sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

O Mundo do Circo

Título no Brasil: O Mundo do Circo
Título Original: Circus World
Ano de Produção: 1964
País: Estados Unidos, Espanha
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Henry Hathaway
Roteiro: Ben Hecht, Julian Zimet
Elenco: John Wayne, Rita Hayworth, Claudia Cardinale, Richard Conte
  
Sinopse:
Depois de viver anos como cowboy de rodeios o veterano Matt Masters (John Wayne) decide abrir sua própria companhia circense. Por um bom tempo o empreendimento vai muito bem até o dia em que Masters decide realizar uma turnê na Europa. Circos americanos quase sempre fracassaram no velho continente, onde aliás nasceu a cultura desse tipo de diversão, mas Masters decide arriscar. Logo na chegada em um porto da Espanha as coisas começam a dar errado, um acidente faz com que a lona de seu circo desapareça sob as águas. Agora ao lado de seus artistas, Masters terá que levantar o dinheiro necessário para reerguer seu tão amado espetáculo, até porque o show definitivamente não pode parar! Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Canção Original ("Circus World" de Dimitri Tiomkin e Ned Washington). Também indicado ao Laurel Awards na categoria de Melhor Ator (John Wayne). 

Comentários:
Tecnicamente ficaria até complicado catalogar "Circus World" apenas na categoria Western. O filme é muito mais, pois explora também um drama sobre relações familiares e traumas do passado. Isso porém é um mero detalhe. Lá está o maior ídolo do gênero, John Wayne, interpretando um velho cowboy que agora ganha a vida em apresentações em circo no estilo Velho Oeste Selvagem. Isso significa tentar recriar sob o picadeiro as perseguições de bandidos em diligências, as guerras entre a cavalaria e guerreiros apaches e tudo o mais que ficou imortalizado na mitologia do oeste americano. Se o filme é muito bom em recriar na tela as performances daqueles artistas circenses também se revela muito bom ao retratar os dramas de todas aquelas pessoas. Masters (Wayne) é um empresário movido por sonhos. Seu problema é que quase sempre seu desejo de levar em frente seu circo esbarra em calamidades, como naufrágios e incêndios (há inclusive uma ótima sequência quando parte da grande lona de seu circo pega fogo em um incêndio). 

Rita Hayworth, sempre uma presença forte em cena, interpreta uma trapezista marcada por um grande tragédia em seu passado, quando seu marido, também um artista do trapézio, caiu para a morte em um de seus mais ousados números. Após muitos anos perdida, vagando pela Europa, ela resolve voltar ao circo onde agora vive sua filha Toni (Claudia Cardinale), que ela abandonou quando ainda era uma criança. A jovem acabou sendo criada por Masters, que também precisa esconder uma delicada questão pessoal em seu passado. A atriz Claudia Cardinale, ainda bastante jovem, se revela muito talentosa, não apenas quando atua nas apresentações do Oeste Selvagem ou em cima do trapézio, mas também quando participa de quadros com palhaços do circo - ali ela realmente demonstra todo o seu talento, principalmente teatral, com ótimo timing para comédia. Não é de se admirar que tenha se tornado tão popular na década de 1960. Bonita e talentosa. Ela era realmente uma graça. No final de tudo ficamos com a impressão que a produção é na realidade uma grande e sincera homenagem à cultura do circo. O diretor Henry Hathaway deixa claro em cada sequência seu amor por aquela arte. O resultado é dos melhores, um excelente momento da filmografia do mito John Wayne em um dos seus filmes mais simpáticos e carismáticos.

Pablo Aluísio.

Olhando a Morte de Frente

Título no Brasil: Olhando a Morte de Frente
Título Original: Rocky Mountain
Ano de Produção: 1950
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: William Keighley
Roteiro: Winston Miller, Alan Le May
Elenco: Errol Flynn, Patrice Wymore, Scott Forbes
  
Sinopse:
O capitão confederado Lafe Barstow (Errol Flynn) é enviado até a distante fronteira entre o Arizona e a Califórnia para reunir um novo exército que venha em socorro à luta das tropas do sul, durante a guerra civil americana. Na jornada acaba salvando uma diligência que estava sendo atacada por nativos selvagens. Entre os passageiros se encontra Johanna Carter (Patrice Wymore), uma jovem idealista e romântica. Juntos precisarão sobreviver ao hostil território deserto, cheio de perigos e ameaças de novos ataques das nações guerreiras indígenas que habitam por toda a região. 

Comentários:
Mais uma boa tentativa de transformar o ator Errol Flynn em um astro dos filmes de western. Flynn era mais associado a filmes de aventura, capa e espada, ao estilo "Robin Hood" ou "Capitão Blood". Aqui ele encarna a figura de um galante capitão confederado. Sua missão é recrutar jovens da costa oeste para serem levados até o sul rebelde que naquele momento lutava a mais sangrenta guerra da história dos Estados Unidos. É curioso rever esse tipo de produção atualmente porque recentemente há um debate ferrenho dentro dos EUA sobre a velha bandeira confederada. Para muitos ela representaria os valores equivocados dos sulistas, entre eles a supremacia branca e a continuidade da escravidão de negros das grandes fazendas de algodão. Esse filme, feito há tanto tempo, não se preocupa em ser politicamente correto. Os valores sulistas - incluindo aí sua bandeira - são louvados a todo momento, com sentimento e orgulho. Nada de discursos modernos pedindo por uma revisão histórica. Tanto o oficial interpretado por Flynn quanto os homens de seu regimento, são pessoas honradas com uma grande preocupação de serem justos, éticos, bravos e valentes. É certamente um bom filme, embora temos que reconhecer, há uma quebra de ritmo no segundo ato. Fica aquela sensação de que o filme poderia ser mais agitado, mais movimentado, aproveitando melhor a grandiosidade da região onde foi filmado. Pena que a produção não foi dirigida por um John Ford, pois tenho certeza que seria uma obra prima do gênero. Como está, temos apenas um western mediano, que perde por causa de seu ritmo vacilante.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Embrutecido Pela Violência

Título no Brasil: Embrutecido Pela Violência
Título Original: Along the Great Divide
Ano de Produção: 1951
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Raoul Walsh
Roteiro: Walter Doniger, Lewis Meltzer
Elenco: Kirk Douglas, Virginia Mayo, John Agar, Walter Brennan
  
Sinopse:
Len Merrick (Kirk Douglas) é um orgulhoso Marshal federal que evita um enforcamento numa cidade do velho oeste. O acusado, Timothy 'Pop' Keith (Walter Brennan), está para ser enforcado por supostamente ter roubado gado e assassinado o filho de um rico e influente rancheiro da região. Para Len sua execução é completamente ilegal e por essa razão ele se compromete a levar Keith até um tribunal do júri na cidade de Santa Loma onde finalmente será devidamente julgado, perante um juiz de direito e um corpo de jurados, tudo como manda a lei. A jornada até lá porém não será tranquila e nem pacífica pois a família Roden está disposta a vingar a morte de um de seus membros.

