quinta-feira, 25 de março de 2021

A Nave da Revolta

Um filme clássico de guerra, sempre lembrado em listas de melhores do gênero. A história é das mais interessantes. O capitão Philip Francis Queeg (Humphrey Bogart) assume o comando do navio de guerra denominado Caine, durante a Segunda Guerra Mundial. Há anos a embarcação está precisando de reparos, além de contar com uma tripulação insubordinada e relapsa. Sua linha de comando dura e com forte ênfase nos menores detalhes, leva seu grupo de oficiais a entender que ele estaria passando por algum tipo de problema mental. Durante uma tempestade o tenente Steve Maryk (Van Johnson) resolve assumir o controle do navio. Seria esse um ato heroico ou um motim?

Logo no começo do filme a Marinha dos Estados Unidos deixa claro que nunca houve um motim na sua história e tudo o que o espectador irá assistir é mera ficção baseada no romance escrito por Herman Wouk, que inclusive venceu o Pulitzer, o mais prestigiado prêmio de literatura dos EUA. Certamente uma medida de precaução por parte das forças armadas. Afinal um motim é uma das piores coisas que podem acontecer dentro de um navio de guerra. É a quebra total e completa da hierarquia militar, colocando em risco a vida das pessoas, não apenas da tripulação, como também da sociedade em geral.

O roteiro é muito bem escrito, com destaque para quatro personagens centrais. O primeiro é o próprio capitão Queeg (Bogart), um militar que não aceita o menor deslize em relação ao regulamento da marinha. Para isso toma decisões absurdas que vão contra o bom senso. Também apresenta claros sinais de que não está bem mentalmente. O primeiro a perceber isso é o tenente Tom Keefer (MacMurray) que de certa forma se torna o estopim da destituição de seu comandante e Maryk (Johnson) que resolve arriscar tudo em um ato de extrema coragem para salvar o navio.

Nessa tabuleiro de tensões ainda há espaço para um recém saído tenente da academia militar, Willie Keith (Robert Francis), um jovem inexperiente que sequer consegue sair da sombra de sua mãe dominadora. O filme tem excelentes cenas para a época, com destaque para o momento em que o Caine enfrenta uma terrível tempestade. Depois do motim todos vão parar em uma corte marcial e o enredo dá uma guinada, virando um drama de tribunal militar. É sem dúvida um dos grandes filmes da carreira de Humphrey Bogart que inclusive concorreu ao Oscar de melhor ator. Em suma, temos aqui uma verdadeira obra prima do cinema clássico.

A Nave da Revolta (The Caine Mutiny, Estados Unidos, 1954) Estúdio: Columbia Pictures / Direção: Edward Dmytryk / Roteiro: Stanley Roberts, Michael Blankfort / Elenco: Humphrey Bogart, Robert Francis, José Ferrer, Van Johnson, Fred MacMurray, Tom Tully / Sinopse: Um motim se forma dentro de um navio de guerra da Marinha dos Estados Unidos, colocando em alerta todos os envolvidos na crise. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor filme, melhor direção (Edward Dmytryk), melhor roteiro (Stanley Roberts, Michael Blankfort) e melhor ator (Humphrey Bogart).

Pablo Aluísio.

Música e Lágrimas

Glenn Miller foi um dos nomes mais importantes da história da música norte-americana. Ele morreu muito jovem, com apenas 40 anos de idade em um acidente de avião, algo que chocou a todos na época. Esse filme se propôs a contar sua história, por isso seu título original era mais do que adequado, The Glenn Miller Story. Há aspectos romanceados de sua vida nesse roteiro, mas de maneira em geral temos um bom retrato desse instrumentista e compositor talentoso. A sinopse explica tudo. Glenn Miller (James Stewart) é um músico e maestro de sucesso que resolve fundar ele mesmo uma big band para tocar em bailes e clubes pelos Estados Unidos. O sucesso de suas gravações o levam ao topo da carreira, mas a entrada de sua país na Segunda Guerra Mundial muda completamente seu planos. Após entrar para o esforço de guerra, na força aérea, Miller vê seu destino mudar para sempre nos céus da Europa sob chamas.

