quinta-feira, 22 de outubro de 2020

O Inferno é Para os Heróis

O ator Steve McQueen foi um dos grandes ídolos do cinema de ação das décadas de 1960 e 1970. Ele morreu relativamente jovem, por um câncer agressivo causado por exposição ao amianto, justamente no período de sua vida em que prestou serviço militar. Curiosamente foi como soldado que ele conseguiu seus primeiros papéis no cinema. Afinal de contas ele ficava muito bem nesse tipo de personagem, justamente por ter sido um militar na vida real. De certa maneira nem precisava interpretar tanto, nem fazer pesquisa sobre seus personagens. O laboratório de interpretação havia sido sua própria vida antes de ir para o cinema. Era a arte imitando a vida. Aqui temos um filme de guerra estrelado por ele, uma produção que de certa maneira caiu no esquecimento depois de tantos anos de seu lançamento original, isso apesar de sua boa qualidade cinematográfica. O cenário onde se passa a ação desse filme é a Europa devastada pela Segunda Guerra Mundial. No front de guerra, um pequeno grupo de soldados americanos é deixado para trás pelo exército, com a missão de  manter uma posição estratégica. 

O problema é que o pequeno pelotão está em menor número frente ao inimigo. Para tanto precisam convencer as tropas alemãs de que são bem mais numerosos do que realmente são. A linha de combate é ampla e cobre um grande território, mas os americanos se mostram firmes em defender sua posição. O roteiro explora muito bem a crueza do chamado combate corpo a corpo. Há boas cenas envolvendo um grupo avançado cujo objetivo é destruir uma casamata fortemente armada e defendida pelas tropas nazistas. Um dos aspectos que mais chamam a atenção em "O Inferno é Para os Heróis" é sua crueza e até mesmo frieza. O diretor Don Siegel optou por uma linha mais realista, deixando de lado toda a patriotada que caracterizou muitos filmes de guerra no apogeu de Hollywood. O clima é de leve desesperança, melancolia até, em um mundo destruído, em ruínas. O personagem de Steve McQueen passa longe de ser um herói romântico ou algo parecido. Para impactar ainda mais nesse aspecto o filme tem uma fotografia preto e branco bem mais escura do que o normal, enfatizando o clima de opressão e conflito que impera em toda a fita.

Outro ponto de destaque vem no elenco de apoio. Bobby Darin, cantor popular na época, principalmente cantando doces baladas românticas ao estilo de Frank Sinatra, encara um papel completamente diferente em sua carreira e não faz feio em cena. Já Nick Adams, da turma de James Dean e grande amigo pessoal de Elvis Presley, tem um pequeno papel, mas que no final se mostra bem relevante. Por fim James Coburn, com toda a sua competência habitual, acrescenta bastante ao filme interpretando um coronel durão. Era exatamente o tipo de papel que caía como uma luva em seu repertório de atuação. Enfim, se você gosta de bons filmes sobre a Segunda Guerra, "O Inferno É Para os Heróis" pode se tornar uma ótima pedida para o fim de semana.

O Inferno é Para os Heróis (Hell Is for Heroes, Estados Unidos, 1962) Direção: Don Siegel / Roteiro: Richard Carr, Robert Pirosh / Elenco: Steve McQueen, Bobby Darin, James Coburn, Nick Adams, Bob Newhart, Fess Parker / Sinopse: Durante a Segunda Guerra Mundial um pequeno grupo de soldados americanos tenta manter de todas as formas sua linha de defesa contra as tropas alemãs, mesmo estando em menor número do que os soldados do III Reich.

Pablo Aluísio. 