Comentários:
Esse western dirigido pelo mestre Raoul Walsh tem um argumento muito mais sofisticado do que pode parecer à primeira vista. A história não foge muito do que vemos na tela, com um obcecado homem da lei tentando seguir os trâmites legais a todo custo, mesmo sendo ameaçado e perseguido por um bando de justiceiros pelo deserto afora. A questão é que uma vez em Santa Loma - para onde está levando um acusado - ele descobre que nem sempre a justiça é devidamente feita pelos tribunais. Há uma série de influências econômicas, sociais e extra jurídicas que determinam se alguém é considerado culpado ou não. Durante a jornada até lá ele vai colhendo impressões e verdades sobre o homem que tem sob custódia e descobre que seu próprio julgamento pessoal, criado na convivência com o suposto criminoso, tem mais validade do que um apressado e mal feito julgamento na calada da noite. Só esse aspecto já tornaria o filme bem acima da média dos demais faroestes da época, mas há outras qualidades dignas de nota. Walsh rodou um filme enxuto, diria até econômico, porém muito bonito, em bela fotografia em preto e branco. Rodado no deserto da Califórnia, em belas locações com penhascos e rochas enormes, o filme se valoriza enormemente por causa desse cenário natural rico em bonitas paisagens. 

O elenco também é outro ponto forte. Kirk Douglas está de certo modo em seu tipo habitual, a do xerife durão, até insensível que carrega velhos traumas do passado, em especial uma certa culpa pelo que aconteceu ao seu pai anos atrás (ele também era um homem da lei íntegro que acabou sendo linchado por tentar cumprir o que dizia a letra fria do devido processo legal). Agora, firme em suas convicções, ele precisa levar o acusado perante um juiz para que seja devidamente julgado. A questão é que a filha do homem preso, interpretada pela linda atriz Virginia Mayo, também quer justiça, mas ao seu modo. Douglas e Mayo inclusive soltam faíscas de atração no meio do deserto. Uma dupla que deu muito certo e que trouxe muita paixão reprimida para a tela. Com cabelos curtinhos e jeito até bem rude, Mayo acaba roubando todas as atenções por causa de sua personalidade ao mesmo tempo geniosa e sensual. Então é isso. "Embrutecidos Pela Violência" é muito mais do que aparenta ser. Um bom argumento, bem sólido e coerente, apoiado por um enredo que não nega os mais tradicionais cânones do western americano.

Pablo Aluísio.

...E o Bravo Ficou Só

Título no Brasil: ...E o Bravo Ficou Só
Título Original: Will Penny
Ano de Produção: 1967
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Tom Gries
Roteiro: Tom Gries
Elenco: Charlton Heston, Joan Hackett, Donald Pleasence, Lee Majors
  
Sinopse:
Durante toda a sua vida Will Penny (Charlton Heston) trabalhou como cowboy. Após levar uma grande rebanho de gado para o Arizona ele finalmente se vê sem trabalho e assim decide rumar em direção ao Kansas. Antes de ir embora porém uma disputa por um alce acaba terminando em morte quando um de seus colegas de trabalho mata o filho de um homem desequilibrado, que se diz pastor. Jurando vingança o suposto sacerdote chamado Quint (Donald Pleasence) começa a caçar Penny e todos os envolvidos na morte do jovem. Gritando versos bíblicos ele parte em busca de revanche. Filme vencedor do Western Heritage Awards na categoria de Melhor Filme de western.

Comentários:
No final dos anos 1960 o faroeste já dava sinais de desgaste. Isso porém não significava que excelentes obras primas não estavam mais sendo realizadas. Um exemplo de ótimo western desse período é esse "...E o Bravo Ficou Só". O roteiro traz um realismo surpreendente para uma produção daquela época. Ao invés de explorar a figura mitológica do cowboy, o colocando como um ser acima do bem e do mal, o texto valoriza o aspecto mais realista da profissão e do dia a dia daqueles homens. Assim o vaqueiro interpretado por Charlton Heston não é uma figura épica ou heroica, mas sim apenas um trabalhador tentando sobreviver com a força de seu trabalho que era muito duro e penoso. Em determinada cena fica claro também que ele seria analfabeto, uma maneira do roteiro mostrar o nível educacional daqueles cowboys da vida real no século XVIII. Após vagar em busca de serviço Will acaba indo parar numa fazenda do Kansas onde é contratado como vigia de um posto avançado, na realidade uma cabana perdida na montanha. Lá ele acaba encontrando a jovem senhora Catherine Allen (Joan Hackett) e seu filho. Um homem solitário, que vive de longas jornadas pelo velho oeste, ele acaba se apaixonando por ela - mas será que um romance assim daria frutos? 

