu Malvado Favorito" e a sátira em cima da mitologia do Superman. Realmente "Megamente" não traz nada de muito novo. Esse argumento do vilão bonzinho já tinha sido usado no sucesso "Meu Malvado Favorito" e lá pelo menos com mais talento. Os personagens são visualmente bem bolados, cheios de referências à cultura pop mas apesar disso tudo ficou com o gostinho de "Deja Vu" no ar. Até mesmo a trilha sonora é mais do mesmo, usando de várias canções já conhecidas para momentos chaves na animação (entre as músicas temos "A Little Less Conversation" de Elvis Presley e "Bad" de Michael Jackson).

Já a sátira em cima da mitologia do Superman é bem mais óbvia. Megamente nada mais é do que uma paródia de Lex Luthor e Megaman nada mais é do que uma visão cartunesca e bem humorada do próprio Superman. Esse inclusive forja sua própria morte (numa bem humorada referência pop ao mito de que Elvis teria forjado sua morte para fugir da fama e assédio). No final das contas Megamente é bem feito na questão técnica mas peca pela repetição em seu argumento. Está na hora da Dreamworks ser mais original, evitando inclusive de imitar suas próprias animações anteriores.

Megamente (Megamind, Estados Unidos, 2010) Direção: Tom McGrath / Roteiro: Alan J. Schoolcraft, Brent Simons / Elenco: vozes de Brad Pitt, Will Ferrell, Tina Fey, Jonah Hill / Sinopse: Megamente (Will Ferrell) é um vilão que deseja conquistar a cidade de Metro City. Para isso precisará enfrentar Metro Man (Brad Pitt), o super-herói da cidade.

Pablo Aluísio.

sábado, 8 de setembro de 2012

A Ponte de San Luis Rey

Durante a inquisição espanhola no Peru o jovem frei Juniper (Gabriel Byrne) resolve contar em livro a história de cinco pessoas da comunidade que morreram em um acidente na ponte de San Luis Rey. O livro acaba desagradando a Igreja Católica que acaba o acusando de heresia. "A Ponte de San Luis Rey" é um bom exemplo de que nem sempre um grande elenco e um argumento interessante garantem um bom filme. O que mais me chamou atenção aqui é realmente o elenco espetacular em cena. Todos grandes atores, passando por Robert De Niro, F. Murray Abraham, Harvey Keitel e Kathy Bates. Todos são profissionais consagrados. O argumento também é chamativo: a atuação da inquisição espanhola na colônia do Peru durante o século XVII. Tudo levaria a crer que com todos esses ingredientes teríamos certamente um belo filme pela frente. Infelizmente não é isso o que acontece. 

A obra não se desenvolve, não progride. Tem sérios problemas de edição e ritmo (em certos momentos a trama parece correr rápida demais, para em outros tudo fluir lentamente, chegando a estagnar). A direção é muito fraca, até mesmo os atores parecem perdidos. Um exemplo é a caracterização do vice rei da Espanha feita pelo grande ator F. Murray Abraham. Ele não consegue achar um tom certo, em algumas cenas o personagem parece um bufão, em outras ele soa dramático e finalmente tenta se tornar charmoso. Isso cansa, principalmente ao espectador. A edição do filme, como eu já citei, é desastrosa. Alguns cortes de cena não tem motivo de ser, as coisas vão acontecendo ao acaso, sem estrutura. Por isso o filme sofre muito com essas rupturas de desenvolvimento. Robert De Niro também está muito irregular. Na maioria das cenas ele parece no piloto automático para só então dar pequenos espasmos de seu talento (como na cena final). Mas tudo muito breve, sem empolgação. Enfim, uma boa idéia e um ótimo elenco totalmente desperdiçados. Um filme que cai no abismo da banalidade (e nem precisou atravessar aquela ponte digna de Indiana Jones para isso).

A Ponte de San Luis Rey (The Bridge of San Luis Rey, Estados Unidos, 2004) Direção: Mary McGuckian / Roteiro: Mary McGuckian baseado na novela de Thornton Wilder / Elenco: Robert De Niro, Kathy Bates, Harvey Keitel, F. Murray Abraham, Gabriel Byrne /Sinopse: Durante a inquisição espanhola no Peru o jovem frei Juniper (Gabriel Byrne) resolve contar em livro a história de cinco pessoas da comunidade que morreram em um acidente na ponte de San Luis Rey. O livro acaba desagradando a Igreja Católica que acaba o acusando de heresia.

Pablo Aluísio.

O Esconderijo

Jovem casal decide comprar uma linda casa mas desconhece sua história. Ex propriedade de um grande narcotraficante a residência esconde sob suas paredes um enorme carregamento de heroína. Para recuperar o que eles chamam de "pacote" dois assassinos são enviados pelo cartel, sendo um deles um grandalhão de poucas palavras e muitos músculos interpretado pelo ator Dolph Lundgren. "Stash House" não é como alguns podem crer um filme de ação pura e simples com muito sangue e tiros. O surpreendente é que essa produção modesta tem um roteiro esperto que joga muito mais com a situação de "gato e rato" entre o casal e os assassinos do que qualquer outra coisa. O fato é que o casal fica preso dentro da residência sem condições de chamar a polícia pois os enviados do narcotráfico ficam do lado de fora tentando entrar de todas as formas (como pertenceu a um narcotraficante o lugar é super seguro com sistema de segurança de última geração). A partir daí vamos acompanhando as tentativas do jovem casal em conseguir algum tipo de ajuda enquanto os dois grandalhões armam maneiras de liquidá-los.

Dolph Lundgren está tendo mais uma sobrevida em sua carreira após o sucesso da franquia "Mercenários". O mais curioso é que com 52 filmes no currículo o ator nunca desistiu de continuar a fazer cinema, trabalhando sempre, mesmo que em produções bem modestas e simples. Essa persistência lhe valeu uma grande popularidade no leste europeu e esse fã clube do ator tem mantido sua carreira viva. Só para se ter uma ideia da produtividade de Lundgren basta citar o fato que ele está diretamente envolvido com nada mais, nada menos do que nove novos filmes após esse Stash House (que é desse ano, 2012). Ou seja, o grandalhão realmente é um operário padrão, sempre trabalhando, sempre atuando. Embora tenha feito muito filme fraco ao longo de toda sua carreira esse "Stash House" é dos melhores dentro de sua filmografia. O foco nem é tanto dirigido para a ação mas sim para o suspense e tensão decorrentes da situação central do roteiro. No final das contas é um thriller que consegue prender a atenção do espectador embora seja modesto e simples em suas pretensões. Para os fãs do ator sueco por outro lado a produção é obrigatória.

O Esconderijo (Stash House, Estados Unidos, 2012) Direção: Eduardo Rodriguez / Roteiro: Gary Spinelli / Elenco: Dolph Lundgren, Briana Evigan, Sean Faris / Sinopse: Jovem casal decide comprar uma linda casa mas desconhece sua história. Ex-propriedade de um grande narcotraficante a residência esconde sob suas paredes um enorme carregamento de heroína. Para recuperar o que eles chamam de "pacote" dois assassinos são enviados pelo cartel. Presos na residência que mais parece um bunker o casal tentará chamar por socorro de alguma forma.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

