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segunda-feira, 1 de maio de 2023

Quando o Coração Floresce

Título no Brasil: Quando o Coração Floresce
Título Original: Summertime
Ano de Lançamento: 1955
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: David Lean
Roteiro: Arthur Laurents, H.E. Bates
Elenco: Katharine Hepburn, Rossano Brazzi, Isa Miranda, Darren McGavin, Mari Aldon, Jeremy Spenser

Sinopse:
A norte-americana Jane Hudson (Katharine Hepburn) viaja de Ohio para Veneza. Jane é uma mulher solteira e solitária de meia-idade que economizou dinheiro para a viagem dos seus sonhos. Ela espera encontrar o amor de sua vida nessa jornada. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor atriz (Katharine Hepburn) e melhor direção (David Lean). 

Comentários:
Quando eu penso em filmes românticos dos anos 50 eu não penso imediatamente no nome da atriz Katharine Hepburn. Ela sempre interpretou personagens femininas mais fortes, nada a ver com mulheres românticas demais. Só que para toda regra existe uma exceção e esse filme se enquadra bem nisso. E o que mais me surpreende é saber que ela foi indicada ao Oscar de melhor atriz por esse papel, que achei até mesmo leve, romantizado em excesso. Não entendi a razão de ser lembrada no prêmio mais importante do ano para atrizes. Para cinéfilos em geral entretanto o grande atrativo vem do fato do filme ter sido dirigido pelo excelente mestre da sétima arte David Lean. Aqui já demonstrava todo o seu talento, procurando tirar todo o proveito de Veneza, uma das cidades reconhecidamente mais românticas do mundo. E nesse aspecto o cineasta certamente foi mais do que bem sucedido. O que já era belo ficou ainda mais bonito na perspectiva de suas lentes de cinema. 

Pablo Aluísio.

sábado, 23 de outubro de 2021

Segredos do Coração

Esse é um remake do clássico romântico "Tarde Demais Para Esquecer". O enredo mostrando um casal se apaixonando em uma viagem de navio (embora ambos sejam comprometidos), para depois se encontrarem no alto do Empire State Building em Nova Iorque, atravessou gerações e continua encantando os corações adolescentes. Eu gosto muito do filme dos anos 1950 e até mesmo da versão original (já escrevi inclusive resenhas sobre ambos os filmes em meu blog de cinema clássico). Das versões que tive oportunidade de conhecer essa é certamente a mais fraca. Em meu ponto de vista o filme peca por ser frio demais, distante em demasia. Parece até um longo comercial de sabonete. Ora, vamos convir que um filme romântico tem que no mínimo ter um romantismo latente, à flor da pele. A paixão tem que estar presente em cada fotograma.

O curioso é que Warren Beatty e Annette Bening são casados na vida real e acabam falhando justamente sobre isso, pois ficamos com a impressão de que não parece haver afeto verdadeiro entre eles. Seria uma confirmação da velha máxima que afirma que o casamento é o meio mais eficaz para destruir o verdadeiro amor? Pode ser. De uma forma ou outra, mesmo a produção sendo em muitos aspectos falsa e pouco convincente, sempre teremos a presença luminosa da estrela Katharine Hepburn no elenco para salvar a película da insignificância completa. Essa foi uma grande dama da arte de representar. Ela era magistral e compensa qualquer tipo de esforço em acreditar que Beatty e Bening realmente se amem de verdade!

Segredos do Coração (Love Affair, Estados Unidos, 1994) Direção: Glenn Gordon Caron / Roteiro: Mildred Cram, Leo McCarey / Elenco: Warren Beatty, Annette Bening, Katharine Hepburn / Sinopse: O filme "Segredos do Coração" conta uma história de amor que precisa ultrapassar vários obstáculos para finalmente se concretizar.

Pablo Aluísio.

domingo, 25 de outubro de 2020

Uma Aventura na África

Clássico do cinema, dirigido pelo mestre John Huston, esse filme se tornou uma espécie de modelo para os filmes de aventura que viriam a seguir. Na história o astro Humphrey Bogart interpretava um veterano capitão de barco chamado Charlie Allnutt. Ele comandava sua pequena embarcação chamada The African Queen pelos rios e riachos de uma África ainda bem selvagem e inexplorada. Ele acaba sendo contratado por uma missionária estrangeira, Rose Sayer (Katharine Hepburn). Ela acabara de enterrar seu irmão naquela terra esquecida por Deus. Após aceitar fazer essa viagem, que logo se percebe ser bem perigosa, atravessando rios com enormes correntezas, o capitão interpretado por Bogart acaba percebendo que está na verdade em uma "missão" não oficial para atacar as forças alemãs no continente. A história do filme se passa em 1914, quando a primeira guerra mundial começava a eclodir na Europa, com reflexos violentos nas colônias africanas das grandes potências da época.