Quando Paris Alucina

Esse filme é uma divertida comédia que brinca com os bastidores de Hollywood. Um produtor acaba contratando um roteirista intrigado pelo título de seu roteiro que promete ser inovador. Com o nome de "A Moça que Roubou a Torre Eiffell" ele acaba encantando o magnata da indústria do cinema. A verdade porém é que o escritor não tem nada escrito, pois tudo não passa de um título bem bolado. Nas vésperas da entrega do roteiro ele então resolve partir para o tudo ou nada, usando inclusive os serviços de uma jovem e encantadora secretária para lhe ajudar. A proximidade iniciará uma improvável paixão entre ambos. Audrey Hepburn era maravilhosa. Sua presença nessa película só vem a confirmar o ditado que diz: Já não se fazem mais estrelas como antigamente! Audrey com todo o seu charme e elegância salva o filme de ser apenas um passatempo até levemente bobo, com figurinos e humor ingênuo, que hoje em dia poderia soar bem datados. O grande mérito é realmente do carisma de todo o elenco. A começar por Hepburn, passando por Holden e chegando em Tony Curtis, um ator que se tornou símbolo daquela era.

Muitos anos depois de ter feito essa produção a estrela máxima da elegância e finesse em Hollywood, a inigualável Audrey Hepburn, disse em uma entrevista que esse era o seu filme favorito dentre todos que fez ao longo de sua carreira. Eu entendo sua opinião. A produção é uma singela comédia romântica muito fina e elegante, igualzinha a ela, a Audrey. É um espelho cinematográfico dela mesma. Assim quem gosta dessa clássica atriz não poderá deixar de gostar desse simpático clássico do cinema.

Quando Paris Alucina (Paris - When It Sizzles, Estados Unidos, 1964) Estúdio: Paramount Pictures / Direção: Richard Quine / Roteiro: Julien Duvivier, Henri Jeanson / Elenco: William Holden, Audrey Hepburn, Tony Curtis, Mel Ferrer, Marlene Dietrich / Sinopse: Um roteirista de Hollywood promete escrever um roteiro inovador, só que na realidade ele não tem nada em mãos.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Os Abutres Têm Fome

Inicialmente o projeto foi desenvolvido pela Universal para ser estrelado pelo casal Richard Burton e Elizabeth Taylor. O problema é que Liz pediu um cachê considerado absurdo pelo estúdio para fazer o filme. Como a Universal não estava disposta a pagar um milhão de dólares para que a atriz interpretasse a freirinha Sara, o filme tomou novos rumos. Saiu Richard Burton e entrou Clint Eastwood, que vinha de uma série de faroestes bem sucedidos ao lado de Sergio Leone. Elizabeth Taylor também foi substituída por Shirley MacLaine, que realmente adorou o roteiro. Penso que foi a escolha ideal, pois dificilmente o público veria Elizabeth Taylor como uma missionária, uma freira, perdida no meio do deserto mexicano. A atriz Shirley MacLaine então assumiu o papel da irmã Sara, que tentando levar a palavra de Cristo aos rincões mais distantes do México acabava ficando no meio do fogo cruzado da guerra que se desenvolvia naquele país. 

De um lado o povo mexicano lutando por sua liberdade, em um movimento rebelde conhecido como "Juanistas". Do outro lado as tropas de ocupação da França, tentando transformar o país em mais uma de suas colônias. Clint Eastwood interpretou um pistoleiro chamado Hogan, que era acima de tudo um mercenário, disposto a vender sua "força de trabalho" a quem pagasse mais. Após fazer um trato com um coronel Juarista, ele entrava no conflito ao lado dos rebeldes. O grande objetivo seria tomar uma importante guarnição francesa na região, usando para isso uma passagem secreta entre um monastério católico e o forte francês. Apesar de toda a trama passada nesse contexto histórico da guerra de libertação do México, o fato é que as melhores cenas de todo o filme se desenvolvem na relação entre a doce freira católica Sara (MacLaine) e o durão e rústico Hogan (Eastwood). Um choque de personalidades diferentes que rende ótimos momentos no filme. Eles se encontram por acaso no meio do deserto e o pistoleiro, mesmo sendo um cara de poucos amigos, resolve ajudar a freirinha. Há ótimos diálogos entre eles, o que ajuda a manter o filme interessante. Como não poderia deixar de ser, há toda uma tensão sexual entre os dois embora isso seja, por causa das convicções religiosas dela, algo impossível de acontecer.

