Os fãs já sabem mas não custa repetir: esse foi o primeiro single comercial da carreira de Elvis Presley. Eu gosto de usar a expressão "comercial" justamente para não confundir com o primeiro acetato que Elvis gravou na Sun, "My Happiness". Aquele era um disquinho amador, feito para matar a curiosidade do próprio Elvis que queria ouvir como ficaria sua voz em um disco. É interessante, mas praticamente todos os jornalistas (principalmente os marujos de primeira viagem) costumam sempre confundir. Escrevem que "That´s All Right (Mama)" foi o primeiro disquinho de Elvis e ele o gravou para sua querida mãe. Obviamente estão trocando completamente as bolas. Confundem os discos e ainda por cima levantam uma lenda antiga que hoje em dia não tem mais razão de ser. Elvis não gravou "My Happiness" para dar de presente para a mãe. Gladys Presley nem sequer fazia aniversário naquele mês, então é tudo lenda. Uma lenda muito tocante, bonita, mas uma simples lenda, nada mais.
Assim vamos começar a falar sobre a discografia de Elvis pelo seu primeiro single que efetivamente foi gravado para chegar nas lojas ao consumidor. Estamos falando da primeira metade dos anos 1950 numa região considerada atrasada daquele país. Imaginem o que era gravar um single naqueles tempos e o mais complicado: distribuir ele em lojas afastadas, promover as canções em rádios para só depois tentar vender o show do novato cantor. Não era fácil. Assim Elvis tinha que literalmente acertar o alvo logo no comecinho da carreira. Se ninguém se interessasse ou então se ninguém gostasse era o fim e ele voltaria a dirigir caminhão, simples assim. O talento porém falou mais alto e no caso de Elvis Presley tocou fundo em quem ouviu as canções. Era um trio básico em estúdio (Elvis, Scotty e Bill) mas eles soaram como se fossem mais pessoas. Créditos? Todos para Sam Phillips, um produtor subestimado. Seus efeitos de ecos nas músicas criavam um efeito tão perfeito, maravilhoso que preenchia qualquer lacuna que o ouvinte sentisse. Coisa de gênio, claro. Hoje em dia cópias originais são uma verdadeira preciosidade, disputadas em leilões. E pensar que na época de seu lançamento os compactos custavam poucos centavos - nem chegava a 1 dólar, imagine você.
O lado A do single trazia a boa "That´s All Right" (Mama), de autoria do compositor Arthur Grudup. Na época a música foi considerado um bom country, mas obviamente hoje seu status é bem diferente, sendo considerada música histórica! Foi a primeira canção interpretada pelo cantor a ser lançada comercialmente pela pequena gravadora de Sam Cornelius Phillips, a Sun Records. Foi gravada no dia 7 de julho de 1954 por um simples caminhoneiro do Tennessee que ganhou uma chance de provar seu talento graças a interferência da secretária de Phillips, Marion Keisker, que insistiu com o patrão para que ele proporcionasse uma chance para o "jovem de Costeletas". Elvis virou a versão de "Big Boy" pelo o avesso e criou as bases estéticas do Rock'n'Roll! O Rock não é só a mistura de vários ritmos americanos, mas também uma postura positiva e satírica diante da vida e Elvis foi o primeiro a se expressar desta forma criando o "Rockabilly". "That's All Right (mama)" pode ser considerada uma das dez canções mais importantes da história da música pop do século XX. Em 2003 foi eleita a música mais inovadora da história.
No lado B o ouvinte da época tinha "Blue Moon Of Kentucky" de Bill Monroe. Originalmente foi lançada no ano de 1948 pelo próprio autor Bill Monroe, considerado o "pai do Bluegrass". O pequeno single trazia o selo Columbia e teve uma repercussão restrita às paradas ligadas ao gênero country and western do sul dos Estados Unidos. De qualquer forma ela acabou chamando atenção e ficou sempre em evidência, sendo muito tocada em estações de rádio da região. Certamente virou uma das preferidas também de um garoto de apenas 13 anos que sempre estava sintonizando suas velhas estações country em busca de novidades. O nome do garoto em questão? Nem é preciso dizer.
O single "Sun 209" fez sucesso nas estações de rádios de Memphis. Sam tinha bons contatos com DJs dos principais programas. Na primeira vez que tocou no rádio, Elvis ficou tão nervoso que decidiu ir ao cinema. Como era tímido provavelmente tinha receios da reação de amigos e parentes. Para sua surpresa todos gostaram. Era a materialização do velho sonho de se tornar cantor nascendo para aquele garotinho que ouvia Bill Monroe no rádio. "Blue Moon of Kentucky" foi gravada em julho de 1954 contando apenas com Elvis no violão, Scotty Moore na guitarra e Bill Black no baixo. Não houve bateria! O produtor Sam Phillips providenciou tudo, trazendo essa pequena banda para atuar ao lado do jovem talento. Para quem não acredita em sonhos impossíveis, "Blue Moon Of Kentucky" veio para registrar para a história o momento do aparecimento de um dos maiores fenômenos da música popular mundial, um sonho que se tornou possível para Elvis Presley, pois ele acreditou em sua materialização com convicção. Pois é, "Sonhos são como deuses, nós temos que acreditar neles" já dizia a conhecida frase.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley
ResponderExcluirThat´s All Right / Blue Moon Of Kentucky
Pablo Aluísio.
Com essa primeira gravação o Elvis se elevou a condição, não de um grande artista, mas de um gênio. Pena que isso duraria pouco; o mercado o venceria.
ResponderExcluirIsso me lembra uma frase muito interessante que dizia que se Elvis tivesse morrido pouco após gravar seus cinco primeiros compactos na Sun Records, ainda assim teria um espaço importante na história do rock!
ResponderExcluirSem dúvida.
ExcluirPablo:
ResponderExcluirÉ impossível dos dias de hoje imaginar uma banda de rock sem a santíssima trindade: guitarra, contrabaixo e bateria. Isso é básico.
Aí te pergunto: Scotty Moore, Bill Black e Elvis Presley. Cadê o baterista? Pois é, não tinha; bem, na verdade havia uma marcação de tempo para o ritmo, mas essa marcação era feita pelo Elvis com sua voz. E não sou eu que estou dizendo isso mas sim justamente o baterista D. J. Fontana, que acrescentou: "o Elvis sempre foi o baterista da sua banda, a sua voz marcava o ritmo de tudo. Eu estava lá, mas não precisaria".
Pablo: isso é Elvis, um gênio legítimo.
A questão da bateria é interessante, realmente nos primeiros tempos da Sun não havia bateria no estúdio, era Elvis, Bill e Scotty fazendo tudo e não deixavam espaços em sua sonoridade, o que era algo impressionante!
ResponderExcluirPois é; "não deixavam espaços na sua sonoridade" por que a voz do Elvis fazia a vez da bateria.
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