segunda-feira, 8 de julho de 2019

Ataque das Loiras

Título no Brasil: Ataque das Loiras
Título Original: Blonde and Blonder
Ano de Produção: 2007
País: Canadá
Estúdio: Rigel Entertainment
Direção: Dean Hamilton, Bob Clark
Roteiro: Rolfe Kanefsky, Dean Hamilton
Elenco: Pamela Anderson, Denise Richards, Emmanuelle Vaugier, Meghan Ory, Joey Aresco, Garry Chalk

Sinopse:
Dee Twiddle (Anderson) e Dawn St. Dom (Richards) são duas loiras burras que acabam sendo confundidas com outra dupla, de assassinas profissionais. Isso cria uma série de confusões e mal entendidos.

Comentários:

É ruim demais. É ruim de doer. É incrível acreditar que algum produtor teve a coragem de investir dinheiro em algo tão ruim. O filme se propõe a ser uma comédia nonsense com duas protagonistas que se valem de sua loirice e burrice para escapar das piores situações. Só que tudo é tão sem graça que chega a ser constrangedor. Pamela Anderson mais parece uma boneca inflável. Como seu talento é bem escasso ela se utiliza de seus óbvios dotes físicos para manter o interesse do espectador chocado com tanta ruindade. Assim a loira ao estilo bombshell desfila decotes, cada vez menores, para mostrar seus peitos turbinados por silicone. E acabou, it´s over, isso é o máximo que você vai encontrar nessa fitinha de quinta categoria. E para não dizer que não dei risadas, dei duas. A primeira ao descobrir o tamanho da ruindade desse filme tosco. A segunda na cena do mensageiro retardado do hotel. É tão idiota que tive que rir, mesmo contra a vontade! Santo filme ruim, Batman!

Pablo Aluísio.

domingo, 7 de julho de 2019

Hellboy

Esse é o terceiro filme do personagem Hellboy para o cinema, mas não pense que se trata da conclusão de uma trilogia. Na verdade é um novo recomeço. O estúdio decidiu recomeçar do zero, contratando um novo diretor, outra equipe técnica e um outro ator para interpretar o garoto do inferno. Quem herdou a maquiagem pesada foi David Harbour que até se saiu bem em seu trabalho, ficando inclusive até mais parecido com o Hellboy dos quadrinhos do que seu colega dos filmes anteriores, Ron Perlman. Dito isso esse novo filme também apresenta problemas. O mais grave deles é a falta de novidades, surpresas, para quem assistiu aos dois outros filmes. Nada do que você verá aqui vai soar como algo que você nunca viu antes. É praticamente uma repetição, com melhores efeitos especiais, é verdade, mas nada muito além disso.

O roteiro também não me pareceu grande coisa. Há uma bruxa que foi desmembrada e aprisionada pelo Rei Arthur no passado. Agora ela é trazida de volta. Apenas a lendária espada Excalibur pode destruir seus planos. E nessa simbiose entre as lendas de Arthur e Merlin com o universo do Hellboy, ainda arranjaram um jeito de colocar ele como um de seus descendentes, o único que poderia empunhar a arma contra a bruxa. É isso é tudo. Achei forçado e nada criativo. O final do filme também é bem previsível, nada espetacular. De bom mesmo há algumas cenas que fazem valer a pena o preço do ingresso, entre elas uma luta entre Hellboy e três gigantes. Tecnicamente perfeita, inclusive no design dos monstros, só não ficou melhor porque não dura muito. Mais um erro da direção. Afinal se o enredo não ajuda muito, deveria se focar mais naquilo que deu certo no filme. Regra básica de cinema pop. Pena que são apenas momentos pontuais, que acabam não elevando muito a qualidade cinematográfica desse filme como um todo. Com isso o que sobra é apenas uma diversão ligeira, de consumo rápido e descartável.

Hellboy (Estados Unidos, 2019) Direção: Neil Marshall / Roteiro: Andrew Cosby, baseado nos personagens de quadrinhos criados por Mike Mignola/ Elenco: David Harbour, Milla Jovovich, Ian McShane / Sinopse: Hellboy (David Harbour) precisa enfrentar uma bruxa milenar que está de volta após passar séculos aprisionada pelo Rei Arthur. Ela quer usar a força infernal de Hellboy para criar um apocalipse final para a humanidade.

Pablo Aluísio.

Hellboy II - O Exército Dourado

Título no Brasil: Hellboy II - O Exército Dourado
Título Original: Hellboy II - The Golden Army
Ano de Produção: 2008
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Guillermo del Toro
Roteiro: Guillermo del Toro
Elenco: Ron Perlman, Selma Blair, Doug Jones, John Alexander, Seth MacFarlane, Luke Goss

Sinopse:
Hellboy (Ron Perlman) e sua trupe precisam salvar a Terra de um nobre vindo das trevas que decide espalhar medo e destruição em represália a tudo o que lhe aconteceu no passado. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Maquiagem.

Comentários:
Era para ser o segundo filme de uma trilogia sobre o personagem Hellboy. Tudo estava bem planejado pelo estúdio e pelo diretor Guillermo del Toro. Só que esse segundo filme custou caro demais, 85 milhões de dólares e nas bilheterias não conseguiu romper a barreira dos 100 milhões. Resultado? O estúdio achou que o filme decepcionou nas bilheterias. A ideia inicial da trilogia assim foi cancelada, algo que irritou muito o ator Ron Perlman. Ele inclusive disse em entrevistas recentes que esse cancelamento ainda hoje o irrita profundamente. Ao invés de um terceiro filme o estúdio então decidiu recomeçar tudo do zero, com essa recente produção que chegou a pouco nos cinemas (e que também decepcionou os produtores comercialmente). E olha que esse segundo filme não era ruim. Tinha mais efeitos especiais, mais personagens e a produção era bem mais rica e cuidada. O problema parece ter sido mesmo o roteiro. Guillermo del Toro esqueceu de escrever algo realmente bom. Com isso a primeira franquia dos filmes de Hellboy simplesmente afundou. Uma pena.

Pablo Aluísio.

sábado, 6 de julho de 2019

O Xangô de Baker Street

Título no Brasil: O Xangô de Baker Street
Título Original: O Xangô de Baker Street
Ano de Produção: 2001
País: Brasil, Portugal
Estúdio: MGN Filmes
Direção: Miguel Faria Jr.
Roteiro: Marcos Bernstein
Elenco: Joaquim de Almeida, Anthony O'Donnell, Maria de Medeiros, Letícia Sabatella, Cláudia Abreu, Claudio Marzo

Sinopse:
Baseado no livro escrito por Jô Soares, o filme conta a divertida estória da visita ao Rio de Janeiro do lendário detetive inglês Sherlock Holmes que ao lado de seu fiel assistente Dr. Watson, chegam ao Brasil para desvendarem um mistério sobre o desaparecimento de um raro violino Stradivarius.

Comentários:
Eu gosto bastante de Jô Soares. Considero um dos grandes nomes do humor brasileiro. Também curto bastante seus livros de ficção que geralmente são criativos e bem escritos. Ele só não teve muita sorte na adaptação desse seu primeiro livro para o cinema. É uma pena, o filme já tinha uma boa estória para contar, boa produção, orçamento, etc. Tudo estava pronto para mais um bom filme da retomada do cinema nacional. O problema é que erraram na escolha do elenco. O português Joaquim de Almeida foi escalado para interpretar o inglês Sherlock Holmes. Colocar um português tentando imitar o sotaque inglês em um filme que deveria ser destinado ao público brasileiro foi um equívoco e tanto. Não que Joaquim de Almeida não seja um bom ator, o problema é sua dicção horrorosa durante o filme. Você vai entender pouca coisa do que ele diz, porque está simplesmente péssimo seu sotaque incompreensível. Esse pequeno grande detalhe acabou estragando o potencial do filme, inclusive nas piadas criadas por Jô, que aqui ficam enterradas quando o público, com dificuldade, tenta entender o que diabos o Joaquim de Almeida está falando. Um erro crucial que acabou comprometendo todo o filme.

Pablo Aluísio.

A Dama do Lotação

Título no Brasil: A Dama do Lotação
Título Original: A Dama do Lotação
Ano de Produção: 1978
País: Brasil
Estúdio: Embrafilme
Direção: Neville de Almeida
Roteiro: Neville de Almeida
Elenco: Sônia Braga, Nuno Leal Maia, Jorge Dória, Paulo César Peréio, Yara Amaral, Claudio Marzo

Sinopse:
Com roteiro baseado na obra de Nelson Rodrigues, o filme "A Dama do Lotação" conta a história de Solange (Sônia Braga), uma bela e jovem mulher que supera as infelicidades e frustrações de seu casamento ao se encontrar com homens em Ônibus pela cidade.

Comentários:
Devemos reconhecer a coragem de todos que fizeram parte desse filme. Em meio a uma ditadura militar eles conseguiram fazer um filme baseado em Nelson Rodriguas e ainda caprichar nas tinas da sensualidade de uma estrela da TV, a bela Sônia Braga. E tudo produzido ainda por cima por  uma estatal, a Embrafilme. Olhando-se para o passado realmente é uma surpresa que tal filme tenha sido produzido e lançado naqueles anos de chumbo da história do Brasil. De qualquer forma o filme está aí. Um interessante estudo da sexualidade feminina, ainda mais quando reprimida ao extremo pelas circunstâncias daqueles tempos. Sônia Braga, linda e talentosa, é a grande razão da existência do filme. Ainda hoje impressiona nas cenas mais ousadas. Envelheceu um tanto, isso é verdade, mas ainda funciona como retrato da coragem das pessoas que faziam cinema naquela época.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

Em Nome do Rei

Título no Brasil: Em Nome do Rei
Título Original: In the Name of the King: A Dungeon Siege Tale
Ano de Produção: 2007
País: Estados Unidos, Alemanha, Canadá
Estúdio: 20th Century Fox
Direção: Uwe Boll
Roteiro: Doug Taylor, Jason Rappaport
Elenco: Jason Statham, Ron Perlman, Ray Liotta, Leelee Sobieski, Kristanna Loken, Matthew Lillard

Sinopse:
Um simples homem do campo vê sua vida ser destruída por estranhas criaturas. Agora ele partirá para a vingança contra todos aqueles que destruíram seus sonhos em um reino medieval repleto de violência e selvageria.