Para piorar ainda há a quadrilha do velho pastor enlouquecido (interpretado pelo ótimo Donald Pleasence, completamente alucinado em cena). Filmado nas montanhas geladas do Arizona o filme tem uma bela fotografia, o que deixa ainda mais claro a dureza da vida daqueles pioneiros. O elenco é todo bom, com destaque para Joan Hackett, em delicada atuação que valoriza bastante a timidez a fragilidade de uma mulher no meio daquele ambiente rústico e selvagem. Lee Majors, na época apenas um coadjuvante desconhecido, iria se tornar um astro na TV alguns anos depois com a série de grande sucesso "O Homem de Seis Milhões de Dólares". Então é isso. Um bom faroeste valorizado por seu lado mais humano e realista. Uma pequena obra prima do gênero que merece ser redescoberta nos dias de hoje.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Vingança em Deliverance Creek

Depois do fim da guerra civil americana o confederado Jasper Gatlin (Christopher Backus) volta para sua terra natal. Ele cavalga ao lado de um bando de veteranos que no passado pertenceram à temida quadrilha de William Quantrill, que aterrorizava as cidades por onde passava. Agora, de volta para a vida civil, Jasper precisa encontrar um novo modo de vida. Ele reencontra sua irmã Belle Gatlin Barlow (Lauren Ambrose) que está tentando tocar a vida ao lado de seus filhos em um rancho em decadência. Viúva e tentando superar suas dívidas com o banco, ela vê sua propriedade rural prestes a ser vendida pela justiça para o pagamento de suas contas vencidas. Jasper então lhe propõe algo ousado e ilegal. Ela lhe ajudará no roubo do banco da cidade, que em poucos dias terá em seus cofres uma enorme soma em dinheiro e ouro trazido por tropas da União e em troca ele lhe dará parte do ouro roubado para que Belle consiga quitar todas as suas dívidas. Inicialmente o plano seria o bando de Jasper ir para o confronto direto, tentando matar todos os soldados ianques da guarda da fortuna assim que ela chegasse na pequenina agência de Deliverance Creek, mas Belle propõe algo mais sutil e inteligente, um roubo mais sofisticado, com a ajuda de uma ladra especialista, a escrava fugida Kessie (Yaani King), que inclusive acabou de roubar todo o dinheiro de seu antigo senhor, um homem violento e abusivo do qual ela conseguiu se livrar.

"Vingança em Deliverance Creek" é um telefilme produzido pelo canal a cabo Lifetime. No meio de tantos telefilmes insossos que passam na TV esse aqui até que se sobressai em alguns aspectos. A história é muito boa e mostra as dificuldades que os sulistas, principalmente pequenos rancheiros, enfrentaram após o fim da guerra. Com a economia do Sul destruída, não sobrava muitas alternativas para homens que haviam lutado sob a bandeira confederada. O mundo do crime assim surgia como uma opção na vida desses homens. A produção é modesta, mas digna. O roteiro surge em algumas ocasiões bem truncado, mas sinceramente falando se você levar em conta que está diante de um telefilme isso se torna pouco relevante. O grande destaque vem da atuação da ruivinha atriz Lauren Ambrose. Achei ela uma graça. Seu papel não é do tipo "heroína romântica", longe disso, porém mesmo interpretando uma mulher que cede à tentação de virar uma criminosa ela se mostra completamente cativante e carismática. Em suma, em tempos tão áridos no que se trata a faroestes, esse aqui surge como uma opção razoável de diversão para o fim de noite. Vale a pena conferir.

Vingança em Deliverance Creek (Deliverance Creek, EUA, 2014) Direção: Jon Amiel / Roteiro: Melissa Carter / Elenco: Lauren Ambrose, Wes Ramsey, Christopher Backus / Sinopse: O veterano confederado Jasper Gatlin (Christopher Backus) e sua irmã Belle Gatlin Barlow (Lauren Ambrose) decidem roubar um banco da pequenina cidade de Deliverance Creek, que em poucos dias estará abarrotado de dinheiro e ouro das tropas ianques, da União. Para isso eles contam com a preciosa ajuda de uma escrava fugida, Kessie (Yaani King), que tem grande talento para abrir cofres, algo que aprendeu com seu antigo senhor. Filme indicado aos prêmios American Society of Cinematographers, Motion Picture Sound Editors e Writers Guild of America.

Pablo Aluísio.

Bone Tomahawk

Dois ladrões e assassinos invadem um cemitério sagrado de uma desconhecida tribo de homens selvagens que vivem nas montanhas. Pela ofensa os nativos imediatamente matam um dos criminosos, porém o outro consegue escapar, indo parar em uma cidadezinha do velho oeste. Lá a lei e a ordem é mantida pelo honesto xerife Franklin Hunt (Kurt Russell). Como é um forasteiro, o tal criminoso, ainda sem identidade definida, logo chama a atenção do xerife. Hunt o interroga no saloon, porém esse se mostra pouco colaborativo. Depois de uma discussão o ladrão é baleado e levado para a cadeia local. O que Hunt não desconfia é que os selvagens estão na caça do sujeito. Durante a madrugada conseguem entrar na delegacia e terminam sequestrando não apenas o desconhecido, mas também o auxiliar de Hunt e Samantha O'Dwyer (Lili Simmons) que estava cuidando dos ferimentos do prisioneiro. O xerife, sem outra alternativa, resolve então ir atrás dos selvagens e para isso forma um grupo de quatro homens corajosos que deverão enfrentar todas as dificuldades para libertarem os cativos daquele bando de nativos sanguinários. Mal sabem o terror que os aguarda.

Quando "Bone Tomahawk" começa você pensa estar prestes a assistir um bom filme de faroeste contemporâneo, com um claro respeito por parte de seu roteiro em relação às mitologias do western dos filmes do passado. Isso porém é verdade apenas em termos. Embora a estrutura da narrativa siga um estilo mais tradicional, mostrando a jornada dos homens em tentar localizar o paradeiro dos sequestrados para salvar suas vidas, há também também nuances que fogem dessa linha tradicionalista. Os grandes vilões do filme são os próprios selvagens, chamados pelos moradores locais de "trogloditas". Eles vivem nas cavernas montanhosas do deserto, não possuem qualquer tipo de civilidade e são canibais. Nem os próprios indígenas que lutam contra a presença do homem branco na região desejam qualquer tipo de contato com aqueles verdadeiros animais. Vivem como verdadeiros bichos irracionais. Também apreciam muito a carne humana como alimento. O fato de canibalizarem suas vítimas acaba abrindo margem para cenas extremamente violentas, como quando abrem ao meio (literalmente falando) um homem para comerem suas vísceras. Esse tipo de cena certamente vai desagradar bastante aos fãs mais tradicionais de filmes de western pois são mais presentes e costumeiras em filmes de terror do estilo Gore. Isso porém deve ser deixado de lado. Mesmo com pequenos deslizes ao velho estilo trash, com muito sangue e carnificina, "Bone Tomahawk" ainda pode ser considerado um dos melhores faroestes de 2015. Certamente há uma certa apelação no quesito sangue e tripas, mas vamos convir que isso definitivamente não tira seus méritos como um bom filme que é. Além disso é sempre um prazer renovado encontrar novamente Kurt Russell como xerife do velho oeste. Sua presença praticamente vale pelo filme inteiro.