Além de ser ótimo com cinema, o filme também ficou famoso pelos bastidores de filmagens. O diretor John Huston ficou obcecado com uma caçada bem no meio da produção. Isso atrasou o cronograma de filmagens, causando atrasos e prejuízos para o estúdio. Enquanto John Huston seguia sua caça, o resto do elenco e da equipe técnica ficaram no meio do nada, em regiões distantes da África, esperando pelo retorno do diretor. Esses fatos  dariam origem a um outro filme bem famoso, décadas depois, com Clint Eastwood, chamado "Coração de Caçador". A história dessas conturbadas filmagens foram registradas na época pelo roteirista do filme, dando origem a um ótimo livro sobre os bastidores do cinema americano.  

Essa aventura acabou se tornando o último filme em que trabalharam juntos Humphrey Bogart e Katharine Hepburn. Eles eram parte do primeiro escalão de astros e estrelas em Hollywood. Seus filmes na época eram sucessos tanto de público como de crítica. Eram da realeza da indústria do cinema. Mesmo com todos os problemas que tiveram de enfrentar na África, acabaram se tornando bons amigos. As filmagens nem sempre trouxeram o conforto esperado por eles, sendo que muitas vezes ficaram ao capricho de John Huston, cada vez mais obsessivo com suas caçadas. Mesmo assim, com todas as dificuldades, toda essa experiência acabaria deixando boas histórias para se contar. O próprio Bogart adorava relembrar tudo o que havia passado nas filmagens desse clássico. O mais estranho de tudo é que depois de um tempo na África, John Huston decidiu que todo mundo iria voltar para Hollywood, para finalizar o filme. Essa segunda parte, filmada dentro de estúdio, com os atores atuando na frente de uma tela exibindo as imagens da África selvagem, destoam da outra parte da produção; Isso criou um certo problema visual ao filme como um todo. Nem sempre a técnica se revela convincente, fazendo com que o espectador perceba o truque.

De uma forma ou outra o público atual deve tentar ignorar tal aspecto negativo ou erro técnico, pois o que vale mesmo é a ótima parceria entre Bogart e Hepburn que dão um banho de carisma na tela. Aliás para grande surpresa do próprio Bogart, ele foi premiado com o Oscar por sua atuação! Dizem que o Oscar lhe foi dado como um reconhecimento de sua obra e não pelo que faz em cena. Faz certo sentido, pois todos em Hollywood já sabiam naquele momento que ele estava com um câncer terminal. Com isso a premiação também ganhou contornos de homenagem e agradecimento por tudo que ele fez ao longo de décadas de carreira.

Uma Aventura na África (The African Queen, Estados Unidos, 1951) Direção: John Huston / Roteiro: James Agee e John Huston, a partir do romance "African Queen" de C.S. Forester / Elenco: Humphrey Bogart, Katharine Hepburn, Robert Morley, Peter Bull, Theodore Bikel / Sinopse: Charlie Allnutt (Bogart) é um capitão veterano e aventureiro, que aceita participar de uma viagem perigosa e cheia de desafios pelos rios da África Oriental. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Ator (Humphrey Bogart). Também indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Direção (John Huston),  Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Atriz (Katharine Hepburn).

Pablo Aluísio

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Os Gays de Hollywood

Um dos livros mais polêmicos lançados nos Estados Unidos sobre a Hollywood clássica se chama “Full Service: My Adventures in Hollywood and the Secret Sex Lives of the Stars” (Serviço Completo: Minhas Aventuras em Hollywood e o Segredo das Vidas Sexuais das Estrelas). Escrito por Scotty Bowers e Lionel Friedberg. O motivo de tanto alarde é até fácil de explicar. Em pouco mais de 260 páginas o autor expõe, como poucas vezes já foi visto, a vida sexual de diversos mitos da história de Hollywood. Ele afirma ter circulado entre a nobreza da classe artística do cinema americano nas décadas de 1940, 1950 e 1960. Conheceu de perto as preferências sexuais de muitos astros. Curiosamente ele nunca se declara nas páginas de seu livro como um profissional do sexo, afinal prostituição nos EUA é crime, principalmente para quem desempenha a função de “agenciador” de encontros sexuais. Ao ler seus relatos porém a única conclusão que o leitor tem é a de que Bowers era exatamente isso, uma pessoa a quem os grandes astros recorriam para arranjar uma transa rápida, sem consequências.