Esse "Música e Lágrimas" é sem dúvida um filme muito charmoso e elegante, que se propõe a contar a história do maestro Glenn Miller, que morreu de forma precoce e misteriosa durante a Segunda Guerra Mundial. Outro aspecto que chama muito a atenção é vermos essa parceria entre o cineasta Anthony Mann e o seu ator preferido, James Stewart, funcionar tão bem nesse gênero que não era bem a praia de ambos. Como se sabe a dupla Mann e Stewart brilhou mesmo nos filmes de faroeste, alguns inclusive estão entre as melhores obras primas do estilo. Aqui Stewart deixou seu velho chapéu surrado de cowboy de lado para dublar o talento extraordinário desse famoso músico.

Claro que sendo uma obra dos anos 1950, tudo surge bem romanceado na tela. Aspectos negativos de Miller que surgiram em biografias mais recentes, como o fato de que ele explorava excessivamente os músicos de sua orquestra, pagando baixos salários, por exemplo, são deixados completamente de fora do roteiro. Esse excesso de romantização porém nem pode ser considerado algo completamente negativo, pois, vamos convir, esse tipo de linha do texto do roteiro era comum na época e soa totalmente nostálgico nos dias atuais. Assim deixo a dica para conferir esse "The Glenn Miller Story", a história real de um talentoso artista cuja música certamente nunca morrerá.

Música e Lágrimas (The Glenn Miller Story, Estados Unidos, 1954) Estúdio: Universal Pictures / Direção: Anthony Mann / Roteiro: Valentine Davies, Oscar Brodney / Elenco: James Stewart, June Allyson, Harry Morgan / Sinopse: Essa cinebiograifa histórica conta a história do talentoso música norte-americano Glenn Miller, falecido tragicamente durante a II Guerra Mundial. Filme vencedor do Oscar de Melhor Som. Também indicado nas categorias de Melhor Roteiro e Melhor Música.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 24 de março de 2021

Sortilégio do Amor

Clássico do cinema americano estrelado pelo ótimo James Stewart, aqui acompanhado da beleza e talento da atriz Kim Novak. Vamos voltar ao passado? Qual história nos conta esse filme? Shepherd 'Shep' Henderson (James Stewart) é um editor de livros solteirão que decide se casar com a bela Merle Kittridge (Janice Rule). Seus planos porém sofrem uma mudança brusca um dia antes disso acontecer. Casualmente ele entra numa loja exótica de produtos africanos e acaba conhecendo a dona do estabelecimento, a linda, mas igualmente misteriosa Gillian 'Gil' Holroyd (Kim Novak). O que Shep não sabe é que Gil é na verdade uma bruxa que joga um feitiço de paixão sobre ele, justamente na noite anterior de seu casamento. E isso vai criar muitos problemas em sua vida.

Essa produção dos anos 1950 é um simpática comédia romântica que uniu novamente nas telas a dupla James Stewart e Kim Novak, que tanto sucesso fizeram no clássico de Alfred Hitchcock, "Um Corpo Que Cai". A diferença é que se aquele era um suspense da melhor safra do grande diretor, sendo esse filme aqui é apenas uma simpática estória de romance entre duas pessoas completamente diferentes que acabam se apaixonando. James Stewart está em seu tipo habitual, a do sujeito comum que se vê envolvido numa situação completamente nova em sua pacata vida.

A bela atriz Kim Novak está mais linda do que nunca no papel de Gil, uma bruxa dos tempos modernos. Usando um figurino naturalmente sensual, ela seduz não apenas o personagem de James Stewart, mas o público também, com seu jeito sedutor de falar e agir. Sempre com um gato nas mãos e andando descalça o tempo todo, ela acaba roubando o filme do sempre ótimo James Stewart. O elenco de apoio também é de luxo, com destaque para Jack Lemmon, interpretando o papel do irmão de Novak. Deliciosamente ingênuo e com roteiro bem redondinho (baseado na peça teatral de John Van Druten) esse é um daqueles filmes docemente românticos que ainda divertem e seduzem. Um ótimo programa certamente, principalmente para o público feminino mais nostálgico.

