terça-feira, 18 de janeiro de 2022

O Pecado de Todos Nós

"O Pecado de Todos Nós" definitivamente não é uma obra para todos os públicos, um filme que vá agradar a todos os setores, muito pelo contrário. O diretor John Huston não fez nenhuma concessão e entregou uma obra crua, visceral, sem nenhum tipo de amenização. Marlon Brando, como sempre, se destaca. Acho esse um de seus personagens mais corajosos. O ator joga a imagem de galã fora e encara um papel extremamente complexo e polêmico. Aqui ele interpreta um Major do exército americano com o casamento em crise, em frangalhos. Sua esposa, interpretada por Elizabeth Taylor, em mais uma de seus excelentes caracterizações, é uma fútil dona de casa que passa os dias em longas cavalgadas ao lado de seu amante, um oficial que mora vizinho ao casal na vila militar onde residem. Isso já bastaria para caracterizar esse casamento como disfuncional mas isso não é tudo.

O problema básico do Major Weldon Penderton (Marlon Brando) é que ele não tem mais nenhum desejo sexual pela esposa, pois na realidade é um homossexual enrustido que não consegue exteriorizar e vivenciar sua verdadeira orientação sexual. Após ver um soldado cavalgando nu pelo bosque, o Major acaba ficando obcecado por ele. Tudo caminha então para um clímax ao melhor estilo do diretor Huston, com muitas nuances psicológicas e tensão entre os principais personagens. A hipocrisia do núcleo familiar considerado ideal pela moralista sociedade norte-americana também é exposta sem receios. O grande número de homossexuais escondidos no armário dentro da vida militar também é explorada. O roteiro do filme acerta em cheio na hipocrisia reinante nesse meio.

O argumento soa na realidade como uma provocação por parte de John Huston para com toda a sociedade norte-americana. A família tradicional e o sistema militar são obviamente seus principais alvos. Na porta de entrada dos Estados Unidos na guerra do Vietnã, ele ousou colocar um tema tabu em cena: o homossexualismo dentro das casernas militares. Mais explosivo do que isso impossível. Além disso expõe os problemas que existiam por baixo da imagem impecável das famílias conservadoras daquele país. O marido que posa de cidadão exemplar na verdade despreza sua esposa e esconde seus desejos sexuais mais inconfessáveis. A esposa é infiel, sem conteúdo, rasa, vazia, materialista e tola. Um retrato demolidor de um modelo que nos anos 1960 vinha abaixo.

"Reflections in a Golden Eye" foi baseado na obra da escritora Carson McCullers, uma autora que não tinha receio de tocar nas feridas mais profundas da América. Aqui ao lado de Huston, Liz Taylor e Marlon Brando, ela finalmente encontrou a transposição perfeita de sua obra para as telas de cinema. Em conclusão, "O Pecado de Todos Nós" é uma produção nada confortável e nem amenizadora. No fundo é um retrato controvertido que coloca na berlinda alguns dos pilares mais prezados pelos conservadores americanos. Não deixe de assistir.

O Pecado de Todos Nós (Reflections in a Golden Eye, Estados Unidos, 1967) Direção: John Huston / Roteiro: Chapman Mortimer, Gladys Hill baseados na obra "Reflections in a Golden Eye" de Carson McCullers / Elenco: Elizabeth Taylor, Marlon Brando, Brian Keith, Julie Harris / Sinopse: O Major do exército americano Weldon Penderton (Marlon Brando) se torna obcecado por um jovem soldado da tropa que ele vê nu, cavalgando no bosque. Com fortes inclinações homossexuais, ele não consegue mais conter seus desejos ao mesmo tempo em que negligencia sua esposa Leonora (Elizabeth Taylor), uma dona de casa vazia e fútil, em um casamento de aparências, de fachada.

Pablo Aluísio.

5 comentários:

  1. Cinema Clássico
    O Pecado de Todos Nós
    Pablo Aluísio.

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  2. Achei esse filme muito denso, e o personagem do Marlon Brando um homossexual meio asqueroso.
    Filme muito bem feito, mas não gostaria de revê-lo.

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  3. Esse filme tem uma certa ambiguidade. Ao mesmo tempo em que critica a hipocrisia da sociedade, martiriza a figura de um homossexual enrustido. Uma questão complexa.

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  4. Vi esse filme a muito tempo atrás,na Record...Realmente Brando está impressionante no papel (pelo que li quem faria o personagem originalmente era Montgomery Clift).Huston foi de fato um dos grandes de Hollywood.

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