Em suas estórias poucos astros se salvam. A lista é longa: Rock Hudson, Errol Flynn, Cary Grant, Marlon Brando, Charles Laughton, Montgomery Clift, Katharine Hepburn, Spencer Tracy, Tyrone Power, Rita Hayworth, Mae West, Laurence Olivier, Vincent Price, Randolph Scott, Sal Mineo, Judy Garland e muitos outros. Bowers que está com 88 anos, diz que não queria levar todas essas picantes estórias que viveu para o túmulo e por isso agora. no final da vida, resolveu contar tudo, afinal a grande maioria dos astros já estão mortos. Alguns relatos são de primeira pessoa onde o autor afirma que vivenciou tudo, outros porém ele deixa claro que conhece apenas por “ouvir dizer”, até porque seria simplesmente impossível alguém ser próximo de tantos atores e atrizes ao mesmo tempo. Para gozar da intimidade da vida privada de tanta gente, Bowers teria que ser simplesmente o mais bem relacionado membro da comunidade em Hollywood naqueles anos e até mesmo ele sabe que ninguém acreditaria em tal coisa.

Do que afirma ter vivenciado realmente, um dos casos mais interessantes e chamativos é o que envolve a atriz Katharine Hepburn. Uma das profissionais mais premiadas da história, ela chamava a atenção por nunca ter se casado. Na boca miúda se dizia que tinha um caso escondido com Spencer Tracy, que era casado. Para Bowers tudo não passava de uma farsa. Ele afirma que Hepburn era lésbica e... voraz. Em seu texto o autor diz ter enviado a ela ao longo de vários anos mais de cem mulheres. O suposto romance proibido com Spencer Tracy era assim apenas uma desculpa para encobrir também a homossexualidade do veterano ator. Hepburn se vestia como homem, com ternos de longas ombreiras e não gostava da companhia de outras mulheres como amigas. Bowers vai mais longe e diz que ela tinha uma pele ruim e péssimos hábitos de higiene. Outro que não escapa das revelações de Bowers é o galã Tyrone Power. Embora gostasse também de mulheres (teve vários relacionamentos ao longo da vida com elas) Bowers diz que ele tinha mesmo era uma uma queda especial por jovens latinos, bem apessoados. Chegou a flertar com Rock Hudson, outro galã muito famoso da era de ouro do cinema americano, mas nunca tiveram um caso amoroso.

Por falar em Rock Hudson ele ocupa várias páginas do livro de Bowers. Esse era outro astro com grande apetite sexual. Geralmente dava festas só para rapazes em sua grande mansão nas colinas de Hollywood. Enchia a piscina de jovens aspirantes dispostos a tudo para ganhar um papel em algum de seus filmes. Seu fraco era por jovens loiros e altos, de preferência bronzeados de praia. Se tivessem bigode então cairiam no tipo perfeito na preferência de Hudson. Gostava de brincar dizendo que nem sabia o nome dos amantes, geralmente chamando os loiros de “Bruce” e os morenos de “Carl”. No fim da tarde todos iam para sua sauna particular onde aconteciam grandes orgias gays. Assim que se tornou o astro número 1 em popularidade em Hollywood o estúdio apressou-se em lhe casar com uma secretária de seu agente para encobrir sua homossexualidade, uma vez que sua fama de o “homem preferido da América” valia milhões de dólares.  A coisa não deu certo e Rock se separou em pouco tempo voltando para sua rotina de devassidão sexual. Só assumiu publicamente que era gay em seus últimos dias. O ator estava morrendo de AIDS e a imprensa não o deixava em paz. Para dar um bom exemplo e chamar a atenção de todos para o perigo da nova doença, ele finalmente saiu do armário, após ter ficado quase cinquenta anos dentro dele.

