sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Jim Morrison - Verdades e Mentiras

Como todo rockstar que se preze Jim Morrison, o vocalista do grupo The Doors, teve uma vida cheia de histórias mal contadas, fatos misturados com ficção e meias verdades. Visando separar o que realmente é verdade e o que é pura invenção resolvi escrever esse texto desmitificando algumas histórias que envolvem o nome de Jim Morrison.

Jim Morrison realmente mostrou seu pênis ao público?
Um dos fatos mais conhecidos da carreira de Morrison surgiu quando ele se apresentou escandalosamente em Miami na Flórida. Completamente narcotizado e alcoolizado o cantor subiu ao palco sem a menor condição de se apresentar ao vivo e no meio de várias frases desconexas e ofensivas dirigidos à plateia ele supostamente teria mostrado seu órgão sexual ao público. O fato escandalizou muito a sociedade americana e Morrison foi processado até seus últimos dias de vida por isso. Deixando todo o moralismo de lado ficou a pergunta: Houve mesmo exposição indevida por parte de Morrison? A resposta é não. Centenas de fotos foram tiradas naquele momento e nenhuma delas mostra o órgão sexual do cantor exposto ao público. O que existem são realmente poses provocativas por parte de Morrison, inclusive segurando seu pênis no palco mas esse estava devidamente dentro de suas calças. O fato de não se provar que Morrison mostrou sua genitália ou não acabou sendo deixado de lado já que se vivia naquela época uma verdadeira caça às bruxas contra grupos como The Doors. Morrison assim virou alvo fácil dos moralistas de plantão e bode expiatório para a camada mais conservadora da sociedade americana.

O Baterista dos Doors realmente odiava Morrison?
Certamente havia uma certa tensão entre Morrison e Densmore. A origem dos atritos não se resumiam apenas na irresponsabilidade por parte de Jim em relação aos compromissos do grupo mas também do ponto de vista musical. A tensão chegou ao auge durante as gravações do disco "LA Woman" quando o baterista qualificou as músicas do álbum como entediantes e sem pegada. Na ocasião ele afirmou: "Essas músicas de blues podem até ser interessantes para um vocalista como Jim, mas para um baterista como eu são entediantes demais". Depois que Jim se mandou para Paris, Densmore fo um dos principais incentivadores da gravação de um álbum completamente instrumental. Na ocasião chegou a dizer que os Doors não precisavam mais de Jim Morrison. Desnecessário lembrar que o tal disco instrumental foi um fracasso de crítica e de público.

Como era o relacionamento de Jim com sua família?
Jim sempre foi rebelde além do que seria tolerado dentro da família de um oficial da marinha dos EUA. Seu pai estava sempre em pé de guerra com Jim desde a adolescência. Não era para menos, uma vez que Morrison estava sempre envolvido em problemas (chegou inclusive a ser preso ainda na menoridade por um delito menor). Embora fosse considerado inteligente e bom aluno, Jim foi criando ao longo dos anos uma grande aversão à autoridade, principalmente em relação a seu pai. Quando foi para a universidade Morrison finalmente encontrou a liberdade que tanto buscava. Se matriculou em várias disciplinas no campus mas não mostrou qualquer interesse em levar adiante seu curso. Ao invés disso preferia ficar vagando pelas praias de Venice Beach, interagindo com a estranha fauna local. Depois que o grupo estourou nas paradas Jim chegou ao ponto de informar para a imprensa que seus pais estavam mortos. Mais tarde eles acabaram indo a um show do grupo mas Jim se recusou a encontrá-los nos bastidores. Depois disso nunca mais entrou em contato ou falou com eles novamente.

Morrison realmente virou um mendigo na Califórnia antes do sucesso?
Não, muito embora sua situação não fosse muito diferente da de um "sem teto" na época. Morrison foi morar em um depósito abandonado perto de Venice Beach mas só o usava esporadicamente. O resto do tempo passava como um errante nas praias da região. Sempre à vontade, sem camisa, Morrison vagava pelas redondezas atrás de drogas e qualquer tipo de diversão, seja na praia, seja fora dela. Foi sua fase de maior liberdade pessoal. Embora matriculado na universidade não frequentava as aulas e não demonstrava qualquer interesse em se formar em qualquer curso. Foi assim, andando a esmo, que ele acabou conhecendo Ray Manzarek, que iria formar ao seu lado o grupo The Doors. O resto é história.

Jim forjou sua própria morte?
Muito provavelmente não. O que existem são teorias da conspiração - cada uma mais imaginativa do que a outra. Para quem acredita a mais conhecida é a de que ele forjou sua própria morte em Paris e fugiu para a África por dois motivos: queria seguir os passos de seu ídolo, o poeta maldito Rimbaud e procurava também fugir da lei americana, pois estava condenado por atentado ao pudor e exibição indecorosa nas cortes daquele país após o infame show da Flórida. Muito provavelmente por causa dessas condenações não escaparia da prisão, mesmo que sua pena não fosse muito longa. Esse tipo de teoria não merece maior atenção. É por si só muito imaginativa e criativa mas longe da realidade dos fatos. O primeiro problema seria explicar como as autoridades francesas entrariam dentro da conspiração pois seu corpo seguiu todos os procedimentos burocráticos determinados por lei após sua morte (expedição de atestado de óbito, exame da causa mortis, etc). Assim seu falecimento foi atestado oficialmente, sem possibilidade de qualquer alteração. Além disso praticamente todas as mortes de pessoas famosas nos EUA acabam gerando algum tipo de teoria da conspiração como ocorreu com Elvis, JFK, Marilyn Monroe e James Dean. Com Morrison também não seria diferente o que tira qualquer credibilidade de histórias como essa.

Por que Morrison foi enterrado em Paris?
Ao falecer Jim estava em Paris com sua namorada Pam. Queria escrever e absorver o clima artístico local. Alguns autores afirmam que Jim estava em Paris com receio de ser decretada sua prisão definitiva nos EUA. Como a França não teria tratado de extradição com os EUA ele procurava uma forma legal de não ir parar atrás das grades. O fato é controverso e ainda paira muitas dúvidas sobre as reais intenções de Jim em relação a sua estadia em Paris. Muito provavelmente apenas sua namorada Pamela sabia o que ele realmente desejava com essa viagem.

O que aconteceu com Pamela Courson após a morte de Jim Morrison?
Pamela morreu de overdose de drogas em 25 de abril de 1974. Sobre as reais circunstâncias de sua morte paira uma série de dúvidas no ar. Sua família fez o possível para manter a imprensa longe dos acontecimentos mas pelo que se sabe (inclusive por relatórios oficiais da polícia) Pam teria morrido realmente de uma overdose de heroína no sofá de seu apartamento em Los Angeles. Na ocasião, sem muitos recursos financeiros, ela resolveu dividir os custos do aluguel com dois colegas que havia conhecido algum tempo antes. Ela foi sepultada em Santa Ana, Estado da Califórnia.

Como Jim Morrison é visto hoje pela crítica literária em relação aos seus poemas?
Jim não é unanimidade entre os críticos, principalmente aqueles especializados em poesia moderna e contemporânea. Muitos afirmam que Jim seria apenas um herdeiro tardio da geração beatnik e que teria herdado muito dos traços desses escritores e poetas. Dessa forma não haveria muita originalidade em seu trabalho literário.

Jim desertou da Guerra do Vietnã?
Filho de pai militar da marinha, Jim se matriculou em um número excessivo de cursos no semestre em que deveria se apresentar no serviço militar. Agindo assim conseguiu escapar de uma convocação para servir o exército, o que fatalmente lhe colocaria no front da guerra do Vietnã. Anos depois chegou a confidenciar a amigos mais próximos que teria até mesmo insinuado ao recrutador que era gay para fugir do serviço militar.

Morrison era satanista? Ele se casou em um culto de magia negra?
Jim Morrison chegou a se envolver com mulheres que gostavam desse tipo de seita mas para falar a verdade nunca levou nada muito à sério. Como certa vez disse Ray Manzarek, Jim era maconheiro e vivia rindo e se divertindo com as situações, assim muito provavelmente até mesmo seu suposto casamento em um culto de magia negra com uma de suas admiradoras não passou de uma grande piada pelo cantor.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

The Doors - When You're Strange: Um Filme sobre The Doors

Tive o prazer de assistir esse ótimo documentário ontem. Claro que não seria em apenas um filme que iriam esgotar o assunto, principalmente em se tratando de Jim Morrison, um artista que pode ser visto sob diversos pontos de vista (poeta, músico, popstar, louco, drogado, dândi etc). O que When You´re Strange consegue é dar uma ótima síntese sobre o cantor, algumas vezes de forma muito resumida e rápida, tenho que reconhecer, mas que serve como um válido ponto de introdução ao rockstar enfocado. Sempre é muito bem-vindo rever imagens históricas que capturaram Morrison nos palcos, nos bastidores e gravando em estúdio. Cantor e poeta, Morrison levava bem à sério a filosofia de viver com intensidade da geração sessentista. Aqui ele surge de forma visceral, alucinado, sem freios, tentando romper as portas da percepção.

Não gostei muito das cenas intercaladas com atores - como as sequências do suposto Jim dirigindo no deserto. Preferia que todas as imagens fossem genuínas, sem artifícios desse tipo até porque a simples presença de cenas reais com Jim já seriam mais do que suficientes. E são justamente essas imagens reais que fazem o documentário valer muito a pena. Algumas delas são bastante raras, como aquela em que Jim se junta aos fãs para comprar material promocional do The Who! Incrível esse tipo de coisa ter sobrevivido após tantos anos. Por fim, como bônus, temos a narração em off de Johnny Depp. Achei sua "atuação" um pouco sonolenta, mas nem isso prejudica o resultado final. Indico esse filme a todos os fãs dos Doors (e aos não fãs também, caso eles queiram saber um pouco mais sobre o rock dos anos 60).

