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quarta-feira, 15 de julho de 2020

O Céu Pode Esperar

Ao morrer, Henry Van Cleve (Don Ameche) decide por conta própria se dirigir até o inferno onde é recebido cordialmente por um sujeito que responde apenas por “Excelência” (uma metáfora para o diabo em pessoa mesmo). Embora Henry queira ir logo para o “andar de baixo” o diabo não está convencido que esse seja realmente o seu lugar. Para convencer o dito cujo, Henry começa a recordar toda a sua vida, como que tentando demonstrar que o céu definitivamente também não era o seu lugar. Assim começa a trama sui generis de “O Céu Pode Esperar” (também conhecido como “O Diabo Disse Não”). O roteiro, muito bem escrito, se desenvolve enquanto o narrador-defunto vai contando os acontecimentos de sua existência. É um estilo narrativo que lembra inclusive o nosso Machado de Assis em sua famosa obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Nascido em família rica de Nova Iorque, Henry é cercado por luxo e riqueza desde a infância. Garoto travesso e desobediente, segue implicando com empregados e membros de sua família. Quando se torna jovem acaba roubando a noiva de seu primo, o advogado almofadinha Albert Van Cleve (Allyn Joslyn). O que parece ser um caso de impulso típico de jovens se revela porém um grande amor que atravessa décadas. Ao lado de Martha (Gene Tierney) ele finalmente encontra o equilíbrio em sua vida.

“O Céu Pode Esperar” é um filme acima de tudo muito elegante. Figurinos luxuosos, cenas bem realizadas, com muita pompa e glamour. A sociedade rica de Nova Iorque do final do século XIX é muito bem retratada e reconstituída. De certa forma a produção classe A mostra bem a fina elegância que rondava todos os filmes assinados pelo brilhante diretor Ernst Lubitsch. Veterano, gostava de realizar filmes que enchiam os olhos. Era adepto do cinema espetáculo, que mostrava pessoas ricas e sofisticadas. Curiosamente o cineasta não se deu muito bem com a atriz Gene Tierney. Em entrevistas ela chegou ao ponto de chamá-lo de “ditador”. Na realidade Lubitsch sempre foi um perfeccionista nato, que chegava quase às raias da obsessão. Quem ganhava no final das contas era o espectador.

O resultado como se pode conferir aqui era dos melhores, com muita sofisticação. O roteiro foi baseado em uma peça de teatro que fez grande sucesso no rádio. Nessa versão radiofônica o personagem Henry já havia sido interpretado por Don Ameche e por isso ele foi novamente escalado. Sua atuação foi tão bem realizada que ele próprio, muitas décadas depois, afirmou que essa sempre fora a atuação preferida de sua filmografia, dentre tantas que realizou ao longo da vida. No final tudo saiu a contendo. O filme fez bastante sucesso e acabou sendo indicado nas principais categorias do Oscar, entre elas Melhor Filme, Melhor Fotografia e Melhor Direção. Para quem aprecia o cicnema do passado é uma ótima dica conhecer esse excelente filme.

O Céu Pode Esperar / O Diabo Disse Não (Heaven Can Wait, Estados Unidos, 1943) Direção: Ernst Lubitsch / Roteiro: Samson Raphaelson baseado na peça de Leslie Bush-Fekete / Elenco: Gene Tierney, Don Ameche, Charles Coburn, Marjorie Main, Laird Cregar / Sinopse: Após morrer aos 70 anos de idade, Henry Van Cleve (Don Ameche) resolve se dirigir até as portas do inferno para pagar por seus pecados. Ao chegar lá o diabo em pessoa (Laird Gregar) decide ouvir sua história para ver se ele realmente merece ir para lá.

Pablo Aluísio.

domingo, 19 de abril de 2015

Oscar

Não se sabe até hoje a razão, mas o fato é que no começo dos anos 90 Stallone colocou na cabeça que era um sujeito engraçado. Tentando mudar radicalmente de imagem ele resolveu estrelar duas comédias que ajudaram a sedimentar uma época bem ruim para o ator em termos de bilheteria e sucesso comercial. Ambos os filmes fracassaram (de forma justa, aliás) e mostraram de forma definitiva que não, Stallone realmente não tinha talento para filmes de humor. Nesse "Oscar" ainda temos uma boa produção, luxuosa até, fruto da confiança que os produtores ainda colocavam em seu nome por causa da sucessão de sucessos que emplacou nos anos 80.