Clint Eastwood e Shirley MacLaine estão excepcionalmente bem no filme, mostrando muito entrosamento e amizade em cena. Anos depois a atriz revelaria que ficara encantada com o México (onde o filme foi rodado), pois apesar da população ser extremamente pobre, era também um povo de muita fé e esperança em um país melhor. O diretor Don Siegel, em mais uma parceria com o ator Clint Eastwood, também se revela uma ótima escolha pois conseguiu equilibrar bem um roteiro bem escrito, baseado na amizade conflituosa entre a freira e o bandoleiro, com boas cenas de ação no final do filme. Fica então mais essa dica, "Os Abutres Têm Fome", mais um bom momento de Clint Eastwood no western.

Os Abutres Têm Fome (Two Mules for Sister Sara, Estados Unidos, 1970) Direção: Don Siegel / Roteiro: Budd Boetticher, Albert Maltz / Elenco: Shirley MacLaine, Clint Eastwood, Manuel Fábregas / Sinopse: Pistoleiro e mercenário (Eastwood) encontra com uma freirinha católica (MacLaine) perdida no meio do deserto e resolve lhe ajudar, bem no meio da guerra de libertação do México da invasão colonial francesa. Filme indicado ao Laurel Awards nas categorias de melhor atriz (Shirley MacLaine) e melhor ator (Clint Eastwood).

Pablo Aluísio.

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Ambição Acima da Lei

Howard Nightingale (Kirk Douglas) é um delegado do Texas com grande ambição política. Pomposo e vaidoso transforma cada prisão que realiza em propaganda para sua campanha. Seu grande objetivo é ser eleito senador do Texas no congresso americano. Para isso viaja de cidade em cidade em sua própria locomotiva ao lado de seu grupo de auxiliares, todos impecavelmente bem vestidos. A grande chance de conquistar muitos votos surge na captura do bandido mais procurado do estado, o ladrão de trens Jack Strawhorn (Bruce Dern). Após eliminar todo o seu bando, Nightingale consegue encurralar o bandido perto de uma cidadezinha do velho oeste. Após a captura o leva para lá e realiza um verdadeiro comício com o evento, com direito a banda de música e tudo. Depois decide levar o criminoso para Austin onde pretende literalmente exibi-lo como troféu pelas ruas da grande cidade, obviamente tentando com isso angariar o maior número possível de votos para sua eleição ao senado. No caminho porém as coisas saem do controle e agora Nightingale terá que provar que não é apenas um político falastrão mas um delegado de verdade.
   
“Ambição Acima da Lei” foi um projeto muito pessoal do ator Kirk Douglas. Aqui ele atua, dirige e produz um western dos mais interessantes, uma verdadeira crítica à classe política de seu país, onde homens públicos utilizam aspectos inerentes aos seus deveres para única e exclusivamente se auto promoverem. O delegado interpretado por Douglas é um sujeito que se torna extremamente ambicioso em alcançar uma carreira política de sucesso e se distrai de suas verdadeiras obrigações como homem da lei. O roteiro se aproveita para no final o colocar como vítima da ambição de seus homens, o fazendo saborear do próprio veneno. Aliás o clímax de “Ambição Acima da Lei” é um dos mais inteligentes do cinema americano. Muito ácido e corrosivo, expõe as vísceras dos homens públicos de lá. Outro aspecto a chamar a atenção é que o filme foi realizado em 1975, já no ocaso do gênero, com Kirk Douglas bem veterano, mas tentando manter a chama do faroeste acessa. O resultado não poderia ser melhor, um filme inteligente, intrigante e com um raro sabor de crítica social.