Comentários:
Existem aqueles que odeiam os filmes do diretor Uwe Boll. Eu nunca julgo um filme antes de assisti-lo, o condenando apenas por ter sido dirigido por alguém que fez filmes que no passado me decepcionaram. Assim fui ver essa aventura medieval sem préjulgamentos. Acabei me divertindo. OK, não é nenhuma obra prima da sétima arte, mas se mantém em um bom patamar, até mesmo de produção já que o filme custou mais de 60 milhões de dólares. Além de Jason Statham como o protagonista, o filme ainda apresenta um elenco coadjuvante bem bacana. Ron Perlman, o Hellboy, está no elenco com seu tipo bem característico de homem rude, violento. Ray Liotta (alguém lembrou de "Os Bons Companheiros" por aí?) também ajuda muito no resultado final. E por fim ainda há a beleza de Leelee Sobieski, atriz que sempre considerei das mais bonitas em Hollywood. Fora isso muitas lutas de espadas e aquela brutalidade típica dos tempos medievais. Dá para assistir numa boa, sem se aborrecer em nenhum momento.

Pablo Aluísio.

Como se Fosse a Primeira Vez

OK, Adam Sandler é provavelmente um dos atores mais insuportáveis do cinema americano, em todos os tempos. Ele parece ter preferência em sempre fazer um filme mais idiota do que o outro, numa espécie de escala de imbecilidade que cresce a cada ano, indo parar nas nuvens. Esse aqui porém é uma boa exceção em sua filmografia de marmelada. O que salvou essa comédia romântica do desastre foi seu roteiro, que sempre achei bem criativo. A premissa é simples: Drew Barrymore interpreta uma garota que sempre perde a memória ao final do dia, ou seja, ela esquece completamente de tudo do que lhe aconteceu antes, isso da noite para o dia. Assim seu parceiro precisa conquistá-la todos os dias, sem exceção. Um exercício de paciência e amor sem fim.

Algumas pessoas poderiam reclamar de se fazer piada em cima de uma doença que realmente existe, uma síndrome terrível que atinge pessoas ao redor do mundo. A questão porém não é essa, pois o roteiro nunca é desrespeitoso com isso. Certo, há cenas que quase vão para o pastelão, mas no geral a coisa se desenvolve mesmo ao nível do romance entre o casal. Curiosamente assisti a esse filme no cinema, em uma época em que ia muito ao cinema, lá por volta de 2004. Assim acabava vendo de tudo. Hoje em dia não pagaria ingresso para ver algo desse nível, mas no geral provavelmente também não ficaria arrependido mortalmente de ver na tela grande. Isso porque "Como se Fosse a Primeira Vez" foi salvo por seu roteiro bem bolado e pela sempre carismática presença da atriz Drew Barrymore que com seu olhar de garota avoada combinou perfeitamente com sua personagem.

Como se Fosse a Primeira Vez (50 First Dates, Estados Unidos, 2004) Direção: Peter Segal / Roteiro: George Wing / Elenco: Adam Sandler, Drew Barrymore, Rob Schneider / Sinopse: Homem apaixonado (Sandler) precisa reconquistar a mulher de seus sonhos a cada dia, pois ela tem uma síndrome que lhe faz perder todas as memórias. Assim a cada dia eles precisam ter um primeiro encontro, que parecem nunca ter fim.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Anjos na América

Título no Brasil: Anjos na América
Título Original: Angels in America
Ano de Produção: 2003
País: Estados Unidos
Estúdio: HBO
Direção: Mike Nichols
Roteiro: Tony Kushner
Elenco: Al Pacino, Meryl Streep, Patrick Wilson, Emma Thompson, Mary-Louise Parker, Jeffrey Wright

Sinopse:
Minissérie em sete episódios que conta o drama das pessoas que foram infectadas pelo vírus HIV durante a década de 1980. Uma nova doença que surgia, sem cura, que praticamente condenava à morte os que eram diagnosticados com ela. Vencedor de 3 prêmios no Globo de Ouro, incluindo o de Melhor Minissérie do ano. 

Comentários:
A AIDS apareceu no final dos anos 70. Inicialmente dita como uma espécie de "câncer gay" por atingir principalmente homossexuais, logo se espalhou entre a população em geral, levando milhares de pessoas à morte. Essa minissérie da HBO foi a primeira a levar o tema para a TV americana em forma de episódios. Cada um contando a história de uma pessoa que foi diagnosticada com a doença na década de 1980. Naquela época era uma sentença de morte pois a medicina e a ciência ainda não tinham desenvolvido um tratamento que prolongasse a vida dos doentes. O coquetel químico, hoje aplicado nos infectados, ainda era algo em vias de elaboração. Assim a morte era praticamente certa. Pelo tema e pela importância do assunto vários astros de Hollywood aceitaram trabalhar no projeto, entre os mais conhecidos temos Al Pacino, Meryl Streep e Emma Thompson. Eles que sempre atuaram apenas em filmes para o cinema abriram uma exceção. Afinal muitos tiveram parentes e amigos atingidos pela doença. No mais o tema é tratado com uma grande sensibilidade e respeito para com as vítimas, tudo resultando em uma série excelente, acima da média. 

Pablo Aluísio.

Ben - O Rato Assassino

Título no Brasil: Ben - O Rato Assassino
Título Original: Ben
Ano de Produção: 1972
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Phil Karlson
Roteiro: Phil Karlson, Alain Keisker
Elenco: Lee Montgomery, Joseph Campanella, Arthur O'Connell

Sinopse:
Um garoto solitário, que não recebe atenção dos pais, torna-se amigo de um rato a quem passa a chamar de Ben. Ocorre que o animal é também o líder de um bando de ratos assassinos que matam humanos e deixam a cidade em estado de alerta.

Comentários:
O enredo é simples. Um garoto acaba se ligando emocionalmente com um rato de esgoto. E o animal parece interagir com as emoções do menino, punindo os que lhe fazem mal, trazendo um caos para a cidade como um todo. Hoje em dia o filme é muito mais lembrado por causa de sua trilha sonora pois a música tema é "Ben", cantado por Michael Jackson. Aliás verdade seja dita, justiça seja feita, a música é linda mesmo, maravilhosa em todos os aspectos. Em termos puramente cinematográficos o filme "Ben" também não é ruim, muito pelo contrário. Sua mistura de terror com uma certa melancolia, um drama infanto juvenil, até hoje se mantém interessante. Nos anos 80 o filme foi campeão de reprises em canais abertos no Brasil o que fez criar uma certa saturação. Hoje em dia já pode ser considerado um pequeno cult movie do terror.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 3 de julho de 2019

O Imperador de Paris

O cinema francês tem apresentado excelentes filmes nesses dois últimos anos. Um dos que mais gostei de assistir foi esse "O Imperador de Paris". O roteiro conta a história real de um criminoso procurado chamado François Vidocq (Vincent Cassel). Após ser condenado a cumprir pena em um navio ele consegue fugir, voltando ao continente. Só que agora, para escapar do radar dos policiais, tenta viver uma nova vida como comerciante de tecidos em feiras das cidades do interior. Sua fama o precede e em pouco tempo é novamente reconhecido. De volta à ativa propõe um acordo incomum com o chefe do departamento de polícia. Ele ajudará o homem da lei a prender todos os criminosos procurados de Paris em troca de indulto de seus crimes no passado. E assim começa a agir nas ruas mais sujas e sombrias da capital francesa. A ideia é realmente limpar as ruas da escória de criminosos de todos os tipos.

Não é a primeira vez que fazem um filme sobre François Vidocq. Ele chegou inclusive a ser o protagonista de um filme americano, "Vidocq, Um Escândalo em Paris", de Douglas Sirk em 1946. Obviamente era uma versão bem fantasiosa de sua vida. Nesse novo filme as coisas são mais de acordo com os registros históricos que existem sobre ele. Inclusive o verdadeiro Vidocq viveu em um período muito interessante da história francesa, quando a revolução mandava milhares de pessoas para a guilhotina. Seu auge porém aconteceu quando Napoleão Bonaparte subiu ao poder. Seu título de "Imperador das ruas de Paris", dado por um jornal da época, era praticamente uma sátira à figura de Napoleão. Enquanto esse conquistava nações no exterior, o criminoso François Vidocq era o homem que realmente mandava na capital francesa, com seu modo de agir baseado na violência e na justiça com as próprias mãos. Enfim, um filme realmente muito bom, com ótima reconstituição de época e a brilhante interpretação do ator Vincent Cassel, um dos melhores do atual cinema francês. Se você gosta de cinema europeu não deixe de conferir essa nova versão da vida de um homem que ao seu próprio modo também entrou para a história da França.

O Imperador de Paris (L'Empereur de Paris, França, 2018) Direção: Jean-François Richet / Roteiro: Éric Besnard / Elenco: Vincent Cassel, Olga Kurylenko, Freya Mavor, August Diehl / Sinopse: Baseado em fatos históricos reais o filme conta a história do criminoso procurado François Vidocq (Vincent Cassel). Após ser capturado de novo pela polícia de Paris ele faz um trato informal com o chefe de polícia da cidade. Ele ajudará a eliminar os principais criminosos em troca de um indulto por seus crimes no passado. E tudo se passa durante o período imperial com Napoleão Bonaparte no poder. Filme indicado ao César Awards nas categorias de melhor figurino (Pierre-Yves Gayraud) e melhor design de produção (Emile Ghigo).

Pablo Aluísio.