Os grandes atores também não escapam. Montgomery Clift seria um gay enrustido e esnobe. James Dean um bissexual porcalhão que tinha problemas com doenças venéreas. Brando um sujeito confuso que gostava de tratar as mulheres como objeto enquanto se apaixonava por homens mais velhos. Nem o mito dos filmes de terror Vincent Price escapa. Para Bowers ele era um gay metido a grã fino que colecionava obras de artes e encontros homossexuais furtivos. Já Randolph Scott e Cary Grant formariam um dos casais gays mais famosos de Hollywood segundo Bowers. Morando juntos e promovendo grandes festas em sua mansão discreta e luxuosa nos arredores de Beverly Hills. No tocante a esse suposto romance encontramos vários problemas. Grant sabia que era alvo de fofocas há muito tempo e no final da vida processou um humorista que fez uma piada na TV sobre sua suposta sexualidade. Ele teve inúmeros casos amorosos com atrizes famosas e se casou várias vezes. Recentemente sua filha lançou um livro negando que seu pai era gay. Outro que saiu em defesa do pai foi o filho de Randolph Scott, Christopher, que também negou veemente em suas memórias que o eterno cowboy do cinema fosse gay. Scott foi casado muitos anos com a mesma mulher e tudo leva a crer que nada de fato aconteceu, apenas amizade no começo de carreira de ambos. As fofocas porém até hoje são conhecidas.

Hollywood se orgulhava de ser livre de preconceitos, cosmopolita e avançada. Mesmo quando alguma história de homossexualidade se tornava notória dentro da comunidade muito raramente chegava na imprensa sensacionalista. Não havia dentro dos estúdios uma penalização ou punição apenas pelo fato do ator ou atriz serem gays, apenas tinha-se um certo cuidado para que sua vida privada não chegasse ao público, prejudicando sua popularidade. Por isso arranjou-se um casamento para Rock Hudson. Dentro da Universal todos sabiam que ele era gay, mas nada era dito sobre isso fora dos portões do grande estúdio. O grande cineasta George Cukor também é alvo nas páginas de Bowers, mas parece ser um caso isolado de diretor gay. O fato porém é que nem todo mundo era gay em Hollywood, nem mesmo na mente de Bowers. Escapam de sua escrita atores que eram obviamente heterossexuais naqueles dias como Paul Newman, Tony Curtis, Charlton Heston, Elvis Presley, Steve McQueen, John Wayne (imaginem esse símbolo do machão do velho oeste como gay!), entre outros.

Os galãs sempre foram muito visados. Nos anos seguintes surgiram boatos de que Richard Gere, John Travolta e até mesmo Tom Cruise eram gays. Richard Gere ficava extremamente aborrecido com essas fofocas. Ele teve romances com modelos internacionais, mas nem isso apagou essa fama de homossexual. Irritado, mandou publicar uma nota em um grande jornal americano negando tudo. Seu ato pegou muito mal entre a comunidade LGBT americana. Parecia que ele se defendia de um crime que havia cometido. Foi um erro lamentável de sua parte. Já John Travolta foi apontado como um gay no armário logo que começou a fazer sucesso. Boatos circulavam no começo de sua carreira. Depois ele entrou para uma religião chamada Cientologia e se casou com a atriz Kelly Preston. Com isso as fofocas foram aos poucos desaparecendo.

Do lado das mulheres houve casos famosos também. Jodie Foster conviveu por anos e anos com fofocas de que seria lésbica. Ela nunca era vista com namorados em eventos sociais de Hollywood e sua vida privada era fechada a sete chaves. Atriz e diretora de talento, parecia obcecada em esconder suas preferências sexuais. Conforme a carreira foi ficando mais bem sucedida, mais a imprensa marrom corria atrás de algum escândalo, até que anos depois, cansada da perseguição da imprensa, decidiu assumir que era lésbica e que vivia há anos com uma mulher. Foi um alívio sair do armário. Já a apresentadora de TV Ellen DeGeneres não apenas assumiu seu caso com a atriz Anne Heche, como se tornou ativista da causa. Pena que no caso dela seu relacionamento não tenha durado muito. Anne Heche se separou dela e depois se apaixonou por um homem, casando com ele e tendo filhos. Mesmo assim DeGeneres continuou seu ativismo em prol dos direitos dos homossexuais.