Ambição Acima da Lei (Posse, Estados Unidos, 1975) Direção: Kirk Douglas / Roteiro: Christopher Knopf, William Roberts / Elenco: Kirk Douglas, Bruce Dern, Bo Hopkins / Sinopse: Delegado do Texas (Kirk Douglas) não perde a chance de fazer campanha política por onde passa. Nem quando prende o mais perigoso bandido do estado deixa de se auto promover visando ser eleito ao senado dos Estados Unidos. Sua subida ao poder porém sofrerá uma série de problemas.

Pablo Aluísio.

O Massacre dos Pistoleiros

Mais um filme de western que explora o famoso duelo no O.K. Curral em Tombstone. Essa é certamente uma das histórias mais exploradas no cinema sobre o velho oeste. Só para se ter uma ideia, estima-se que já foram feitos mais de 50 filmes sobre o xerife de Tombstone, Wyatt Earp e seu amigo, o dentista, pistoleiro e jogador de cartas inveterado Doc Holliday. Geralmente em quase todos os faroestes o personagem central, como não poderia deixar de ser, era Earp, mas aqui nessa produção da década de 1970 temos uma novidade pois o filme enfoca em primeiro plano a figura de Doc Holliday e seu romance com Katie Elder, uma prostituta que o amava, apesar de todos os seus problemas. Isso fica bem claro logo nas primeiras cenas quando Doc literalmente “ganha” a companhia da jovem em um jogo de pôquer! Depois disso ela não larga mais de seu pé. Como vivia de cidade em cidade, atrás de jogos e um clima mais ameno para sua tuberculose, acaba chegando em Tombstone, uma cidade isolada do Arizona. Para sua surpresa o homem da lei no local é justamente o seu velho amigo Earp. O reencontro de velhos amigos acaba sendo uma das melhores cenas do filme, que aliás apresenta um roteiro que procura ser fiel aos acontecimentos históricos reais.

A partir daí não convém mais contar nada, embora todo fã de western saiba muito bem o que vai acontecer, culminando tudo no famoso tiroteio contra os irmãos Clanton em um pequeno curral conhecido apenas como OK. O duelo real inclusive durou poucos minutos, foi uma troca de balas cara a cara, face a face, onde um pouco de sorte também contou a favor dos sobreviventes. O que impressiona até hoje foi o sangue frio desses homens que duelaram sem medo da morte. Eram outros tempos, outra mentalidade que imperava nesses pioneiros do velho oeste americano. O tom desse filme é de pura sobriedade. Achei inclusive o filme bem seco, com um tom realista, duro, como convém a uma produção dos anos 70. Doc Holliday, na pele do bom ator Stacy Keach, é uma figura até mesmo um pouco sombria, quase uma sombra do homem que poderia ter se tornado se não tivesse contraído tuberculose, uma doença terrível na época, sem cura, praticamente um atestado de morte iminente.

Muitos historiadores inclusive atribuem a isso a grande valentia e frieza que Doc demonstrava em momentos cruciais, afinal de contas ele não temia pela morte já que ela poderia acontecer a qualquer momento. Praticamente não tinha instinto de preservação. No O.K. Curral isso ficou bem nítido pois Doc estava bem no centro do fogo cruzado, mas não recuou nem um passo sequer do confronto. Era um ótimo pistoleiro e por isso virou uma lenda do oeste americano. Por fim, um último ponto importante: o roteiro de “O Massacre dos Pistoleiros” valoriza bastante a presença de Kate, aqui interpretada por uma jovem e bonita Faye Dunaway. Se você tem especial interesse nela e em sua carreira, o filme vai parecer uma ótima escolha.