Bone Tomahawk (Bone Tomahawk, EUA, 2015) Direção: S. Craig Zahler / Roteiro: S. Craig Zahler / Elenco: Kurt Russell, Patrick Wilson, Matthew Fox, David Arquette, Lili Simmons, Sean Young, Richard Jenkins / Sinopse: Um grupo de quatro homens fortemente armados partem rumo ao deserto para salvar a vida de três pessoas sequestradas por uma tribo de selvagens canibais que vivem em cavernas nas montanhas. Filme indicado ao Independent Spirit Awards nas categorias de Melhor Roteiro e Melhor Ator Coadjuvante (Richard Jenkins). Vencedor do Sitges - Catalonian International Film Festival nas categorias de Melhor Direção e Melhor Roteiro (S. Craig Zahler).

Pablo Aluísio.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Emboscada Heróica

Um capitão do exército confederado se faz passar por vendedor de cavalos para as tropas da União enquanto conspira com o famoso bandoleiro Quantrill para destruir um importante depósito de armas do exército ianque. Essa é a premissa básica desse faroeste B intitulado "Emboscada Heróica". Como toda produção com orçamento reduzido, esse filme vai direto ao ponto, sem maiores preocupações com roteiro, desenvolvimento dos personagens ou contexto histórico. O que vale mesmo no final das contas é a ação e os confrontos entre inimigos. Existem os vilões e os mocinhos, porém curiosamente o roteiro não se posiciona muito bem nessa divisão. Muito provavelmente o roteirista Polly James, que nasceu no sul, tenha feito isso de propósito, de caso pensado. Ele não quis retratar os sulistas confederados apenas como vilões. Se bem que transformar Quantrill e sua quadrilha em heróis era algo muito complicado.

Esse personagem histórico de fato existiu. Ele ajudou o exército confederado em diversas ocasiões, inclusive em operações militares importantes, porém não era considerado oficialmente um membro dos exércitos do sul. O General Lee, comandante supremo dos confederados, por exemplo, considerava ele um bandido e um quadrilheiro, tamanha era a brutalidade que ele espalhava por onde passava. Lee estava certo. Quantrill formou um bando composto basicamente por assassinos e ladrões, a tal ponto que os irmãos James (incluindo o infame Jesse James) fez parte por longo período de seu bando. A lógica de Quantrill era saquear e roubar as populações civis indefesas de pequenas cidades que dessem apoio aos exércitos da União durante a Guerra Civil Americana. Ele espalhava terror e cometia crimes de guerra sem ressentimento. Essa brutalidade acabou trazendo ao grupo a denominação de "gorilas" por causa da extrema violência que praticavam. Tudo isso porém é posto um tanto de lado nesse filme pois como eu escrevi não era a intenção do filme em ir fundo nessa questão histórica. Assim o que acaba sobrando de tudo isso é uma fita rápida, movimentada e com boas cenas de ação. Nada muito além desse limite, que diga-se de passagem era justamente o que pretendia os produtores do filme. Vale pela diversão.

Emboscada Heróica (Quantrill's Raiders, Estados Unidos, 1958) Direção: Edward Bernds / Roteiro: Polly James / Elenco:  Steve Cochran, Diane Brewster, Leo Gordon / Sinopse: Um capitão do exército confederado se faz passar por vendedor de cavalos para as tropas da União enquanto conspira com o famoso bandoleiro Quantrill para destruir um importante depósito de armas do exército ianque. Roteiro parcialmente baseado em fatos reais.

Pablo Aluísio.

Shalako

Título no Brasil: Shalako
Título Original: Shalako
Ano de Produção: 1968
País: Inglaterra, Alemanha
Estúdio: Palomar Pictures International
Direção: Edward Dmytryk
Roteiro: James Griffith, baseado no livro de Louis L'Amour
Elenco: Sean Connery, Brigitte Bardot, Stephen Boyd
  
Sinopse:
Um grupo de nobres europeus resolve fazer uma viagem pelo velho oeste, uma espécie de sáfari na América. A intenção é conhecer aquela região selvagem para caçar animais exóticos como leões da montanha e carneiros de chifres. Durante a jornada acabam entrando inadvertidamente em uma reserva Apache. Os brancos não são bem-vindos naquele lugar desde que os nativos firmaram um tratado com o exército americano e por essa razão começam a ser caçados pelos guerreiros da tribo. Apenas o ex-coronel do exército Carlin "Shalako" (Sean Connery) poderá salva a vida daqueles viajantes. Com vasta experiência de sobrevivência no deserto adquirida por anos de serviço militar ele tentará salvar todas aquelas pessoas da morte certa.

Comentários:
Embora Sean Connery tenha atuado em mais de 90 filmes ao longo de sua carreira ele praticamente não trabalhou em faroestes. Uma exceção foi esse "Shalako", uma produção européia com jeitão de filme americano que tentou lançar a atriz Brigite Bardot dentro daquele mercado cinematográfico. A atriz que era um ícone de beleza e fama na época não levava jeito com a língua inglesa e por essa razão estava confinada e interpretar estrangeiras de passagem pela América. É o caso dessa sua personagem nesse filme. Ela é uma condessa em busca de um bom casamento. Para isso acaba participando da expedição patrocinada por um rico barão inglês. Todos vão para o oeste americano em busca de aventuras e diversão, mas tudo o que encontram pela frente são nativos selvagens e hostis. No meio do deserto começam a ser literalmente caçados por Apaches. Apenas a ajuda de um ex-militar veterano que vive de caçar búfalos chamado Shalako poderá garantir que não sejam mortos. Sean Connery dá vida ao protagonista, um sujeito que se veste como Daniel Boone que tenta sobreviver naquelas terras áridas. Embora se chame Moses Carlin ele acaba adotando o nome que os Índios lhe deram: Shalako! Como todo nome índigena esse também tinha um significado, "Aquele que traz chuvas", já que sempre que entrava nas reservas apaches havia sinais de chuva por vir. Como era de esperar com Connery e Bardot em um mesmo filme os roteiristas logo trataram de criar um improvável romance entre eles. 