Sortilégio do Amor (Bell Book and Candle, Estados Unidos, 1958) Estúdio: Columbia Pictures / Direção: Richard Quine / Roteiro: John Van Druten, Daniel Taradash / Elenco: James Stewart, Kim Novak, Jack Lemmon, Ernie Kovacs, Janice Rule / Sinopse: James Stewart interpreta o solteirão que após muitos anos decide-se casar. O problema é que na véspera de seu casamento ele é fisgado por uma estranha e exótica mulher que literalmente o enfeitiça de amor. Filme indicado ao Oscar nas categorias Melhor Direção de Arte e Figurino. Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria Melhor Filme - Comédia.

Pablo Aluísio.

A Morte Segue Seus Passos

Quel tal tirar John Wayne do velho oeste? Que tal trazer o ator para uma grande cidade, colocando o veterano ator para interpretar um policial durão de Chicago no mundo atual? Foi justamente esse tipo de inovação que levou os produtores a contratarem John Wayne para estrelar esse filme policial ao melhor estilo Dirty Harry, de Clint Eastwood ou então seguir os passos dos filmes violentos de Charles Bronson. Era uma tentativa de revitalizar a carreira desse grande ícone da história do cinema americano. Ficou bom? Olha, diria que o filme é no mínimo interessante.

Nessa fita policial dos anos 70, com muita discoteque na trilha sonora, John Wayne interpreta o policial de Chicago Brannigan, um tira que age fora das regras e das leis. O mesmo tipo durão que já vimos em centenas de outros filmes antes. Depois de violar as regras mais uma vez, seu comandante o manda em uma missão em Londres. Ele precisa ir para lá para buscar um criminoso internacional. No começo Brannigan pensa que será um serviço fácil. Ele chegará em Londres, receberá o criminoso das mãos da Scotland Yard e o escoltará de volta aos Estados Unidos. Um serviço policial padrão, como diriam os veteranos.

Só que nada disso acontece. A Scotland Yard não tem o criminoso em sua custódia. Pior do que isso, ele é sequestrado por outros bandidos de Londres. E como se tudo isso não fosse ruim o bastante, o tenente Brannigan ainda precisa enfrentar um assassino profissional que foi contratado para matá-lo. O filme, como era de se esperar, tem muita ação e cenas de luta. John Wayne, já na fase final de sua carreira, não compromete. Está sempre empenhado em trabalhar bem. O filme ficou visualmente bonito por causa da própria Londres, com suas ruas e monumentos históricos. Só não espere muita lógica no final quando a trama do sequestro é finalmente revelada. Não faz muito sentido, mas se você chegou até aí, isso não vai fazer muita diferença.

A Morte Segue Seus Passos (Brannigan, Estados Unidos, Inglaterra, 1975) Estúdio: United Artists / Direção: Douglas Hickox / Roteiro: Christopher Trumbo, Michael Butler / Elenco: John Wayne, Richard Attenborough, Mel Ferrer, Judy Geeson, John Vernon  / Sinopse: O tenente Brannigan (Wayne) da polícia de Chicago é enviado até Londres para trazer sob custódia um criminoso internacional, só que ao chegar na capital da Inglaterra ele descobre que ele foi sequestrado por outros criminosos e precisará prendê-lo, ao mesmo tempo em que tentará sobreviver a um assassino profissional que está â sua procura.  