Gauguin: Viagem ao Taiti

Excelente filme. Especialmente indicado para quem aprecia a biografia dos grandes mestres da pintura. Aqui o enfocado é o genial Paul Gauguin (Vincent Cassel). Embora nos dias de hoje sua obra seja plenamente reconhecida, em sua época a situação era bem diferente. Ele não conseguia vender seus quadros e com família numerosa em Paris passou por inúmeras dificuldades financeiras. Até que um dia tem uma ideia. Ele iria se mudar para a Polinésia Francesa, um lugar bucólico, onde as pessoas viviam felizes e não precisavam de dinheiro. Claro, essa era uma idealização da cabeça do próprio pintor, nada condizente com a realidade, algo que ele iria aprender da pior maneira possível. Então ele parte rumo ao seu paraíso terrestre. A família, por sua vez, não o acompanha. A mãe das crianças logo percebeu que tudo não passava de mais uma loucura da cabeça do artista.

E uma vez no Taiti, Gauguin cairia na real. As pessoas de lá não viviam sem dinheiro e nem aquele lugar era o paraíso que ele imaginou. Logo precisou vender seus quadros e esculturas nas feiras locais, completamente miserável, sem dinheiro nenhum para sobreviver. Para piorar ainda teve mais filhos com uma nativa chamada Tehura. Mais filhos, mais bocas para alimentar, mais miséria. Era uma repetição do que ele havia passado em Paris. Para ganhar dinheiro então começa a trabalhar como estivador no porto da região, tudo para alimentar a esposa e as crianças. O filme, obviamente, não conta uma história com final feliz. Gauguin tinha uma visão romântica e idealista da vida e pagou para ver. Claro que em um mundo como o nosso o preço foi alto, porém a despeito de tudo isso ele foi um artista que viveu em seus próprios termos, que viveu como bem quis. Nesse ponto temos realmente uma história de coragem e luta pelo direito de existir como um artista. O filme é, como já escrevi, belíssimo. Além de contar uma história edificante, ainda traz uma interpretação inspirada do sempre competente ator Vincent Cassel. Sua transformação física e psicológica como Paul Gauguin realmente impressiona o espectador.

Gauguin: Viagem ao Taiti (Gauguin - Voyage de Tahiti, França, 2017) Direção: Edouard Deluc / Roteiro: Edouard Deluc, Etienne Comar  / Elenco: Vincent Cassel, Tuheï Adams, Malik Zi / Sinopse: O filme conta a história real do pintor Paul Gauguin (Vincent Cassel). Em determinado momento de sua vida ele decidiu que queria deixar Paris e o mundo civilizado para trás, para viver uma vida simples de artista, onde o dinheiro não teria mais importância. Assim viaja ao distante Taiti, onde logo suas esperanças se tornam pesadelo.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 2 de julho de 2019

Os Demônios de São Petersburgo

No mínimo é curioso assistir a um filme italiano contando uma história russa, dos tempos da dinastia Romanov. O protagonista é ninguém menos do que o famoso escritor Fyodor Dostoyevsky. Ele já está numa idade mais avançada, tentando sobreviver com seus livros, o que não é uma tarefa fácil pois tem um editor desonesto aliado ao seu eterno vício em jogos de azar. Quando jovem ele havia flertado com ideias socialistas, mas agora acha tudo um erro. O velho movimento comunista porém esbarra nele de novo, na pele de alguns jovens idealistas que pensam que vão mudar o mundo. O escritor já tem experiência de vida suficiente para saber onde tudo aquilo vai parar, ou seja, em mortes desnecessárias de pessoas inocentes. Por isso acaba adotando um comportamento de aconselhamento para com esses jovens comunistas que, cegados pela ideologia, planejam um atentado contra um dos membros da família imperial russa.

Esse filme me deixou intrigado porque apesar de não ser uma excelente obra cinematográfica mantém o interesse. Todo filmado na Rússia, a fotografia ficou muito bonita, principalmente porque captou todo o gelo e a neve da natureza, um clima da frio eterno do qual só conseguimos ver o alto dos prédios e das igrejas ortodoxas. Tudo o mais fica envolto no meio de toda aquela neblina congelante. A direção não é grande coisa, nem a edição, mas o elenco é muito bom, em especial o ator sérvio Predrag 'Miki' Manojlovic. Ele interpreta o velho escritor marcado pelos anos vividos. Com longa barba e semblante pensativo, ele convence plenamente em seu papel. Enfim, o filme, apesar de alguns erros pontuais, não deixa de ser uma boa oportunidade para conhecermos a atual produção italiana de cinema.

Os Demônios de São Petersburgo (I demoni di San Pietroburgo, Itália, 2008) Direção: Giuliano Montaldo / Roteiro: Andrey Konchalovskiy, Giuliano Montaldo / Elenco: Predrag 'Miki' Manojlovic, Carolina Crescentini, Roberto Herlitzka / Sinopse: Durante o império russo, dos tempos dos czares, o famoso escritor Fyodor Dostoyevsky acaba se envolvendo com um grupo de jovens socialistas que desejam a revolução comunista em seu país. Ele tenta aconselhar os rebeldes a não usarem da violência em seus objetivos, mas acaba tendo que se contentar em ver tudo o que lhe aconteceu no passado, acontecendo de novo na vida de todos aqueles jovens idealistas de esquerda.

Pablo Aluísio.

Casamento Grego

Título no Brasil: Casamento Grego
Título Original: My Big Fat Greek Wedding
Ano de Produção: 2002
País: Estados Unidos, Canadá
Estúdio:  Gold Circle Films, Home Box Office (HBO)
Direção: Joel Zwick
Roteiro: Nia Vardalos
Elenco: Nia Vardalos, John Corbett, Michael Constantine, Christina Eleusiniotis, Kaylee Vieira, John Kalangis

Sinopse:
O filme conta a história da solteirona Toula (Nia Vardalos). Com mais de 30 anos ainda não encontrou o homem certo para se casar. Até que um dia encontra o seu príncipe encantado. Em pouco tempo decide se casar com ele, que para surpresa de sua família, não é grego!

Comentários:
O nome original desse filme poderia ser traduzido como "O Meu grande e exagerado casamento grego" e isso resume bem seu roteiro. O filme é bem isso aí. Na realidade é um filme que começou pequeno, sem nenhuma pretensão, mas que aos poucos foi ganhando a simpatia do público e da crítica. Chegou inclusive a ser indicado ao Oscar na categoria de melhor roteiro original que foi escrito pela própria atriz Nia Vardalos. Com trilha sonora cheia de músicas do grupo ABBA (o suprassumo para casamentos bregas) o filme se mantém pelo bom humor e por uma certa melancolia disfarçada que vai passando sobre a vida da protagonista. Porém o mais curioso de tudo é saber que esse filme acabou dando origem a um boom de filmes sobre casamentos. A maioria dessas "imitações" eram comédias românticas ruins de doer. De qualquer maneira, por ter sido uma espécie de pioneiro nesse subgênero irritante, vale a pena conferir para saber onde tudo começou. Teve uma continuação em 2016, mas essa sequência não tive vontade nenhuma de conferir.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 1 de julho de 2019

Sobibor

O campo de concentração de Sobibor ficou bem conhecido na história da II Guerra Mundial porque foi lá que houve a maior fuga em massa de prisioneiros da guerra. Liderados por um comandante russo aprisionado, os prisioneiros mataram diversos oficiais alemães e deram origem a uma fuga onde mais de 400 pessoas fugiram das garras do nazismo. Quem é mais veterano em termos de cinefilia vai lembrar imediatamente de "Fuga de Sobibor", clássico de guerra com Rutger Hauer. É a mesma história, só que contada de um ponto de vista diferente. É fato que os nazistas eram porcos desumanos que faziam todo tipo de crime a atrocidade nesses campos, mas aqui fica mais evidente que eles eram também corruptos e ladrões, roubando pertences de judeus que eram levados para as câmeras de gás. O que era para ser levado ao Estado, ao Reich, era simplesmente roubado por esses militares, mostrando seu senso ético inexistente.

O elenco é todo formado por jovens atores, muitos desconhecidos, mas competentes em seu ofício. O único rosto mais conhecido é a do veterano  Christopher Lambert. Ele interrpeta um oficial do campo, um sujeito com doses de psicopatia que o torna temido até pelos outros nazistas. Em uma das cenas ele surta e confessa que no passado havia se apaixonado por uma judia, mas que fora impedido pelo pai de casar com ela, se tornando essa bagunça psicológica que ele se tornou. Pior para os judeus do campo pois ele além de violento também era extremamente desequilibrado, muitas vezes matando a esmo, fazendo dos pobres prisioneiros apenas alvos ambulantes. Enfim, gostei dessa nova versão e a recomendo, principalmente para as novas gerações. A história existe para se aprender com o passado, para que coisas como o nazismo não mais se repitam em nosso mundo.

Sobibor (Alemanha, Rússica, Polônia, 2018) Direção: Konstantin Khabenskiy / Roteiro: Michael Edelstein, Anna Tchernakova / Elenco: Konstantin Khabenskiy, Christopher Lambert, Mariya Kozhevnikova, Michalina Olszanska / Sinopse: O filme mostra o campo de concentração de Sobibor, semanas antes da maior fuga em massa de prisioneiros da II Guerra Mundial. História baseada em fatos reais.

Pablo Aluísio.

A Maldição da Chorona

O título nacional ficou no mínimo estranho. Para alguns chega a soar patético, mas a verdade é que não havia muita saída. A figura do folclore mexicano chamada "Chorona" seria uma mãe que no século XVII teria matado seus próprios filhos afogados; A razão? Ela teria sido traída pelo marido. Para se vingar decidiu matar aquilo que ele mais amava na vida, ou seja, seus próprios filhos. E isso era basicamente tudo. Não havia, vamos ser sinceros, muito material para que os roteiristas pudessem trabalhar em algo melhor. Assim como a lenda, o roteiro desse filme também ficou básico. A Chorona retorna para cumprir sua maldição de sempre roubar duas crianças, irmãs, para sempre repetir o seu pecado mortal. Nada muito além disso.

