sexta-feira, 16 de setembro de 2011

The Beatles - Edição III

The Beatles - Beatles For Sale - Parte 1 -"No Reply" é uma beleza de melodia. Com John Lennon nos vocais principais (em voz dobrada dentro dos estúdios), é um dos melhores momentos desse disco. Não sei exatamente a razão, mas essa canção sempre me levou a ter um sentimento de estar ouvindo uma antiga trilha sonora da era do cinema mudo, onde as trilhas dos filmes eram executados por pianistas dentro das salas de cinema. Tem uma sonoridade de música antiga, do começo do século XX. Poderia estar em uma velha película estrelada por Douglas Fairbanks.

Agora imagine ser um dos roqueiros mais populares do mundo, ser exaltado em todos os lugares por onde passava, com milhares de fãs lhe idolatrando, ter fama e sucesso financeiro e ainda assim escrever uma música chamada "Eu sou um Perdedor" ("I'm a Loser"). Foi justamente isso que John Lennon fez, bem ali na onda da Beatlemania. Era coisa para poucos. Na letra John afirmava várias vezes que era um perdedor e nada daquilo que as pessoas pensavam. John Lennon, sem favor nenhum, foi um dos maiores letristas da história do rock. E para deixar ainda mais sua marca registrada ele também acrescentou sua característica gaita. Lennon em estado puro.

"Rock and Roll Music" foi composta, gravada e lançada originalmente por um dos pais do rock, Chuck Berry. Esse foi um artista único, com uma história que era puro rock ´n´roll. Negro, sempre envolvido com tretas na justiça, onde vivia entrando e saindo da cadeia, era um tipo marginal em sua vida pessoal. Porém como artista seu talento era inegável. Certa vez John Lennon o encontrou pessoalmente em um programa na TV americana durante os anos 70. Sem nem pensar duas vezes se derreteu de elogios na frente dele, o chamando de "meu herói". Realmente, para aquela geração roqueira ele foi mesmo um símbolo, um herói do movimento.

"I'll Follow the Sun" é linda! Simplesmente isso, uma das mais lindas músicas gravadas pelos Beatles. É impressionante como aqueles jovens conseguiam criar algo tão belo no estúdio. O produtor George Martin também acertou muito ao sugerir aos Beatles que eles fizessem arranjos simples e belos, com solos de violão e o baixo de Paul em segundo plano, quase imperceptível. Esse tipo de sonoridade relaxante e romântica iria ressurgir alguns anos depois no clássico "Here Comes The Sun". Tinha o mesmo sentimento, o mesmo feeling.

The Beatles - Beatles For Sale - Parte 2 - "Eight Days a Week" quase virou canção tema do filme "Help!". Ela foi intitulada originalmente de "Oito braços para lhe abraçar" que era uma tremenda apelação de marketing para fisgar as fãs adolescentes dos Beatles. Depois de algum tempo John Lennon começou a achar tudo aquilo brega demais (e obviamente era algo bem pegajoso e bregoso), por isso o título da música foi finalmente mudado. È interessante também notar que os Beatles estavam bem pressionados para completar um disco para as festas de final de ano, por isso eles encaixaram essa música nesse álgum. Inicialmente ela foi pensada para fazer parte de "Help!", mas os Beatles mudaram de opinião sobre isso. Assim ela foi finalmente escalada para o "For Sale". Fez bem, se encaixando perfeitamente no repertório desse disco.

"Words of Love" é um cover dos Beatles com a imortal balada romântica escrita por Buddy Holly. Paul McCartney sempre foi um fã de carteirinha desse pioneiro do rock americano, a tal ponto que anos depois iria comprar os direitos autorais de toda a obra de Buddy Holly, que morreu muito jovem em um acidente de avião. Nesse mesmo evento trágico morreram também Ritchie Valens (de La Bamba) e Big Bopper, outro roqueiro da época. Como forma de homenagem e referência os Beatles então decidiram gravar essa criação imortal de Holly. Ficou linda a gravação, simplesmente irretocável. Um dos grandes momentos do disco.

"Mr. Moonlight" é outro cover. Foi composta por Roy Lee Johnson. Era uma daquelas canções que ninguém esperava encontrar em um disco dos Beatles na época. A sonoridade lembra o som que era mais comum nas décadas de 1930 e 1940, tendo pouco ou nada a ver com a imagem e a sonoridade dos Beatles naquela época. Pode-se inclusive imaginar como as fãs adolescentes dos Beatles se sentiram a ouvir algo tão fora da rota quando compraram o disco. Na parte interna do álbum havia uma grande foto dos Beatles na frente de ídolos da era do cinema mudo americano. Pois bem, isso sim era algo que combinava com "Mr. Moonlight".