A melhor atitude em relação a esse tema parece ter sido mesmo a do ator George Clooney. Solteirão convicto, ele não escapou das venenosa línguas de fofoqueiras de Hollywood. A imprensa marrom sempre insinuava que ele seria um gay enrustido dentro do armário. Por que não se casa? Por que não tem filhos? O que o impede de se casar? Cansado desse tipo de boato, o ator foi direto ao ponto. Perguntado por uma jornalista no tapete vermelho do Oscar o ator abriu o sorriso e disse: "Eu sou gay mesmo! Pode publicar aí no seu jornal". Claro, não era verdade, mas sim um ato de solidariedade com a comunidade gay, sempre perseguida por publicações escandalosas. No final vale a resposta de Mae West ao ser informada de que Rock Hudson era gay. Ela sorriu e disse: "Ele era gay? Sorte dos gays. Deixem essas pessoas ser felizes!".

Pablo Aluísio.

domingo, 13 de outubro de 2019

Justiceiro Implacável

Título no Brasil: Justiceiro Implacável
Título Original: Rooster Cogburn
Ano de Produção: 1975
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Stuart Millar
Roteiro: Charles Portis
Elenco: John Wayne, Katharine Hepburn, Anthony Zerbe, Richard Jordan, John McIntire, Paul Koslo
  
Sinopse:
Com roteiro escrito por Charles Portis, baseado em personagens da novela "True Grit" de Martha Hyer, o filme mostra a estória do velho xerife Rooster Cogburn (John Wayne) que resolve ajudar Eula Goodnight (Katharine Hepburn) na caça dos bandidos que assassinaram seu pai numa missão religiosa em um lugar remoto do Oregon. Juntos, eles precisam superar suas próprias diferenças pessoais para trazer um pouco de justiça ao velho oeste selvagem.

Comentários:
"Justiceiro Implacável" é uma espécie de continuação de "Bravura Indômita" com John Wayne retornando ao papel que lhe deu o Oscar. O interessante é que o roteiro é praticamente o mesmo do primeiro filme! Duvida disso? Então vejamos: Rooster Cogburn (John Wayne) é um Marshal beberrão e rabugento que vai em caça a um grupo de criminosos e a contragosto tem levar junto uma companheira cujo o pai foi morto por esses bandidos. O papel da vítima, que antes era da garotinha em "Bravura Indômita", agora é personificada pela grande dama do teatro e do cinema Katherine Hepburn em uma caracterização simpática e divertida. São personagens diferentes, mas que cumprem a mesma função nas duas produções. O único diferencial é que o humor está muito mais presente no roteiro desse filme. Se o anterior também tinha doses pontuais de humor, mas ao mesmo tempo mantinha uma postura mais séria e dramática, aqui o tom leve é muito mais acentuado. Katherine Hepburn e John Wayne parecem se divertir como nunca - levando pouca coisa è sério. Sua animação e clima ameno despontam em cada cena, em cada tomada.

É um western muito soft, sem qualquer carga dramática mais forte. A rabugice do personagem Rooster Cogburn, por exemplo, assume um tom frontalmente humorístico e cômico. Completando o clima bucólico, a produção ainda traz uma bela fotografia natural. O filme foi rodado numa reserva de preservação ambiental do Estado americano do Oregon e por isso há um farto aproveitamento das paisagens naturais do local, locações que realmente são de encher os olhos, com lindas florestas de pinheiros e longos rios de águas cristalinas. Destaque para as cenas filmadas em uma correnteza em um desses belos rios da região. Com tantos elementos suaves em cena a direção toma uma posição muito discreta. Confesso que obviamente minha preferência seria por Henry Hathaway, o diretor do primeiro filme. Em "Justiceiro Implacável" a direção ficou a cargo de Stuart Millar, um cineasta com pouca experiência para dirigir atores tão consagrados. Em conclusão, podemos dizer que "Rooster Cogburn" é bem inferior ao filme original, mas nem por isso é destituído de qualidades. No apagar das luzes só o fato de ver John Wayne contracenando ao lado de Katherine Hepburn, dois grandes mitos da história do cinema, já vale muito a pena para qualquer cinéfilo.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

