domingo, 3 de julho de 2022

Beethoven e sua Amada Imortal

Quando Ludwig van Beethoven morreu, uma carta misteriosa, nunca enviada, foi encontrada entre seus pertences. Ela era endereçada para uma mulher que o compositor chamava de "Amada Imortal". Quem teria sido ela? Até hoje historiadores e biógrafos do gênio musical não sabem a resposta definitiva. É uma daquelas questões que apenas seu autor poderia explicar. A verdade foi ao túmulo e lá ficará pela eternidade.

O filme "Minha Amada Imortal" de 1994, por outro lado, tentou responder a essa pergunta. Revi nesse fim de semana por mera curiosidade. Estou lendo uma biografia de Beethoven e quis fazer uma comparação entre a literatura e o cinema. O que posso dizer é que essa produção dos anos 90, apesar de seu inegável bom gosto e elenco valoroso, com direito a palmas para Gary Oldman no papel principal, não conseguiu responder bem à essa questão. Em busca de um certo sensacionalismo romantizado se perdeu a chance de se fazer um novo "Amadeus".

O roteiro do filme foi baseado em um romance que nunca pretendeu ser historicamente preciso. O escritor Bernard Rose nunca quis responder com precisão histórica sobre a identidade da amada imortal do genial músico. Ele apenas especulou, deu asas à imaginação e mais do que isso, apostou numa daquelas reviravoltas para surpreender seu leitor. Em termos precisos o romance foi um pouco longe demais. Afinal o que poderia ser mais chocante do que descobrir que sua amada era na verdade a esposa de seu irmão, uma mulher que ele publicamente detestava e que teria levado ao tribunal por anos a fio em busca da guarda de seu sobrinho Karl?
`
Pura especulação romanceada. E como se tudo isso ainda não bastasse Rose vai além, deixando claro que Karl na verdade não era sobrinho de Beethoven, mas sim seu filho. Claro, no filme essa questão ganha pontos no aspecto dramático, mas historicamente essa tese tem mesmo pés de barro. Muito provavelmente o grande amor de Beethoven tenha sido mesmo a condessa húngara Anna Marie Erdödy que no filme está muito bem interpretada pela atriz Isabella Rossellini. Essa sim teria sido sua companheira, amiga e amante. Ficando ao seu lado mesmo nos piores momentos quando ele ficou completamente surdo, sem conseguir ouvir nenhuma nota musical de suas obras inesquecíveis. Por isso assista ao filme com reservas. Entenda que aqui a reviravolta deve ser confinada aos efeitos puramente cinematográficos. "Minha Amada Imortal" é até um bom filme, mas a pura verdade é que jamais conseguiria se igualar ao verdadeiro Ludwig van Beethoven, um autêntico gênio monumental (e temperamental também, é bom frisar).

Pablo Aluísio.

5 comentários:

  1. No final do filme, a cena épica: O gênio Beethoven, absolutamente surdo, é aplaudido e ovacionado de pé, sem perceber, após a apresentação de sua maior obra: A Nona Sinfonia.

    ResponderExcluir
  2. Excelente cena, muito simbólica. O compositor perdendo completamente a audição enquanto sua maior obra prima era executada.

    ResponderExcluir
  3. Pablo:
    A verdade é que quando se trata de contar estórias, isso mesmo, com "e", sobre a vida de Beethoven, tudo é muito exagerado. Desde a sua surdez, que nunca foi absoluta, nem tão precoce, a discrepância do seu gênio de menino prodígio em relação ao Mozart, os motivos da sua surdez pela violência do pai, era uma época de muita infecção mal curada, e isso é mais provável, etc. Sorte que sobrou a sua musica fabulosa, genial, absoluta, que gravou de forma eterna o seu nome na história e sobre a a qualidade, integridade e beleza dessa musica, não há o que se questionar.

    ResponderExcluir
  4. Ele tinha uma alma perturbada, realmente era um gênio, mas um gênio realmente com muitos problemas pessoais e emocionais...

    ResponderExcluir