O Massacre dos Pistoleiros (Doc, Estados Unidos, 1971) Direção: Frank Perry / Roteiro: Pete Hamill / Elenco: Stacy Keach, Faye Dunaway, Harris Yulin / Sinopse: Doc Holliday (Stacy Keach) vaga pelo velho oeste em busca de torneios de pôquer, mulheres, desafios e dinheiro, não necessariamente nessa ordem. Ao chegar em Tombstone encontra seu velho amigo, o xerife Wyatt Earp (Harris Yulin). Juntos enfrentarão a terrível gangue dos Clantons.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

O Rebelde Orgulhoso

Aqui temos mais um western clássico. A história se passa após o fim da guerra civil americana. John Chandler (Alan Ladd) se encontra completamente arruinado. Sua fazenda foi queimada pelos ianques, sua esposa foi morta na frente de seu pequeno filho que, traumatizado, nunca mais conseguiu falar. Ex-combatente da confederação, dos estados do sul, ele decide então ir até o norte em busca de uma cura para o garoto. O caminho porém não será fácil, pois ele passa a ser hostilizado por onde passa uma vez que é tratado como “rebelde” apenas por ser sulista, por ter sido um soldado confederado. Na busca por um tratamento para seu filho David (David Ladd), o pai obstinado acaba chegando numa cidadezinha na fronteira entre norte e sul. Lá, como sempre, é alvo de provocações, indo parar na cadeia após trocar socos com uns valentões locais. Tentando lhe ajudar de alguma forma, a fazendeira Lnett Moore (Olivia de Havilland) resolve pagar a fiança em troca do trabalho de Chandler em sua propriedade. O problema é que a fazenda é alvo dos irmãos Burleighs que cobiçam a região para pasto de seu rebanho. Após alguns ataques covardes (onde o bando de bandidos incendeia parte do rancho), Chandler resolve desafiar os criminosos, levando todos para uma disputa final de vida ou morte.

Esse é sem dúvida um dos melhores filmes de western da carreira de Alan Ladd. Com um roteiro que faz lembrar em certos momentos de “Os Brutos Também Amam”, o filme consegue conciliar drama, romance e ação nas doses certas. O ator Alan Ladd novamente incorpora um personagem integro, honrado e honesto que deseja apenas que seu filho volte a falar. Curiosamente o ator mirim David Ladd era de fato o próprio filho do ator, repetindo nas telas aquilo que era na vida real. O garotinho mostra muita desenvoltura em seu papel, criando um vinculo emocional bastante forte com o espectador.

O roteiro é muito bem escrito, e tira proveito de toda a situação com muita eficiência. Para os que gostam de animais, o filme ainda traz um pequeno cão pastor que acaba roubando várias cenas com seu adestramento. A disputa por ele acaba sendo um ponto crucial para todos os personagens na estória. É interessante notar ainda como Alan Ladd foi provavelmente o cowboy mais romântico do western americano em sua fase de ouro no cinema. Todos os seus personagens possuíam algo em comum, pois eram heróis trágicos, errantes, à procura de um lugar para recomeçar a vida (muitas vezes partindo praticamente do zero). O cineasta Michael Curtiz (um dos maiores nomes do cinema clássico americano) soube muito bem aproveitar dessa característica de Ladd aqui, mostrando mais uma vez toda sua elegância e seu talento, em um faroeste realmente muito bom, acima da média. Grande filme. Um belo momento da carreira de Alan Ladd, que aqui surge mais uma vez em sua quintessência.

O Rebelde Orgulhoso (The Proud Rebel, Estados Unidos, 1958) Direção: Michael Curtiz / Roteiro: Joseph Petracca, Lillie Hayward / Elenco: Alan Ladd, Olivia de Havilland, Dean Jagger, David Ladd, Harry Dean Stanton, John Carradine / Sinopse: Após o fim da guerra civil dos Estados Unidos, um ex-soldado confederado se arrisca a ir até o norte em busca de tratamento para seu filho que ficou sem falar após passar por um grande trauma. No caminho acaba se envolvendo numa luta por terras numa pequena cidade na fronteira entre norte e sul.

Pablo Aluísio.