O curioso é que Connery já estava passando da idade de posar de galã romântico e mesmo não estando muito à vontade nessa função até que acabou não se saindo muito mal. Bardot continuava linda, porém já com os primeiros sinais da idade chegando (embora estivesse apenas com 35 anos na época!). O roteiro do filme é até bem tradicional, sem maiores novidades. Basicamente é um jogo de vida ou morte no meio do deserto entre Apaches e os turistas europeus. Há também um bando de bandidos que roubam esses estrangeiros e também entram no meio desse jogo de gato e rato. Em praticamente três atos o filme tem uma conclusão muito boa, nas montanhas, quando Connery resolve levar os viajantes para o topo de platô no meio do deserto em busca de água. Além da escalada (o que já garante ótimas cenas de ação) há ainda um duelo de lanças entre Connery e um Apache no alto da colina (sem dúvida uma boa cena de luta, bem coreografada e executada). Tudo garantindo aquele clima de diversão e aventura bem típico dos filmes da época. A lamentar apenas o fato de que esse seria o último faroeste de Sean Connery que ao que tudo indica não gostou muito da experiência de filmar em um deserto como aquele (que apesar de parecer ser o deserto da Califórnia era na verdade a região de Andalucía, na Espanha, onde vários westerns spaghettis foram filmados).

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Bandoleiros do Arizona

William Quantrill foi um infame bandoleiro que causou terror e desespero no velho oeste. Ele formou uma gangue de criminosos que invadiam pequenas cidades do interior, roubando e matando todos os moradores. Quando a Guerra Civil explodiu ele tentou se tornar um Coronel do exército confederado (chegava inclusive a se vestir como um) porém em pouco tempo o governo confederado entendeu que ele não passava de um criminoso. Depois de ser recusado a entrar nas fileiras do exército sulista  Quantrill decidiu se assumir pelo que sempre havia sido: um bandoleiro violento e cruel. O roteiro desse filme parte justamente da fase final do bando de Quantrill. Sua quadrilha está em seus últimos dias. O exército da União o caça pelas cidadezinhas sulistas e o cerca em uma velha fazenda abandonada. Lá seu líder é ferido de morte e seus homens fogem. Alguns deles não conseguem ter a mesma sorte e acabam presos, entre eles o jovem Clint (Murphy).

O problema é que o antigo bando de Quantrill volta a se reunir, agora sob liderança do bandoleiro Montana (George Keymas). Para destruir de uma vez por todas com a ameaça um grupo de homens da lei chamado Arizona Raiders resolve ir atrás dos criminosos, mas dessa vez com antigos membros da velha quadrilha de Quantrill, entre eles o próprio Clint. Esse é basicamente o trama central desse bom faroeste B estrelado pelo ator Audie Murphy. A produção é modesta, mas bem realizada. Há um uso muito interessante de cenários naturais dos desertos próximos a Cortaro no Arizona, com antigas ruínas espanholas de cidades que estavam abandonadas quando o filme foi feito. O interessante é que esse acabou sendo um dos últimos filmes da carreira de Murphy (ele só trabalharia em mais cinco produções depois dessa). O ator tinha vários traumas de guerra e problemas psicológicos que contribuíram para o fim prematuro de sua vida com apenas 46 anos de idade. Para seus fãs (e no Brasil existe uma boa quantidade deles) fica a dica desse bom western onde tudo parece se encaixar muito bem.


Bandoleiros do Arizona (Arizona Raider, EUA, 1965) Direção: William Witney / Roteiro: Alex Gottlieb, Mary Willingham / Elenco: Audie Murphy, Michael Dante, Ben Cooper, George Keymas / Sinopse: Clint (Murphy) é um ex-bandoleiro renegado da quadrilha de William Quantrill que é recrutado pelos homens da lei do grupo Arizona Raiders para caçar no meio do deserto antigos membros da quadrilha que fez parte no passado.

Pablo Aluísio. 

Uma Nação em Marcha

Título no Brasil: Uma Nação em Marcha
Título Original: Wells Fargo
Ano de Produção: 1937
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Frank Lloyd
Roteiro: Paul Schofield, Gerald Geraghty
Elenco: Joel McCrea, Bob Burns, Frances Dee
  
Sinopse:
Ramsay MacKay (Joel McCrea) é um empregado da empresa Wells Fargo Express cuja principal atividade econômica é levar correspondência e cargas entre as duas costas americanas. Seu trabalho não é tão fácil como parece pois ele precisa vencer longas distâncias, viagens e jornadas penosas, tudo para entregar as encomendas na hora certa, no momento exato. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Som (baseado no sistema sonoro inovador da época, chamado de Paramount SSD).

Comentários:
Faroeste muito antigo que conta uma história que sinceramente falando será pouco atrativo para os dias atuais. O personagem principal interpretado pelo ator Joel McCrea é basicamente um empregado de uma empresa privada que fatura levando encomendas e correspondências entre as costas leste e oeste dos Estados Unidos. Então o McCrea basicamente interpreta um carteiro? Tirando as devidas proporções é justamente isso. Hoje em dia enviar uma mensagem é a coisa mais banal do mundo, está a distância de um click no computador, mas no século XIX era praticamente uma aventura pois as cartas físicas tinham que atravessar grandes distâncias, geralmente passando por regiões hostis. O roteiro porém não se leva completamente à sério, longe disso, há todo um clima bem humorado que vai de ponta a ponta do filme. 