The Everly Brothers

Muita gente pensa que o estilo dos Beatles em sua primeira fase era único e singular, sem precedentes. Essa idéia é completamente equivocada. A música é um eterno mosaico onde artistas lançam suas pitadas de originalidade ao mesmo tempo em que recebem influências de outros músicos do passado. Na verdade praticamente não existe qualquer cantor, grupo ou compositor que possa ser considerado completamente original. Todos são influenciados ao mesmo tempo em que influenciam. Um caso exemplar disso que estou escrevendo é esse grupo The Everly Brothers. Não há como negar. Em essência a dupla é uma das principais fontes em que os Beatles beberam para criar sua própria musicalidade. A vocalização, as letras simples falando sobre amores juvenis e adolescentes, a base instrumental, está tudo lá nos discos dos Everly Brothers. A vida deles inclusive foi tão conturbada e cheia de problemas internos quanto os Beatles. Don e Phil Everly emplacaram inúmeros grandes sucessos na década de 50 e fizeram parte daquele genial grupo de cantores que traziam para o grande público algo novo e inovador chamado Rock´n´Roll. Seu sucesso foi tão marcante que conseguiram chegar com 26 músicas no Top 40 da principal parada de sucessos dos EUA. Um feito e tanto. Mas durou pouco.

A relação dos irmãos era muito complicada. Quem acha que os irmãos do Oasis são problemáticos não conhece a história dessa dupla. Viviam ás turras, brigando sempre, trocando insultos e ofensas. Muitas vezes a proximidade decorrente do parentesco afrouxa os laços de respeito mútuo. Foi justamente o que aconteceu aqui com os Everly Brothers. Ao longo da carreira brigaram com empresários, gravadoras e entre si. O vício em drogas de Don não ajudou em nada. O grupo terminou de forma melancólica após Phill quebrar seu violão em pleno palco, irritado com tudo o que se referia ao grupo. O que fica porém dessa genial dupla é a sua rica discografia com várias músicas simplesmente imortais, entre elas seu primeiro grande sucesso “Bye Bye Love”, com uma vocalização evocativa e letra simples mas tocante. O curioso é que a canção chegou a ser oferecida a Elvis Presley mas esse parece não ter gostado da melodia. Mais tarde Presley se arrependeria ao ver “Bye Bye Love” disputando as primeiras posições na parada com suas próprias músicas. Depois do fim da dupla Phil e Don ainda tentaram alguns recomeços, voltaram a tocar juntos mas o fato é que eles já não eram os mesmos de antes. Vivendo de festivais de nostalgia e revivals o grande legado do grupo veio na forma de diversas regravações de sucesso de suas antigas canções como por exemplo "Crying In The Rain" que o grupo A-há trouxe de volta às paradas na década de 90. É a velha máxima: a arte sobrevive aos artistas e definitivamente não tem idade.

The Everly Brothers - Bye Bye Love
Se você estiver em busca de apenas uma música que defina todo o trabalho dos ótimos The Everly Brothers eu recomendo esse single lançado em março de 1957. Veja, no período mais criativo do surgimento do rock ´n´ roll americano a dupla Don e Phil Everly surgiam com uma proposta diferente. Ao invés dos grupos de rock formados por violão, guitarra e bateria, eles subiam ao palco apenas com dois violões e vocais afinadíssimos. O visual lembrava James Dean, com aqueles grandes topetes cheios de brilhantina. Eram jovens e excelentes instrumentistas, a tal ponto que todos os demais instrumentos eram sumariamente dispensados em suas apresentações. Em termos de letras e melodias havia uma busca por uma sonoridade que lembrava o country de raiz, das montanhas do sul, mas que fosse ao mesmo tempo ligado com o novo movimento que tomava as rádios americanas de assalto. O estilo dos rapazes fincou raízes e não apenas na América mas também pelo mundo afora, a ponto de Paul McCartney declarar que a sonoridade dos primeiros discos dos Beatles bebiam diretamente do estilo dos The Everly Brothers.