A Saia de Ferro

Katharine Hepburn foi uma das atrizes mais premiadas e celebradas da história de Hollywood. Isso não quer dizer que ela sempre atuou em dramas pesadas ou algo do tipo. Entre os 53 filmes em que atuou também havia espaço para produções mais leves, com foco no bom humor. É o caso desse "A Saia de Ferro", cujo próprio título é uma sátira à expressão "Cortina de Ferro" que foi criada pelo primeiro ministro inglês Winston Churchill durante a guerra fria. Era justamente essa cortina de ferro que separava os países capitalistas do ocidente e as nações comunistas do leste europeu lideradas pela União Soviética. O filme tem um roteiro que brinca justamente com isso. Katharine Hepburn interpreta uma comandante de caça MIG que decide ir para os Estados Unidos. Pilotando sua aeronave de combate ela invade o espaço aéreo americano, é interceptada e pousa na América. Imediatamente é presa, colocada sob os cuidados do tenente interpretado por Bob Hope. Só que como estamos em uma comédia romântica e não em um filme sério sobre a guerra fria, tudo desanda para um roteiro com muito bom humor, mostrando as diferenças entre a comandante russa (e seu forte sotaque) e os costumes do capitalismo americano.

O filme é bem leve, talvez até leve demais. As situações de choque cultural vão sendo explorados pelo roteiro à exaustão, o que talvez canse o espectador após 90 minutos de duração. O comediante e apresentador de TV Bob Hope nunca foi muito popular no Brasil, até porque ele fez sua carreira em programas televisivos que nunca passaram por aqui. Fica a curiosidade então de ver a grande Katharine Hepburn em sua tentativa de fazer humor com sua personagem, a dura e disciplinada capitã aviadora Vinka Kovelenko. Funciona bem no papel? Algumas vezes sim, outras não, por causa do próprio roteiro que apela muito para estereótipos dos americanos em relação aos russos. De qualquer forma, até mesmo por ela estar em um filme fora de seu habitual, tentando vencer no humor, já vale a pena conhecer.

A Saia de Ferro (The Iron Petticoat, Estados Unidos, 1956) Direção: Ralph Thomas / Roteiro: Ben Hecht / Elenco: Bob Hope, Katharine Hepburn, Noelle Middleton / Sinopse: Capitã soviética, pilotando um caça MIG, invade os céus dos Estados Unidos e é presa para força aérea daquele país. Em terra começa a se apaixonar pelo tenente que é designado para sua custódia no ocidente. Enquanto isso a KGB tenta eliminá-la, pois sendo uma heroína comunista não ficaria bem para o partido vê-la se render às delícias do capitalismo ocidental.

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

A Mulher que Soube Amar

Título no Brasil: A Mulher que Soube Amar
Título Original: Alice Adams
Ano de Produção: 1935
País: Estados Unidos
Estúdio: RKO Radio Pictures
Direção: George Stevens
Roteiro: Dorothy Yost
Elenco: Katharine Hepburn, Fred MacMurray, Fred Stone
  
Sinopse:
Baseado no romance escrito por Booth Tarkington, o filme narra a história de Alice Adams (Katharine Hepburn), uma jovem pobre, de origem humilde, que se encanta com a vida dos ricos e famosos. Após ser convidada para uma festa de grã-finos de sua cidade, ela descobre que a barreira social pode ser tão complicada de se superar como qualquer outro preconceito existente na sociedade. Apaixonada pelo rico e bonitão Arthur Russell (Fred MacMurray), ela precisará superar várias barreiras para concretizar sua paixão. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme e Melhor Atriz (Katharine Hepburn).

Comentários:
Bom drama social que investe no problema sempre presente do chamado preconceito social. A personagem de Katharine Hepburn é filha de um simples trabalhador, que inclusive se encontra sem trabalhar por problemas de saúde. Ela sonha com a vida luxuosa dos ricos, mas não tem condições financeiras de viver no meio de todo daquele luxo e ostentação. Tão pobre é que precisa sempre reformar o mesmo vestido barato para frequentar as festas ricas às quais consegue ser convidada. Sem dinheiro para comprar um belo buquê de flores na floricultura da cidade precisa ir ao campo para colher ela mesma as flores que estarão em seu próprio arranjo floral feito de forma artesanal, em sua própria casa. Para piorar descobre da pior maneira possível que sua condição social também a impede de se entrosar completamente com as garotas ricas de sua idade, ficando geralmente escanteada e ignorada nos grandes bailes festivos. Sua roupa modesta, fruto de remendos e reformas, também não passa despercebida pelas meninas ricas, que não deixam de fazer comentários maldosos sobre isso. Apesar de toda essa situação desfavorável ela mantém uma personalidade feliz e vibrante, sempre falando muito para expressar seus sentimentos. Quando encontra com Arthur, um sujeito rico e elegante, acaba percebendo que finalmente pode ter encontrado a felicidade em sua vida. Duas coisas chamam a atenção nesse belo romance social. A primeira é a jovialidade de Katharine Hepburn como Alice Adams! Ela está esfuziante, com muita vontade de atuar bem. Isso transparece claramente na tela. A segunda é a presença do galã Fred MacMurray, também ainda bastante jovem, esbanjando olhares cândidos (e em certos aspectos bem canastrões também). E pensar que anos depois ele iria se especializar em filmes de faroeste e comédias da Disney. Enfim, um bom filme valorizado por um roteiro bem escrito e a sempre correta direção do mestre George Stevens, aqui já explorando o lado menos louvável do ser humano.

