Em agosto de 1955 chegou nas lojas de Memphis o quinto e último single de Elvis na gravadora Sun Records. Com o código de Sun 223, o pequeno disquinho trazia mais duas músicas inéditas do cantor gravadas no estúdio de Sam Phillips. Por essa época Elvis já estava ao lado de seu novo empresário, Tom Parker, que lhe disse que ele deveria ir embora da Sun. A pequena gravadora sulista não teria mais nada a lhe oferecer em termos de incentivo em sua carreira. Para Tom Parker apenas uma grande companhia fonográfica como a RCA Victor (a maior dos Estados Unidos) poderia lhe trazer a fama tão desejada. Ficar na Sun era perder tempo. Elvis deveria ter Memphis para trás e ir imediatamente para os grandes centros como Nova Iorque e Los Angeles.
Claro, foi um conselho acertado. A RCA tinha sim interesse em Elvis. Via no rapaz não apenas um talento nato, como também o cantor ideal que eles tanto procuravam. No novo selo Elvis iria ser produzido por Steve Sholes, um produtor experiente, com faro para o sucesso comercial. De uma forma ou outra a primeira providência da RCA Victor após assinar com Elvis foi relançar todos os seus cinco compactos na Sun, dessa vez garantindo distribuição nacional e internacional. O alcance da multinacional era algo completamente impossível de se igualar por Sam e sua pequena empresa. Philips obviamente ficou um pouco triste por Elvis deixar sua gravadora, mas isso era algo mesmo irreversível de acontecer. Como gratidão Elvis prometeu que sempre que possível voltaria à Sun para rever os velhos amigos - algo que ele cumpriu realmente.
Já em termos puramente musicais esse single foi considerado realmente genial. Não pelo lado A do compacto que trazia a boa " I Forgot To Remember To Forget", uma balada com claro sabor country and western, mas sim pelo aclamado lado B "Mystery Train". Até hoje essa faixa é considerada por críticos e especialistas em música como uma das mais perfeitas gravações da carreira de Elvis. É até mesmo espantoso que Elvis e Sam tenham produzido algo assim com tão poucos recursos técnicos. Um famoso crítico de Nova Iorque certa vez escreveu que se Elvis tivesse desaparecido em 1955 sem deixar rastros ele ainda assim seria lembrado por causa de sua performance de Mystery Train. Um ponto de vista que não tenho como discordar.
Pablo Aluísio.
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ResponderExcluirNo filme "Dreamgirls", o produtor Curtis Taylor (Jammie Fox) descarta a Effie White (Jennifer Hudson), que era uma cantora virtuosa da black music, mas muito exuberante e sem boa aparência, e promove a Deena Jones (Beyonce) a lider vocal do grupo justamente por ter uma voz com menos personalidade e, obviamente, ser muito linda, e portanto com uma estampa mais comercial, mais palatável aos ouvidos e aos olhos do público.
ResponderExcluirQuando vejo o pessoal reclamando que o Elvis se apropriou da musica negra e ficou rico, na verdade eu vejo no Sam Philips, e no Tom Parker, uma espécie de "Curtis Taylor", que viram no Elvis a voz pop, a boa aparência, a juventude, e o talento pra cantar musicas negras e que tudo isso aliado era a chave para um enorme sucesso comercial, e assim foi. O Elvis, se falarmos de rock puro, é verdade que ele nunca esteve ao nível de um Chuck Barry, um Litlle Richards, ou um Fats Domino, que o próprio Elvis confessou publicamente não conseguir cantar rock bem como ele, entretanto, ele era a perfeita "Deena Jones" de "Dreamgirls": tinha excelente voz e ótima aparência, que era o que queriam os executivos das TVs pra mostrar musica boa ao público em larga escala e não em guetos.
O Elvis ao mesmo tempo que foi um diluidor da música negra, foi um catalizador das condições que viabilizaram o rock, rock esse que já dura há quase 70 anos como símbolo de musica de jovens, jovens rebeldes, jovens inconformados, jovens.
23 de julho de 2022 08:56
O BB King resumiu bem isso dizendo que "Elvis tinha tudo, beleza, talento, boa voz..."
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