When You're Strange: Um Filme Sobre The Doors (When You're Strange, Estados Unidos, 2009) / Direção de Tom DiCillo / Roteiro: Tom DiCillo / Elenco: Jim Morrison, John Desnmore, Robbie Krieger e Ray Manzarek./ Sinopse: Documentário sobre o grupo musical de rock The Doors. Liderados por Jim Morrison o grupo se tornou um dos mais importantes da segunda metade dos anos 1960 nos EUA.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Pink Floyd - Delicate Sound Of Thunder

Com o sucesso do disco A Momentary Lapse Of Reason, David Gilmour resolveu colocar o pé na estrada ao lado de seus companheiros de banda. Para fazer jus ao nome mitológico do Pink Floyd, Gilmour não mediu esforços e resolveu trazer para os shows ao vivo do grupo o que de melhor havia no mercado em termos de aparatos técnicos e sonoros. A volta do conjunto aos palcos deveria acontecer em grande estilo e ele estava completamente concentrado em provar que o Floyd funcionaria bem, mesmo sem a presença de Waters. A ideia ganhou grandes dimensões conforme as apresentações iam acontecendo e Gilmour então resolveu transformar tudo em um grande projeto multimídia trazendo os novos lançamentos do Pink Floyd ao mercado em todas os segmentos culturais possíveis (na época Delicate foi lançado não apenas como álbum duplo, mas também em filme VHS para venda direta e K7). A idéia era não só ressuscitar a banda mas também conquistar uma nova legião de fãs entre os mais jovens, que apenas conheciam o Floyd de nome. Para isso os concertos ao vivo deveriam ser marcantes. E acredite, Gilmour conseguiu alcançar todos os objetivos que havia traçado.

Delicate Sound of Thunder foi gravado em Long Island, Nova Iorque, numa série de cinco concertos que o grupo fez no Nassau Coliseum. No repertório David Gilmour resolveu não arriscar muito e investiu nos maiores sucessos do Pink Floyd da década anterior. Três das maiores obras do conjunto serviram de referência no projeto ao vivo: Dark Side Of The Moon, Wish You Were Here e The Wall. As novas canções do último disco também foram lembradas, para dar um toque de contemporaneidade aos shows em si. O álbum abre com uma das melhores versões ao vivo de Shine On You Crazy Diamond, canção do disco Wish You Were Here. Como todos sabem essa música havia sido composta em homenagem ao ex-líder Syd Barrett. Depois desse pequeno momento revival somos apresentados ao novo material do disco A Momentary Lapse of Reason. Interessante notar que Gilmour não se fez de rogado e levou as novas faixas em peso para os concertos. Isso prova que ele não teve nenhum receio ou medo com as críticas e comparações que poderiam ser feitas após a saída de Waters. Seguro de si, Gilmour apresentou com orgulho praticamente todo o repertório novo do recém lançado trabalho do Pink Floyd. O destaque fica mais uma vez com On The Turning Away, extremamente bem executada por Gilmour e o grupo de apoio (que contava não apenas com Wright e Mason, mas com uma verdadeira equipe de músicos talentosos que em muito acrescentaram na sonoridade dos novos arranjos).

O ciclo se fecha com as canções da época de ouro do Pink Floyd: Money e Time fazem uma dobradinha deliciosa, lembrando seu maior sucesso, Dark Side of The Moon (que depois seria levado na íntegra ao vivo no disco PULSE, outro marco da era David Gilmour). One of These Days por sua vez ganha um nova roupagem sonora, mudança que pode ser sentida também no hit Another Brick in the Wall (Part 2). De todas as releituras porém nenhuma se compara a Comfortably Numb, faixa impecável onde David Gilmour demonstra sem rodeios porque é considerado um dos maiores guitarristas da história do Rock. Um fantástico momento de êxtase sonoro. Delicate Sound of Thunder veio coroar o incrível trabalho de renascimento do Pink Floyd promovido por David Gilmour. Uma iniciativa que merece todos os nossos aplausos. Através de seu esforço pessoal Gilmour mostrou que o Pink Floyd não havia morrido e que ainda era capaz de emitir um delicado som de trovão por onde passasse.

Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason - Parte 1
Dos escombros de uma briga judicial que parecia nunca ter fim o Pink Floyd finalmente ressuscitou na segunda metade dos anos 80. Agora liderados única e exclusivamente por David Gilmour, o novo grupo tinha a proposta de levantar o nome da banda, tão desgastada por causa das brigas entre Gilmour e Roger Waters. Esse último tentou impedir nos tribunais ingleses o uso do nome "Pink Floyd" pelos demais membros do conjunto. Assim David Gilmour precisou lutar muito para que ele e seus companheiros Nick Mason e Richard Wright tivessem o direito de usar o nome em um novo álbum. Esse disco acabou sendo chamado de "A Momentary Lapse of Reason". Apesar de todas as críticas, inclusive de Waters que jamais reconheceu esse LP como sendo do Pink Floyd realmente, devo dizer que gostei bastante da nova proposta. David Gilmour, um dos maiores instrumentistas da história do rock, realmente realizou um trabalho bem sofisticado, muito bom de se ouvir. Não era em absoluto revolucionário, ou qualquer outra coisa do tipo, porém era digno de se usar o mitológico nome da maior banda de rock progressivo da história. O resto são lágrimas ao vento de um ressentido Roger Waters, que deveria ter ficado mesmo calado.

Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason - Parte 2
Poucas coisas podem ser mais chatas do que aquele grupo de fãs do Pink Floyd que vivem de ridicularizar a fase anos 80 de David Gilmour. Eu acho a opinião dessas pessoas completamente bizarra, uma vez que alguns dos meus discos preferidos da banda são dessa época. Aqueles que dizem não haver uma sonoridade genuína do Pink Floyd nesses discos precisa reavaliar urgentemente seus conceitos. "Signs of Life" que abre o álbum "A Momentary Lapse of Reason" é um exemplo disso. É uma música puramente instrumental, que começa com sons de um remo de barco. O que estaria por trás disso. Simples de explicar. Esse disco foi gravado em um estúdio flutuante mantido por Gilmour chamado Astoria. Foi uma forma que o guitarrista e novo líder do Pink Floyd encontrou de trabalhar em paz, longe das pressões do público e da crítica. A melodia foi escrita por Gilmour e o produtor Ezrin e as vozes ao fundo são as do baterista Nick Mason. A voz dele foi duplicada, como se ele estivesse conversando com ele mesmo. Essa faixa me lembra muito a sonoridade de "Atom Heart Mother". É uma lembrança óbvia dos tempos em que o Pink Floyd criava trilhas sonoras incidentais para filmes. Uma ligação com o passado mais do que pertinente.

"The Dogs of War" continuava dividindo opiniões. Eu pessoalmente considero uma faixa forte, lembrando os bons tempos do auge da criatividade do rock progressivo inglês. Muitos a consideram um momento de fragilidade de David Gilmour nesse álbum. Que tolice! A música se revelou ótima para ser tocada ao vivo por causa de sua introdução de impacto. Composta ao lado de Anthony Moore, a letra não era uma referência aos advogados que trabalharam nos inúmeros processos envolvendo Gilmour e Roger Waters como muitos disseram na época de lançamento. Na verdade os tais cães de guerra são os políticos ingleses envolvidos em casos de corrupção. É assim uma composição mais política por parte de Gilmour. Imaginem se ele conhecesse o nível de corrupção da política brasileira! Aí sim ele veria o que é de verdade um mundo cão! Para os que reclamavam dessa nova sonoridade da banda, provavelmente "One Slip" era um prato cheio! Lançada no último single extraído do disco "A Momentary Lapse of Reason" a canção nunca foi uma unanimidade. Já ouvi todo tipo de crítica contra essa música, desde que ela seria um popzinho safado dos anos 80, até que seria "latina demais", principalmente em sua introdução! Provavelmente resolveram pegar no pé do compositor Phil Manzanera, pensando se tratar de algum músico latino. Não é! Phil é inglês e escreveu a música ao lado de Gilmour durante a pré-produção do disco. Enfim, de bobagens e tolices esse mundo de fãs mais radicais do Pink Floyd está realmente bem cheio!

Pink Floyd - Delicate Sound of Thunder
Quando os primeiros acordes de "Shine on You Crazy Diamond" ecoam nesse álbum você fica até mesmo em dúvida se está mesmo ouvindo uma versão ao vivo do clássico absoluto do Pink Floyd lançado originalmente no disco "Wish You Were Here" de 1975. É tão perfeita que ficamos em dúvida se ela foi executada ao vivo. David Gilmour que nunca foi bobo nem nada, só levou feras ao palco dessa turnê. Juntando isso ao fato dele próprio ser um dos maiores guitarristas da história da música, não poderia dar em outra coisa. O registro é perfeito e arrebatador. Essa canção é uma das mais importantes da discografia do grupo. Durante anos a versão oficial foi que ela foi composta após uma visita inesperada de "Syd" Barrett ao estúdio onde os demais membros do grupo estavam gravando um novo disco. O estado de Barrett era tão ruim nesse momento, com cabelos escorrendo uma espécie de óleo, que Gilmour e Waters teriam ficado chocados com o que viram. O uso de ácido lisérgico (LSD) e outras drogas destruíram Syd do ponto de vista psicológico. Logo ele, o fundador do grupo, aquele que havia idealizado todas as bases e fundamentos do Pink Floyd, ia sendo engolido pela loucura. Uma bad trip sem volta, sem retorno. O resto do grupo sabia da sua dívida impagável com Syd e por essa razão resolveu lhe prestar essa homenagem, o que resultou em uma das músicas mais imortais do Pink Floyd. Depois desse apogeu sonoro, as coisas se acalmam um pouco e o Pink Floyd aproveita para mostrar uma música nova, "Learning to Fly" do disco "A Momentary Lapse of Reason". As viúvas de Roger Waters nunca perdoaram o fato de David Gilmour continuar com a banda após a saída de Waters. Por isso gostam de malhar todas as faixas de álbum, afirmando que o álbum nunca foi um legítimo LP do Pink Floyd, mas sim um disco solo de David Glimour que apenas usou o nome comercial do Pink Floyd. Acho essa visão tão provinciana e boboca que me recuso até mesmo a perder tempo argumentando. Esse disco é um legítimo trabalho do Pink Floyd. Estavam lá além de David Gilmour, o baterista Nick Mason e o tecladista Richard Wright. Do quinteto só faltava Syd Barret que havia enlouquecido e que não estava lá por motivos óbvios e Roger Waters, por ser um egocêntrico incurável. Por isso os fãs dessa linha mais radical deveriam baixar a bola antes de criticar um disco tão bom!