Para suavizar ainda mais Joel McCrea se apaixona por uma donzela, se declarando em galanteios românticos (nem todos muito convincentes). Como ainda era jovem (e tinha uma belo penteado, ou seja, bem antes de ficar careca) até que consegue convencer um pouquinho como galã sentimental, mas no geral nada é muito bem desenvolvido. O filme só se destaca mesmo por alguns aspectos da produção como uma bem detalhada réplica da San Francisco daqueles tempos, um vilarejo ainda, antes da chegada de milhares de imigrantes que iriam mudar a imagem da cidade, a transformando numa das metrópoles mais desenvolvidas da América. Outro fato que ajuda a manter o interesse é o fato de que o enredo explora praticamente toda a vida do protagonista, desde os primeiros tempos até sua velhice. Nesse meio termo explode a guerra civil, ele se casa e depois se separa da esposa (ela supostamente estaria apoiando os sulistas por causa da morte do próprio irmão no campo de batalha) tudo caminhando para o final quando ocorre a grande redenção entre eles. Poderia ser bem melhor, porém os roteiristas só estavam dispostos a ir até um certo limite. Mesmo assim, sendo menos do que poderia ser, ainda é um western que vale a pena ser ao menos conhecido.

Pablo Aluísio.

domingo, 10 de dezembro de 2017

Bone Tomahawk

Obviamente que o maior atrativo para assistir a esse filme vem justamente da presença de Kurt Russell no elenco. O ator não fazia um faroeste desde 1993 quando interpretou o lendário xerife Wyatt Earp em "Tombstone - A Justiça Está Chegando", ou seja, fazia mais de vinte anos que ele não estrelava um filme de velho oeste. Kurt nunca foi uma presença constante em filmes do gênero, o que sempre me deixou surpreso, já que definitivamente ele tem os atributos para estar em filmes como esses. Talvez o fato dele ter tido o auge de sua carreira no boom de filmes de ação tenha contribuído para que ele nunca se tornasse uma figurinha fácil em filmes de western. Ao invés disso Kurt colecionou atuações em filmes de pancadaria ao estilo anos 80.

Não há nada de errado nisso. Apenas podemos lamentar ele não ter realizado mais incursões no velho oeste. Dito isso temos que dar os devidos créditos para essa nova produção. Ela foi escrita e dirigida por S. Craig Zahler, um novato, que apenas agora assina sua primeira direção. Mais ligado ao cinema independente ele foi de tudo um pouco, desde roteirista até diretor de fotografia de alguns filmes menores. Aqui ele pretendeu em parte realizar um filme ao velho estilo, mas que fosse também atraente para o público mais jovem. A receita que encontrou para unir essas duas coisas foi escrever um enredo que embora fosse um western tradicional, também explorasse elementos de filmes de terror.

O resultado é bom. Há uma tensão constante, muita aridez (inclusive em termos técnicos com quase completa ausência de trilha sonora incidental, por exemplo), além de uma trama que me remeteu imediatamente a velhos clássicos com o mito John Wayne. Todo filme de western que explore a jornada de busca de um grupo de homens em salvar inocentes raptados me faz lembrar de produções como "Rastros de Ódio". Claro que digo isso levando em conta todas as devidas proporções, afinal de contas não é qualquer obra cinematográfica que pode sequer ser comparado a essa obra prima imortal. As semelhanças se restringem a parte do enredo e não ao filme em si, como um todo. Outro destaque que faz valer a pena assitir ao filme vem do elenco.

Além de Kurt Russell temos o retorno de outra estrela dos anos 80. Poucos vão perceber sua presença, mas lá no meio dos atores surge discretamente a atriz Sean Young vivendo a personagem Mrs. Porter. Sean Young foi uma das atrizes mais badaladas da década de 80. Ela trabalhou em clássicos daquela era como "Wall Street - Poder e Cobiça", "Duna", "Sem Saída" e principalmente "Blade Runner, o Caçador de Androides" onde interpretou a icônica Rachael. Sua imagem assustadora e sensual ao mesmo tempo ficou na mente dos fãs de cinema daquela época. Sua carreira entrou em decadência por causa de problemas sérios de saúde que enfrentou por longos anos. Sua presença no elenco foi uma sugestão do próprio Kurt Russell que resolveu lhe ajudar nesse retorno. Em suma, não deixe de conferir. Um western moderno, dos dias atuais, com um sabor nostálgico de um passado glorioso e distante.

Pablo Aluísio.

Domador de Motins

Mais um bom faroeste com o astro do western Randolph Scott. Aqui ele interpreta um tipo incomum em sua filmografia. Scott é Ned Britt. No passado ele fora um pistoleiro temido no velho oeste, principalmente no norte do Texas. Com o tempo ele passou a entender que seria morto mais cedo ou mais tarde pois sempre haveria alguém tentando ter a honra de ter matado o mais rápido do gatilho. Assim ele decide abandonar as armas, se dedicando a ser um jornalista. Isso mesmo. Com uma prensa mecânica em uma carruagem, Ned e sua pequena equipe se tornam jornalistas itinerantes, indo de cidade em cidade para publicar seu pequeno diário.

Depois de muito rodar ele acaba parando em sua terra natal, a pequena Fort Worth, no mesmo Texas que um dia deixou para tentar o começo de uma nova vida. Seu retorno acaba também trazendo problemas. Sua antiga namorada (e amor de sua vida) está para casar com o seu melhor amigo. Para piorar tudo, a presença de alguém disposto a publicar um jornal na cidade logo desperta ódios, principalmente dos bandidos e malfeitores da região. A liberdade de imprensa já existia nos Estados Unidos naqueles tempos pioneiros, porém não eram poucos os jornalistas que acabavam sendo mortos por aquilo que escreviam. Afinal de contas o oeste ainda era selvagem.

O interessante é que o personagem de Scott evita a todo custo em voltar a usar as armas. Ele acredita sinceramente que o poder das palavras é mais forte e imponente do que o poder das armas de fogo. Sua relutância em voltar ao velho estilo - de acertar todas as rivalidades com um cano fumegante - logo o deixa vulnerável contra os facínoras de Fort Worth. Ele só muda de ideia mesmo quando seu sócio é morto covardemente na própria sede do jornal Fort Worth Star que dirige. A partir daí não sobra outra alternativa. O velho e bom Randolph Scott então resolve acertar as contas ao velho estilo, em duelos face a face (algo que certamente fez a festa dos fãs do ator na época).