Pablo Aluísio.

terça-feira, 23 de março de 2021

Os Girassóis da Rússia

Esse clássico do cinema italiano conta a história de amor entre o soldado Antonio (Marcello Mastroianni) e a jovem Giovanna (Sophia Loren). Eles se conhecem, começam a namorar e se casam, meio que na base do impulso. Começa a segunda guerra mundial e a Itália se alia com a Alemanha nazista. Antonio é então enviado para o front russo, em pleno inverno. Ali se travou algumas das mais sangrentas batalhas de toda a guerra. Quando a II guerra chega ao fim, ele não retorna para casa. A esposa fica desesperada, tentando descobrir onde ele está, se vivo ou morto. As autoridades não sabem informar seu paradeiro. Assim Antonio é declarado desaparecido em batalha.

A personagem interpretada por Sophia Loren não se conforma. Depois de anos e anos tentando encontrá-lo ela decide ir sozinha para a União Soviética em busca de respostas. Se as autoridades italianas não sabem onde ele foi parar, talvez os russos possam lhe informar alguma coisa. Quando chega em Moscou as coisas não melhoram muito, porém em um lance de sorte incrível ela finalmente descobre pistas de seu marido desaparecido. Será que após tantos anos ela finalmente o encontraria vivo?

Esse filme "Os Girassóis da Rússia" foi dirigido pelo cineasta italiano Vittorio De Sica, considerado um dos grandes nomes da história do cinema europeu. Ele de fato procurou seguir passos de outros épicos românticos da época, como por exemplo, "Dr. Jivago". O resultado ficou muito bom, diria até mesmo expressivo. Essa foi uma das poucas produções ocidentais que tiveram autorização para realizar filmagens em Moscou, na praça vermelha e no Kremlin. Na época era impensável que um filme americano seria filmado por lá, por exemplo. No final, quando chegamos ao clímax, a música sobe e o romantismo, que imperou durante quase todo o filme, dá vez para um realismo duro, porém mais do que adequado para a história. Um final que apesar de não ser feliz, era mesmo a melhor opção para essa história de amor, guerra e tragédia.

Os Girassóis da Rússia (I girasoli, Itália, França, Inglaterra, 1970) Direção: Vittorio De Sica / Roteiro:  Tonino Guerra, Cesare Zavattini / Elenco: Sophia Loren, Marcello Mastroianni, Lyudmila Saveleva / Sinopse: Após o fim da II Guerra Mundial, jovem esposa de soldado desaparecido não se conforma pela falta de notícias sobre o que teria acontecido com ele na guerra. Assim parte para a União Soviética em busca de respostas. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor trilha sonora incidental original (Henry Mancini).

Pablo Aluísio.

Sangue Sobre a Neve

Um filme clássico com temática bem diferente, diria até que extremamente exótico. Assim poderia definir esse "Sangue Sobre a Neve". Qual é a história contada no filme? Em uma parte do mundo gelado, no Ártico, vive Inuk (Anthony Quinn). Ele é um nativo selvagem que vive nos confins do Polo Norte congelado e inóspito, um esquimó com pouco contato com a civilização das cidades. Com jeito rude e direto, ele acaba sendo ofendido por um padre e sem medir as consequências de seus atos comete um assassinato. Perseguido pela polícia, ele se aventura pelas regiões mais isoladas em busca de refúgio. Escapará das leis do chamado homem civilizado?

Esse é um filme curioso sobre esquimós, com Anthony Quinn, Peter O Toole e direção de Nicholas Ray. O roteiro foca nos costumes dos nativos das regiões mais geladas do planeta e o choque que pode existir entre a cultura deles e as leis do homem dito civilizado. O roteiro do filme se apoia bastante naquela visão do "bom selvagem", algo que está bem claro até mesmo no nome original da produção, "The Savage Innocents", algo como os inocentes selvagens. É a velha teoria de que o homem nasce bom e puro até ser corrompido pela civilização dita avançada. Muitos obviamente não comprarão a ideia por trás de tudo, mas a intenção de expor esse tipo de visão não deixa de ser válida.