O Grande Búfalo Branco

Um faroeste clássico estrelado por Charles Bronso. O interessante é que esse filme também apresenta elementos novos, nada comuns nesse gênero. Na história um sujeito chamado James Otis (Charles Bronson) chega em uma remota cidade mineradora bem na fronteira do chamado cinturão do ouro, onde várias minas do rico mineral estão sendo exploradas. Ele vem atrás de dois objetivos principais: achar seu filão dourado e caçar um mítico búfalo branco que habita as montanhas geladas de Black Hills. Há tempos Otis vem sofrendo de terríveis pesadelos onde se vê face a face com a temível besta. Agora, de volta ao oeste, ele pretende liquidar aquele que é considerado o último animal selvagem de sua espécie livre na natureza, uma vez que os búfalos da região estão praticamente extintos após longos anos de matança desenfreada por caçadores em busca de peles e carne dos animais abatidos. O que pouca gente sabe é que Otis é apenas um disfarce, pois ele é na verdade o famoso pistoleiro Wild Bill Hickok, que se mantém incógnito, sem alardear sua verdadeira identidade, pois sua fama o precede, sempre trazendo jovens aspirantes que desejam o título de "homem mais rápido do gatilho". Agindo assim ele evita ter que enfrentar um novo pistoleiro toda vez que entra em um saloon cheio de cowboys e aventureiros de todo tipo.

“O Grande Búfalo Branco” é um dos mais lembrados filmes de faroeste estrelado por Charles Bronson. É uma produção de Dino de Laurentis, com muita competência técnica. O Búfalo se torna no enredo uma besta invencível, um monstro a ser desafiado nas nevascas das montanhas. O animal é todo criado através de efeitos especiais e sonoros, criando toda uma expectativa no espectador sempre que surge em cena. Nos tempos de consciência ecológica em que vivemos atualmente, o enredo pode vir a incomodar alguns pois tudo o que pretende o personagem de Bronson e caçar e matar a fera terrível, que em acessos de fúria, mata homens, animais e crianças, varrendo tudo por onde passa.

Charles Bronson está muito bem no papel. Usando um figurino exótico, usando inclusive óculos de aros redondos, bastante psicodélicos, sua caracterização certamente cairá no gosto de seus fãs. Ao seu lado, no alto da montanha, caçando o búfalo, dois outros bons atores dividem a cena com ele, Jack Warden, como um velho caçador rabugento e Will Sampson como o mitológico guerreiro Sioux Cavalo Louco. Outro destaque do elenco é a presença da veterana Kim Novak, que apesar da idade mais madura ainda estava muito bonita. A direção é do competente J. Lee Thompson, que iria trabalhar ao lado de Bronson em outras fitas violentas, como "Dez Minutos Para Morrer", "O Vingador", "Desejo de Matar 4 - Operação Crackdown" e "Kinjite - Desejos Proibidos”. Em suma fica a recomendação desse bom momento do cinema western na década de 1970.

O Grande Búfalo Branco / A Caçada da Morte (The White Buffalo, Estados Unidos, 1977) Direção: J. Lee Thompson / Roteiro: Richard Sale / Elenco: Charles Bronson, Jack Warden, Will Sampson, Kim Novak / Sinopse: Caçador e pistoleiro se une a velho minerador e a um chefe indígena Sioux para caçar o último búfalo branco nas montanhas nevadas de Black Hills.

Pablo Aluísio.

domingo, 18 de outubro de 2020

Os Rifles da Desforra

Após o fim da guerra civil americana, as atenções do exército americano se desviaram para o Oeste selvagem. Na fronteira da colonização estava em curso um terrível massacre promovido por tribos indígenas hostis. Sentindo que suas terras estavam sendo invadidas pelos homens brancos, os nativos destruíam as propriedades e matavam os colonos que se aventurassem por aquelas regiões inóspitas. A situação era particularmente desastrosa no território do Arizona, onde comunidades inteiras estavam sendo vitimas de massacres promovidos por Apaches liderados pelo sanguinário Chefe Cochise (Michael Keep). Para manter esses colonos em segurança, o governo americano enviou tropas ao local, entre elas um pequeno pelotão liderado pelo Capitão Coburn (Audie Murphy). Sua principal função consistia em retirar os colonos das áreas mais perigosas para levá-los até o forte de Apache Wills, onde ficariam até que a cavalaria americana destruísse os inimigos Apaches que se escondiam nas montanhas. Uma guerra estava em curso e os civis tinham que ser protegidos. E esse era um tipo de serviço que apenas a cavalaria do exército americano poderia fazer.