Pablo Aluísio.

domingo, 8 de abril de 2007

Manhã de Glória

Título no Brasil: Manhã de Glória
Título Original: Morning Glory
Ano de Produção: 1933
País: Estados Unidos
Estúdio: RKO Pictures
Direção: Lowell Sherman
Roteiro: Howard J. Green, Zoe Akins
Elenco: Katharine Hepburn, Douglas Fairbanks Jr, Adolphe Menjou, Mary Duncan, Don Alvarado, Richard Carle

Sinopse:
Eva Lovelace (Katharine Hepburn) é uma jovem atriz que deseja vencer no concorrido meio teatral de Nova Iorque. Otimista, extrovertida e muito positiva sobre seu futuro no teatro, ela tenta lidar com uma série de personagens que circulam pelos bastidores, entre eles um ator com ares paternais, um produtor mulherengo, uma atriz invejosa e um dramaturgo sério, muito empenhado em tornar sua própria peça um sucesso na Broadway. Será que Eva vencerá todos os obstáculos para se tornar uma grande estrela?

Comentários:
Essa ótima produção que enfoca o mundo teatral nova-iorquino acabou trazendo pela primeira vez o Oscar de Melhor Atriz para a grande Katharine Hepburn. Embora fosse ainda bastante jovem ela já demonstrava em cena que talento não tem realmente idade. Sua ótima presença domina da primeira à última cena. O curioso é que embora Katharine Hepburn tivesse plena consciência de seu belo trabalho no filme, não acreditou muito que venceria quando foi indicada ao prêmio. Para Hepburn aquilo seria apenas uma forma da Academia lhe dar as boas vindas ao mundo do cinema. Imagine sua alegria e espanto ao saber que havia vencido o cobiçado prêmio (ela ouviu a cerimônia pelo rádio e não compareceu na grande noite). No caso temos que reconhecer que além de Hepburn todo o elenco está excepcionalmente bem, o que era de se esperar, pois o roteiro foi adaptado de uma famosa peça de teatro que mostrava justamente os bastidores de montagem de uma peça teatral! Assim o ponto forte vem justamente dos ótimos diálogos e situações criadas, que exigem de fato uma ótimo entrosamento de todos os atores e atrizes. Para falar a verdade foi um presente para Katharine Hepburn pois material dessa qualidade nem sempre era tão fácil de se achar.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Boêmio Encantador

Título no Brasil: Boêmio Encantador
Título Original: Holiday
Ano de Produção: 1938
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: George Cukor
Roteiro: Donald Ogden Stewart, Sidney Buchman
Elenco: Katharine Hepburn, Cary Grant, Doris Nolan, Lew Ayres, Edward Everett Horton, Henry Kolker

Sinopse:
Rapaz se apaixona por uma garota rica. Ela corresponde aos seus galanteios, mas ele teme ser rejeitada pela sua família milionária. Para superar essa situação delicada, ele decide elaborar um plano para ser executado durante um feriado muito especial. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor direção de arte (Stephen Goosson e Lionel Banks).