"The Dogs of War" foi lançada no disco "A Momentary Lapse of Reason". Como sabemos esse álbum foi severamente criticado pelos fãs de Roger Waters. Para eles esse não é um verdadeiro trabalho do Pink Floyd, mas sim uma picaretagem de David Gilmour que apenas usou o nome do grupo em um trabalho solo. Verdade? Não, pura bobagem. Além de ser realmente um trabalho do Pink Floyd (sem Waters, obviamente), também tem grande qualidade sonora e artística. A música foi composta como uma crítica contra determinados políticos britânicos, absurdamente submissos à política externa dos Estados Unidos. Clamando para que os cães de guerra entrem em campo sempre que Tio Sam ordenasse. Onde estaria o velho orgulho do povo inglês? Os arranjos da música também se destacam porque Gilmour trouxe um clima épico, como se você, ouvinte, estivesse dentro de um calabouço, onde monstros caninos estivessem prontos para o ataque. Talvez por forçar um pouco essa barra, parecendo em certos aspectos com uma trilha sonora, a canção tenha sido acusada de chata e pretensiosa demais. Só esqueceram esses críticos que o Pink Floyd, por muitos anos, também se especializou em compor trilhas sonoras. Eles não estavam fugindo muito do que sempre fizeram ao longo de todos esses anos. Menos criticada e muito mais bonita do ponto de vista melódico é a bela baladinha "On the Turning Away". OK, poderia certamente fazer parte de algum trabalho solo de David Gilmour, mas isso é um pouco óbvio demais. Opiniões banais devem ser descartadas. Não foi de um disco solo de David, mas sim parte de um bom LP do Pink Floyd, lançado em plenos anos 80. Por falar em anos 80... Admito que aquela sonoridade comprometeu um pouco (só um pouquinho) o resultado final desse já citado disco, o "A Momentary Lapse of Reason". Há intervenções de sax ao estilo Kenny G, que fez muitos fãs do Pink Floyd arrancarem os fios de cabelo da cabeça. O que tenho a dizer a essas pessoas é que elas precisam, acima de tudo, relaxarem para curtir melhor essa bela composição de David Gilmour. Só assim vão entender e apreciar a beleza da música como um todo. Que tal ser menos chato e apreciar uma música apenas pelas suas qualidades musicais, sem preconceitos ou visões cimentadas?

A música "Yet Another Movie" é muitas vezes criticada por não ser "uma autêntica música" do Pink Floyd! O que exatamente seria isso? Ninguém sabe responder ao certo. O que me parece é que essa má vontade vem do fato da canção ter sido parte do álbum "A Momentary Lapse of Reason", que como sabemos não contou com Roger Waters. Sem Waters, sem Pink Floyd autêntico. Essa parece ser a conclusão dessas pessoas. Em minha opinião esse pensamento é pura bobagem e até mesmo um tanto infantil. Grupos de rock se modificam ao longo dos anos. É natural que sua sonoridade também sofra mudanças, algumas vezes para melhor e outras para pior. Processo natural e completamente esperado. Essa crítica de que não faz parte do verdadeiro Pink Floyd já não pode ser dirigida para o clássico "One of These Days". Originalmente essa música fez parte do repertório consagrado do disco "Meddle". Não foi uma música que o grupo levou com frequência para os palcos nos tempos de Roger Waters, mas tem sua importância inegável dentro da discografia da banda. No vinil original do "Delicate Sound of Thunder" foi usada para abrir o disco 2 do pacote, mostrando a importância dela como mola propulsora dos shows do Pink Floyd nessa era quase que exclusivamente David Gilmour. Em relação a "Time" do "The Dark side of the Moon" já tive fases de gostar muito da música e fases de saturação dela. Também é inegável que sua harmonia pode causar um certo cansaço no ouvinte, depois de ouvi-la por anos e anos. Cansaço vai bater, seguramente. Porém, é a tal coisa, nada que tenha feito parte do "Dark Side" pode ser relegado a um segundo plano. Disco mais vendido da banda, é até hoje reverenciado como uma obra prima absoluta. De certa maneira temos que respeitar esse status das músicas desse LP.

Delicate Sound Of Thunder (1988)
01. Shine On You Crazy Diamond
02. Learning to Fly
03. Yet Another Movie
04. Round and Around
05. Sorrow
06. The Dogs of War
07. On the Turning Away
08. One of These Days
09. Time
10. Money
11. Another Brick in the Wall (Part 2)
12. Wish You Were Here
13. Comfortably Numb
14. Run Like Hell

Pablo Aluísio.

Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason

Quando o Pink Floyd lançou o disco The Final Cut muitos previram o seu fim. A obra não agradou ao público, encalhou nas lojas e foi impiedosamente criticada pela imprensa especializada. A mais pura verdade era que The Final Cut não era bem um projeto do Pink Floyd, mas sim de Roger Waters, naquela altura com a egomania completamente descontrolada. Com o sucesso de The Wall, Waters acreditou piamente que poderia fazer o que bem entendesse e que o restante do grupo deveria apenas seguir suas ordens cegamente. Demitiu Richard Wright do Floyd e levou até as últimas consequências sua megalomania galopante. Quando The Final Cut naufragou ele literalmente declarou à imprensa que o Pink Floyd havia chegado ao fim e ponto final.

Embora Roger Waters acreditasse nisso a ideia de colocar um fim na história do Floyd simplesmente não foi aceita pelos demais membros que começaram então uma longa batalha judicial pelo nome do grupo, para assim continuar o legado da banda britânica sozinhos, sem a presença egocêntrica de Roger Waters. Finalmente em 1987 eles conseguiram vencer a luta jurídica e liderados por David Gilmour resolveram arrumar a casa e retomar as redeas do Pink Floyd, sendo o primeiro projeto da era pós Roger Waters justamente a gravação desse belissimo LP, A Momentary Lapse of Reason. Antes de mais nada é bom avisar que Momentary não é unanimidade entre os fãs, muito menos entre as chamadas "viúvas" de Roger Waters. Para esse grupo o disco é totalmente ruim, falso, desprovido de alma, uma invenção completamente bastarda de David Gilmour para ganhar dinheiro em cima do nome mitológico do Pink Floyd. Besteira. Contando com três dos membros originais do grupo (Gilmour, Mason e Wright, reabilitado de seu vício em drogas e participante do disco como músico contratado) o LP é um sopro mais do que bem-vindo para o ressurgimento de um dos melhores conjuntos de rock da história.

Momentary Lapse or Reason abre com uma interessante colagem sonora na faixa Signs of Life. A tentativa aqui é óbvia. Gilmour tenta através de elaborada peça instrumental reviver os antigos bons momentos do Pink Floyd nos anos 70 (não faltou nem a parte de vozes ao fundo, como bem podemos ouvir em discos como Dark Side of The Moon). Learning To Fly mostra o que Gilmour tinha de melhor a oferecer ao grupo naquele momento: a sua tão conhecida habilidade em lidar com belas harmonias, fato amplamente consolidado na linda On The Turning Away. Claro que o disco não é isento de críticas: The Dogs of War, por exemplo, provavelmente não entraria nos melhores discos do Floyd na década de 70. De qualquer forma o disco conseguiu seu objetivo: fez sucesso e evitou que o Pink Floyd morresse após o lançamento de The Final Cut. Pela história e pela importância certamente o Floyd não merecia ter um fim tão inglório. Assim Momentary Lapse of Reason marca o nascimento da chamada fase Gilmour, com shows fantásticos ao redor do mundo, belos arranjos, revitalização do nome do grupo, muito sucesso comercial e consagração do grande público. Para ser sincero a única diferença realmente foi a ausência de Roger Waters, se bem que após The Final Cut poucos lamentaram sua saída. É isso, o momentâneo lapso de razão prevaleceu e nos legou mais um grande momento Floydiano. Obrigado por isso, David.
 
Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason - Parte 1
Dos escombros de uma briga judicial que parecia nunca ter fim o Pink Floyd finalmente ressuscitou na segunda metade dos anos 80. Agora liderados única e exclusivamente por David Gilmour, o novo grupo tinha a proposta de levantar o nome da banda, tão desgastada por causa das brigas entre Gilmour e Roger Waters. Esse último tentou impedir nos tribunais ingleses o uso do nome "Pink Floyd" pelos demais membros do conjunto. Assim David Gilmour precisou lutar muito para que ele e seus companheiros Nick Mason e Richard Wright tivessem o direito de usar o nome em um novo álbum. Esse disco acabou sendo chamado de "A Momentary Lapse of Reason". Apesar de todas as críticas, inclusive de Waters que jamais reconheceu esse LP como sendo do Pink Floyd realmente, devo dizer que gostei bastante da nova proposta. David Gilmour, um dos maiores instrumentistas da história do rock, realmente realizou um trabalho bem sofisticado, muito bom de se ouvir. Não era em absoluto revolucionário, ou qualquer outra coisa do tipo, porém era digno de se usar o mitológico nome da maior banda de rock progressivo da história. O resto são lágrimas ao vento de um ressentido Roger Waters, que deveria ter ficado mesmo calado.

Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason - Parte 2
Poucas coisas podem ser mais chatas do que aquele grupo de fãs do Pink Floyd que vivem de ridicularizar a fase anos 80 de David Gilmour. Eu acho a opinião dessas pessoas completamente bizarra, uma vez que alguns dos meus discos preferidos da banda são dessa época. Aqueles que dizem não haver uma sonoridade genuína do Pink Floyd nesses discos precisa reavaliar urgentemente seus conceitos. "Signs of Life" que abre o álbum "A Momentary Lapse of Reason" é um exemplo disso. É uma música puramente instrumental, que começa com sons de um remo de barco. O que estaria por trás disso. Simples de explicar. Esse disco foi gravado em um estúdio flutuante mantido por Gilmour chamado Astoria. Foi uma forma que o guitarrista e novo líder do Pink Floyd encontrou de trabalhar em paz, longe das pressões do público e da crítica. A melodia foi escrita por Gilmour e o produtor Ezrin e as vozes ao fundo são as do baterista Nick Mason. A voz dele foi duplicada, como se ele estivesse conversando com ele mesmo. Essa faixa me lembra muito a sonoridade de "Atom Heart Mother". É uma lembrança óbvia dos tempos em que o Pink Floyd criava trilhas sonoras incidentais para filmes. Uma ligação com o passado mais do que pertinente.

"The Dogs of War" continuava dividindo opiniões. Eu pessoalmente considero uma faixa forte, lembrando os bons tempos do auge da criatividade do rock progressivo inglês. Muitos a consideram um momento de fragilidade de David Gilmour nesse álbum. Que tolice! A música se revelou ótima para ser tocada ao vivo por causa de sua introdução de impacto. Composta ao lado de Anthony Moore, a letra não era uma referência aos advogados que trabalharam nos inúmeros processos envolvendo Gilmour e Roger Waters como muitos disseram na época de lançamento. Na verdade os tais cães de guerra são os políticos ingleses envolvidos em casos de corrupção. É assim uma composição mais política por parte de Gilmour. Imaginem se ele conhecesse o nível de corrupção da política brasileira! Aí sim ele veria o que é de verdade um mundo cão! Para os que reclamavam dessa nova sonoridade da banda, provavelmente "One Slip" era um prato cheio! Lançada no último single extraído do disco "A Momentary Lapse of Reason" a canção nunca foi uma unanimidade. Já ouvi todo tipo de crítica contra essa música, desde que ela seria um popzinho safado dos anos 80, até que seria "latina demais", principalmente em sua introdução! Provavelmente resolveram pegar no pé do compositor Phil Manzanera, pensando se tratar de algum músico latino. Não é! Phil é inglês e escreveu a música ao lado de Gilmour durante a pré-produção do disco. Enfim, de bobagens e tolices esse mundo de fãs mais radicais do Pink Floyd está realmente bem cheio!

Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason (1987)
01. Signs of Life
02. Learning to Fly
03. The Dogs of War
04. One Slip
05. On the Turning Away
06. Yet Another Movie" / "Round and Around
07. A New Machine (Part 1)
08. Terminal Frost
09. A New Machine (Part 2)
10. Sorrow

Pablo Aluísio.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Nirvana - Nevermind

O tempo passa rápido demais. Parece que foi ontem que "Nevermind" chegou nas lojas mas lá se vão 20 anos desde o seu lançamento. A data comemorativa não poderia passar em branco por aqui. O Rock na época vinha em longo declínio, sem inovação, com o cenário musical lotado das chamadas bandas farofas - ou seja, muita pose, muito laquê no cabelo e pouca relevância sonora. Era um ambiente tão medíocre que o jovem que gostava de rock no começo dos anos 90 tinha mesmo que buscar no passado cantores e grupos de qualidade para ouvir. Era exatamente o que eu mesmo fazia naquela época pois ouvia não só os grandes clássicos (Elvis, Beatles, etc) como os chamados dinossauros do rock, grupos dos anos 60 e 70 como Pink Floyd e The Doors. E então no meio dessa pasmaceira eis que surgiu um novo grupo, realmente inovador e com um som forte, de pegada genuinamente roqueira, o Nirvana.

Na época o grupo foi relacionado ao chamado som de Seattle, uma feia, cinza e chuvosa cidade americana que nunca antes tinha se destacado mundialmente do ponto de vista cultural. Até um termo foi criado, Grunge (a imprensa adora mesmo rótulos). O mais curioso de tudo é que a maioria dessas informações eram equivocadas. O Nirvana não era de Seattle, mas sim de uma cidadezinha chamada Aberdeen e não fazia parte de movimento nenhum. Kurt Cobain, o vocalista, compositor e líder do grupo, não era e nunca foi parte de qualquer movimento cultural. Ele fazia uma música muito pessoal, refletindo aspectos de sua vida, sem se importar em fazer parte de qualquer tipo de rótulo inventado pela imprensa americana. "Nevermind" é a obra prima desse grupo que queiram ou não marcou época. Embora a frase possa causar polêmica o fato é que o Nirvana em essência foi uma banda de um disco só, já que o primeiro CD do grupo, "Bleach" nada mais era do que uma demo um pouquinho mais bem produzida. Da mesma forma seu último trabalho, "In Utero", foi severamente prejudicado pela decadência física e psicológica de seu mentor, já naquela altura totalmente corroído pelo forte vicio em heroína.

"Nevermind" por sua vez passa por cima de qualquer tipo de crítica que tente desvalorizar seu impacto na cultura roqueira dos anos 90. É um CD com faixas viscerais que a despeito de sua crueza rude e primitiva (como convém a um bom trabalho de punk rock) ainda mantém uma produção de excelente nível técnico, mérito é claro para o excelente produtor Butch Vig, um verdadeiro craque no setor. Kurt Cobain mostra ao longo da seleção que não bastava apenas posar de rebelde e usar roupas ridículas como os grupos que estavam na parada naquela época mas sim colocar sua alma em cada verso, em cada refrão. Nesse aspecto o cantor e compositor era realmente genial. Em suas músicas Kurt injetava aspectos reais de sua vida, sem pose, sem falsidades. Produtos culturais com tanta alma assim acabam virando ícones ou marcas e "Nevermind" de certa forma cumpre a regra que tanto conhecemos. Um disco que resume o melhor do que foi produzido na década de 1990. Quem viveu sabe perfeitamente do que estou falando.

Nirvana - Nevermind (1991)
1. Smells Like Teen Spirit
2. In Bloom
3. Come as You Are
4. Breed
5. Lithium
6. Polly
7. Territorial Pissings
8. Drain You
9. Lounge Act
10. Stay Away
11. On A Plain
12. Something in the Way

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Norah Jones - Stay With Me

Minha dica de CD hoje vai para Stay With Me de Norah Jones. Nem adianta procurar na discografia americana da cantora porque esse é um lançamento não oficial. Me fez lembrar as discografias dos cantores e bandas dos anos 60, onde a liberdade de lançamentos das filias em relação às majors americanas era tamanho que muitas vezes cada país lançava suas próprias discografias, com várias características próprias, muitas vezes misturando discos originais para dar origem a um título totalmente novo e diferente do que era lançado lá fora. Exemplos? Temos muitos. Quem não se lembra do bastardo "Beatlemania" da discografia brasileira dos Beatles (único no mundo), ou então o BKL 60, o primeiro álbum de Elvis Presley lançado no Brasil, que tinha como capa a mesma de um compacto duplo americano lançado nos anos 50! Interessante é que acredito que Stay With Me não tenha sido nem lançado em vários países (só achei referências de seu lançamento na Itália, Brasil e Espanha). Isso demonstra que a cantora tem ganhado cada vez espaço pois definitivamente bootlegs de uma forma em geral é coisa típica de grandes nomes. Ao restante dos artistas mortais só resta o limbo de sua discografia oficial, que muitas vezes nem sequer é suficiente para capturar o talento do cantor ou cantora.

O CD traz uma interessante e curiosa coleção de faixas daquela que para mim até agora é a melhor fase da Norah Jones. A Tônica é praticamente toda de baladas Jazz, com pequenas nuances folks e flertes rápidos com o cenário indie. Existe espaço até mesmo para uma faixa bem experimental que fecha o álbum, a estranha (mas bela) In a Whisper. Embora a cantora tenha passeado por alguns estilos ao longo da carreira, com resultados diversos, sua força vem do instrumental mais bem elaborado, dos arranjos sofisticados e da boa produção de suas faixas de estúdio. Tudo isso você vai encontrar nessa coletânea que vai desde os momentos mais manjados (Como Day Is Done, muito conhecida entre os fãs) até momentos bem mais discretos (e obscuros) de sua discografia como Wait (que tem uma batida bem anos 70). E que tal o balanço nitidamente latino de Mora Than This? Nada mal hein? Como a cantora tem poucos discos lançados oficialmente, Stay With me é uma boa pedida para conhecer esse tipo de faixa bem menos badalada. Confira e você não irá se arrepender.

Norah Jones - Stay With Me
01. Day Is Done
02. Peace
03. What Am I to You
04. No Easy Way Down
05. More Than This
06. Something I Calling You
07. I'll Be Your Baby Tonight
08. Ruler of the Day
09. In the Dark
10. Butterflies
11. Wait
12. In a Whisper

Pablo Aluísio.

Norah Jones - Marian McPartland’s Piano Jazz

Esse CD, Norah Jones - Marian McPartland’s Piano Jazz, é um bootleg extremamente interessante. Para quem aprecia boa música o programa de Marian McParland, que pode ser ouvido inclusive pelo site da NPR Radio de Nova Iorque (http://www.npr.org) sempre traz grandes convidados para tocar e conversar sobre jazz music. Um show de sofisticação e bom gosto. Aqui nesse bootleg a ótima cantora Norah Jones esbanja talento e sofisticação. Curiosamente com ela se repete algo que aconteceu inclusive com cantores do passado como Elvis Presley e Johnny Cash, ou seja, alguns de seus bootlegs conseguem ser bem melhores do que alguns discos oficiais. Nesse CD em especial temos apenas nove faixas cantadas por Norah, pois as demais são apenas bate papos entre a cantora e a apresentadora do programa.

Uma conversação muito curiosa aliás, pois Jones mais uma vez se revela uma pessoa tímida, levemente nervosa e parecendo sempre pouco à vontade. Risinhos nervosos surgem aqui e acolá. Norah desfila entre as canções de seus discos oficiais e alguns outros standarts da música americana, arrasando inclusive em faixas completamente instrumentais (ela é uma pianista de mão cheia). Ultimamente tenho ouvido bastante esse Piano Jazz, mais até do que os últimos CDs oficiais da cantora. Fica a dica preciosa: se é fã e não ouviu ainda corra atrás (e aproveite para conhecer o excelente programa de Marian McParland no link que postei, vai valer muito a pena, tenho certeza).

Norah Jones - Marian McPartland’s Piano Jazz, New York City, NY
Conversation
September in the Rain
Conversation
In the Dark
Conversation
Comes Love
Conversation
For All We Know
Conversation
I Can’t Get Started
Conversation
Don’t Know Why
Conversation
Peace
Conversation
The Nearness of You
Conversation
A Beautiful Friendship
Conversation

Pablo Aluísio.

domingo, 25 de setembro de 2011

Stereophonics - Keep Calm and Carry On

O Stereohonics fecha o ano de 2009 com CD novo na praça. Intitulado Keep Calm and Carry On o novo trabalho do grupo tenta recuperar a velha garra dos primeiros trabalhos. Ficou na intenção. Certa vez John Lennon disse que os Beatles não poderiam voltar aos seus anos iniciais porque simplesmente aqueles jovens do começo da década de 60 não existiam mais. A mesma coisa acontece com o Stereophonics. Eles certamente buscam a garra que tanto os caracterizou em seus primeiros álbuns mas simplesmente não há como voltar no tempo, ainda mais em relação ao grupo que nem mais é formado pelas mesmas pessoas que gravaram o seu primeiro disco. Isso significa que o CD decepciona e não é bom? Absolutamente não. O Stereophonics sempre tem algo interessante a mostrar mesmo quando a fórmula se torna um pouco repetitiva.

Keep Calm and Carry On tem altos e baixos. A primeira faixa She’s Alright com sua percussão de primeira linha pega o ouvinte logo de cara. Como sempre as guitarras surgem nervosas, mostrando um pique que andava em falta nos trabalhos anteriores do grupo. É um bom momento inicial do CD e mostra que o som mais puro do Britpop continua vivo ainda nos dias de hoje. Innocent, com sua harmonia pra cima e vocalização alto astral talvez seja o maior candidato a hit do CD, uma faixa que foi especialmente escrita para fazer bonito nas rádios britânicas.O refrão é pegajoso, como todo sucesso tem que ser. Beerbottle, com seu som tecno soa fora de contexto. Alguns críticos já andaram dizendo por aí que o Stereophonics anda tendo crises de identidade, não se posicionando como banda de britpop, rock alternativo ou indie. Bem, no meio de toda essa esquizofrenia a última coisa que deveria aparecer era uma canção com uma batida assim tão tecno. Não gostei, espero que essa tenha sido apenas uma experiência isolada dentro do som do grupo.