Embora seja um western bem na média do que Scott era acostumado a estrelar - ou seja, uma fita B, mas com muito bom gosto e com todos os elementos necessários presentes - o que mais me chamou a atenção nesse filme foi o bom roteiro, com inúmeras reviravoltas envolvendo todos os personagens. Ora Scott pensa contar com seu velho amigo, ora descobre que está entrando em uma verdadeira cilada, com traição à vista. E para não faltar nada mesmo, o filme ainda traz ótimas sequências de ação, como a corrida em direção a uma locomotiva em chamas e uma grande sequência de acerto de contas de Scott com todos os vilões do filme. Em suma, um faroeste para fã do gênero nenhum colocar defeito. Scott era realmente muito eficiente nesse tipo de produção. Bons tempos aqueles.

Domador de Motins (Fort Worth, EUA, 1951) Direção: Edwin L. Marin / Roteiro: John Twist / Elenco: Randolph Scott, David Brian, Phyllis Thaxter / Sinopse: Após viajar numa caravana em que um garotinho morre esmagado depois do estouro incontrolável de uma manada, o cowboy e jornalista Ned Britt (Scott) decide voltar para sua terra natal, Fort Worth. Lá reencontra o grande amor de seu passado e seu antigo melhor amigo,  Blair Lunsford (David Brian), um homem que se tornou extremamente rico, com ambições políticas. O problema é que ele parece ter enriquecido através de métodos ilegais e ilícitos. Será que a amizade entre Ned e Blair sobreviverá agora que tudo parece ter mudado na velha cidade?

Pablo Aluísio.

sábado, 9 de dezembro de 2017

Os Cowboys

John Wayne - Os Cowboys

Ontem aproveitei o fim de noite para rever o faroeste "Os Cowboys". O western foi estrelado pelo maior mito americano do gênero, o imortal John Wayne. Em uma carreira longa e produtiva o veterano ator incorporou como poucos o símbolo do pioneiro americano rumo a um velho oeste selvagem, perigoso e violento. Nesse filme em particular temos uma variação bem interessante de seu tipo habitual. Ao invés de ser um membro da cavalaria enfrentando tribos de nativos hostis, o ator interpretou um velho rancheiro que precisa levar seu gado até a Califórnia. Sem homens para contratar (pois estão todos nas montanhas na chamada busca ao ouro) ele não vê outra alternativa a não ser contratar um bando de guris, garotos de escola mesmo, para lhe ajudar a tocar a boiada durante a viagem, atravessando as longas planícies áridas do oeste americano. O roteiro, baseado na novela escrita por William Dale Jennings, parte justamente dessa premissa para construir todo o enredo do filme. De um lado temos um velho cowboy, veterano da guerra civil, já calejado pelos anos, com muita experiência de vida. Do outro um bando de meninos que acabam se espelhando nele para crescer, se tornando enfim homens de verdade.

Curioso é que se fosse lançado hoje em dia "Os Cowboys" poderia muito bem criar problemas com o politicamente correto que impera nos dias atuais. Afinal de contas o personagem de John Wayne recruta todos aqueles garotos para um trabalho duro, arriscado. Hoje algo assim seria visto com reservas certamente. No caminho os meninos tomam conhecimento de aspectos da vida adulta como bebidas (imagine a confusão que isso iria dar) e até mulheres de vida fácil!!! Numa das cenas mais interessantes dois dos adolescentes encontram uma carruagem cheia de mulheres, coristas que vão se apresentar nos saloons do velho oeste. Elas se apresentam praticamente despidas, pois estão tomando banho em um rio da região. Claro que pela pouca idade eles até se assustam com a desenvoltura das moças que acabam achando eles tão bonitinhos, montados em seus cavalos, até parecendo cowboys de verdade! Tal cena certamente iria chocar para os padrões conservadores dos dias atuais. Conheço pessoas que ficariam escandalizadas com algo desse tipo!

O roteiro porém não se limita a isso. Há a questão racial também. O cozinheiro do grupo é Jebediah Nightlinger (Roscoe Lee Browne), um senhor negro, que chegou a também lutar na guerra civil e que agora ganha a vida cozinhando em caravanas. Os meninos que agora trabalham para o personagem de Wayne jamais tinham visto um negro antes! Numa das melhores cenas eles perguntam ao velho Jebediah se ele é igual aos outros homens (no caso, os brancos). O velho que já presenciou tantos momentos movidos pelo racismo acaba virando o jogo, contando uma velha lenda envolvendo seu pai, ao qual seria um velho guerreiro mouro em um mundo das mil e uma noites - o que obviamente acaba encantando todos aqueles jovens. Roscoe era um grande ator e nesse monólogo em particular prova bem isso. No final ele acaba liderando o bando de meninos em um momento crucial da trama, mostrando que a amizade e o respeito sempre vencem qualquer tipo de barreira racial que venha a existir entre brancos e negros.

Por fim, além da garotada, outro fato marcou muito esse "Os Cowboys". Encurralados e cercados por bandidos o personagem de John Wayne acaba sendo morto de forma covarde (pelas costas) pelo vilão Long Hair (Bruce Dern). Eu me recordo que quando assisti a esse filme pela primeira vez, ainda adolescente e nos anos 80, ao lado de meu pai, ele ficou visivelmente chocado e perturbado por ver o seu herói Wayne tombar em cena! Afinal John Wayne não poderia jamais morrer em seus próprios filmes, era um absurdo! O fato porém foi que esse tipo de situação veio muito bem a calhar pois trouxe a dose de realismo que faltava em sua carreira. Afinal o típico personagem de John Wayne poderia ser um bravo, um homem íntegro e honesto, representando tudo o que de valioso havia do homem do velho oeste americano, mas certamente não poderia ser imortal também! Por essas e outras é que esse "Os Cowboys" é da fato um filme tão marcante e inesquecível. Um ótimo western que todos os cinéfilos precisam ter em sua coleção.