Assim começa esse excelente “Os Rifles da Desforra”, western que passou um pouco despercebido apesar de suas inegáveis qualidades cinematográficas. Foi o penúltimo filme da carreira de Audie Murphy, o que não deixa de algo a se lamentar, já que é de fato um faroeste de bom nível. Seu personagem, o Capitão Coburn, por exemplo, não é um típico herói da cavalaria como já vimos em vários filmes antes, muito pelo contrário, é um sujeito duro e que não conta com a total simpatia de seus comandados. Esses também são retratos bem interessantes das tropas americanas naquele período histórico, pois muitos deles lutaram ao lado dos confederados durante a guerra civil, mas depois tiveram que usar a “casaca azul” da cavalaria para terem suas penas reduzidas, ou seja, não eram soldados por convicção mas por necessidade. Lealdade e honra certamente não estavam em seus planos como podemos ver depois nos acontecimentos do filme. Curiosamente o roteiro explora maravilhosamente bem esse conflito interno personificado dentro das tropas na figura do cabo Bodine (Kenneth Tobey), um ex-confederado que não tem qualquer respeito pelos ditos ianques. Em suma, “Os Rifles da Desforra” é de fato um belo retrato de um aspecto até bem pouco conhecido da história do velho oeste. Muito bom western que merece ser redescoberto pelos fãs.
 
Os Rifles da Desforra (40 Guns to Apache Pass, Estados Unidos,1967) Direção: William Witney / Roteiro: Willard W. Willingham, Mary Willingham / Elenco: Audie Murphy, Michael Burns, Kenneth Tobey / Sinopse: Durante as guerras indígenas no hostil território do Arizona um jovem capitão após proteger civis inocentes de ataques Apaches é enviado numa perigosa missão de recebimento de uma carga com 40 rifles de repetição do exército americano. Sua viagem será cercada de desafios uma vez que a região é infestada por grupos guerreiros Apaches.

Pablo Aluísio.

sábado, 17 de outubro de 2020

Um Homem de Coragem

A guerra civil americana chegou em um grande impasse no ano de 1864. Nem as tropas da União conseguiam grandes avanços e nem os exércitos confederados alcançavam grandes vitórias. Tudo parecia estagnado, uma luta sangrenta, com muitas vitimas, mas sem nenhum resultado para ambos os lados. No fundo o que determinaria a vitória seria o poder econômico e esse, naqueles dias, era representado pelo ouro. Para garantir o transporte desse metal vital para o esforço de guerra as tropas de Lincoln tinham que atravessar territórios hostis dominados por rebeldes e renegados. Para tornar seguro e eficiente o envio do ouro da Califórnia para o front de batalha, o exército designa então o Capitão John Hayes (Randolph Scott) para comandar e coordenar esse transporte. Assim começa o  western “Westbound” (seu título original em inglês), que no Brasil foi intitulado “Um Homem de Coragem”. É mais uma bem sucedida parceria entre o ator Randolph Scott e o diretor Budd Boetticher. O filme é bem curto – apenas 68 minutos – mas o diretor repete uma de suas características mais marcantes, a habilidade em contar uma boa estória sem exageros ou desperdício. Tudo se encaixa perfeitamente, mesmo em um filme de tão pouca duração.
   
Curiosamente ao contrário que aconteceu em outros filmes da dupla, esse não foi produzido por Randolph Scott. Na realidade temos aqui uma produção da Warner que resolveu bancar mais um filme com o astro dos faroestes, que demonstrou mais uma vez estar em ótima forma. Budd Boetticher investe em um roteiro muito bem escrito que explora um momento chave da história americana. O filme assim conta a história de uma complicada situação de um enviado do exército da União para uma região onde o povo apoiava as tropas rebeldes da Confederação.