O alvo dela agora é uma assistente social. O enredo desse filme se passa na década de 1970. Essa personagem central atende uma senhora que tranca os filhos em um pequeno cubículo de sua casa. Ela alega que se não fizer isso a Chorona vai pegar seus dois filhos. Então a senhora obviamente perde a guarda das crianças que pouco depois são afogadas em um rio próximo. Pior do que isso, a tal maldição acaba passando para essa assistente social que também tem dois filhos. E assim a trama desse filme se desenvolve com muitos sustos (todos provocados usando uma velha fórmula) e um pouquinho de suspense que logo se dissipa quando a presença da Chorona começa a se tornar mais rotineira. Aliás a exploração em demasia dessa vilã estraga mesmo alguns momentos que poderiam ser bem assustadores em certas cenas. Muitas vezes o "não mostrar" se torna mais importante do que mostrar demais. Lição antiga em filmes de terror clássicos que os roteiristas aqui parecem desconhecer.

Esse é o primeiro filme do diretor Michael Chaves a ter uma maior repercussão. Ele inclusive foi escalado para dirigir "Invocação do Mal 3" no próximo ano, até porque esse "A Maldição da Chorona" faz parte da mesma franquia de filmes de terror. O que podemos dizer de seu trabalho? Ele realizou um filme correto, porém comum demais, sem maiores surpresas. Diria que cumpriu o que foi determinado pelo estúdio, sem imprimir qualquer marca autoral na obra. Assim temos um filme apenas regular, que não vai surpreender quem é fã do estilo terror. Ficou bem mediano. Poderiam ter desenvolvido melhor a história dessa entidade espiritual vingadora, mas não foi isso que aconteceu. Ela se tornou apenas uma figura de assustar crianças no escuro, nada mais, tal como a Freira no filme da mesma série. Vamos ver se a franquia melhora nos próximos filmes que estão chegando porque ultimamente tudo tem sido feito de forma muito convencional.

A Maldição da Chorona (The Curse of La Llorona, Estados Unidos, 2019) Direção:Michael Chaves / Roteiro: Mikki Daughtry, Tobias Iaconis / Elenco: Linda Cardellini, Raymond Cruz, Patricia Velasquez / Sinopse: Uma entidade espiritual maléfica do folclore mexicano conhecida como "A Chorona" retorna do inferno para levar embora crianças, tais como seus próprios filhos que ela matou em vida, séculos atrás, dando início a essa maldição.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 11

Depois do aclamado "O Último Tango em Paris", Marlon Brando surpreendeu a todos ao aceitar participar do novo filme de Arthur Penn chamado de "The Missouri Breaks" (Duelo de Gigantes, no Brasil). Era realmente de cair o queixo o fato do grande ator aceitar trabalhar em um filme menos pretensioso, menos artístico. Além disso era um western, gênero que ninguém pensava que Brando voltaria a atuar.

Na realidade o ator queria mesmo relaxar. Ele tinha atuado em filmes fortes, verdadeiros clássicos e estava de certa forma exausto da repercussão que essas obras tinham provocado. Era impossível para Brando encarar mais uma obra de grande magnitude pela frente. Assim ele optou por algo mais comercial, mas simples, menos estressante. Some-se a isso o fato de Brando ter a chance de atuar ao lado de seu amigo e vizinho Jack Nicholson, um sujeito de quem ele gostava bastante, algo raro dentro da comunidade de cinema em Los Angeles, onde todos pareciam competir ferozmente entre si.

Um fato curioso aconteceu durante as filmagens desse filme. O estúdio começou a atrasar os depósitos dos pagamentos de Brando em sua conta corrente. Isso irritou o ator. Nada parecia menos profissional do que atrasar o cachê de um astro de seu porte. Assim Brando começou a jogar também. Ele de repente começou a esquecer sua falas, atrasando completamente o cronograma de filmagens. Os dias iam passando e nada de Brando acertar suas cenas. O amigo Jack Nicholson logo entendeu as intenções de Marlon e se divertiu muito com o fato. O impasse durou até o produtor Elliott Kastner resolver ir pessoalmente até o trailer do ator. Brando, com aquele seu jeito único, explicou a situação então ao produtor: "Sabe Elliot, talvez se não esquecerem mais de me pagar, eu consiga me lembrar das minhas falas!". Recado dado e entendido, a Paramount nunca mais atrasou os pagamentos de Marlon.

Outra coisa que chamou a atenção foi o fato de Brando novamente resolver improvisar. Ele achava que o roteiro não era grande coisa, por isso começou a criar coisas absurdas para seu personagem. Em seu livro de memórias o ator explicou que seu personagem era um pistoleiro genérico, sem muitos atrativos. Então ele resolveu se vestir de mulher, ter um comportamento excêntrico e fazer coisas impensáveis para um assassino profissional no velho oeste. O diretor Arthur Penn gostou das inovações e assim Brando imprimiu sua marca autoral nesse faroeste que tinha tudo para ser mais uma fita banal do gênero.

Pablo Aluísio.

Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 10

As filmagens de "O Último Tango em Paris" foram mais complicadas do que todos poderiam prever. O diretor Bernardo Bertolucci não falava inglês, Marlon Brando não falava italiano e a atriz Maria Schneider era francesa. Por isso não havia como se comunicarem direito. Em seu livro de memórias Brando explica que na maioria das vezes se comunicava através de mímica com o diretor ou então nas poucas palavras em francês que ele dominava. Também não havia um script e o roteiro era completamente aberto. 

Toda a liberdade que Brando procurou por anos lhe foi dada. Ele poderia dizer o texto que quisesse, falar o que bem entendesse, sem seguir nenhuma regra. Assim Brando improvisou praticamente em todas as cenas, revivendo antigas lembranças de sua infância, falando dos pais, da mãe alcoólatra, de seus primeiros anos em uma cidade rural do meio oeste americano. Isso acabou virando uma verdadeira terapia para o ator. Sua atuação foi a mais íntima e pessoal de toda a sua carreira. Algo inédito em sua vida profissional.

Isso levou Brando a também ter um esgotamento emocional nas filmagens. Tamanho esforço lhe deixou exausto a tal ponto que depois o próprio Brando acabou renegando o filme. Ele só o assistiu uma única vez, depois nunca mais quis rever a obra. Em seu livro ele chegou a admitir que jamais chegou a entender completamente a proposta de "O Último Tango em Paris" e creditou ao acaso o sucesso de crítica da produção. Resenhas altamente elogiosas, como a da famosa Pauline Kael, eram exageradas, na visão pessoal de Brando.

Recentemente o filme voltou a criar polêmica quando o diretor Bernardo Bertolucci declarou que as cenas de sexo tinham sido reais e sem a prévia autorização da atriz Maria Schneider. Por isso muitos jornalistas chegaram até a acusar Bertolucci e Brando de terem promovido um estupro durante as filmagens. Não era verdade. Em seu livro Brando deixou claro que não houve sexo real nas cenas, que tudo havia sido apenas simulado, encenado. Ele nunca teve relações sexuais com a atriz. Assim a tese de que teria havido um estupro nunca fez o menor sentido. De sua parte Marlon Brando deixou claro que depois desse filme jamais iria se despir emocionalmente como fez. Era doloroso demais, relembrar os traumas do passado e tudo mais. Dali em diante o próprio Brando só aceitaria participar de filmes com scripts devidamente escritos, em roteiros mais tradicionais. A liberdade completa, pelo visto, não lhe fez muito bem.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 25 de junho de 2019

Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 9

Logo no começo de sua carreira Brando conheceu a atriz Anna Kashfi. Ela era indiana e tinha ido até Hollywood em busca do sucesso no cinema americano. Kashfi tinha uma beleza exótica, bem diferente das loiras americanas. Brando sempre foi atraído por esse tipo de mulher e o fato dela ser muito independente, de forte personalidade, fez com que Marlon ficasse ainda mais caído por ela. Desde seus primeiros amores Marlon Brando sempre se interessou por mulheres de etnias diferentes da sua. Ele tinha intensa predileção por mulatas, negras e latinas. Também se interessava muito por taitianas. Assim em termos de visual Kashfi tinha tudo o que precisava para seduzir Brando. Apaixonado, o ator a pediu em namoro, mas ela, para sua completa surpresa, o recusou. Isso atiçou ainda mais o lado conquistador de Brando que estava decidido a conquistá-la de todas as formas. Depois de muitas recusas ela finalmente cedeu. Brando ficou completamente encantado a ponto de pensar pela primeira vez em sua vida no casamento. Sabendo que poderia ganhar o grande prêmio na capital mundial do cinema ela acabou manipulando o ator e em pouco tempo estavam casados.

Infelizmente a união passou longe de ser um casamento feliz. Marlon Brando não estava disposto a deixar suas inúmeras amantes. Nunca havia sido fiel em sua vida e não seria agora que as coisas mudariam. As traições viraram rotina. Brando estava sempre dando alguma desculpa para ficar longe de sua casa e se divertia a valer com as muitas mulheres (e dizem, homens) que frequentavam sua cama. Anna Kashfi ficou furiosa com seu comportamento. Mulher de gênio forte jamais iria aceitar esse tipo de humilhação pública (sim, Brando surgia com suas amantes em restaurantes e festas, na frente de todos, sem um pingo de arrependimento). Seu comportamento não iria dar em algo bom e realmente não deu.

Numa noite Brando chegou de madrugada em casa logo após uma noite de farras. Anna Kashfi o estava esperando na cozinha, fora de si, com uma faca na mão. Assim que Marlon entrou no recinto ela tentou lhe esfaquear. A agilidade salvou o ator da morte certa. Ele conseguiu se desviar no último segundo. Com a faca na mão Anna não desistiu e saiu correndo atrás de Brando que correu com toda a velocidade para a piscina. Agora imaginem a cena, o ator mais bem pago de Hollywood dando voltas em sua piscina com sua mulher enfurecida com uma faca na mão decidida a matá-lo! No outro dia empregados de Marlon e Anna abriram a boca e em pouco tempo o escândalo já tinha se tornado público e notório. O que ninguém sabia e nem Marlon é que Anna era bipolar, sofria de problemas mentais e em sua família várias mulheres tinham apresentado esse problema ao longo dos anos.