Como eram artistas jovens, os Brothers andavam em busca de uma canção que tocasse fundo na alma da garotada, se possível mostrando aspectos dos primeiros amores na escola, das desilusões sentimentais nessa fase da vida dos jovens. Sob esse ponto de vista "Bye Bye Love" se mostrava certeira. Escrita por Felice e Boudleaux Bryant foi composta justamente em cima dessa proposta. Felice estava apaixonada por um garoto de sua sala de aula, mas antes que pudesse se declarar a ele o jovem foi transferido para outro colégio. Isso devastou a compositora que logo escreveu os versos de "Bye Bye Love". Com um background desses não é de se admirar que quando o single pintou nas lojas se tornou rapidamente um hit, chegando ao ponto de liderar listas importantes na Billboard e na parada Cash Box. Na primeira de 1957 lá estava a canção chegando ao primeiro lugar - algo completamente inédito para a dupla. Ao longo dos anos a música acabou virando uma referência recebendo inúmeras regravações, entre elas as de George Harrison, Roy Orbison e Ray Charles. Nada mal para uns versinhos escritos na sala de aula por uma colegial apaixonada!

The Everly Brothers - June is as Cold as December
Um das músicas mais lembradas da dupla The Everly Brothers entre os colecionadores é "June is as Cold as December". Um dos aspectos curiosos dessa canção é que os irmãos deixaram para trás o som acústico mais característico de seus primeiros discos para abraçar um som mais de acordo com a nova sonoridade pós-Beatles. Isso fica bem claro nos arranjos. Ao invés de se sustentar apenas na força de seus violões e vocais, que ironicamente inspiraram os Beatles em sua primeira fase, o Everly Brothers abraçou o novo som dos anos 60 (a música foi gravada em 1966) e isso significava ter todo um grupo de apoio dentro do estúdio. Os mais tradicionais fãs não gostaram muito das mudanças. Com o tempo porém a canção foi ganhando status de cult e hoje é uma das mais valorizadas. O single original custa uma pequena fortuna entre os colecionadores de vinil nos Estados Unidos e Europa.

Phil Everly (Everly Brothers)
Pode chamar de intuição ou de qualquer outra coisa. Estava preparando o próximo texto desse blog e até tinha escolhido o disco do A-ha "East of the Sun, West of the Moon" quando recebi a notícia da morte de Phil Everly, da dupla Everly Brothers! E o que isso tem a ver? Ora, a canção que se tornou sucesso mundial desse LP do grupo A-ha foi justamente "Crying in the rain" dos Everly Brothers! Eu já tive a oportunidade de escrever aqui mesmo em nosso blog sobre essa dupla que foi incrivelmente popular nos anos 1950. Além de lindas canções de amor eles legaram ao rock uma influência duradoura que passou por vários ícones do ritmo como Beatles, Bob Dylan Beach Boys e The Byrds. Impossível não lembrar de canções eternas como "Cathy's Clown", "Wake up little Susie", "Bye bye love", 'When will I be loved" e "All I Have to do is Dream". Inclusive me recordo agora que um dos meus primeiros CDs da minha vida foi justamente dos Everly Brothers. Havia mais de 20 músicas nele, o que para mim na época era uma surpresa e tanto pois estava acostumado com os discos de vinil com apenas no máximo 12 faixas!

Phil Everly morreu aos 74 anos de uma doença pulmonar na sexta-feira, dia 3 de dezembro. Foi um fumante inveterado toda a vida o que ajudou ainda mais com o surgimento desse problema de saúde. Infelizmente Phil foi de uma época em que todos fumavam regularmente, isso era comum entre os jovens dos anos 1950. Mais cedo ou mais tarde a conta vem e muitas vezes da pior maneira possível. Uma pena que tenha ido relativamente cedo, ainda mais agora que os Everly Brothers voltavam a virar notícia após o anúncio de que suas músicas estariam em novas versões em um álbum especial, interpretadas por Billie Joe Armstrong, vocalista do Green Day, e a querida Norah Jones. De uma maneira ou outra deixamos aqui nossos sentimentos à família do cantor e compositor. Descanse em paz.

The Everly Brothers - Imagine dois jovens parecidos com Elvis Presley. E isso em plenos anos 1950. Imagine agora que eles seriam a principal fonte de inspiração de quatro rapazes ingleses que no futuro iriam se transformar nos Beatles. Bom, bastava isso para colocar os irmãos Everly dentro da história da música americana. Pois foi justamente isso o que aconteceu com essa dupla, os Everly Brothers. 

