domingo, 13 de junho de 2010

Elvis Presley - Double Features I

O relançamento remasterizado de 7 trilhas sonoras de Presley em 3 discos — intitulados Elvis Double Features pela primeira vez em CD, podem fazer os fãs vibrarem com o som superior e gemas ocasionais (como "I ll Be Back" de Spinout), ou se angustiar com o que deve ter sido artisticamente frustrante para o próprio cantor. Pense. Aqui está Elvis, que colocou o mundo em chamas nos anos 50, posto para cantar "Old MacDonald Had A Farm" nos anos 60, em filmes estúpidos, enquanto que grupos como Beatles e Rolling Stones admitindo que Elvis era o maior — estabeleciam novos padrões musicais. Preso aos contratos de seu empresário Tom Parker, por milhões de dólares, Elvis foi ficando mais rico a cada filme, enquanto morria artisticamente.

O primeiro Elvis Double Feature, com Frankie And Johnny / Paradise Hawaiian Style, é um CD com 49:07 e 22 faixas que mostram o abismo onde o grande artista caiu. Existem 5 preciosidades absolutas embutidas: a faixa título, "Frankie And Johnny", abrasiva com seu som Dixieland. Rodado em New Orleans, é lamentável que as 12 canções deste filme não tenham absorvido mais a cena musical local. Elvis lamenta! Cada verso é construído com intensidade e nos seus escassos 2:23, as numerosas repetições ecoam uma magia mais ampla. Idem para a seguinte, "Come Along", 1:52 de puro prazer. Então, vem o desastre. Será "Petunia, The Gardener's Daughter" a pior música que Elvis já cantou? Provavelmente não, porque ela foi salva pelo balanço de New Orleans. "Chesay" é bem pior e "What Every Woman Lives For" não é apenas terrível, mas francamente insultuosa. Com melancólica misogenia, diz que a mulher é realmente boa se "for para dar seu amor a um homem". "Look Out Broadway" é igualmente ruim. Melosa e maliciosa chega a perguntar: "se ele lhe der um diamante, o que você dará a ele?"

Perceba que a voz de Presley era um instrumento tão quente e expressivo, que escutá-la pode ser o jeito de se descobrir sobre como ele se sentia na época, e estas faixas, mesmo ruins como são, para um fanático por Elvis, são fascinantes. "Begginer's Luck" é a terceira gema. Lembrando trilhas sonoras melhores como G.I. Blues ou Blue Hawaii, esta terna balada tem fluidez. Infelizmente, ela precede uma marcha. Uma marcha! Como aficionado a Elvis por 35 anos, posso dizer sem hesitação que entre todos os gêneros musicais do universo — com exceção do já mencionado "G.I. Blues" — Elvis soava mais desconfortável cantando marchas. E algum estúpido decidiu fazer uma marcha, misturando "Down By The Riverside" com "When The Saints Go Marching In" — atirando Elvis numa horrível estrutura rítmica, salva no fim, quando muda para ragtime. "Shout It Out" é um exemplo, de como aqueles lacaios de Hollywood, tentaram substituir seu grito rebelde de rock' n' roll original, por uma batida pegajosa e sem valor, supervalorizando os efeitos percussivos, ainda que Elvis a cante corretamente.

Acho que ele sabia, assim como nós, que sempre existirão aquelas poucas gemas, onde valerá a pena enfiar a cara, como na que se segue: "Hard Luck" é um blues pesado, no qual ele se entrega com uma paixão que não se ouve em qualquer lugar. A metade Frankie & Johnny do disco, termina numa levada "para cima" em ritmo de ragtime. A psicologia de bastidores que transformou o Rei do Rock' n' Roll numa marionete de compositores, argumentistas, diretores e produtores, é um enigma da cultura pop que talvez jamais seja solucionado. E fácil apontar para Tom Parker, o homem que ajudou Elvis a alcançar o superestrelato. Parker, na sua visão limitada, optou todas as vezes pelo dinheiro rápido. Presley quase o despediu em uma ocasião, mas em última análise, ele era tão leal quanto um velho perdigueiro.

Minha teoria é que Elvis racionalizou a sua ascenção: "Odeio esta droga, mas até que não tem sido tão ruim assim. Faço filmes em Hollywood. Tenho meus amigos de Memphis comigo o tempo todo. Tenho garotas a cada noite da semana. Recebo minha 'medicação' para me fazer sentir bem. Então, se devo cantar estas músicas horríveis, e dai? É um trabalho para se viver." A porção Paradise Hawaiian Style do disco é ainda pior. Enquanto Frankie & Johnny tem 5 faixas fortes em 12, Paradise... não tem nenhuma em 9. Na faixa-titulo, Elvis canta um verso estúpido, "puxa, é bom estar no 50º estado". Procedido por um material havaiano tão falso, banal e embaraçoso, que Elvis deve ter se entupido de medicação para poder gravá-lo. O divertido é que ele sabia o quanto era ruim. Há uma versão engraçada de "Datin" numa caixa editada em 1980, onde depois de dezenas de tomadas de gravação, ele ainda não consegue cantá-la sem rir do que estava fazendo. Apenas não conseguia parar de rir! Claro, seu senso de humor é lendário, mas aqui é contagiante. O ouvinte não consegue evitar de rir junto com ele. Pena que a versão escolhida pela RCA para este Double Feature, é uma que ele consegue cantar do começo ao fim. O resto do material sequer é digno de menção.

Rock in Portfólio.

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