Depois disso Brando resolveu dar um basta, pediu divórcio e começou uma longa, custosa e penosa briga na justiça pela guarda do filho Christian Brando (anos depois seu filho seria condenado pela morte do marido da própria irmã e condenado, cumpriria uma longa pena de prisão por assassinato em primeiro grau). As custas judiciais pelo divórcio e pela guarda definitiva e exclusiva de seu único filho custaram muito a Brando. Ele gastou milhões com advogados e teve que conviver com o assédio implacável da imprensa. Para piorar a carreira começou a ir mal, a má publicidade nos jornais influenciou o público que deixou de ir conferir seus últimos filmes. De repente Brando via sua vida profissional e sentimental em frangalhos. Muito bem humorado o ator dizia que nada disso importava, o que mais lhe preocupava era o fato de estar ficando rapidamente careca! Pelo visto Brando jamais perdeu uma das coisas mais importantes de sua personalidade, o bom humor!

Pablo Aluísio.

Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 8

Hoje em dia as pessoas conhecem muito mais o filme "Uma Rua Chamada Pecado" do que propriamente a peça teatral que lhe deu origem. Escrita pelo genial autor Tennessee Williams, a obra ficou longos anos em cartaz nos mais concorridos teatros de Nova Iorque. Na primeira versão montada o próprio Marlon Brando interpretou o rude Stanley Kowalski. Se no filme a atriz escalada para viver Blanche DuBois foi Vivien Leigh (em ótima performance), no teatro coube a Jessica Tandy viver a complexa personagem.

Em sua autobiografia Brando deu sua opinião sobre as duas atrizes. Para ele Jessica Tandy nunca se mostrou adequada para interpretar Blanche. Brando relembra que nas apresentações da peça ela adotava uma maneira muito caricata de dar vida ao confuso mundo interior de Blanche. Isso criava até mesmo um humor involuntário que era péssimo para a montagem. Já Vivien Leigh se mostrava muito mais sutil, elegante até! Brando foi além e afirmou que em certos aspectos Vivien Leigh era Blanche, pois tinha uma vida tão complexa e confusa do ponto de vista mental e emocional quanto à sua personagem que interpretava nas telas.

Outro aspecto interessante confessado pelo ator em seu livro foi o fato de reconhecer que muitas vezes ficava entediado com as várias apresentações de teatro. Obviamente nem sempre seu personagem estava em cena e quando isso acontecia Brando ficava nos bastidores tentando matar o tempo. Como estava muito preocupado em sua forma física ficava o tempo todo levantando peso até a hora de entrar no palco novamente. Certo dia resolveu fazer algo diferente e começou a treinar boxe. Má ideia. Em pouco tempo Brando havia sido colocado à nocaute por um funcionário do teatro, um negão de quase dois metros de altura. O pior é que tudo aquilo aconteceu bem no meio da apresentação da peça!

Como o show não podia parar, Brando resolveu entrar no palco mesmo assim, ferido. Com a camisa encharcada de sangue ele entrou na sua deixa e assustou Jessica Tandy que estava no palco! Curiosamente quem acabou não notando nada de diferente foi o próprio público que pensou estar vendo todo aquele sangue como parte da cena. Depois de terminar suas falas Brando se retirou e foi direto para o hospital onde os médicos diagnosticaram a quebra de seu nariz em vários pontos. Esse incidente convenceu Brando que o teatro já não era mais sua praia. Ele queria mesmo era ir para Hollywood onde os cachês eram enormes e o trabalho bem mais leve. Assim logo após ter alta o ator fez sua malas, pediu demissão, fechou seu apartamento em Nova Iorque e foi embora para Los Angeles. Uma nova carreira estava começando para ele! Hollywood era o caminho.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 7

Desde os primeiros dias em Hollywood Marlon Brando sabia que a pior parte de ser um ator de cinema era ter que lidar com a imprensa da costa oeste. Marlon estava acostumado com os grandes órgãos de notícias de Nova Iorque, que eram sérios e tratavam de temas relevantes. Em Los Angeles a coisa era bem diferente.

O mundo das celebridades já estava a mil quando ele chegou por lá. Os principais nomes dos jornais que tratavam sobre cinema não eram de jornalistas consagrados, mas de senhoras que eram mais conhecidas por seus fuxicos e fofocas do que por qualquer outra coisa. Entre elas havia Hedda Hopper, ex-atriz que se destacava mais por publicar mexericos em sua coluna do que produzir algo que prestasse.

Brando achava aquilo de uma futilidade sem tamanho. Até porque ele queria ser um ator sério e não uma celebridade respondendo perguntas idiotas como se ele dormia nu, se gostava de beber ou se era tão namorador como diziam. O problema é que Brando tinha que dar entrevistas por obrigação contratual, como parte do esforço de divulgar seus novos filmes e assim lá ia ele se encontrar com essa gente que tanto desprezava. Geralmente Brando dava respostas absurdas nessas entrevistas maçantes. Quando perguntado por seus pais, Brando dizia: "Morreram no Titanic!". Onde havia nascido? "Em Kuala Lumpur". O que gostava de fazer nas horas vagas? "Plantar bananeira" e por aí vai.

Tão entediado e aborrecido ficava nesses momentos que a partir do momento em que virou um astro em Hollywood Brando disse a seu agente que retirasse de seus contratos toda e qualquer obrigação de ter que falar com a imprensa de Hollywood. Para Brando os seus filmes falavam por ele, tudo o que precisavam saber sobre Marlon Brando, o ator, estava em suas atuações. Nos anos que seguiram isso aumentou a fama de rebelde de Marlon Brando ao mesmo tempo em que o transformou em um alvo da imprensa. Qualquer deslize em sua vida pessoal era logo tratado como um grande escândalo pelas jornalistas fofoqueiras de Los Angeles. Havia um preço a se pagar ao não fazer o jogo daquela gente e Brando pagou muito bem esse preço.

Pablo Aluísio.

Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 6

Em 1949 Marlon Brando apareceu em um episódio da série Actor's Studio. Essa foi uma série televisiva muito interessante produzida pelo canal ABC que tinha como objetivo levar adaptações de textos teatrais para a TV. O material era escrito, dirigido e interpretado por professores e alunos do famoso Actor's Studio de Nova Iorque. Como Brando estudava lá, também participou de um dos episódios chamado "I'm No Hero".

Aqui Brando interpreta um jovem e inexperiente médico que é forçado a mão armada a operar um gangster ferido após uma intensa troca de tiros com a polícia, interpretado por Harry Bellaver, numa adaptação de uma história de Henry Kane. O curioso é que o programa era feito ao vivo e em seu livro de memórias Brando relembra que trabalhar dessa maneira era muito complicado para um ator como ele. 

Numa das cenas do episódio Brando tinha que entrar debaixo de um chuveiro, ficar pensativo e receoso pois seu personagem estava o tempo todo sob a mira de uma arma de fogo. Na hora em que estava atuando o contraregra abriu a água e Brando foi surpreendido por um verdadeiro dilúvio em sua cara. O problema é que a água estava fria como o pólo norte e Brando não aguentou e soltou um grito dizendo: "Mas que diabos?!"

O mais divertido de tudo é que no dia seguinte o New York Times elogiou a intensidade da "atuação" de Brando, só que na verdade aquela tinha sido apenas uma reação natural diante de uma situação de completa surpresa! Pelo visto a estrela de Brando já brilhava desde o começo de sua carreira!

Pablo Aluísio.

domingo, 23 de junho de 2019

Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 5

A carreira e a vida pessoal de Marlon Brando enfrentaram diversos problemas nos anos 1960. O ator não parecia mais se entender com os estúdios, brigava com diretores e para piorar um quadro complicado começou a escolher os roteiros errados. Muitos de seus filmes fracassaram nas bilheterias, gerando um mal estar geral entre o ator, seu empresário e a indústria cinematográfica. De repente o grande astro da década anterior parecia não ter mais importância. Não gerava mais lucro para Hollywood.

Na vida pessoal do ator imperava o caos. Ele havia se casado com a atriz Anna Kashfi. Mulher de temperamento forte, não aceitava o modo de ser do marido. Brando era conhecido como um mulherengo e invariavelmente traía todas as mulheres com quem se envolvia. Com Anna não seria diferente. Ele tinha inúmeras amantes e muitas vezes não tinha nem a preocupação de esconder isso. Obviamente a imprensa de fofocas fazia a festa.

Só que Anna Kashf não estava disposta a ser humilhada publicamente. Após mais uma reportagem noticiando um dos casos amorosos do marido ela resolveu confrontá-lo em uma de suas casas em Los Angeles. A discussão foi ficando cada vez mais acalorada e insana, até que Anna resolveu que iria matar Brando. Ela pegou uma faca de cozinha e foi para cima dele. O ator recuou, mas quase foi esfaqueado. A polícia foi chamada. O escândalo ganhou grandes proporções na imprensa marrom. Isso em nada iria ajudar na carreira de Brando, naquela altura bem em baixa em Hollywood.

O casal acabou se separando, mas isso não foi o fim dos problemas. Marlon e Anna ficariam anos brigando nos tribunais na luta pela guarda do filho Christian. Ela também pediu uma fortuna de milhões de dólares para assinar o divórcio. As finanças do ator foram à bancarrota. Ele tinha que pagar advogados, investigadores, detetives particulares. E Anna não parecia disposta a deixar de lutar com fúria, o ameaçando de morte por anos a fio. Quando muitos anos depois Marlon Brando aceitou escrever sua autobiografia ele só pediu uma exigência, a de que não iria falar dos problemas enfrentados em seus casamentos. Era tanta confusão e baixaria que o livro iria correr o risco de virar uma novela mexicana, daquelas bem bregas!

Pablo Aluísio. 

Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 4

Em sua autobiografia "Canções Que Minha Mãe Me Ensinou" Marlon Brando relembrou como foram terríveis as filmagens de "Vidas em Fuga". O problema básico foi o comportamento da atriz Anna Magnani no set de filmagens. Diva do cinema italiano Anna estava entrando numa idade em que papéis rareavam e ela perdia espaço para beldades mais jovens.