O curioso é que eles, que foram da primeira geração do rock americano, a partir de meados dos anos 50, também não sobreviveram à virada da década de 60. Eram bem temperamentais e quase nunca concordavam sobre o que iriam tocar nos shows, o que iriam gravar nos discos etc. A discussão entre eles estava sempre na ordem do dia. Não paravam de brigar.

A dupla chegaria precocemente ao final durante um concerto. O clima entre os irmãos estava tão ruim que eles começaram a discutir no palco. No auge da discussão um dos irmãos Everly decidiu transformar seu violão em arma e meteu na cabeça do outro irmão, ali mesmo na frente do público. A confusão então foi generalizada. Assim os joviais clones de Elvis se separaram. Porém seus discos sobreviveram, atravessaram o Atlântico e, segundo Paul McCartney, serviram de fonte para seus primeiros duetos vocais ao lado de John Lennon. Nada mal para uma dupla que inicialmente só queria animar o baile da escola onde estudavam.

Pablo Aluísio.

Wilde

Oscar Wilde (1854 - 1900) foi um dos maiores dramaturgos e escritores da literatura inglesa. Escreveu entre outros os grandes clássicos "O Retrato de Dorian Gray", "O Fantasma de Canterville" e na poesia "Rosa Mystica". Além de grande autor era também uma figura polêmica, desafiadora para os rígidos padrões da sociedade britânica de seu tempo. Com frases extremamente inteligentes satirizava a sisuda alta sociedade de seu país, usando sua pena de forma mordaz e contundente. A sua ligação com a sétima arte vem de longe com as inúmeras adaptações que "O Retrato de Dorian Gray" teve para o cinema. Aqui porém o foco é desviado para a própria pessoa do escritor, mostrando aspectos de sua biografia. Achei uma produção muito bem conduzida, escrita e interpretada. 

A primeira parte do filme pode soar confusa para quem não conhece a biografia do escritor mas aos poucos tudo vai se desenvolvendo melhor. As cenas iniciais mostram Oscar no oeste americano, visitando uma mina. Curiosamente essa turnê de Wilde nos Estados Unidos foi um fator decisivo para a construção de sua fama e mito. Depois desse começo meio desencontrado o filme finalmente deslancha. O elenco está muito bem, principalmente Stephen Fry como Wilde. Sua personalidade ao mesmo tempo irônica e ousada foi muito bem capturada pelo ator. Eu tenho restrições em relação ao Jude Law (que aqui interpreta Bosie, o jovem amante do escritor). Isso porque o verdadeiro Bosie era muito mais jovem do que Law. Além disso era mais afeminado e delicado. Nesse aspecto Jude não conseguiu capturar com fidelidade o personagem real, mostrando um jovem frívolo mas raivoso e em certos momentos violento. O roteiro retrata a conturbada relação entre Wilde e Bosie com muito bom gosto, sem se tornar ofensivo ou vulgar. O texto não perde muito tempo no julgamento de Wilde e se concentra mais no tumultuado triângulo amoroso que liga Wilde, Bosie e Constance, a esposa de Oscar. Achei a decisão bem acertada pois não torna o filme cansativo e chato até porque cenas de tribunais costumam ficar enfadonhas. O saldo final é muito bom. Em conclusão devo dizer que vale bastante conhecer esse filme. Além de ser interessante do ponto de vista histórico "Wilde" ainda lida com a questão do homossexualismo em plena era vitoriana. Está mais do que recomendado.  

Wilde (Wilde, Estados Unidos, 1997) Direção: Brian Gilbert / Roteiro: Richard Ellman, Julian Mitchell / Elenco: Stephen Fry, Jude Law, Tom Wilkinson, Vanessa Redgrave, Jennifer Ehle, Gemma Jones, Judy Parfitt, Michael Sheen, Orlando Bloom./ Sinopse: Cinebiografia do escritor Oscar Wilde. 

Pablo Aluísio.