Depois de ouvir três faixas finalmente ouvimos o primeiro Rock do CD. Trata-se de Trouble (nada a ver com o antigo sucesso de Elvis Presley). Aqui finalmente respiramos um pouco do clima do primeiro CD dos galeses. A pegada segue totalmente idêntica, o clima idem. Possivelmente tenha sido composta nos primeiros tempos da banda para só agora aparecer em sua discografia. Cold You Be The One que vem logo a seguir se mostra a grande balada indie do disco. Apesar de um certo clichê no arranjo (com o velho dedilhado no violão que tanto conhecemos das rodinhas indies) a harmonia e a estrutura bonita do refrão nos conquista de imediato. Ideal para ouvir acompanhado. Depois do momento relax o Stereophonics apresenta a faixa I Got Your Number. Embora estruturalmente interessante, com a mesma base seguindo toda a execução falta um certo clímax para a música nos conquistar completamente. Do jeito que está ficou no meio do caminho.

O Britpop volta com Uppercut. O velho refrão pegajoso para tocar na FM está lá, o vocal inconfundível de Kelly também. Vamos ver se essa canção consegue se destacar nas programações. Tem tudo para dar certo. Mas não pára por aí. A forte presença do som Britpop continua com Live ‘N’ Love, uma mistura mediana com guitarras em primeiro plano, refrão feito para grudar na cabeça e letra simples. 100mph provavelmente é o som mais fiel ao som que o grupo vem desenvolvendo desde seu primeiro CD. A harmonia nos remete imediatamente aos dias de Have a Nice Day. O CD fecha as cortinas com três bons momentos: Wonder (não chega a ser uma grande música mas mantém o interesse), Stuck In A Rut (onde o destaque fica para o vocal de Kelly que leva a canção nas costas) e Show Me How (momento lúdico para encerrar muito bem Keep Calm and Carry On). Se fosse para dar uma nota para o conjunto da obra me arriscaria a dar um 8,0. Seria merecido. Se não é o melhor trabalho do grupo pelo menos é bem superior ao último CD do Stereophonics. Pode comprar sem receios, vai valer a pena.

Keep Calm and Carry On
01. She’s Alright
02. Innocent
03. Beerbottle
04. Trouble
05. Cold You Be The One
06. I Got Your Number
07. Uppercut
08. Live ‘N’ Love
09. 100mph
10. Wonder
11. Stuck In A Rut
12. Show Me How

Pablo Aluísio.

sábado, 24 de setembro de 2011

Stereophonics - Word Gets Around

Quem pensa que o melhor som do Britpop vem do Oasis e da Inglaterra está redondamente enganado. Esse título pertence aos galeses do Stereophonics. Esse trio formado no começo dos anos 90 vem colecionando uma série de sucessos, fazendo com que cinco de seus seis álbuns chegassem ao topo da parada inglesa nos últimos anos. Não é para menos, fazendo um som honesto e sem firulas o Stereophonics prova que o Britpop não é composto apenas por bandas pretensiosas e sem conteúdo. Obviamente Kelly Jones e cia escrevem sobre o cotidiano de suas vidas, de forma simples e comum, porém o forte desse trio realmente é a melodia de suas canções; poucos grupos conseguem compor músicas tão interessantes como eles nesse aspecto.

Words Get Around, seu álbum de estréia (o único que não chegou ao topo da parada britânica) traz uma coleção de belos momentos. A voz de bebum de pub de Kelly Jones se enquadra perfeitamente nas harmoniosas linhas das melhores canções do álbum: Traffic, Local Boy in The Photography e A Thousand Trees. Ao contrário do Oasis, que muitas vezes prefere um som estrondoso e no último volume, o Stereophonics aposta nas entrelinhas de uma musicalidade mais cadenciada e bem executada, reforçando por letras bem compostas, retratando as experiências de um jovem comum vivendo nos dias de hoje no outrora glorioso império Britânico. Além de conseguirem apresentar músicas mais consistentes o Stereophonics consegue tudo isso sem perder a garra que se espera de toda banda de rock. Isso está bem claro em faixas como a ótima Too Many Sandwiches, onde as guitarras ecoam ao fundo sem ofender ou machucar nossos tímpanos. Aqui o som pesado está a serviço de uma balada que deixaria um Paul McCartney orgulhoso. Enfim, o CD é essencial para quem quiser conhecer o melhor do movimento Britpop, mostrando a todos que se o Rock está em crise ao redor do mundo, certamente a apatia e a falta de talento ainda não atingiram as ilhas britânicas, pois o grande número de bandas inglesas, escocesas, irlandesas e galesas está aí para comprovar que o bravo Rock´n´Roll vive e vai mundo bem na terra da Rainha.

Stereophonics - Word Gets Around
1. A Thousand Trees
2. Looks Like Chaplin
3. More Life in a Tramps Vest
4. Local Boy in the Photograph
5. Traffic
6. Not Up To You
7. Check my Eyelids for Holes
8. Same Size Feet
9. Last of the Big Time Drinkers
10. Goldfish Bowl
11. Too Many Sandwiches
12. Billy Davey's Daughter

Pablo Aluísio.

Stereophonics - Pull The Pin

A história é praticamente a mesma em quase todas as bandas da história. Um grupo de amigos se reúnem, formam um conjunto de Rock, chegam ao sucesso, alcançam as paradas mas então... sem muita explicação as coisas começam a ficar diferentes, rixas surgem, brigas internas pipocam em todos os lugares, o stress das viagens e das gravações se tornam insuportáveis e um belo dia a banda simplesmente explode... ou implode. Desde que o Rock foi inventado não dá outra coisa...O Stereophonics vive algo parecido. O grupo, formado por amigos do País de Gales, conseguiu a proeza de lançar cinco excelentes CDs, desde que despontou para o sucesso nos anos 90 mas aí... A banda quase acabou em 2005 quando Kelly Jones se desentendeu com o batera Stuart Cable, o que acabou resultando em sua expulsão do grupo. Stuart acusou Kelly de tentar dominar a todos e impor sua opinião pessoal sobre os demais. O clima nervoso e tenso acabou passando para o novo CD do grupo, Language. Sex. Violence. Other? - um dos mais pesados e ruidosos trabalhos do Phonics.

Depois da saída de Stuart, Kelly trouxe ao grupo o guitarrista do The Manvils, Mark Parry. Com nova formação o grupo saiu em turnê e demonstrou, pelo menos no palco, que tantas confusões internas não tinham ainda afetado a banda. Isso na realidade só seria mesmo percebido com o lançamento desse CD, Pull The Pin, que chegou nas lojas no final de 2007. Apesar do sucesso (primeiro lugar na Inglaterra), a sonoridade do grupo soou de certa forma cansada para o público. Muitas críticas foram feitas ao Stereophonics pelos principais órgãos de imprensa britânicos. Será que Kelly Jones, depois de tantas brigas e desentendimentos havia perdido o toque de Midas? Não é para tanto. Pull The Pin certamente não é o melhor álbum do Stereophonics mas conseguiu manter uma certa consistência. Claro que não existem aqui grandes hits ou maravilhosas canções como nos álbuns anteriores. Isso de certa forma causou estranheza entre os admiradores da banda galesa. Mas analisando agora, com mais calma e sem o rebuliço de seu lançamento, Pull The Pin me soa bem melhor. Talvez a primeira audição não tenha sido das melhores mas agora podemos apreciar melhor o som do grupo, que não está pior, simplesmente está diferente.

Entre os destaques podemos citar a canção que virou single antes do lançamento do CD, It Means Nothing, balada deliciosa que lembra muito os melhores momentos do Stereophonics como Have a Nice Day e o excelente arranjo de guitarras de My Friends, que tocou bastante nas rádios quando visitei Londres no final de 2007, mostrando que o grupo continuava com a mesma pegada de sucesso que sempre os caracterizou. É isso, Pull The Pin merece uma segunda audição e uma segunda avaliação. Em breve certamente o Stereophonics estará com CD novo nas lojas e esperamos que dessa vez o grupo de Kelly Jones acerte totalmente no tom.

Stereophonics - Pull The Pin (2007)
1. Soldiers Make Good Targets
2. Pass the Buck
3. It Means Nothing
4. Bank Holiday Monday
5. Daisy Lane
6. Stone
7. My Friends
8. I Could Lose Ya
9. Bright Red Star
10. Ladyluck
11. Crush
12. Drowning

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Michael Jackson - Blood on the Dance Floor

Até tenho ouvido bastante esse CD ultimamente. Era para ter sido lançado como EP (compacto duplo) pois não havia músicas suficientes para compor um álbum. Então a gravadora decidiu complementar o disco com uma série de remixes. Uma ideia que sinceramente não achei grande coisa. Deveriam ter procurado por alguma faixa arquivada do passado. Teria sido mais interessante do que simplesmente encher o disco com remixes de faixas do disco History. De qualquer forma tem coisas interessantes nesse CD. Não acho que seja um álbum essencial para se ter na coleção, mas para quem deseja completar a coleção dos CDs oficiais da carreira do Michael Jackson, aí já recomendaria. Há músicas aqui que não se encontram em nenhum outro títuo do cantor. Por isso existe a importância.

"Blood on The Dance Floor", a faixa título, tem ótimo embalo. Poderia ter entrado em qualquer disco oficial de Michael Jackson. "Morphine" surpreende pela sinceridade. Aqui Michael admite publicamente seus problemas com as drogas, algo que iria selar seu destino. A referência ao medicamento Demerol tem muita sinceridade. "Is It Scary" e principalmente "Ghosts" tenta repetir o passado de glórias de "Thriller", mas sem sucesso. Essas são as músias inéditas. Todo o resto é completado com remixes. No geral gosto do CD, apesar de sempre ter aquela sensação de que tudo não passou de um truque de gravadora para faturar mais em cima do nome de Michael Jackson.

Michael Jackson - Blood on the Dance Floor (1997)
Blood on The Dance Floor
Morphine
Superfly Sister
Ghosts
Is It Scary
Scream Louder (Flyte Tyme Remix)
Money (Fire Island Radio Edit)
2 Bad (Refugee Camp Mix)
Stranger In Moscow (Tee's In House Club Mix)
This Time Around (D.M. Radio Mix)
Earth Song (Hani's Club Experience)
You Are Not Alone (Classic Club Mix)
HIStory (Tony Moran's History Lesson)

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Queen - News of the World

Recentemente a EMI Odeon lançou uma edição comemorativa dos 40 anos do lançamento original do álbum clássico do Queen "News of the World". Dentro de um box muito caprichado o fã da banda inglesa encontra o disco de vinil que foi lançado na época, um álbum especial com muitas fotos e informações, posters, letras, pequenos brindes e os CDs, trazendo as músicas oficiais e vários takes alternativos. Um lançamento para fã nenhum colocar defeito. Um produto de resgate histórico realmente primoroso. Esse álbum pode ser considerado o primeiro disco realmente popular do grupo. Antes dele o Queen obviamente já era bem conhecido pelos fãs de rock, mas foi esse "News of the World" que o efetivamente colocou na seleta lista das maiores bandas de rock do mundo. O sucesso do disco inclusive fez com que o Queen fosse para os Estados Unidos para sua primeira grande turnê internacional.