Depois do fracasso comercial a estrela de Stallone começou a perder seu brilho. Para piorar, como se não bastassem as péssimas críticas e a bilheteria decepcionante, Stallone ainda teve que arcar com as vexatórias indicações ao Framboesa de Ouro nas categorias de Pior Ator (Stallone, pagando por seu ego cego), Pior Atriz Coadjuvente (sim, ela mesma, Marisa Tomei, saindo direto do prêmio máximo da academia para o vexame completo) e Pior Diretor (que pena, John Landis, pelo conjunto da obra nem merecia algo assim). Dessa maneira fica a recomendação: não assista ao filme, você não vai achar graça nenhuma e certamente ficará com a sensação de perder seu tempo.

Oscar - Minha Filha Quer Casar (Oscar, Estados Unidos, 1991) Direção: John Landis / Roteiro: Claude Magnier, Michael Barrie / Elenco: Sylvester Stallone, Ornella Muti, Don Ameche, Maria Tomei / Sinopse: Comédia estrelada pelo herói de filmes de ação Sylvester Stallone.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Cocoon

Alguns filmes vencem pela simpatia e boas intenções. Esse foi o caso dessa simpática produção, "Cocoon". Sucesso de bilheteria o filme inovava dentro do gênero ficção científica ao colocar em cena um grupo de velhinhos em um asilo que recuperava a energia de sua juventude ao mergulhar em uma piscina onde extraterrestres guardavam grandes casulos, os tais que dão origem ao título do filme. "Cocoon" de certa forma era inspirado na imagem positiva dos ETs que o público havia visto no grande sucesso de Steven Spielberg, "ET - O Extraterrestre". Como se sabe os seres de outros planetas quase sempre eram retratados como agentes do mal, invasores e dominadores em relação ao nosso planeta. Essa visão era extremamente popular na década de 50 com poucas exceções (como "O Dia em Que a Terra Parou"). No geral prevalecia o retrato malvado dos seres espaciais como em "Guerra dos Mundos". 

Depois de ET de Spielberg a coisa mudou de foco. Se eram seres tão avançados a ponto de virem até nosso planeta não fazia o menor sentido serem guerreiros ou destruidores, pelo contrário o nível que tinham atingindo só poderia ser fruto de uma civilização avançada e bondosa. Assim são os extraterrestres de "Cocoon". Seres que não se importam em ajudar os idosos que se tornam seus amigos. E por falar em velhinhos simpáticos "Cocoon" trazia para as telas um excelente grupo de atores veteranos (alguns em seu último trabalho nas telas). Os destaques são Don Ameche (sempre ótimo, com um feeling de humor raro) e Jessica Tandy (uma veterana dos palcos e dos filmes, a primeira atriz a contracenar com Marlon Brando em "Uma Rua Chamada Pecado" no teatro). Completando o elenco dois atores que fizeram muito sucesso na década de 80: Steve Guttenberg (da franquia de humor de grande sucesso "Loucademia de Polícia") e Brian Dennehy (dos sucessos "Rambo" e "Silverado"). Na direção o subestimado diretor Ron Howard, amado por uns e odiado por outros que o consideram superficial em excesso. Aqui pelo menos em "Cocoon" ele encontrou o tom certo, uma fábula muito graciosa sobre amizade, dignidade na terceira idade e beleza interior. Teve uma continuação dispensável alguns anos depois por causa do sucesso de bilheteria desse. Bons tempos em que os efeitos existiam para dar suporte a um bom roteiro e argumento. Se você gosta de um bom filme de ficção não pode deixar de assistir "Cocoon".  

Cocoon (Cocoon. Estados Unidos, 1985) Direção: Ron Howard / Roteiro: Tom Benedek baseado na estória de David Saperstein / Elenco: Don Ameche, Jessica Tandy, Steve Guttenberg, Brian Dennehy, Wilford Brimley, Hume Cronyn, Maureen Stapleton / Sinopse: Um grupo de velhinhos em um asilo recupera a energia e a alegria de sua juventude ao mergulhar em uma piscina onde extraterrestres guardam grandes casulos, os tais que dão origem ao título do filme.  

Pablo Aluísio.