Com receio de aparecer velha nas cenas mandou seu maquiador literalmente esticar seu rosto com esparadrapos atrás de sua cabeça, o que a deixava com uma expressão facial constrangedora. Brando fez de tudo para não criar problemas nas filmagens, mas foi impossível. Anna Magnani estava obcecada em ter um caso amoroso com ele e queria a todo custo levar o ator para a cama. Brando não tinha o menor interesse nela, mas não queria dispensá-la frontalmente pois sabia que seria um insulto tremendo para a atriz.

Em um jogo de sedução nada sutil Anna começou a agarrar o ator pelo set de filmagem. No começo Brando tentou levar na brincadeira e na esportiva, mas a situação foi ficando cada vez mais complicada. Nas cenas de beijo de seus personagens a atriz italiana perdia a compostura, beijando de forma violenta, chegando até mesmo a rasgar os lábios de Brando. Para cessar o assédio o ator resolveu radicalizar e começou a comer alhos e cebolas para ficar com um hálito insuportável. Não adiantou, Magnani continuou com suas investidas.

Tudo continuava na mesma até que um dia Brando resolveu deixar claro que não queria nada mesmo com Magnani. Falou com a atriz abertamente sobre isso, porém a italiana pareceu entrar em um transe e agarrou o ator com força para lhe dar outros daqueles beijos selvagens. Acuado, Brando sem alternativas, a empurrou com força e deu um apertão em seu nariz... a atriz ficou espantada com a reação do ator e saiu do set vociferando palavrões contra Brando! No livro Marlon diz ter se lembrado daqueles ataques de viúvas negras que após acasalarem com seus machos os devoravam vivos! Algo que o ator definitivamente não queria pagar pra ver.

Pablo Aluísio.

sábado, 22 de junho de 2019

Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 3

"Sindicato de Ladrões" foi de certa maneira uma forma que o diretor Elia Kazan encontrou de se justificar aos seus colegas de profissão após ter dedurado uma série de profissionais do cinema e teatro para o comitê de atividades anti americanas. Parte dessas pessoas tinham participado do Partido Comunista americano e isso era algo muito sério naquela época. Para escapar da prisão ou talvez até mesmo de ser banido de Hollywood, Kazan resolveu entregar todos aqueles que ele sabia serem membros do Partido. Obviamente que aquilo tudo pegou muito mal e da noite para o dia Kazan passou a ser um nome a ser evitado. Como contornar uma situação dessas? A resposta caiu no colo de Kazan poucas semanas depois.

No roteiro desse filme também havia um sujeito que fora forçado pela situação para entregar os nomes de pessoas que tinham se envolvido em esquemas de corrupção. Quando Marlon Brando foi convidado para o papel de Terry Malloy ele imediatamente disse não, mas depois acabou sendo convencido que seria mais uma boa oportunidade de realizar um grande filme - e isso era a mais absoluta verdade. As filmagens se concentraram entre Nova Iorque e Hoboken, New Jersey e foram muito duras. Com baixas temperaturas, Brando precisou aprender parte da manha dos trabalhadores braçais do porto da cidade. Acabou fazendo amizades entre eles e em pouco tempo estava completamente à vontade em seu papel.

Por ser uma obra delicada que serviria a um propósito maior, Kazan queria seguir o script à risca, mas isso definitivamente não aconteceria com Marlon Brando no elenco. Numa cena com Rod Steiger e ele, o diretor sugeriu uma determinada situação de confronto no banco de trás de um carro. Brando achou que duas pessoas tão próximas como eram os personagens deles nunca se tratariam daquele jeito e por isso sugeriu mudanças. Ao invés de acontecer uma luta insana e feroz, o personagem de Brando apenas olharia com rosto chocado quando Steiger lhe apontasse uma arma. Era uma reação mais natural. Após um longo combate criativo Kazan finalmente se convenceu que Brando estava mesmo com a razão. Para Brando a resposta positiva por parte de Kazan confirmava o que ele pensava do diretor: que ele era de fato um dos cineastas mais brilhantes da história de Hollywood. Por seu engajamento no filme e principalmente por sua ótima atuação, Brando mais uma vez acabou sendo indicado ao Oscar de Melhor Ator.

Hoje em dia, depois que Brando recusou seu Oscar por "O Poderoso Chefão", todos conhecem a extrema ojeriza que o ator sentia pela Academia, mas naquela época, ainda um jovem talento em ascensão, Brando decidiu que compareceria à premiação. Para sua surpresa seu nome foi anunciado e ele, pela primeira vez em sua carreira, seria premiado com a estatueta mais cobiçada do cinema americano. Usando um comportado terno, todos sorrisos, Brando subiu ao palco e recebeu seu Oscar das mãos de uma princesa, Grace Kellly. Estaria o mais famoso selvagem de Hollywood devidamente domado? Pelo menos naquela noite memorável sim. Brando foi um perfeito gentleman. Agradeceu até emocionado pelo reconhecimento e depois fez um discurso bem nos moldes que todos esperavam, sem atropelos ou escândalos. Anos depois o Oscar de Brando foi parar numa casa de leilões. Em seu livro o ator reconheceu não se lembrar mais onde ele havia ido parar, mas depois de um ou dois minutos admitiu que o havia dado de presente - só não lembrava direito a quem! Imagine, o prêmio mais desejado de Hollywood indo parar nas mãos de qualquer um... enfim, coisas de Marlon Brando...

Pablo Aluísio.

Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 2

Em 1953 Marlon Brando entrou no set de seu novo filme, "The Wild One" que no Brasil seria intitulado "O Selvagem". Brando, já naquela altura considerado o maior rebelde de Hollywood, iria interpretar o papel de um jovem motoqueiro chamado Johnny Strabler. A direção seria do cineasta húngaro Laslo Benedek que havia dirigido a adaptação para o cinema do clássico da literatura "A Morte do Caixeiro Viajante" dois anos antes. Inicialmente Brando não viu grande coisa no roteiro. Para ele seria um filme apenas para cumprir contrato com o produtor Stanley Kramer. Como era um filme pequeno, de curta duração e com enredo simples, não haveria muito trabalho à vista.

Nada que poderia se comparar com os filmes anteriores do ator, verdadeiras obras primas como "Espíritos Indômitos", "Uma Rua Chamada Pecado", "Viva Zapata!" e principalmente "Júlio César" que havia exigido muito dele em termos de atuação. Afinal de contas Brando havia suado a camisa para se sair bem em seus primeiros filmes, em especial o último, uma complicada adaptação para o cinema da famosa peça escrita por William Shakespeare, sob direção do austero Joseph L. Mankiewicz. Assim interpretar Johnny era quase como um passeio no parque. Além do mais Brando adorava motos e o universo que as cercava, então foi mesmo a união de algo que gostava de fazer em sua vida pessoal com a possibilidade de dar um tempo nos filmes mais sérios e desafiadores.

Para sua surpresa porém o filme virou um dos maiores cult movies da história. Inicialmente Brando não gostou da película. Como ele próprio recordou em suas memórias a primeira vez que assistiu a "O Selvagem", logo após sua estreia nos cinemas, não gostou mesmo do que viu. Achou o filme violento e sem conteúdo. Curiosamente a fita acabou virando o estopim de uma série de revoluções comportamentais ocorridas na juventude americana nos anos 1950, desembocando na revolução cultural que iria estourar nos anos 1960. Para Brando foi tudo uma grande surpresa. Ele não tinha consciência na época que havia todo um sentimento reprimido por parte dos jovens e que seu filme seria usado para aprofundar todos esses anseios. Johnny, na visão de Brando, era apenas mais um personagem a interpretar. A juventude da época porém viu de outro modo. Aquele motoqueiro, vestido de couro preto da cabeça aos pés, era a personificação da liberdade. O roteiro dava a ele uma conotação ruim, algo que não poderia ser usado como modelo, mas como um aviso contra a delinquência juvenil. Para reforçar isso o estúdio colocou um texto avisando sobre os males de se seguir o exemplo dos personagens. Brando percebeu que o tiro sairia pela culatra. A juventude em geral ignorou a mensagem moralista quadrada e obsoleta e abraçou o personagem como um ícone, um mito, um exemplo a seguir. Para Brando não poderia ser melhor e ele foi elevado à altura de símbolo máximo entre os jovens da época.

Realmente, do ponto de vista puramente cinematográfico "O Selvagem" não pode ser comparado aos demais clássicos que Brando rodou por essa época em sua carreira. Já do ponto de vista meramente cultural e sociológico é de fato um dos mais marcantes momentos de sua carreira no cinema. Isso porque o filme não pode ser visto apenas sob a ótica do que se vê na tela, e sim muito mais além disso, pois teve enorme influência dentro da sociedade, principalmente entre os jovens, que viram ali um modelo de liberdade incrível. Numa época em que havia grande repressão e os controles morais eram extremos, ver Johnny atravessando a América de moto, sem dar satisfações a ninguém, e vivendo com um grupo de rebeldes como ele, era de fato um impacto para o jovem americano típico dos anos 1950. Depois que Brando surgiu com aquela imagem ícone, nasceu toda uma cultura jovem no país, até porque a juventude de um modo em geral era completamente ignorada dentro da sociedade até então, sendo considerada apenas uma transição entre a infância e a vida adulta. Depois de Brando vieram James Dean - o maior símbolo de juventude que o cinema jamais produziu - o Rock ´n´ Roll, Elvis Presley e toda a iconografia da cultura jovem que conhecemos hoje em dia.