E como convém a um disco com tantos títulos importantes a ostentar, esse também não poderia abrir sem um grande clássico do Queen. É a tal coisa, se você nunca ouviu "We Will Rock You" em sua vida provavelmente você não viveu no Planeta Terra nesses últimos quarenta anos. Até hoje a canção é onipresente, seja em estádios de futebol (na Inglaterra ela é ouvida em praticamente toda partida) até em peças publicitárias. Provavelmente seja uma das cinco músicas mais conhecidas da discografia do Queen. Impossível não reconhecer nos primeiros acordes. O que mais me causa admiração nessa faixa composta por Brian May é que ela inverte a ordem natural das coisas em uma música. Geralmente as músicas possuem uma introdução, duas ou três partes e o refrão, que é usado para grudar na mente do ouvinte. Com "We Will Rock You" isso não acontece. A música é praticamente um refrão que se repete e repete até o fim. Bom, funcionou e virou um clássico absoluto. Então provou que seu autor estava mais do que certo.

"We Are The Champions" é o outro grande sucesso desse álbum. Uma composição muito inspirada de Freddie Mercury, que diga-se de passagem sempre foi muito subestimado como compositor. Muitos louvam sua excelente performance de palco, suas apresentações memoráveis e também sua ótima capacidade vocal, já que é consenso em todos que ele foi um grande cantor. Porém quando se trata do Mercury escritor de boas músicas, isso é meio deixado de lado. Bom, qualquer um que escrevesse um hino como essa faixa seria plenamente reconhecido. Com Mercury nem sempre isso aconteceu. A música virou outro clássico esportivo, vamos colocar nesses termos. Sempre quando há premiações (principalmente no futebol europeu) o sistema de som dos grandes estádios não perdem a oportunidade de tocar esse grande sucesso do Queen. A música aliás se tornou muito maior do que o próprio disco que a lançou. A denominação hino é muito mais adequada para ela. Não é apenas um sucesso, mas sim um hino moderno, sempre relembrado e tocado em inúmeras ocasiões Absolutamente inesquecível.

Depois de duas faixas tão fortes e marcantes, o disco cai um pouco com "Sheer Heart Attack". Essa é uma composição de Roger Taylor. Apesar do ritmo acelerado e das boas guitarras ao fundo marcando toda a faixa, a música tem uma letra muito fraca e ruinzinha. Nem os arranjos salvam a canção de um incômodo sentimento de que tudo ficou datado e em certos aspectos quase ridículo. A parte vocal também não ajuda muito. Assim não tenho outra opinião. Essa é realmente a primeira canção fraca do disco.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Queen - A Kind of Magic

Voltando pela memória aos anos 80 me lembro que o grupo Queen, assim como Michael Jackson, sempre fazia bons clips e esses eram esperados pelos jovens da época. Basta lembrar do furismo retrô de "Radio Ga Ga" ou das piadas de "I Want To Break Free" que chocou o falso puritanismo dos americanos. Assim como havia acontecido nos discos anteriores o Queen também fez clips para essa álbum, mas de uma forma diferente. Eles colocaram tudo em animação. E não parou por aí, também colocaram suas versões em desenho animado na capa do disco. Eu não me recordo de nenhum outro grupo de rock fazendo a mesma coisa naqueles anos.

Esse disco foi lançado em 1986 e apresentava um agradável repertório que logo iria se destacar nas paradas, afinal se tratava do Queen, uma das bandas de rock mais populares dos anos 80. "One Vision" que abria o álbum chegava com efeitos sonoros e orquestra como fundo incidental. Logo um belo arranjo com guitarras quebrava o clima para deixar claro que aquilo era um disco de rock. Essa música foi um dos sucessos do disco, tocando muito nas rádios dos anos 80. O ponto forte vinha novamente para reforçar aquela vocalizção cheia de energia que iria tornar Freddie Mercury um dos grandes cantores da história do rock mundial.

A mùsica tìtulo do disco "A Kind of Magic" era também muito boa e inclusive lembrava muito a faixa anterior. Ambas tinham um toque de sucesso inigualável. São melodias praticamente iguais, um ouvinte distraíto poderia pensar estar ouvindo a mesma música. Outro hit dos anos 80 à prova de falhas. "One Year of Love"  também fez um enorme sucesso. Veja bem, o disco já abria com três hits absolutos. Quem poderia imaginar algo assim nos dias de hoje? Pois é, o Queen tinha uma enorma vocação para conquistar sucessos radiofônicos, aquele tipo de hit que ficava na mente das pessoas por longos anos. Algo para poucos artistas. Ouça, se você viveu os anos 80 vai lembrar imediatamente dessa trilogia inicial de hits. Nessa balada destaco o belo solo de sax, um lindo instrumento, hoje em dia pouco utilizado, infelizmente."Pain Is So Close to Pleasure" foi outro sucesso na rádios de todo o mundo. Uma música bem diferente não apenas do álbum em si como também do repertório do Queen como um todo. Um som relaxante que me faz lembrar inclusive de antigas músicas dos anos 50 e 60, com ênfase na sonoridade da Motown. Perceba que até os vocais de apoio vão nessa direção. Uma daquelas músicas que você ouviu tocando nas rádios durante os anos 80 e nunca mais esqueceu. Bom momento do disco.
    
"Friends Will Be Friends" se destaca, entre coisas, pelos maravilhosos solos de guitarra que abrem a canção e que se repetem ao longo de toda a faixa. O refrão é tão pegajoso que gruda na sua mente de uma maneira absurda. É uma balada inesquecível do Queen, com ótimos arranjos e mais uma performance arrasadora de Mercury, aqui em seu auge, esbanjando saúde e talento. Que música linda! Essa realmente não se esquece nunca. Para guardar na memória e no coração. "Who Wants to Live Forever" começa quase como uma peça de ópera triste, com um antigo órgão ao fundo, mais parecendo algum tema do clássico "O Fantasma da Ópera". Depois vai crescendo aos poucos, em apoteose. Outro sucesso absoluto da história do Queen, sempre presente em coletâneas das melhores do Queen. Em termos de baladas tristes, sem dúvida está entre as melhores. Outro refrão que você nunca mais vai esquecer na vida. O arranjo de orquestra é maravilhoso. Aqui Mercury queria apenas o melhor que os estúdios podiam disponibilizar para o grupo. Ficou nota 10 a gravação. Simplesmente genial.    

"Gimme the Prize (Kurgan's Theme)" é do filme "Highlander - O Guerreiro Imortal". Assim como o Pink Floyd havia feito no passado, o Queen também tinha ambições em escrever trilhas sonoras para filmes. Hollywood sempre havia sido um atrativo para qualquer banda inglesa da época. O resultado ficou muito bom, aliás o filme é muito bom. Claro, estou falando do primeiro, do original, depois "Highlander" iria virar uma série de filmes, cada um mais ruim do que outro. Minha opinião sobre "Don't Lose Your Head" não é das melhores. Não chegou a ser sucesso nos anos 80, talvez e principalmente por causa de seus defeitos. Acho que a música tem um refrão muito enjoativo. Tem um bonito solo de guitarra no meio da canção, muito bem tocada por sinal, mas é pouco. È uma daquelas faixas que parecem não ir para lugar nenhum, ficando quase sempre no "quase". Quase uma boa faixa, quase um sucesso na rádios. Só que não havia sido daquela vez.

"Princes of the Universe" começa com aquele tipo coro vocal que era uma das maiores características da discografia do Queen. Tem também uma guitarra poderosa, com um arranjo em marcação, passo a passo. Não fez também qualquer sucesso na época. Lembra alguns bons momentos do passado da banda e talvez esse seja o maior problema. É uma cópia do próprio Queen do passado, sem a mesma originalidade e potência. Acho uma canção fraca dentro de um disco tão bom, tão forte.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

The Beatles - Let it Be Special Edition

Pois é, foi lançado recentemente lá fora um box especial trazendo 4 CDs (ou 4 LPs de vinil) contendo mais material extra das sessões que deram origem ao álbum "Let it Be". Durante todas as gravações o disco iria se chamar "Get Back" porque Paul tinha um plano de colocar os Beatles novamente em turnê mundial. Era a volta dos Beatles aos palcos. Bom, pelo menos esse era o plano, tanto do disco, como do filme. Entretanto George Harrison deu para trás. Disse que não iria voltar para uma daquelas turnês mundiais com estádios lotados e fãs histéricas. Ele afirmou que não tinha mais saúde mental para aquele tipo de coisa. Esse foi o primeiro sinal de que algo não estava bem dentro do grupo.

Paul McCartney propôs outros planos, mas Harrison sempre estava dizendo não. Então as coisas começaram a ficar bem feias dentro da banda. Paul e George brigaram durante as gravações, por causa dos arranjos e da forma como Harrison vinha tocando guitarra nas músicas de Paul. Depois George e John discutiram tão feio que trocaram socos e pontapés dentro do estúdio. A razão era a presença de Yoko Ono. George achava aquilo uma chatice e um constrangimento. John então desafiou George a dizer frontalmente o que ele queria falar. Queria que George dissesse tudo na sua cara, sem rodeios. Harrison falou e o pau quebrou entre eles.  Foi uma briga tão grande que saiu nos principais jornais de Londres no outro dia. George então anunciou que estava fora dos Beatles. Que jamais voltaria a tocar com Lennon.

Só depois de muita conversa é que Harrison decidiu retornar para terminar o álbum. Conforme o projeto ia afundando, Paul decidiu que o novo álbum não seria mais chamado de "Get Back" e sim de "Let it Be". Nesse meio termo houve uma nova briga entre George e John. Lennon havia dado uma entrevista dizendo que a Apple, o selo dos Beatles, estava muito mal administrada e iria falir em poucos meses. Harrison ficou muito irritado com John. Nova tomada de satisfações e nova briga feia. Diante de um clima tão ruim é de se esperar algo melhor do que as faixas que conseguiram salvar e que entraram no disco original de 1970? Certamente não!

Mas é a tal coisa. A busca do lucro fala mais alto. Assim temos o lançamento desse novo box que pelo menos traz uma coisa interessante: a versão de como seria o disco "Get Back" caso os Beatles tivessem seguido com os planos originais. É o disco perdido dos Beatles, vamos colocar nesses termos. Também se inventou um EP com 4 músicas só para ganhar mais dinheiro. Isso mesmo, um dos CDs tem apenas 4 faixas! Money Talks. Então o box se resume a isso. Tem o disco original de 1970, com melhoramento de som, o tal "Get Back" que nunca foi lançado, o EP que é pura picaretagem e um quarto CD com aquilo que John Lennon certa vez chamou de "a maior porcaria que os Beatles gravaram na sua carreira". Vários Takes, ensaios, restos de estúdio. Está bom ou você quer mais?

Pablo Aluísio.

The Beatles - Let it Be... Naked

Tenho esse CD há muitos anos, mas nunca havia parado para ouvir com maior atenção. Nesse fim de semana finalmente fiz uma audição mais atenta. O plano principal desse álbum era trazer as músicas do disco "Let It Be" tais como foram gravadas, sem os arranjos e orquestrações posteriores acrescentadas pelo produtor Phil Spector. Havia essa antiga lenda de que as gravações originais eram muito melhores do que as que se ouvia na edição do LP "Let It Be" de 1970. Após ouvir o CD cheguei na conclusão que era tudo lenda urbana mesmo. Nenhuma das faixas ficaram melhores sem os acréscimos sonoros de Spector. Tudo o que sempre se falou era pura balela.

A verdade pura e simples é que os Beatles, prestes a romperem definitivamente, não estavam em seus melhores dias quando gravaram essas faixas. Havia muitas brigas, ressentimentos entre eles. A impressão que sempre tive dessas sessões é que os Beatles não estavam levando nada muito à sério, isso a despeito de ter câmeras gravando eles o tempo todo em estúdio, o que iria resultar no documentário musical "Let it Be", para muitos o filme que melhor documentou o final de uma banda de rock. Os Beatles estavam dispersos, pouco interessados e preguiçosos. Isso se pode constatar no CD 2 desse título que traz uma enfadonha e maçante sessão de ensaios do grupo. John Lennon, em particular, cheio de heroína, não conseguia produzir grande coisa. Ele apenas se arrastava com sua guitarra dentro do estúdio.

As faixas "Dig It" e "Maggie Mae" não estão presentes nesse Naked. Talvez por serem ruins demais ou talvez por serem pedaços de gravações que sabe-se lá o porquê foram colocados no disco oficial de 1970. As piadinhas sem graça de Lennon e as falas sem nexo que ficavam entre as faixas do disco original também foram eliminadas (positivamente, ao meu ver). O que sobrou foi o que os Beatles gravaram a cru dentro do estúdio. Esqueça a história de que "The Long and Winding Road" foi estragada por Phil Spector. Sem o trabalho dele que ouvimos aqui a música ficou muito mais fraca, sem a beleza da orquestra que foi colocada pelo produtor. Paul deveria ficar calado.

Como John Lennon não tinha muito material novo a apresentar nessas sessões (Yoko e as drogas ocupavam todo o seu tempo) ele ressuscitou "Across the Universe", uma linda música que ele havia composto na Índia, antes mesmo das gravações do "White Album". Outras mais fracas foram incorporadas ao disco, estou me referindo a "Dig a Pony" e "Don't Let Me Down". George Harrison surgiu com poucas composições, basicamente apenas "For You Blue" e "I Me Mine". O trabalho de Spector melhorou muito elas. E por fim Paul McCartney trouxe as canções mais marcantes do álbum original, "Let It Be". "Get Back" e a já citada "The Long and Winding Road". Então é isso, esse "Naked" mostra acima de tudo que Phil Spector fez um bom trabalho no disco de 1970. Sem ele as músicas iriam soar bem piores do que já eram.

The Beatles - Let it Be... Naked (2003)
Get Back
Dig a Pony
For You Blue
The Long and Winding Road
Two of Us
I've Got a Feeling
One After 909
Don't Let Me Down
I Me Mine
Across the Universe
Let It Be

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Paul McCartney - McCartney III

Esse foi o último álbum lançado pelo Paul McCartney. É o terceiro dessa linha que começou há muitos anos, em 1970 com o lançamento de "McCartney". Em 1980 tivemos "McCartney II". E qual é a característica em comum de todos esses três discos? Eles são gravados e produzidos apenas pelo Paul que em estúdio toca todos os instrumentos, faz todos os arranjos e.. enfim, são discos em que ele faz tudo sozinho! Coisa para poucos artistas mesmo. E esses 3 álbuns também são, em certa medida, mais ousados, mais vanguardistas. Longe das amarras de uma super produção, Paul se solta mais, fica sem medo de experimentar coisas diferentes.

Como houve a pandemia em 2020 e como Paul precisou ficar em quarentena dentro de casa, ele então teve a ideia de gravar mais um McCartney. Ele tem um estúdio completo dentro de sua mansão em Londres, então era apenas uma questão de decidir colocar a ideia em frente. E como todo mundo sabe que o Paul sempre foi um workaholic, eis aí o resultado de sua produção caseira.

"McCartney III" é um bom disco, mas fica longe dos melhores trabalhos de Paul McCartney. É um álbum sem muitas músicas marcantes, com uma sonoridade que poderíamos dizer ser apenas mediana. É um disco mediano de um artista excepcional. Como eu sempre gostei mais dos álbuns bem produzidos de sua discografia, apreciei muito mais "Egypt Station", seu trabalho anterior. Esse aqui não é aquele tipo de trabalho que me fará ouvir por anos a fio como aconteceu com "Tug of War", por exemplo. Soa mais como uma audição curiosa, de um músico que se recusa mesmo a se aposentar. Claro que ele não perdeu o jeito para escrever belas canções, mas a voz já perdeu o brilho. Claro, fruto de um natural envelhecimento. Esse é um aspecto que nem ao mesmo se pode criticar. De qualquer maneira fica como um ponto de reflexão de um cantor e compositor que não precisa provar mais nada a ninguém.

Paul McCartney - McCartney III (2020)

Long Tailed Winter Bird
Find My Way
Pretty Boys  
Women and Wives  
Lavatory Lil
Deep Deep Feeling
Slidin'
The Kiss of Venus
Seize the Day
Deep Down
Winter Bird / When Winter Comes

Pablo Aluísio.

Paul McCartney - Flowers in the Dirt

Ontem Paul McCartney fez aniversário. Completou 79 anos de idade. Eu pensei em escrever um texto mostrando sua importância no mundo da música, mas isso já foi escrito e reescrito milhares de vezes ao longo de todos esses anos. Ao invés disso preferia escrever algumas palavras sobre esse disco que considero o último grande álbum que Paul produziu e gravou após sua saída dos Beatles. Sim, não tenho medo de dizer que esse "Flowers in the Dirt" é uma obra-prima da discografia de Paul McCartney. Um disco realmente maravilhoso. E ele foi gravado e composto ao lado de outro grande artista, Elvis Costello. Inclusive lamento muito que esse tenha sido o único trabalho coletivo entre Paul e Elvis. Eles poderiam ter trabalhado juntos novamente e tenho certeza que dessa parceria teriam saído outros álbuns excepcionais como esse.

"Flowers in the Dirt" tem uma sonoridade única dentro da discografia de Paul. Aqui se valorizou muito mais as melodias, sem pressa, tudo em seu devido tempo. Entre as faixas destaco algumas que são verdadeiros clássicos do ex-Beatle. As músicas que mais fizeram sucesso nas rádios foram "My Brave Face" e "Figure Of Eight". Essas foram compostas mesmo para se tornarem hits. Canções pop bem saborosas, de refrães pegajosos. Uma especialidade de Paul McCartney. Melhor mesmo é ouvir "This One". Essa poderia ter entrado em qualquer disco dos Beatles, de tão boa que é. Inclusive é a melhor faixa do álbum em minha opinião. Fora essas mais conhecidas o repertório está cheio de excelentes músicas, com melodias agradáveis de se ouvir. É um disco para se saborear aos poucos, como um bom vinho na adega. Ideal para gostos mais refinados.

Outras faixas merecem destaque. "How Many People", foi composta por Paul em homenagem ao brasileiro Chico Mendes. A questão ambiental sempre foi uma das preocupações do ex-Beatle. Aqui ele resolveu homenagear a luta pela preservação da floresta Amazônica. "Put It There" tem uma certa melancolia que bate fundo no ouvinte. Paul iria ao poucos, nos discos seguintes, explorar mais esse tipo de sonoridade. "Motor Of Love" é uma balada despudorada, como poucas vezes se viu em discos de Paul. Nessa faixa Paul não teve vergonha de colocar seu lado mais romântico para fora. Por fim a faixa "Ou Est Le Soleil?" foi um bônus que só saiu no CD. Quem comprou o LP (disco de vinil) como esse que vos escreve, acabou ficando sem ela. Enfim, excelente disco do Sir Paul McCartney. Certamente um dos melhores de sua rica carreira solo.

Paul McCartney - Flowers in the Dirt (1989)
My Brave Face
Rough Ride
You Want Her Too
Distractions
We Got Married
Put It There
Figure Of Eight
This One
Don't Be Careless Love
That Day Is Done
How Many People
Motor Of Love
Ou Est Le Soleil?

Pablo Aluísio.

domingo, 18 de setembro de 2011

The Beatles Live At The BBC - Volume 2

The Beatles Live At The BBC - Volume 2
Eu sempre adorei o volume 1 dessa coleção, porém não tinha comprado ainda o segundo volume, que foi muito menos badalado, muito menos comentado por aí, até mesmo entre fãs dos Beatles. É compreensível, afinal o sabor da novidade já havia passado. Pois bem, como se sabe esses são lançamentos oficiais dos Beatles e recuperam gravações ao vivo que eles fizeram na rádio BBC de Londres. É curioso imaginar um tempo em que os Beatles tocavam ao vivo em um programa de rádio. Era ainda a fase inicial do grupo. Embora famosos, eles ainda não eram esse monstro de quatro cabeças que um dia se tornariam. Eram apenas quatro jovens músicos defendendo um bom cachê. Vamos comentar sobre as faixas mais interessantes, a seguir.

Words of Love - Esse é um clássico romântico escrito por Buddy Holly. Foi escolhida por Paul McCartney para fazer parte do disco "Beatles For Sale". A versão de estúido é linda. Aqui, ao vivo, os Beatles não se saem mal. Aliás a performance deles é boa, a música é inegavelmente bem executada. Parece até mesmo que estamos ouvindo o LP. Pena que os recursos da BBC não eram tão bons assim, afinal era um estúdio de rádio. Por essa razão a qualidade sonora não é das melhores.

Do You Want to Know a Secret? - Essa música fez parte do "Please, Please Me". É uma daquelas músicas que ficam bem melhores em estúdio, pois os vocais são gravados em separado, com todo o capricho e rigor técnico. Aqui nessa gravação os Beatles precisavam reproduzir aquela mesmo vocalização potente, mas não conseguiram chegar lá. Nem era culpa deles, para falar a verdade. A questão é que eles não tinham todos os recursos técnicos dos estúdios Abbey Road. Mesmo assim a versão Live não ficou ruim. Nada disso. Até aprecio.

Lucille - Os Beatles nunca gravaram oficialmente esse rock de Little Richard. Nos palcos entretanto a coisa era diferente. Era figurinha fácil nos repertório dos shows, principalmente quando os jovens Beatles tocavam no Cavern ou em algum  inferninho de Hamburgo. Era aquele tipo de rock em tom alto que eles usavam para balançar e levantar o público. Aqui o George Harrison dá algumas derrapadas na hora do solo, mas não chega a ser propriamente um problema. Dá para curtir a versão sem problemas.

Anna (Go to Him) - Outra do Please, Please Me. É a tal coisa, os Beatles precisavam ocupar o programa da BBC com um repertório variado, mas sem deixar de lado as músicas de seus discos. A propaganda (a publicidade) já era a alma do negócio naqueles tempos, meu caro! Então Anna era carta certa. E aqui eles fizeram uma versão extremamente fiel ao que ouvimos no disco oficial. Só o eco é diferente, mas isso é questão da gravação do estúdio. Os Beatles com aquele eco todo da versão de estúdio provavelmente estavam tentando imitar o Sun Sound dos primeiros singles de Elvis na Sun Records. Na BBC não deu para fazer isso. Tudo bem, a versão é muito boa. O resultado ficou até mesmo inspirado. 

Lend Me Your Comb - Nunca gravada oficialmente pelos Beatles em quaisquer de seus discos, essa faixa tinha pleno potencial para ser um lado B de algum single. Curiosamente passeia por um tipo de ritmo caribenho, como se fosse uma rumba, mas no refrão vira um pop rock dos mais contagiantes. Cantada em coro entre Paul e John, tem também momentos de solo vocal de Paul McCartney. Boa música, bom embalo, injustamente negligenciada pelos Beatles em sua discografia oficial.

Pablo Aluísio.

The Doors - Absolutely Live

Esse foi o único álbum ao vivo lançado pelos Doors em sua carreira. Obviamente que depois do fim do conjunto outros títulos foram lançados mas “Absolutey Live” segue sendo o único lançado pelos próprios Doors. Isso é de se admirar pois uma das maiores forças do grupo vinha justamente de seus concertos. Jim Morrison não se contentava em apenas subir no palco, cantar algumas músicas e ir embora. Quem acompanhou a história dos Doors sabe que um show deles era uma verdadeira roleta russa musical e social. Morrison poderia fazer um show preguiçoso ou então incendiar com tudo ao redor. Em certos aspectos não havia meio termo, basta lembrar que ele foi o primeiro rockstar a ser preso duas vezes em pleno palco, bem no meio de suas apresentações. Por causa de suas performances lisérgicas, Jim Morrison foi chamado de tudo, louco, maníaco, Rasputin! Infelizmente a grande maioria dos shows que o Doors fez no auge de seu sucesso não foi gravada. Nem mesmo os mais polêmicos como o de Miami onde ele foi preso por causar um tumulto épico.

Esse “Absolutely Live” foi gravado na turnê dos Doors em 1970. Por essa época Jim Morrison estava em uma verdadeira maratona jurídica, sendo processado por todos os lados, justamente pelas coisas que fazia ao vivo. Por essa razão são shows em que ele está bem mais contido, tentando provar que poderia fazer uma apresentação sem causar tantos problemas. Com uma barba messiânica, com muitos quilos acima do peso, olhar vidrado, fruto obviamente de seus excessos, Jim em pouco lembrava o jovem alucinado e sem freios dos anos anteriores. Isso porém não significa que o álbum seja ruim, longe disso, mas também não retrata o incendiário Jim Morrison que causou tanta polêmica nos anos 60. Os problemas com álcool e drogas obviamente continuavam mas Jim era pressionado a não dar vexames do tipo baixar as calças para o público como fez nos anos anteriores. Em algumas faixas Morrison mostra estar aparentemente embriagado e em outros lhe falta fôlego. Mesmo assim, por sua importância histórica, não deixa de ser um disco essencial na discografia de todo e bom roqueiro. Uma chance única de conhecer os Doors em seus shows ao vivo.

The Doors – Absolutely Live (1970)
House Announcer
Who Do You Love?
Alabama Song (Whisky Bar)
Back Door Man
Love Hides
Five to One
Build Me a Woman
When the Music's Over
Close to You
Universal Mind
Petition the Lord with Prayer
Dead Cats, Dead Rats
Break On Through (to the Other Side)
Celebration of the Lizard
Lions in the Street
Wake Up
A Little Game
The Hill Dwellers
Not To Touch The Earth
Names of the Kingdom
The Palace of Exile
Soul Kitchen

Pablo Aluísio.

sábado, 17 de setembro de 2011

A-ha - Lifelines

Mais um bom disco do A-ha depois de seu retorno no começo dos anos 2000. Aqui temos uma verdadeira avalanche de novas canções, a maioria delas composta pela dupla Magne Furuholmen e Paul Waaktaar. Como ficaram muito tempo parados o material realmente foi se acumulando. Assim que acertaram com a gravadora e entraram no estúdio descobriram que tinham outro tipo de problema, não de escassez de canções, mas justamente o contrário, pois havia material demais para ser lançado. A solução foi separar o que havia de melhor para gravar, o que não conseguiu deixar o disco ainda enxuto. Parte das músicas foi composta por Paul Waaktaar para o seu grupo próprio, o Savoy. Como se sabe ele mantém uma carreira solo bem produtiva, o que inclui uma banda dele. Nesse outro projeto musical ele elabora composições para trilhas sonoras de filmes e material musical direcionado para o mercado de publicidade. Sempre foi um músico muito produtivo.

No total o álbum sairia com quinze músicas, um recorde em se tratando da banda norueguesa. A boa notícia é que praticamente todas as canções são muito boas, com excelentes e ricos arranjos e melodias que nos fazem crer que o A-ha é de fato uma das melhores bandas pop do mundo e não apenas um conjunto nostálgico da década de 1980. Infelizmente tirando os países europeus onde o A-ha tem seu fã-clube mais fiel (basicamente no norte da Europa, com países que abrangem, entre outros, a Alemanha, Holanda, Bélgica e países escandinavos e algumas ex-repúblicas soviéticas do leste europeu), todo o resto do mundo pareceu ignorar o lançamento. Uma pena. Esse "Lifelines", repito, é um álbum muito bom, com qualidade musical acima da média e excepcionalmente bem gravado. De qualquer maneira deixamos a dica para que os fãs de boa música redescubram esse álbum. O A-ha mostra mais uma vez que eles definitivamente não perderam a mão mesmo após todos esses anos.

A-ha - Lifelines (2002): 1. Lifelines / 2. You Wanted More / 3. Forever Not Yours / 4. There's a Reason for It / 5. Time & Again / 6. Did Anyone Approach You? / 7. Afternoon High / 8. Oranges on Appletrees / 9. A Little Bit / 10. Less Than Pure / 11. Turn the Lights Down / 12. Cannot Hide / 13. White Canvas / 14. Dragonfly / 15. Solace.

Pablo Aluísio.

Pink Floyd - Atom Heart Mother

Para muitos “Atom Heart Mother” foi verdadeiramente o primeiro disco de rock progressivo da história. Uma tentativa do grupo inglês Pink Floyd em levar o rock a patamares sequer imaginados em seu modesto inicio. De uma música simples, com poucos acordes, tocada por apenas quatro ou cinco músicos para uma perfeita junção com a grandiosidade da música clássica. O que mais impressiona o ouvinte aqui é o grau de experimentalismo e ousadia da banda que não teve receio nenhum de inovar, buscar outros caminhos, trilhar uma sonoridade ainda inédita dentro do rock mundial. Nesse aspecto o Pink Floyd foi completamente revolucionário. Os membros do grupo usaram tudo o que tinham em mãos, sua experiência na fase Syd Barrett e as tentativas posteriores de criar um som próprio, único. O álbum é um impacto ao ouvinte. A primeira faixa (que ocupava todo o lado A do vinil) é uma overdose de arranjos, sons e peças instrumentais. São 23 minutos de perfeita união entre conceitos eruditos e rock! Aqui o Pink Floyd usou de tudo, desde instrumentos clássicos a vocais de ópera. Posso afirmar sem receios que nenhum conjunto de rock tinha sido tão inovador, nem mesmo os Beatles. Genialidade em notas musicais.

Já o Lado B do antigo vinil era um pouco mais familiar e convencional aos ouvidos. “If”, por exemplo, é uma linda balada com melódico dedilhado de violão. Tudo muito suave em ótima vocalização, quase sussurrada. Soa quase como uma proposta de relaxamento após o monumental Lado A do disco. Sendo sincero se não fosse as guitarras ao fundo, “If” poderia ser até mesmo classificada como uma doce cantiga de ninar, tamanha sua suavidade. O tom segue na faixa seguinte, “Summer 69” onde Richard Wright mostra todo o seu talento de compositor, pianista e vocalista. Uma canção evocativa que nos transporta imediatamente para aqueles anos maravilhosos. Considero Wright um subestimado dentro da música do Pink Floyd. Não teve o reconhecimento devido. A última canção mais, digamos, convencional do álbum é “"Fat Old Sun" onde quem dá as cartas é o guitarrista David Gilmour. Encerrando esse grande disco temos a psicodélica e cinematográfica "Alan's Psychedelic Breakfast”, uma canção que só poderia ser lançada pelo Pink Floyd mesmo. A palavra chave aqui é vanguarda. Curiosamente o disco passa por uma revisão atualmente. Gilmour e Waters divergem sobre o resultado do álbum em determinados pontos. Para Gilmour o conceito era de fato fantástico mas faltava maior experiência para o Floyd naquele momento histórico. Em sua forma de pensar poderia ter saído melhor. Para Waters o disco é um marco mas não atendeu as suas expectativas. No fundo isso é um exercício de retórica vazia. O disco é um dos mais fantásticos da história do rock, dando inicio a toda uma nova era no gênero. Todo o resto se torna secundário.

Pink Floyd - Atom Heart Mother (1970)
Atom Heart Mother
If
Summer '68
Fat Old Sun
Alan's Psychedelic Breakfast

Pablo Aluísio.