Comentários:
Comédia romântica sofisticada da década de 1930 em que se destacam o elenco e a direção sempre muito elegante do mestre George Cukor. O casal formado pelos sempre ótimos Katharine Hepburn e Cary Grant esbanja charme e elegância em cena. Muito jovens ainda, eles são o destaque dessa romântica produção. O roteiro tem uma certa ingenuidade, própria da época. Isso porém não é problema, mas um charme nostálgico a mais. Na verdade ele se apoia em um tipo de inocência social que hoje em dia soa até esquisito e sem muito nexo. Mesmo assim o espectador deve ter em mente que está assistindo a um filme que foi produzido há mais de 80 anos e por isso deve tentar se adequar ao contexto histórico social em que ele foi realizado. Por falar nisso um dos problemas que o cinéfilo terá que enfrentar é a má qualidade das cópias que sobreviveram ao desafio do tempo. Algumas versões foram restauradas, porém problemas ainda persistem. O diretor Martin Scorsese trabalhou com sua equipe na restauração de filmes antigos e esse "Holiday" foi um deles. O resultado melhorou muito a qualidade da imagem e do som, mas obviamente por ser tão antigo há um limite para esse tipo de melhoria. Assim se você se interessa pela história do cinema não deixe de ver "Boêmio Encantador", nem que seja para apenas conhecer os trejeitos sociais daqueles tempos ou ver dois mitos do cinema ainda jovens e esbanjando sedução e charme em cena, tudo embalado por um fino humor dos anos 1930.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Amor Eletrônico

Título no Brasil: Amor Eletrônico
Título Original: Desk Set
Ano de Produção: 1957
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Walter Lang
Roteiro: Phoebe Ephron, Henry Ephron
Elenco: Spencer Tracy, Katharine Hepburn, Gig Young

Sinopse:
Numa grande rede de TV, em seu departamento de notícias, um engenheiro de ponta chamado Richard Sumner (Spencer Tracy) tenta informatizar todos os setores da empresa, algo que não será muito bem visto pelos demais empregados. Bunny Watson (Katharine Hepburn), uma astuta executiva, tentará pegar no pé de Sumner, enquanto que, para sua surpresa, descobre estar ficando realmente interessada nele.

Comentários:
Esse foi o primeiro filme colorido da dupla Spencer Tracy e Katharine Hepburn. Antes já tinham atuado em sete produções, todas em preto e branco e todas muito bem sucedidas na bilheteria. A química entre eles nascia de um suposto romance que mantiveram por longos anos, após a esposa de Tracy ficar seriamente doente. Por ser muito católico jamais se divorciou dela e assim manteve esse romance com Hepburn por anos e anos. Como sempre acontecia em filmes deles esse aqui também investe em um tipo de humor mais sofisticado, adulto, feito para uma platéia com mais de 30 anos. O foco vai para o mundo corporativo das grandes redes de TV dos Estados Unidos, a tensão dentro dos bastidores e a luta para se alcançar melhores postos na hierarquia dessas empresas. Curiosamente a direção foi dada ao Walter Lang por insistência de Hepburn, que inclusive também escolheu a peça teatral que daria origem a esse roteiro. O resultado de seus esforços se mostra muito positivo pois o filme ainda consegue divertir e encantar em doses generosas.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

John Wayne - Rooster Cogburn

Em 1975 o ator John Wayne voltou a interpretar o personagem Rooster Cogburn. O velho beberrão e caolho havia lhe dado o Oscar e isso já bastava para que ele voltasse à tona, em uma sequência que foi até muito esperada pelos seus fãs. O título do filme original era simples, trazia apenas o nome de Rooster Cogburn. No Brasil o filme foi intitulado como "Justiceiro Implacável", talvez um nome forte demais para um filme que era acima de tudo bem leve, apostando mais no bom humor do que em qualquer outra coisa.

Para contracenar com o velho Wayne, o estúdio não mediu esforços e contratou outra veterana das telas e não era uma atriz qualquer... era simplesmente a grande dama do cinema americano, a inigualável Katharine Hepburn. Ela foi consagrada por uma longa e bem produtiva carreira, tendo vencido vários prêmios da academia. Uma coadjuvante de luxo. John Wayne obviamente ficou orgulhoso de trabalhar ao lado de uma profissional de seu nível.

Os anos porém se fizeram sentir. O filme foi todo rodado em uma bela reserva florestal e filmagens assim sempre exigiram muito da equipe técnica e elenco. Katharine Hepburn já estava com a idade avançada e sentiu o peso de filmar ali, no meio do nada, com muitos insetos, chuvas torrenciais, além de um clima com muita umidade. No filme podemos perceber sua fadiga, porém o talento venceu mais uma vez e ela conseguiu com muita dignidade superar esse desafio.

Já John Wayne, bom, mesmo estando a poucos anos de sua morte (ele morreria quatro anos depois), conseguiu convencer novamente nas telas. Até nas cenas de ação, quando conseguiu cavalgar em velocidade, com os arreios entre os dentes, disparando com as duas mãos. Era o velho astro cowboy demonstrando que ainda tinha como dar conta do recado.

Pablo Aluísio.