Para Brando o filme passou logo, mas os efeitos dele se tornaram duradouros. Assim que terminou as filmagens da fita ele foi procurado novamente por Elia Kazan. Ele o convidou para participar do filme "On the Waterfront" (no Brasil, "Sindicato de Ladrões"). Assim que leu o roteiro Brando entendeu do que se tratava. Era uma grande metáfora em forma de película, que justificava de certa forma o comportamento do próprio Kazan durante o Macartismo, onde ele havia dedurado vários colegas de profissão. Depois disso a biografia do cineasta havia sido manchada para sempre. Ele tencionava com o filme resgatar parte de seu prestígio dentro da comunidade cinematográfica, ao mesmo tempo em que justificava seu ato e pedia desculpas pelo que fez. No começo Brando relutou em fazer o filme. Desde sempre ele se considerava um liberal e o que Kazan havia feito era realmente algo desprezível. A vontade porém de realizar mais uma obra prima foi maior do que seus escrúpulos pessoais. Assim, ainda vestido de Johnny, ele se encontrou nos corredores da MGM e assinou o contrato com Kazan. Mal sabia que estaria prestes a realizar um dos maiores filmes de toda a sua carreira.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 21 de junho de 2019

A História de Rock Hudson - Parte 10

Rock Hudson e Doris Day brilharam nas telas durante a década de 60. Juntos realizaram três filmes de grande sucesso: "Confidências a Meia Noite", "Volta Meu Amor" e "Não Me Mande Flores". Além dos sucessos de bilheteria se deram muito bem também fora das telas. Rock e Doris se divertiram muito nos sets de filmagens. O ator relembra: "Fazer filmes com Doris Day era um enorme prazer. Para mim aquilo não era trabalho. Não havia um único dia em que eu não me divertia muito! Ela era espirituosa, alegre, animada e tinha um talento para comédias como eu nunca tinha visto antes".

Fazer comédias ao lado de Doris Day era naquela altura de sua carreira uma mudança e tanto. Rock vinha de vários sucessos em aventuras, alguns faroestes e principalmente em dramas dirigidos por Douglas Sirk. De ator dramático e sério para comediante era grande reviravolta nos rumos de sua filmografia mas Rock topou o desafio e não se arrependeu. De fato os filmes que realizou ao lado de Doris deram tão certo que o ator resolveu investir na década de 60 em filmes nessa linha como "Quando Setembro Vier", "O Esporte Favorito do Homem" e "Um Favor Muito Especial". De repente Rock havia se tornado o ator número 1 de Hollywood para comédias românticas e maliciosas.

Rock e Doris continuaram amigos até o fim de suas vidas. Na década de 80 Doris estava falida após diversos divórcios com homens que acabaram levando tudo o que ela tinha ganho em anos de trabalho. Tentando uma saída ela migrou para a TV. Na estreia de um de seus novos programas chamado "Doris Day and Friends" resolveu convidar o amigo Rock Hudson para dar uma força em sua audiência. Ela não sabia porém que Rock estava seriamente doente naquela ocasião. Corroído pela AIDS, muito magro e abatido se surpreendeu com o convite da amiga. Rock sabia que surgir publicamente com aquele aspecto físico seria terrível para sua imagem mas mesmo assim não recuou. Querendo ajudar Doris Day de todas as formas apareceu para gravar ao lado da amiga. Foi a última aparição pública de Rock Hudson. Um gesto de coragem sem dúvida, mas muito mais uma atitude de carinho e devoção para com sua querida amiga Doris Day. Foi um belo final para uma amizade muito especial.

Pablo Aluísio.

A História de Rock Hudson - Parte 9

Junho é sempre uma boa oportunidade para colocar a leitura em dia. Nesse período de férias resolvi me dedicar a ler as biografias de dois mitos de Hollywood do passado: Marilyn Monroe e Rock Hudson. Sobre o livro 'A Deusa", que mostra detalhes da vida de Marilyn, ainda tecerei comentários futuramente aqui mesmo no blog. Agora quero falar um pouco sobre a autobiografia de Rock Hudson intitulada "História de sua vida". Em um texto muito bom somos apresentados a uma das trajetórias mais marcantes dos anos dourados do cinema americano. A ascensão e a queda de um dos grandes ídolos do passado são desvendados sem o glamour que tanto conhecemos. Rock desvenda sem pudores os grandes segredos dos estúdios, as intrigas e o star system. Logo no começo do livro o ator deixa bem claro que não devemos acreditar em nada do que nos é repassado pelos grandes estúdios. Tudo não passava de uma grande mentira.

A própria vida de Rock Hudson foi de certa forma construída em cima de uma mentira. Após passar alguns anos na Marinha, Roy Fitzgerald Scherer (seu verdadeiro nome) foi para Hollywood tentar a carreira de ator. Boa pinta, com mais de 1.90 de altura, Roy sabia que poderia encontrar uma boa oportunidade na terra do cinema. Lá começou os primeiros passos rumo ao estrelado. Através de bons contatos profissionais o ator conseguiu ser aceito na "fábrica de atores" da Universal e começou a aparecer numa série de pequenos filmes do estúdio. Era o chamado Star System. As companhias de cinema treinavam, ensinavam como se comportar em eventos sociais e promoviam determinados atores para depois os transformarem em grandes astros. Até mesmo seus nomes eram mudados e transformados, tudo num rígido e bem pensado sistema de promoção à prova de falhas. E foi assim que nasceu "Rock Hudson", um verdadeiro galã americano que em poucos meses já havia se transformado no sonho de todas as mulheres daquele tempo. Rock era considerado o "homem ideal" e o "marido perfeito" e assim foi construído todo o seu mito. Durante mais de uma década foi o ator mais popular de Hollywood, conquistando um sucesso de bilheteria atrás do outro. Era definitivamente a personificação do Sonho Americano. Só havia um pequeno detalhe nessa história de sucesso que era guardado a sete chaves pela Universal: Rock era gay!

A autobiografia de Rock foi escrita quando o ator estava em seu leito de morte, corroído pela AIDS. Com receio de sua história ser distorcida por outros, Rock contratou uma escritora profissional (Sara Davidson) e resolveu contar o seu lado da história. Mesmo debilitado resolveu abrir o jogo sobre a verdade obscura atrás da cortinas douradas de Hollywood. O retrato descrito por ele é demolidor. Rock conta vários segredos de bastidores que deixariam qualquer um de seu fãs dos tempos áureos de queixo caído. Em pouco mais de 400 páginas o ator fala sobre o mecanismo de fabricação de ídolos e revela fatos até então nunca revelados. Entre eles admite que só conseguiu o grande papel de sua carreira, no filme Assim Caminha a Humanidade, após dormir com um dos principais executivos da Universal. O sujeito, casado e pai da família, depois encontraria Rock em um jantar social e sussurraria em seu ouvido que "ainda o amava"!

O homossexualismo de Rock é mostrado sem rodeios. Os vários amantes e companheiros de sua vida são nomeados e descritos sem qualquer problema. Não poderia ser diferente, como Rock morreu antes da conclusão da autobiografia ele pediu aos seus amores do passado que contassem toda a verdade sobre os anos que viveram juntos. Essa parte do livro pode incomodar algumas pessoas pela franqueza. As várias tentativas de encobrir sua vida pessoal também são mostradas em detalhes. Entre elas a maior de todas: o casamento de fachada entre ele e uma secretária de um dos seus agentes. Rock se casou com ela justamente quando os boatos de que era gay ganhavam maior destaque na mídia. Apesar de sempre haver dúvidas Rock conseguiu, a duras penas, manter sua fama de "homem ideal" por várias décadas, tanto que o mundo recebeu com grande surpresa em 1985 a notícia de que estava com AIDS por ser homossexual.

Outro aspecto interessante do livro é mostrar a nítida transição que o cinema sofreu no final dos anos 60 e começo dos anos 70. Rock descreve a dificuldade de se manter trabalhando nesse período, quando os filmes passaram a retratar uma realidade concreta da vida e não apenas uma realidade idealizada dos grandes filmes do passado. Foi a época em que uma nova geração de atores surgiu, como Al Pacino, Robert De Niro e outros. Astros com cara de gente comum, pessoas do povo, bem distante da imagem de galã impecável do qual Rock era o símbolo maior. Sem trabalho Rock teve que se contentar em fazer TV (que odiava) e Teatro (que amava). Enfim, o livro é um excelente retrato de uma período que marcou a história do cinema. Rock é mostrado não apenas como um grande ator desse tempo mas também como uma pessoa muito humana que tentou sobreviver em Hollywood da melhor maneira que podia. Sua coragem no final de sua vida ao revelar todos os seus segredos diz muito sobre sua personalidade. Com sua morte Rock chamou a atenção da grande mídia para a AIDS, que naquele momento ainda era uma doença relativamente desconhecida do grande público. No final da vida soube utilizar bem o maior segredo de sua vida para algo definitivamente positivo, pois despertou o mundo para os perigos que a nova doença trazia. Seu livro é um testemunho de vida e deve ser conhecido por todos.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 20 de junho de 2019

A História de Rock Hudson - Parte 8

Além de ser o galã número 1 de Hollywood em sua fase de ouro, em plena era do cinema clássico americano, o ator Rock Hudson também tinha que procurar preservar sua vida pessoal de todas as maneiras possíveis. Rock cultivava hábitos que poderiam manchar sua imagem perante o grande público. Além da homossexualidade, que ele tinha verdadeiro pavor que fosse revelada (afinal uma revelação escandalosa dessas em plenos anos 1950 poderia destruir sua carreira), Rock ainda tinha sérios problemas com a bebida. Ele era muito bom de copo e desenvolveu um alcoolismo que com o tempo começou a afetar seriamente seu prestigio em Hollywood.

Rock veio de uma família de bebedores de whisky. Nascido no meio oeste americano ele viu desde cedo o hábito de beber muito como algo natural. Quando foi para a Marinha, durante a II Guerra, o problema só piorou. Para aguentar as intermináveis jornadas de trabalho nos navios, ele e seus colegas de farda afogavam o stress e a exaustão em bebedeiras homéricas nos bares dos portos onde chegavam. Rock Hudson foi um marinheiro ao velho estilo, onde seus camaradas se reuniam em bando para brigar em bares ao longo da costa. Geralmente as brigas eram contra soldados do exército ou Força Aérea. Bastavam se encontrar para a briga começar. Esse tipo de rivalidade era algo comum nas forças armadas americanas e invariavelmente terminava com todos bêbados, cantando pelas ruas pela  madrugada adentro.

Depois da guerra Rock resolveu que iria tentar realizar seu velho sonho de se tornar um astro de cinema. No começo era apenas um sonho quase impossível de realizar. Como era boa pinta, alto e bonito, as portas dos grandes estúdios logo se abriram para ele. Rock então aproveitou como poucos a boa vida de um galã de Hollywood. Praticamente dava festas todas as noites para colegas de profissão, diretores e amantes ocasionais. A farra não tinha hora para parar e nem havia previsão de terminar a bebedeira. Rock não perdia a chance de encher a cara nessas ocasiões festivas. Geralmente terminava a noite desmaiado na piscina ou no sofá de sua sala ricamente decorada.

Com o tempo todos foram percebendo que o consumo de álcool aumentou e fugiu do controle. Rock começou a beber todas as noites, ficando embriagado com regularidade. Dono de uma maravilhosa coleção de discos de vinil, Rock passava a noite ouvindo música e bebendo até cair, mesmo que estivesse sozinho. Em fins da década de 1960 ele começou um longo e complicado caso amoroso com um sujeito chamado Tom Clark que trabalhava como publicitário da MGM. Clark bebia tanto quanto Rock e juntos eles protagonizaram bebedeiras que entraram na história de Hollywood. Em uma dessas festas Rock ficou tão bêbado que apareceu vestido de bebê, com fralda e tudo. Em outra começou uma violenta briga com Clark que terminou em socos e pontapés na frente de todos os convidados.

Sua carreira começou a ficar prejudicada. Como Rock não se parava de beber todas as noites, ele começou a aparecer arrasado nos estúdios no dia seguinte. Seu semblante de ressaca atrapalhava a sua imagem e seu estado deplorável o impedia de decorar corretamente suas falas. Não era fácil ficar bebendo até as quatro da manhã para depois aparecer para trabalhar, posando de galã, as oito da manhã. Seu alcoolismo ficou tão sério que Rock começou a perder seu bem mais precioso: sua imagem, que se deteriorou rapidamente. Ele ficou com a pele ruim, cinzenta, e seu aspecto era a de um homem acabado. Com isso os papéis para o cinema começaram a sumir, afinal ele sempre fora um galã e galãs precisam aparecer bonitos e impecáveis em cena.

Rock Hudson bebeu sem parar até a morte. Na década de 1980 ele sofreu um infarto e o médico atribuiu isso ao alcoolismo e ao tabagismo desenfreado de Rock. Depois disso ele só viveria poucos anos. Quando contraiu AIDS isso lhe pareceu como uma sentença de morte, afinal ele nunca fora um homem de hábitos saudáveis e agora doente isso iria lhe custar um alto preço. Com o organismo debilitado pelo alcoolismo e fumo, ele não conseguiu encontrar forças para fazer frente à terrível doença. Rock morreu em 1985, naquela que foi considerada a primeira morte de AIDS de uma celebridade internacional. Em seus últimos dias de vida ainda bebia muito whisky sem gelo. Dizia que era um dos poucos prazeres que ainda lhe restavam.

Pablo Aluísio. 

A História de Rock Hudson - Parte 7

Rock Hudson nunca havia feito comédias antes. Ele sempre havia se dado muito bem com dramas românticos. Até que em 1959 seu agente lhe disse que o estúdio Universal estava interessado nele para atuar junto de Doris Day numa comédia romântica intitulada "Pillow Talk". Rock ficou receoso em um primeiro momento. Fazer comédia era algo muito específico. Será que ele conseguiria soar engraçado na tela?

No primeiro encontro com o diretor Michael Gordon, o ator lhe disse justamente isso. "Eu não sou comediante! Não saberia fazer humor!". Gordon então lhe deu uma resposta que Rock jamais esqueceu. Ele disse: "Não tente ser engraçado na tela. Não faça caretas, nem nada disso. Seja apenas você! Atue como sempre atuou! O humor está no roteiro, no texto do filme e não em você!".Com essas palavras Rock então resolveu embarcar no projeto. Ele aceitou o convite e disse a Gordon: "Bem, se é o que você diz, vamos fazer esse filme e ver no que tudo isso vai dar!".

As filmagens foram realizadas em tom muito ameno, divertido, o que ajudou ainda mais ao filme. Rock e Doris se deram imediatamente bem. Eles tinham o mesmo tipo de humor e sabiam se comunicar entre si, mesmo quando não falavam uma única palavra. Foi simpatia à primeira vista. Seguindo os conselhos do diretor, Rock não exagerou, não quis soar engraçado. Talvez só um pouquinho quando imitava o lado mais caipira de seu personagem, mas nunca foi algo forçado, exagerado. No filme ele interpretava um playboy arrogante que estava sempre brigando com sua vizinha, pois ambos dividiam a mesma linha de telefone. Certo dia ele ouve ela falando do tipo de homem ideal que gostaria de conhecer. Para passar um trote nela ele então decide assumir todas as características que Doris Day gostaria de encontrar em um pretendente. O resto era pura diversão.

O filme foi um grande sucesso de público e crítica e abriu as portas para uma nova fase na carreira de Rock Hudson. Ele que sempre havia se destacado nos dramas de Douglas Sirk, agora podia ser visto em comédias picantes, bem humoradas, com roteiros versando sobre a guerra dos sexos entre homens e mulheres. Para Rock foi duplamente satisfatório. Ele não apenas encontrou um novo nicho a explorar dentro da indústria cinematográfica, como também viu seu cachê voltar a fazer parte da lista dos dez atores mais bem pagos de Hollywood. Era um outro nível e uma nova fase de sucesso que iria atravessar toda a década de 1960. Rock Hudson havia se reinventado, para a alegria de suas fãs ao redor do mundo.

Confidências à Meia Noite (Pillow Talk, EUA, 1959) Direção de Michael Gordon / Roteiro de Stanley Shapiro e Maurice Richlin / Elenco: Rock Hudson, Doris Day, Tony Randall / Sinopse: Brad Allen (Rock Hudson) é um machista playboy que se faz passar por uma caipirão para conquistar sua vizinha Jan Morrow (Doris Day) que implica com ele por causa da linha de telefone que ambos dividem. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Roteiro. Também indicado nas categorias de Melhor Atriz (Doris Day), Melhor Atriz Coadjuvante (Thelma Ritter), Melhor Direção de Arte (Richard H. Riedel) e Melhor Música (Frank De Vol).

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 19 de junho de 2019

-A História de Rock Hudson - Parte 6

Enquanto Paul Newman ia abrindo os caminhos para sua própria carreira, um ator se destacava no Olimpo de Hollywood na mesma época: Rock Hudson! Ele foi seguramente um dos mais bem sucedidos galãs do cinema americano de todos os tempos. Com ótimo visual, bem de acordo com a época, Hudson encarnava nas telas o melhor do homem americano viril, o sonho de todas as mulheres, praticamente um príncipe encantado da sétima arte. Por debaixo dos panos porém Rock era gay e isso ainda era mantido em segredo, a sete chaves, durante os anos 1950. Até porque se o público soubesse de algo assim simplesmente deixaria de ver seus filmes e os prejuízos alcançariam alguns milhões de dólares.

Poucos meses antes de morrer de AIDS, em 1985, Rock escreveu sua autobiografia onde contava amenidades e lembrava de casos ocorridos com ele na capital do cinema durante sua vida. Entre as curiosidades está um pequeno esboço de comportamento que todo grande astro de Hollywood deveria manter naqueles anos. Como se sabe Rock Hudson foi uma cria do departamento de publicidade e treinamento de atores do estúdio Universal. Era a época de ouro do chamado Star System, onde astros eram produzidos e lapidados dentro dos próprios estúdios para se tornaram heróis nas telas de cinema de todo o mundo. Alto, bonitão e dono de uma voz maravilhosa, Rock, um ex-marinheiro nascido no meio oeste, que sonhava se tornar um ator de sucesso, caiu como uma luva nas pretensões da Universal em fabricar mais um campeão de bilheteria.

Dentro do Star System havia um modo de operar. Os atores assinavam contratos leoninos (bem vantajosos apenas para os estúdios) e em contrapartida entregavam-se de corpo e alma aos departamentos de publicidade dessas empresas. Obviamente que grande parte do lucro dos filmes acabavam indo mesmo para os cofres da Universal, mas tudo isso era compensado pela vida de luxo e glamour para o qual os atores eram literalmente jogados. Hotéis de primeira classe, roupas dos mais prestigiados estilistas europeus, viagens por todo o mundo, tudo era bancado pelo estúdio, o que fazia com que os astros vivessem literalmente uma vida de eterna diversão e prazer. As mansões, os carros, nada era por acaso. A construção da imagem de um ator rico e famoso passava pelos planos de cada grande estúdio de Hollywood.

Aos poucos Rock foi aprendendo como deveria agir um autêntico astro de Hollywood. Pequenos detalhes do cotidiano eram essenciais e o estúdio ficava de olho em qualquer deslize. Por exemplo, um autêntico astro de Hollywood jamais poderia atender seu próprio telefone. Isso era considerado uma falha grave. Ele teria que ter um mordomo (de preferência inglês), devidamente fardado e treinado para esse tipo de situação. Da mesma maneira não podia se dar ao luxo de atender a sua própria porta da casa. Outros conselhos eram importantes: um astro de cinema não poderia perguntar o preço das coisas, não deveria assumir um namoro com quem quer que seja e nem tampouco expressar suas opiniões políticas. Também era expressamente proibido pelo estúdio o uso de uma mesma roupa duas vezes em público. O curioso é que se hoje em dia isso parece sem noção na época era levado muito à sério. Aliás nem todas essas regras banais caíram em desuso. Muitos astros de cinema da atualidade ainda seguem a velha cartilha à risca, afinal de contas ser um astro em Hollywood exige um padrão de comportamento bem diferente das demais pessoas comuns.

Pablo Aluísio.