Em termos puramente cinematográficos vale o elogio para a boa atuação de Anthony Quinn pois o papel lhe caiu muito bem. Seu biotipo inclusive é perfeito para o personagem. Curiosamente há poucos diálogos em praticamente todo o filme e Quinn precisa utilizar bastante de uma atuação mais física do que verbal, algo em que se sai muito bem. Bem fotografado, com cenas de estúdio, intercaladas com cenas externas de locação, no norte do Canadá, terra gelada e sem fim, o filme é bem interessante, principalmente para estudantes de sociologia e ciências sociais em geral. É o que costumo chamar de "filme tese" que defende uma ideia por trás de tudo. Mesmo assim quem estiver em busca apenas de uma boa aventura clássica também não vai se decepcionar.

Sangue Sobre a Neve (The Savage Innocents, Estados Unidos, 1960) Estúdio: Paramount Pictures / Direção: Nicholas Ray / Roteiro: Hans Ruesch, Franco Solinas / Elenco: Anthony Quinn, Peter O'Toole, Yoko Tani, Carlo Giustini / Sinopse: O filme retrata a vida de um esquimó selvagem que mora no Polo Norte do planeta, em uma parte da Terra onde tudo parece inóspito e congelado. Após se envolver em um crime ele passa a ser perseguido por pessoas que querem levá-lo a um julgamento de acordo com as leis do homem civilizado. Filme indicado à Palma de Ouro no Cannes Film Festival.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 22 de março de 2021

Um Homem Chamado Cavalo

Clássico filme de faroeste dos anos 70. Muito popular no Brasil. E que história esse filme nos conta? John Morgan (Richard Harris) é um nobre inglês que entediado com a vida de riqueza e luxo que leva na Inglaterra, resolve viajar até o oeste americano em busca de aves exóticas para caçar. Numa dessas suas excursões por regiões remotas ele e seu pequeno grupo de apoio acabam sendo atacados por guerreiros nativos que, após assassinar seus assistentes, o leva cativo para sua tribo. Lá será tratado como um mero animal, um cavalo, sem direitos e com muitos deveres, como trabalhar duro e sofrer punições sempre que desobedecer as ordens impostas. Assim tudo que ele planeja e pensa é de uma forma de escapar de seus algozes, mas conforme o tempo passa ele aos poucos começa a se inserir dentro daquela comunidade nativa, revelando um lado completamente desconhecidos dos índios que o mantém como prisioneiro.

Muito citado, muito lembrado pelos fãs de Western, "A Man Called Horse" realmente é um grande filme. Não apenas por sua proposta ousada e diferente, mostrando em primeiro plano a vida dos nativos americanos, mas também pelo roteiro que consegue ser ao mesmo tempo muito instrutivo e realista. Filmes sobre índios americanos geralmente sofrem por abraçarem certas ideias impregnadas de ideologias e preconceitos seculares contra eles. Por exemplo, ou os indígenas eram retratados usando daquela visão simplória e romântica do "bom selvagem de coração puro" ou então se explorava o lado oposto, quando eram mostrados como selvagens sanguinários e cruéis. "Um Homem Chamado Cavalo" não adota nenhuma dessas posturas isoladamente. Certamente os índios mostrados aqui são violentos, torturadores e sádicos, mas também possuem grandes valores de honra e proteção para com seus familiares, sua cultura, sua nação. Uma etnia que tenta sobreviver aos novos tempos.

O personagem interpretado por Richard Harris é um exemplo por demais interessante de um homem civilizado colocado em choque cultural com aquele modo de vida primitivo. O interessante é que ao final ele descobre que há muito mais a se desvendar no seio daquele povo, algo bem diverso do que ele pensava dentro de sua mentalidade dita civilizada, do homem europeu. O filme até hoje chama a atenção por cenas realmente marcantes como o momento em que John Morgan (Richard Harris) é alçado pela própria pele em um brutal ritual para provar sua bravura, ou nas diversas situações aflitivas quando é tratado apenas como um animal, sendo que na visão do homem branco europeu o nativo americano é que se assemelhava a um animal selvagem, solto nas pradarias do oeste. Em suma, grande momento do cinema americano que até hoje é relembrado com respeito e admiração. Nada mais justo em vista da extrema qualidade apresentada pela película.

