segunda-feira, 4 de julho de 2022

Crônicas de Marlon Brando - Parte 22

Da geração de talentosos atores jovens surgidos na década de 1950, três se destacaram, tanto em termos de público como de crítica: Marlon Brando, James Dean e Montgomery Clift. Assim que surgiram logo chamaram a atenção. Era considerado o trio rebelde máximo do cinema americano. Brando não tinha muita consideração para com James Dean. Em certos aspectos apenas o considerava como um imitador. Quando se encontraram pessoalmente Brando deixou isso bem claro a Dean, dizendo: "Pare de me imitar! Encontre seu próprio caminho!". Apesar de magoado, James Dean parece ter seguido seu conselho, começando a partir daí a criar um estilo pessoal que não mais apenas seguisse o jeito de ser de seu ídolo na época, Marlon Brando.

Com o tempo James Dean foi se distanciando da enorme influência que Brando havia exercido sobre o seu jeito de atuar. O próprio Brando reconheceu isso em seu livro de memórias. Ele escreveu: "James Dean queria minha aprovação. Queria que eu convalidasse o que ele estava fazendo. No começo me pareceu apenas que ele queria me imitar. Depois começou a seguir uma linha própria. Ele acabou se tornando um bom ator. Infelizmente morreu cedo demais para desenvolver todo o seu talento!". Ao longo daqueles anos ambos se encontraram casualmente em festas em Hollywood. Brando não se sentia à vontade na presença de James Dean, o considerando um sujeito instável, nervoso e ansioso demais para se estar ao lado. De certa forma Marlon Brando não admirava Dean e nem tampouco o queria por perto. Brando acreditava que depois de alguns anos eles provavelmente criariam algum tipo de amizade sincera, mas não houve tempo para isso. James Dean se espatifou em um acidente de carro muito jovem ainda, com apenas 24 anos de idade!

Em relação a Montgomery Clift as suas impressões eram bem diferentes. Brando sabia que Clift era um ator maravilhoso, cheio de recursos dramáticos que ele próprio queria ter. Ao longo do tempo ambos sempre eram comparados pela imprensa americana. Isso foi criando uma rivalidade dentro da mente de Brando. Ele sempre queria superar Clift, seja qual fosse o filme em que atuasse. Além disso ficou muito envaidecido quando Clift declarou a um jornal de Los Angeles: "Marlon Brando é um dos maiores atores vivos. Ele consegue grandes interpretações, mesmo quando atua em filmes que não estão à sua altura. Ele faz muito, geralmente com material de segunda!". Ou seja, Clift disse que mesmo quando o filme era ruim a presença de Brando compensava tudo.

O curioso é que eles tinham os mesmos agentes, tanto em Nova Iorque como em Los Angeles, mas pouco se conheciam pessoalmente, se encontrando apenas em raras ocasiões. Quando Brando e Clift foram contratados para atuar no mesmo filme, "Os Deuses Vencidos", finalmente se encontraram face a face em um hotel de Paris. Ao se sentar com Clift à mesa durante o jantar, Brando deixou de lado seu estilo mais egocêntrico para confessar o que sentia em relação a ele e seu trabalho. Acabou dizendo para Monty o que havia guardado por anos ao dizer: "Venha cá, sente-se aqui perto, eu quero te confessar uma coisa. Eu adoro seu trabalho! Você é o único ator que procuro superar em Hollywood. Você é a minha pedra angular, aquele que tento me espelhar e superar! Sua atuação em "Um Lugar ao Sol" foi maravilhosa, a melhor que vi em muitos anos! Clift você é genial!".

Os elogios foram tão diretos que deixaram Montgomery Clift sem jeito. "Marlon... como poderia agradecer essas palavras?" - perguntou o ator que pessoalmente era bem tímido e modesto com seu trabalho. Curiosamente Brando acabou ficando extremamente entristecido ao perceber também que aquele grande ator estava aos poucos se auto destruindo com drogas e bebidas. Em pouco tempo Montgomery Clift morreria o que deixaria Brando desolado. "Ele foi um dos grandes que conheci em minha vida! Só que ele tinha também muitos problemas pessoais. Eu quis ajudar, assim como também quis ajudar minha mãe, que também tinha problemas com bebidas. Com os anos aprendi que ninguém pode salvar alguém de si mesmo!" - chegou Brando a confessar após a morte do colega que tanto admirava. Ele lamentaria até o fim de sua vida a morte precoce e sem sentido de Montgomery Clift. E no final de tudo o único sobrevivente daquele trio fantástico foi justamente o próprio Marlon Brando que teve a oportunidade de envelhecer, viver muitos anos e relembrar de todos eles em seu livro de memórias, publicado alguns anos antes de sua morte em julho de 2004.

Pablo Aluísio.

4 comentários:

  1. Cinema Clássico
    Marlon Brando - A História de um Mito - Parte 6
    Pablo Aluísio.

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  2. Que coisa bacana essa,praticamente, reverência que o Brando tinha pelo Clift. Comovente.
    E pensar que muito mais velho, e mais niilista do que nunca, o Brando ainda viria a ter seu melhor personagem, o Don Corleone. Os outros dois não tiveram essa chance.
    Serge Renine.

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  3. Os outros dois foram sepultados em sua própria fama.

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  4. Em várias cenas de O Poderoso Chefão, o Marlon Brando lê a suas falas, inclusive na antológica cena em que ele conversa com o Michael no jardim e lhe instrui como proceder com os inimigos e o avisa que será assassinado brevemente. "quem marcar a reunião será o traidor". Aquele olhar pra baixo é porque os diálogos estavam em um papel no chão.
    Nós somos muito bobos e enganados a todo momento.

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