Os Cowboys (The Cowboys, EUA, 1972) Direção: Mark Rydell / Roteiro: William Dale Jennings, Irving Ravetch / Elenco: John Wayne, Roscoe Lee Browne, Bruce Dern / Sinopse: Em plena corrida do ouro nas montanhas, o rancheiro Wil Andersen (John Wayne) acaba ficando sem cowboys para tocar seu gado do Colorado até a Califórnia onde os animais serão vendidos. Para resolver seu problema de mão de obra Andersen acaba tomando uma decisão radical: contratar um grupo de garotos para realizar a longa jornada oeste adentro.

Pablo Aluísio.

Spirit - O Corcel Indomável

Título no Brasil: Spirit - O Corcel Indomável
Título Original: Spirit - Stallion of the Cimarron
Ano de Produção: 2002
País: Estados Unidos
Estúdio: DreamWorks Animation
Direção: Kelly Asbury, Lorna Cook
Roteiro: John Fusco
Elenco: Matt Damon, James Cromwell, Daniel Studi
  
Sinopse:
Um garanhão selvagem chamado Spirit (Matt Damon) é capturado por seres humanos e levado para uma incrível aventura de muita emoção e perigos. Aos poucos ele vai perdendo a vontade de resistir ao treinamento imposto por seus novos donos, sem no entanto perder a vontade de reconquistar novamente sua tão amada liberdade. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Animação (Jeffrey Katzenberg). Também indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Canção ("Here I Am" de Hans Zimmer, Bryan Adams e Gretchen Peters). Vencedor de quatro prêmios no Annie Awards, considerado o Oscar da animação.

Comentários:
Desde que criou seu próprio estúdio, a DreamWorks, Steven Spielberg determinou aos seus executivos que dessem especial atenção para o mundo da animação. Isso se deveu não apenas aos números envolvidos nesse mercado (onde giram milhões e até bilhões de dólares em bilheteria), mas também para o fator prestígio. Todo grande estúdio de Hollywood que se preze precisa ter um bem elaborado departamento de animação. Pois bem, aqui está mais uma tentativa por parte de Spielberg em fincar posições no competitivo mundo da animação do cinema americano. O filme, como era de se esperar, é tecnicamente muito bem realizado. Além disso aposta numa proposta diferente, diria até mesmo mais clássica, explorando o velho oeste americano. Os protagonistas são cavalos e os humanos meros coadjuvantes. Gostei bastante do resultado final. É de um bom gosto à toda prova. Pena que não teve muita apelação ao público jovem dos dias de hoje o que resultou em uma bilheteria meramente morna. Em termos de elenco quem se destaca no quesito dublagem é o ator Matt Damon, dando vida ao personagem Spirit. É de se surpreender sua boa caracterização pois essa foi sua primeira experiência na area. Enfim, fica a recomendação de um western diferente, uma animação com o selo de qualidade de Steven Spielberg.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Uma Mente Brilhante

Segue sendo o trabalho mais memorável tem termos de atuação da carreira do ator Russell Crowe. Ele interpreta um gênio da matemática chamado John Nash. O filme, que é baseado numa história real, mostra Nash em seus primeiros anos, quando se torna um aluno brilhante numa das melhores universidades do mundo. Como é considerado um verdadeiro talento em sua área, acaba sendo procurado pelo governo para trabalhar no deciframento de códigos criptográficos. O que começa até bem logo desanda quando Nash começa a afirmar que está sendo perseguido, se tornando alvo de um complô extremamente complexo para lhe assassinar.

Verdade ou fruto de sua cabeça? O roteirista Akiva Goldsman joga o tempo todo com as duas possibilidades, dando um verdadeiro nó na cabeça dos espectadores. O filme só não é melhor porque o cineasta Ron Howard sempre foi muito convencional, nunca indo para caminhos mais desafiantes. Ele sempre preferiu mesmo o feijão com arroz do dia a dia. Sem esse tipo de coragem o filme acaba perdendo um pouco, até porque o diretor parece nunca estar à altura do roteiro, esse realmente acima da média, muito bem escrito. Fico imaginando um material como esse nas mãos de um Stanley Kubrick, por exemplo. Seria definitivamente uma das maiores obras primas da história do cinema.

Do jeito que ficou está OK, mas como sempre gosto de dizer, poderia ser bem melhor. De uma maneira ou outra o filme acabou se consagrando no Oscar com quatro importantes prêmios: Melhor direção (para Howard, um exagero!), Melhor Atriz Coadjuvante (Jennifer Connelly, a garota de "Labirinto" que cresceu e virou uma boa atriz), Melhor Roteiro (O prêmio mais merecido da noite) e Melhor Filme (achei um pouco forçado). Russell Crowe também foi indicado ao Oscar como Melhor Ator, mas não levou, naquela que foi a chance mais desperdiçada de sua carreira. Nunca mais ele voltaria a concorrer, mostrando que foi mesmo uma chance de ouro que ele perdeu de levantar a estatueta. Em conclusão considero um bom filme, com aquele tipo de roteiro que anda cada vez mais raro nos dias atuais. Muitos vão dizer que é tudo bem inconclusivo no final das contas, porém penso diferente, sendo esse aspecto uma das qualidades mais louváveis de seu texto.

Uma Mente Brilhante (A Beautiful Mind, Estados Unidos, Inglaterra, 2001) Direção: Ron Howard / Roteiro: Akiva Goldsman, baseado no livro escrito por Sylvia Nasar / Elenco: Russell Crowe, Ed Harris, Jennifer Connelly, Christopher Plummer, Paul Bettany, Josh Lucas/ Sinopse: John Nash (Russell Crowe) é um gênio da Matemática que é procurado pelo governo americano para trabalhar na decifração de códigos de países inimigos. Em pouco tempo Nash começa a temer por sua vida, pois o que parecem ser agentes do governo, começam a persegui-lo, colocando em risco sua vida. Seria verdade ou apenas fruto de sua mente perturbada? Filme indicado também ao Oscar nas categorias de Melhor Edição (Mike Hill, Daniel P. Hanley), Melhor Maguiagem (Greg Cannom, Colleen Callaghan) e Melhor Música (James Horner). Vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama, Melhor Ator - Drama (Russell Crowe), Melhor Atriz - Drama (Jennifer Connelly) e Melhor Roteiro (Akiva Goldsman).

Pablo Aluísio.