A direção da RCA tomou essa atitude por uma razão bem simples: suas músicas natalinas sempre venderam muito bem no final de ano, durante as festas, e já é hora de apresentar material novo nesse estilo. Seus fãs querem isso, não os chefões da RCA, entende meu ponto de vista? São seus fãs que querem ouvi-lo novamente cantando canções de natal!". Elvis ficou em silêncio ouvindo os argumentos do Coronel, fitando e mexendo seus diversos anéis. Parecia antes de tudo distante e desapontado. Durante a conversa Elvis não olhou para o Coronel, que ficou o tempo todo ao seu lado tentando convencê-lo a se submeter aos desígnios da grande multinacional. Mesmo com seu esforço de persuasão os argumentos pareciam não fazer efeito.
Elvis não parecia nada convencido e por fim disparou: "Gravar essas músicas não me interessa, além do mais elas não se parecem em nada com o tipo de trabalho que venho mostrando atualmente para meus fãs, não quero fazer o disco!". Tom Parker entendeu que não adiantava pressionar naquele momento, pois não queria impor uma decisão ou passar a imagem para Elvis de alguém que estava forçando uma situação. Calejado pela vida e profundo conhecedor da personalidade facilmente irritável do artista, preferiu jogar panos quentes no assunto, pelo menos por enquanto. Então a velha raposa simplesmente disse ao Rei, que agora estava de pé, em frente ao grande espelho, verificando se tudo estava em ordem para sua entrada no palco: "Vamos fazer o seguinte: não fique abatido por isso, prometa apenas ouvir as músicas que a RCA vai enviar a você, depois iremos discutir sobre a gravação desse disco, ok? Faça o show tranqüilamente e depois resolveremos esse problema, certo assim?".
Elvis timidamente balançou a cabeça e se dirigiu para fora de seu recinto privativo para encontrar seu staff pessoal que iria conduzi-lo até o palco, para que ele assim finalmente fizesse seu concerto. Não parecia nada animado, sua melancolia era agora cada vez mais aparente. A temporada em Vegas transcorreu normalmente e o assunto não foi mais mencionado entre Elvis e o Coronel Parker. Então no dia 15 de março Elvis chegou à Nashville para o início de suas sessões de gravação. Ele havia feito péssimo vôo, estava se sentindo mal, tinha enjoado durante o percurso, se queixava de fortes dores de cabeça acrescida de uma pressão incomum sentida sobre seu globo ocular e para falar a verdade não estava com a mínima vontade de gravar. Mesmo assim tentou seguir em frente.
Quando chegou aos estúdios estava com péssima aparência: olheiras visíveis demonstrando que não tinha dormido bem nas últimas semanas, cabelo despenteado, barba por fazer e com expressão de dor. Teve inclusive que ser amparado por seu homens para poder sair do carro em que estava. Depois de realizar tantos shows em Las Vegas Elvis estava simplesmente muito estressado e exausto para cumprir uma maratona de gravações em Nashville. Além disso estava sentido dores cada vez mais agudas e latentes em seu olho esquerdo. Felton Jarvis ficou um pouco assustado com a aparência abatida de Elvis, mas mesmo assim resolveu dar prosseguimento aos trabalhos. Começou a tocar alguns demos natalinos para Elvis, para que ele finalmente decidisse quais canções iria gravar. O cantor ficou o tempo todo sentado em uma cadeira ao lado de uma caixa de som, mostrando total desinteresse pelas canções. A aversão de Elvis foi aumentando a cada música demonstrada a ele, até que finalmente pediu a Jarvis que parasse com as execuções. Elvis olhou ao seu lado e disse à sua banda: "Bom, vamos gravar alguma coisa por enquanto, depois a gente volta para esse material de natal, ok?". Dito e feito.
Com a mudança de direção Elvis até mesmo se animou e conseguiu se empolgar um pouco. Pediu uma garrafa de água e começou a conversar com os caras da banda. Sugeriu ótimas músicas para salvar a sessão como "The First Time Ever I Saw Your Face", "Early Morning Rain", "For Loving Me" e a sua preferida na noite: o Gospel "Amazing Grace", que o levou a praticamente renascer dentro do estúdio. Novamente ligado no que estava acontecendo à sua volta, Elvis resolveu escrever ele mesmo um novo arranjo para a famosa música religiosa, depois discutiu com os caras da banda a melhor forma de gravá-la, enfim, era o Elvis Presley dos bons tempos que todos conheciam. As músicas natalinas ficariam para depois, até mesmo porque Elvis não tinha o menor interesse pelo material apresentado por Felton Jarvis. Ele não conseguiu se conectar com as músicas de natal. Na verdade ele havia até mesmo comentado com James Burton dentro da sala de gravação: "...essas músicas de natal são ruins demais, puxa vida!".
Todos riram, o que foi ótimo, pois levou a amenizar bastante o clima de tensão que pairava no ar. Depois de algumas horas ali gravando as músicas não natalinas escolhidas por ele, Elvis chamou todos os presentes e os reuniu em uma sala adjacente ao estúdio principal: "Eu quero comunicar a vocês que estou cancelando o restante das sessões, vou hoje mesmo para Graceland. Não estou me sentido bem, sinto dores, estou cansado, indisposto e minha voz está no limite. Não quero gravar nada nesse estado. O pessoal de Los Angeles está dispensado e o de Memphis segue comigo hoje mesmo para casa. Vejo vocês depois! Estão todos livres! Obrigado e fiquem com Deus!" Poucos minutos depois Elvis embarcava de volta para Graceland.
Pablo Aluísio.
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