Esse tipo de história já resultaria em um excelente western, mas o roteiro vai além e não se contenta em mostrar apenas isso, investindo também em intrigas, traições e até romance – pois o personagem de Scott volta para uma cidade onde seu antigo amor do passado mora (personagem interpretado pela atriz Virginia Mayo). Para piorar ela se tornou esposa do manda chuva local, um rico e poderoso empresário e fazendeiro que abraça os valores sulistas com ardor impressionante. Outro ponto digno de nota são as boas cenas de ação, marca registrada do cinema sempre ágil e eficiente de Budd Boetticher. Há um ataque a uma diligência com ouro extremamente bem realizada, provando o apuro técnico do cineasta. Enfim, “Um Homem de Coragem” é mais outro excelente momento na filmografia do astro do faroeste Randolph Scott.

Um Homem de Coragem (Westbound, Estados Unidos, 1959) Direção: Budd Boetticher / Roteiro: Berne Giler / Elenco: Randolph Scott, Virginia Mayo, Karen Steele, Michael Dante, Andrew Duggan / Sinopse: Capitão do exército da União é enviado para o oeste com o objetivo de garantir a segurança do transporte de ouro da Califórnia até o front de batalha durante a Guerra Civil Americana. O problema é que nessa viagem ele estará cercado de inimigos por todos os lados.

Pablo Aluísio. 

Homens em Conflito

Isabella Montgomery (Inge Rademeyer) é uma jovem inglesa que chega de Londres e ruma oeste adentro para ir morar com seu tio que tem um bonito rancho numa região distante e inóspita. Após desembarcar de seu trem ela é levada por dois capatazes para reencontrar seu tio mas no meio do caminho os empregados responsáveis por sua viagem resolvem fazer uma pequena parada em um saloon no meio do nada. Isso logo se revela uma péssima ideia pois ambos são atacados e mortos por um renegado errante que não pensa duas vezes em também raptar a jovem garota. Amarrada e colocada em seu cavalo, ela começa então a percorrer as longas planícies hostis do deserto como sua refém. Sua única salvação de ser resgatada vem de um bando formado pelo irmão de um xerife assassinado pelo seu seqüestrador. Eles querem colocar as mãos no criminoso para fazer justiça pelas próprias mãos. O problema é que o grupo não parece muito disposto a seguir a lei ao pé da letra.

“Homens em Conflito” explora a chamado síndrome de Estocolmo quando a pessoa sequestrada começa a nutrir simpatia por seu sequestrador. A garota Isabella Montgomery (interpretada pela bonita atriz Inge Rademeyer) passa muitas dificuldades nas mãos do bandoleiro sem nome que a raptou, mas ao mesmo tempo começa a simpatizar pela figura do bandido. Esse é um sujeito rude, de poucas palavras, que parece estar disposto sempre a cometer atos de irracional violência, embora não consiga levar adiante suas nefastas intenções com a garota, uma vez que sofre de problemas sexuais.

O bando formado pelo irmão do xerife morto também parece formado apenas por maus elementos, sujeitos grotescos que não descartam a possibilidade de também estuprar a pobre jovem sequestrada. Aliás é bom salientar que há uma sempre presente tensão sexual entre os personagens, tendo como alvo justamente a bela inglesa. O filme também pode ser considerado bem violento só poupando o espectador mesmo das cenas de violência sexual mais explicita (o que de fato é um alivio). No geral “Homens em Conflito” atinge seus objetivos, que é mostrar uma jovem inglesa, fina e elegante, jogada no meio ambiente brutal e cruel do velho oeste americano. Não é um filme leve mas vale a pena conferir.

Homens em Conflito (Good for Nothing, Estados Unidos, 2011) Direção: Mike Wallis / Roteiro: Mike Wallis / Elenco: Cohen Holloway, Inge Rademeyer, Jon Pheloung / Sinopse: Jovem inglesa é raptada por um renegado errante em uma região deserta e hostil do velho oeste americano.

Pablo Aluísio.