Um Homem Chamado Cavalo (A Man Called Horse, Estados Unidos, 1970) Estúdio: Paramount Pictures, Columbia Pictures / Direção: Elliot Silverstein / Roteiro: Jack DeWitt, Dorothy M. Johnson / Elenco: Richard Harris, Judith Anderson, Jean Gascon, Manu Tupou, Corinna Tsopei / Sinopse: Nativos do oeste dos Estados Unidos capturam um nobre inglês que passava por suas terras em uma expedição de exploração da natureza selvagem. Uma vez nas mãos dos índios, ele passa a ser tratado como um mero animal, um cavalo da tribo. Filme premiado pelo festival de cinema Western Heritage Award. Também indicado ao Laurel Awards.

Pablo Aluísio.

O Retorno do Homem Chamado Cavalo

O sucesso do primeiro filme fez com que a United Artists providenciasse uma sequência, seis anos depois do lançamento do filme original. Era de esperar pois o anterior tinha se tornado um dos filmes mais lucrativos do estúdio. Então foi produzido esse segundo filme intitulado "O Retorno do Homem Chamado Cavalo". Qual era a história dessa continuação? Após voltar para a Inglaterra, John Morgan (Richard Harris) começa a sentir falta do oeste americano, onde viveu grandes experiências de vida. Assim após pouco tempo decide retornar para o meio da nação Sioux, mas uma vez chegando lá percebe que tudo está praticamente destruído. A perseguição do homem branco arruinou o estilo de vida dos nativos locais, suas tribos, suas tradições, seus costumes, seu legado. Tomado por um grande sentimento de justiça ele resolve se vingar dos assassinos daquele povo.

Também conhecido como "A Vingança do Homem Chamado Cavalo" essa continuação de "Um Homem Chamado Cavalo" foi rodado a toque de caixa por causa do sucesso inesperado do primeiro filme. Essa produção está inserida naquilo que depois começou a ser conhecido como "western revisionista", ou seja, filmes de faroeste que procuravam por uma nova abordagem histórica. Se nos antigos filmes havia a luta entre colonizadores e nações nativas, sendo geralmente retratados os índios como os vilões, aqui o foco muda de lado. Procura-se mostrar também o lado dos Sioux, tribo guerreira que foi sendo dizimada pela cavalaria americana.

Ao invés de mostrá-los apenas como bestas selvagens assassinas, aqui o personagem de Richard Harris tenta mostrar ao espectador os costumes e as tradições daqueles povos, colocando em relevo a matança genocida que foi feita pelos soldados americanos durante a história da colonização do velho oeste. Além desse cunho social o filme também investe em muitas cenas de ação e batalhas. Richard Harris é certamente o coração desses filmes. Um ator que realmente se entregava de corpo e alma para os papéis que desempenhava. Assim como aconteceu no primeiro filme, nesse aqui ele literalmente rouba o filme para si. Aliás essa saga "A Man Called Horse" jamais sequer se justificaria sem seu grande trabalho de atuação.

O Retorno do Homem Chamado Cavalo (The Return of a Man Called Horse, Estados Unidos, 1976) Estúdio: United Artists / Direção: Irvin Kershner / Roteiro: Jack DeWitt, Dorothy M. Johnson / Elenco: Richard Harris, Gale Sondergaard, Geoffrey Lewis / Sinopse: Cinco anos após os acontecimentos do primeiro filme, o Lord inglês John Morgan (Richard Harris) decide que é hora de superar os traumas do que viveu no oeste dos Estados Unidos. Ele então pega o primeiro navio e retorna para a mesma região onde foi aprisionado por nativos. E lá descobre que a situação está ainda mais séria do que quando deixou aquele lugar no passado. Filme dirigido por Irvin Kershner, o mesmo diretor de "O Império Contra-Ataca" e "007 - Nunca Mais Outra Vez".

Pablo Aluísio.