Quando o Pink Floyd lançou o disco The Final Cut muitos previram o seu fim. A obra não agradou ao público, encalhou nas lojas e foi impiedosamente criticada pela imprensa especializada. A mais pura verdade era que The Final Cut não era bem um projeto do Pink Floyd, mas sim de Roger Waters, naquela altura com a egomania completamente descontrolada. Com o sucesso de The Wall, Waters acreditou piamente que poderia fazer o que bem entendesse e que o restante do grupo deveria apenas seguir suas ordens cegamente. Demitiu Richard Wright do Floyd e levou até as últimas consequências sua megalomania galopante. Quando The Final Cut naufragou ele literalmente declarou à imprensa que o Pink Floyd havia chegado ao fim e ponto final.
Embora Roger Waters acreditasse nisso a ideia de colocar um fim na história do Floyd simplesmente não foi aceita pelos demais membros que começaram então uma longa batalha judicial pelo nome do grupo, para assim continuar o legado da banda britânica sozinhos, sem a presença egocêntrica de Roger Waters. Finalmente em 1987 eles conseguiram vencer a luta jurídica e liderados por David Gilmour resolveram arrumar a casa e retomar as redeas do Pink Floyd, sendo o primeiro projeto da era pós Roger Waters justamente a gravação desse belissimo LP, A Momentary Lapse of Reason. Antes de mais nada é bom avisar que Momentary não é unanimidade entre os fãs, muito menos entre as chamadas "viúvas" de Roger Waters. Para esse grupo o disco é totalmente ruim, falso, desprovido de alma, uma invenção completamente bastarda de David Gilmour para ganhar dinheiro em cima do nome mitológico do Pink Floyd. Besteira. Contando com três dos membros originais do grupo (Gilmour, Mason e Wright, reabilitado de seu vício em drogas e participante do disco como músico contratado) o LP é um sopro mais do que bem-vindo para o ressurgimento de um dos melhores conjuntos de rock da história.
Momentary Lapse or Reason abre com uma interessante colagem sonora na faixa Signs of Life. A tentativa aqui é óbvia. Gilmour tenta através de elaborada peça instrumental reviver os antigos bons momentos do Pink Floyd nos anos 70 (não faltou nem a parte de vozes ao fundo, como bem podemos ouvir em discos como Dark Side of The Moon). Learning To Fly mostra o que Gilmour tinha de melhor a oferecer ao grupo naquele momento: a sua tão conhecida habilidade em lidar com belas harmonias, fato amplamente consolidado na linda On The Turning Away. Claro que o disco não é isento de críticas: The Dogs of War, por exemplo, provavelmente não entraria nos melhores discos do Floyd na década de 70. De qualquer forma o disco conseguiu seu objetivo: fez sucesso e evitou que o Pink Floyd morresse após o lançamento de The Final Cut. Pela história e pela importância certamente o Floyd não merecia ter um fim tão inglório. Assim Momentary Lapse of Reason marca o nascimento da chamada fase Gilmour, com shows fantásticos ao redor do mundo, belos arranjos, revitalização do nome do grupo, muito sucesso comercial e consagração do grande público. Para ser sincero a única diferença realmente foi a ausência de Roger Waters, se bem que após The Final Cut poucos lamentaram sua saída. É isso, o momentâneo lapso de razão prevaleceu e nos legou mais um grande momento Floydiano. Obrigado por isso, David.
Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason - Parte 1
Dos escombros de uma briga judicial que parecia nunca ter fim o Pink Floyd finalmente ressuscitou na segunda metade dos anos 80. Agora liderados única e exclusivamente por David Gilmour, o novo grupo tinha a proposta de levantar o nome da banda, tão desgastada por causa das brigas entre Gilmour e Roger Waters. Esse último tentou impedir nos tribunais ingleses o uso do nome "Pink Floyd" pelos demais membros do conjunto. Assim David Gilmour precisou lutar muito para que ele e seus companheiros Nick Mason e Richard Wright tivessem o direito de usar o nome em um novo álbum. Esse disco acabou sendo chamado de "A Momentary Lapse of Reason". Apesar de todas as críticas, inclusive de Waters que jamais reconheceu esse LP como sendo do Pink Floyd realmente, devo dizer que gostei bastante da nova proposta. David Gilmour, um dos maiores instrumentistas da história do rock, realmente realizou um trabalho bem sofisticado, muito bom de se ouvir. Não era em absoluto revolucionário, ou qualquer outra coisa do tipo, porém era digno de se usar o mitológico nome da maior banda de rock progressivo da história. O resto são lágrimas ao vento de um ressentido Roger Waters, que deveria ter ficado mesmo calado.
Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason - Parte 2
Poucas coisas podem ser mais chatas do que aquele grupo de fãs do Pink Floyd que vivem de ridicularizar a fase anos 80 de David Gilmour. Eu acho a opinião dessas pessoas completamente bizarra, uma vez que alguns dos meus discos preferidos da banda são dessa época. Aqueles que dizem não haver uma sonoridade genuína do Pink Floyd nesses discos precisa reavaliar urgentemente seus conceitos. "Signs of Life" que abre o álbum "A Momentary Lapse of Reason" é um exemplo disso. É uma música puramente instrumental, que começa com sons de um remo de barco. O que estaria por trás disso. Simples de explicar. Esse disco foi gravado em um estúdio flutuante mantido por Gilmour chamado Astoria. Foi uma forma que o guitarrista e novo líder do Pink Floyd encontrou de trabalhar em paz, longe das pressões do público e da crítica. A melodia foi escrita por Gilmour e o produtor Ezrin e as vozes ao fundo são as do baterista Nick Mason. A voz dele foi duplicada, como se ele estivesse conversando com ele mesmo. Essa faixa me lembra muito a sonoridade de "Atom Heart Mother". É uma lembrança óbvia dos tempos em que o Pink Floyd criava trilhas sonoras incidentais para filmes. Uma ligação com o passado mais do que pertinente.
"The Dogs of War" continuava dividindo opiniões. Eu pessoalmente considero uma faixa forte, lembrando os bons tempos do auge da criatividade do rock progressivo inglês. Muitos a consideram um momento de fragilidade de David Gilmour nesse álbum. Que tolice! A música se revelou ótima para ser tocada ao vivo por causa de sua introdução de impacto. Composta ao lado de Anthony Moore, a letra não era uma referência aos advogados que trabalharam nos inúmeros processos envolvendo Gilmour e Roger Waters como muitos disseram na época de lançamento. Na verdade os tais cães de guerra são os políticos ingleses envolvidos em casos de corrupção. É assim uma composição mais política por parte de Gilmour. Imaginem se ele conhecesse o nível de corrupção da política brasileira! Aí sim ele veria o que é de verdade um mundo cão! Para os que reclamavam dessa nova sonoridade da banda, provavelmente "One Slip" era um prato cheio! Lançada no último single extraído do disco "A Momentary Lapse of Reason" a canção nunca foi uma unanimidade. Já ouvi todo tipo de crítica contra essa música, desde que ela seria um popzinho safado dos anos 80, até que seria "latina demais", principalmente em sua introdução! Provavelmente resolveram pegar no pé do compositor Phil Manzanera, pensando se tratar de algum músico latino. Não é! Phil é inglês e escreveu a música ao lado de Gilmour durante a pré-produção do disco. Enfim, de bobagens e tolices esse mundo de fãs mais radicais do Pink Floyd está realmente bem cheio!
Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason (1987)
01. Signs of Life
02. Learning to Fly
03. The Dogs of War
04. One Slip
05. On the Turning Away
06. Yet Another Movie" / "Round and Around
07. A New Machine (Part 1)
08. Terminal Frost
09. A New Machine (Part 2)
10. Sorrow
Pablo Aluísio.
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