The Beatles - Beatles For Sale - Parte 3 = Há duas músicas de Carl Perkins nesse disco dos Beatles. "Honey Don't" é a primeira. Esse country music foi escolhido a dedo por John Lennon para ser a faixa que Ringo Starr cantaria no álbum. Como se sabe os Beatles sempre deixavam uma música para Ringo cantar nos discos oficiais do grupo. Era uma maneira de valorizar o baterista, fazendo com que ele ganhasse auto confiança em si mesmo. E o timbre de Ringo era muito adequado para esse tipo de sonoridade. Nos primeiros discos dos Beatles sempre que surgia um country no estúdio, todo mundo já sabia, essa faixa seria gravada pelo Ringo.

"Everybody's Trying to Be My Baby" foi a outra composição de Carl Perkins que os Beatles escolheram para fazer parte do disco. Carl Perkins era um artista da Sun Records, a mesma gravadora de Memphis que havia descoberto Elvis Presley e Johnny Cash, entre outros tantos pioneiros da primeira fase do rock americano. Os Beatles eram fãs dessa geração de artistas. Na época era bem complicado achar um disco de Perkins na Inglaterra, mas eles conheciam suas músicas, principalmente por causa do rádio. O fato de Liverpool ser um dos portos mais movimentados da Inglaterra também ajudava aos rapazes. Havia sempre algum marinheiro disposto a vender cópias de discos para eles. E assim os Beatles foram conhecendo a nata da música dos Estados Unidos.  

"Kansas City/Hey-Hey-Hey-Hey!" era outro cover do rock americano. Essa foi composta pela exelente dupla Leiber e Stoller, que escreveram alguns dos maiores sucessos da carreira de Elvis Presley. É interessante que a ideia do medley surgiu quando os Beatles estavam em turnê nos Estados Unidos. Eles iriam tocar na cidade de Kansas City e improvisaram esse número para homenagear o público dessa cidade americana. A coisa deu tanto certo, teve tão boa receptividade, que John e Paul decidiram fazer uma versão de estúdio. Ficou, como era de esperar, realmente excelente.

John Lennon e Help! - Na foto ao lado vemos John Lennon na época das filmagens do filme "Help!". Com o tempo John foi ficando incomodado em fazer cinema. Ele costumava dizer que "os Beatles não são atores, mas músicos" e Lennon sabia que eram duas coisas diferentes. Ele também não curtiu muito o roteiro do filme, já que realmente era uma estorinha bem boba com vilões cartunescos tentando pegar um anel que havia sido comprado por Ringo.

Durante as filmagens John não se interessou muito pelo material. Ele estava tendo crises de criatividade e um pouco de depressão. O casamento ia mal, os Beatles já não interessavam a ele como no passado e tudo parecia estar sem sentido. Ele só iria recuperar o gosto por sua arte, segundo suas próprias palavras, anos depois quando iria conhecer a artista plástica Yoko Ono.

Em "Help!" John só se interessou pela parte musical. Ele compôs várias canções inéditas para a trilha sonora e resolveu até mesmo fazer um cover do rock "Dizzy Miss Lizzy". A música título do filme foi composta praticamente apenas por ele, com pequenas e pontuais colaborações do colega de banda Paul McCartney. O filme como cinema não agradou a John Lennon, a ponto inclusive dele ter dito a pessoas próximas que o roteiro era uma porcaria, uma besteira inútil.

The Beatles - Rubber Soul - Parte 1 - A música "In My Life" é certamente um dos maiores clássicos dos Beatles nesse álbum. Uma letra nostálgica em que John Lennon procurava relembrar as amizades e amores do passado. Uma letra autoral que de certa forma antecipava o que os Beatles iriam escrever em músicas como "Strawberry Fields Forever" e "Penny Lane", onde o passado surgia como tema principal. Nessa canção o produtor George Martin também colaborou bastante, ajudando ativamente nos belos arranjos finais que ouvimos na gravação oficial que saiu no disco "Rubber Soul".  

"Girl" foi outra criação de John Lennon. Em entrevistas nos anos 70, Lennon iria dizer que a música representava aquele tipo de garota ideal que todos um dia sonharam ter. E ele completou afirmando que essa garota ideal acabaria sendo a Yoko Ono. Pois é, o John já estava naquela fase obsessiva em relação a Yoko, sempre colocando ela em primeiro plano, mesmo em relação a músicas que tinham sido compostas antes mesmo de tê-la conhecido. Amor ilimitado é isso aí!

Se as duas músicas anteriores foram clássicos de John Lennon, músicas para se orgulhar até o fim de sua vida, a faixa "Run for Your Life" foi rejeitada por ele alguns anos depois. John chegou até mesmo a dizer que "sempre a detestou" e que a havia criado às pressas, para completar o disco. A letra hoje em dia seria considerada abominável, pois basicamente diz para uma mulher correr por sua vida... e isso dito por um homem! O que sugeria? Que iria bater nela ou até mesmo matá-la? E isso composto por John Lennon, que iria virar um símbolo da paz e amor dos anos que viriam? Realmente não é complicado entender porque John a renegou completamente alguns anos depois. Era uma letra embaraçosa para ele, de puro machismo sem noção.

Pablo Aluísio.

Um comentário: