quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Estação Polar Zebra

Um interessante produto da guerra fria. Assim podemos definir essa produção “Estação Polar Zebra”. O filme foi um dos últimos grandes sucessos da carreira do ator Rock Hudson. Ele havia trocado de agente após longos anos. Harry Wilson o havia descoberto, transformado em um astro, mas depois de algum tempo deixou de promover adequadamente seu cliente. Com a carreira devagar, quase parando, Rock resolveu mudar tudo. Despediu Wilson, saiu da Universal, seu estúdio desde o começo de sua carreira e se tornou um ator freelancer. Ele já não era o astro campeão de bilheteria de antes e teve que correr atrás do papel. Se apresentou pessoalmente ao diretor John Sturges e pediu para fazer o filme. “Eu adoraria fazer Estação Polar Zebra” – disse abrindo o jogo. Após Sean Connery desistir do filme por ser muito parecido com seu papel na série James Bond (tudo que tinha a ver com guerra fria era logo descartado por Connery nessa época) Rock finalmente foi escalado para interpretar o comandante James Ferraday.

A produção foi realizada pela MGM, um estúdio lendário em Hollywood, mas que curiosamente Rock nunca tinha trabalhado antes, mesmo após todos aqueles anos de carreira. “Estação Polar Zebra” acabou fazendo sucesso de bilheteria reerguendo temporariamente a carreira de Rock. O filme não foi apenas importante para ele no aspecto puramente profissional, mas também no lado pessoal. Ele começou um relacionamento com o diretor de publicidade do filme, iniciando um longo affair que duraria anos (os dois chegaram inclusive a vir ao Brasil durante o carnaval de 1975, onde se divertiram como nunca). Na premiere aconteceu um fato curioso. Quando estava desfilando pelo tapete vermelho, Rock ouviu uma ofensa homofóbica dirigida contra ele vinda do público.

O ator ficou em choque pois seu homossexualismo ainda era um segredo muito bem guardado. Depois dessa experiência desagradável desistiu de comparecer pessoalmente nas estreias de seus filmes. Outro aspecto positivo foi que a crítica de uma maneira em geral gostou do que viu. O tom mais sério e concentrado da produção, procurando ser realista e pé no chão, mesmo se tratando de uma aventura passada quase toda dentro de um submarino nuclear americano, conquistou até mesmo os mais ferrenhos críticos americanos.  De fato “Estação Polar Zebra” acabou se tornando o último grande êxito comercial e de crítica da carreira de Rock Hudson. Era o fim de uma era.
 
Estação Polar Zebra (Ice Station Zebra, Estados Unidos, 1968) Direção: John Sturges / Roteiro: Douglas Heyes, baseado no livro de Alistair MacLean / Elenco: Rock Hudson, Ernest Borgnine, Patrick McGoohan / Sinopse: Comandante de um submarino nuclear americano tem que lidar com uma séria crise no ciclo polar ártico. Liderando uma perigosa missão que vai até os confins gelados do planeta, ele terá que ser bem sucedido para evitar um grave incidente diplomático com os soviéticos.

Pablo Aluísio.

Golpe de Mestre

Título no Brasil: Golpe de Mestre
Título Original: The Sting
Ano de Produção: 1973
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: George Roy Hill
Roteiro: David S. Ward
Elenco: Paul Newman, Robert Redford, Robert Shaw, Charles Durning, Ray Walston, Eileen Brennan

Sinopse:
Henry Gondorff (Paul Newman) e Johnny Hooker (Robert Redford) são dois vigaristas que resolvem unir suas forças e "talentos" para dar um golpe definitivo em um gângster que lhes prejudicou no passado. Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor filme, direção, roteiro adaptado, direção de arte, figurino, edição e música. Indicado ao Oscar nas categorias de melhor ator (Robert Redford),
direção de fotografia (Robert Surtees) e som. 

Comentários:
Dos grandes campeões do Oscar, esse "Golpe de Mestre" sempre foi um dos meus preferidos. Aqui Paul Newman e Robert Redford decidiram fazer mais um filme juntos. Eles tinham obtido grande sucesso de público e crítica com "Butch Cassidy" em 1969 e resolveram que era hora de voltar. Para isso contrataram novamente o mesmo diretor do filme anterior, o talentoso George Roy Hill. O resultado foi melhor do que poderiam imaginar. "Golpe de Mestre" foi o grande vencedor do Oscar de 1973, levando para casa nada mais, nada menos, do que sete estatuetas! Uma consagração completa. E o filme era realmente uma delícia de assistir, com um roteiro extremamente inteligente e bem escrito, mostrando os planos de um grupo de vigaristas - planos esses que não envolviam violência, mas apenas inteligência e sagacidade. Um aspecto interessante dessa história é que ela foi mesmo inspirada em um fato real que aconteceu no século XIX, no interior dos Estados Unidos. Usando de aparências, cenários e muita lábia, esses trambiqueiros conseguiram mesmo enganar muita gente. Outro ponto digno de nota vem da trilha sonora incidental assinada por Marvin Hamlisch. Essas melodias vão grudar em sua mente por anos e anos. Enfim, grande obra-prima da história do cinema. Um dos melhores já feitos com esse temática.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Aeroporto 79 - O Concorde

Mais um filme da longa franquia cinematográfica “Aeroporto”. Aqui a grande estrela não é o elenco de veteranos como aconteceu nos filmes anteriores, mas sim o próprio avião, o Concorde, uma aeronave de tripulantes que ficou famosa por sua velocidade, conseguindo fazer um vôo entre Paris e Nova Iorque em menos de três horas. Na época que essa produção foi lançada, o Concorde era o que de mais avançado existia em termos de aviação comercial no mundo. Um jato de linhas modernas e aerodinâmica arrojada, que infelizmente se mostrou ser um desastre comercial nos anos que viriam. Os preços das passagens eram caros demais, fora do alcance de passageiros de classe média,que sempre formaram a maior parte dos consumidores dos vôos comerciais. Além disso, seu custo de operação era muito alto, tornando inviável muitos vôos semanais entre Estados Unidos e a Europa. Há poucos anos o Concorde foi oficialmente aposentado, principalmente após um terrível acidente em que uma das turbinas pegou fogo em pleno ar, matando todos os passageiros e tripulantes. 

Já o filme, bem, qualquer desastre que tenha acontecido com o Concorde na vida real não pode nem ser comparado com a sucessão de desastres pelos quais passa o avião aqui. Apesar de uma certa euforia pela máquina em si, os roteiristas capricharam bem no fator "disaster movie" que era afinal o principal atrativo para esse estilo de filmes, que passaria a ser chamado no Brasil de "cinema catástrofe". O enredo é relativamente simples. Uma jornalista acaba conseguindo uma série de documentos que incriminam um rico industrial americano chamado Kevin Harrison, interpretado pelo ator Robert Wagner. A papelada prova que ele, através de suas indústrias, vendeu sistematicamente armas para governos corruptos e grupos terroristas ao redor do mundo. A repórter que está no avião pretende revelar tudo assim que chegar em Moscou. Para impedir sua divulgação o magnata decide derrubar o Concorde em pleno vôo durante sua viagem de Nova Iorque até Moscou.

Para concretizar seus planos ele literalmente tenta de tudo: mísseis, sabotagem e até mesmo uso de armas de última geração para levar ao chão o majestoso avião. O piloto do Concorde, Capitão Paul Metrand, é interpretado por um dos maiores galãs da história do cinema europeu, o astro francês Alain Delon. Já a atriz Sylvia Kristel, da série erótica Emmanuelle, atua como Isabelle, uma das aeromoças da aeronave. No campo dos efeitos especiais temos altos e baixos, pois boas cenas são intercaladas com montagens constrangedoras de tão mal feitas. É o preço pela passagem do tempo. No final de tudo temos um entretenimento com muitos absurdos de lógica e argumento, mas que diverte, caso o espectador deixe de reparar nos inúmeros furos do roteiro. De forma geral, apesar de tudo, o filme ainda consegue ser um dos mais originais da série "Aeroporto".

Aeroporto 79 - O Concorde (The Concorde... Airport '79, Estados Unidos, 1979) Direção: David Lowell Rich / Roteiro: Jennings Lang baseado na novela de Arthur Hailey / Elenco: Alain Delon, Susan Blakely, Robert Wagner, Sylvia Kristel, George Kennedy / Sinopse: Durante um vôo entre Nova Iorque e Moscou, um avião Concorde se torna alvo de um industrial poderoso que decide derruba-lo a todo custo. Ele quer evitar que seus casos de corrupção venham à tona. As provas se encontram com uma jornalista que está viajando no moderno avião de passageiros.

Pablo Aluísio.  

No Mundo de 2020

Título no Brasil: No Mundo de 2020
Título Original: Soylent Green
Ano de Produção: 1973
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Richard Fleischer
Roteiro: Stanley R. Greenberg, Harry Harrison
Elenco: Charlton Heston, Edward G. Robinson, Chuck Connors, Leigh Taylor-Young, Mike Henry, Joseph Cotten

Sinopse:
O mundo vive um período de trevas e crises em 2020. Há fome, violência e morte em massa da população mundial. No mundo devastado pelo efeito estufa e pela superpopulação, um detetive da polícia de  Nova Iorque começa a investigar o assassinato de um CEO de uma grande empresa.

Comentários:
Acredite, esse filme existe! Em 1973 foi lançado um filme de ficção chamado "No Mundo de 2020"! E como eles imaginavam o mundo de 2020 na década de 1970? Não muito bem! O futuro do filme (nosso presente agora) era retratado como um mundo em caos completo. Havia uma superpopulação mundial faminta, uma crise econômica absurda e muitas mortes causadas pelo efeito estufa que havia enlouquecido o clima no planeta! Sinceramente... não erraram em muita coisa - na verdade acertaram de forma assustadora em vários aspectos. A única coisa em que falharam foi que não previram a pandemia mundial, mas aí, vamos ser sinceros, seria pedir demais! É um filme B e como tal está mais preocupado em contar seu enredo policial envolvendo um assassinato e o segredo de uma grande empresa. Uma crítica contra as grandes corporações que eles entendiam que iriam dominar a economia global. A trama policial não é grande coisa, porém quando o roteiro sai desse foco e mostra o que está acontecendo no mundo lá fora a coisa realmente impressiona. As ruas de Nova Iorque estão todas tomadas por protestos violentos e pasmem, alguns manifestantes chegam a usar máscaras para o enfrentamento com a polícia! Mas afinal, quem foi o profeta moderno que escreveu esse roteiro mesmo?

Pablo Aluísio.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Duna

Certa vez o diretor David Lynch disse em uma entrevista que tinha orgulho de todos os filmes que havia dirigido ao longo de sua carreira... menos de Duna! Pois é, renegado pelo próprio Lynch, essa ficção baseada na obra escrita por Frank Herbert continua a ser alvo de ódios e paixões. O que deu errado? No meu ponto de vista o maior problema aqui foi que Lynch simplesmente não conhecia e nem chegou a dominar direito o livro original. Assim ele meio que foi às cegas para o trabalho, sem se dar conta que o livro, ou melhor dizendo, a série de livros de Duna, tinha um grande número de fãs e admiradores. E foram justamente os leitores dos livros que mais se decepcionaram com esse filme.

Eu entendo bem esse tipo de sensação. Havia tanta coisa para trazer das páginas da literatura para o cinema que simplesmente ficou impossível adaptar direito, fazer essa transposição. O universo de Duna nos livros é cheio de detalhes, com dinastias, religiões, culturas próprias. No filme tudo é meio que jogado na cara do espectador. É o típico caso de um roteiro que não conseguiu dar conta daquilo que estava sendo adaptado. Aliás é bom dizer que o ritmo do filme surge ora truncado, mal editado, ora com pressa, para terminar logo tudo na base da correria. Ficou ruim, vamos ser bem sinceros. E as brigas do diretor com o produtor Dino De Laurentiis só serviu para piorar tudo. O que já era ruim, ficou ainda mais medonho.

Se o filme não apresenta um bom roteiro, pelas razões que já escrevi, pelo menos há boas ideias na direção de arte, figurinos, cenários, etc. Duna tem um estilo visual bem próprio, que procurava ser original. Em termos de efeitos especiais há algo curioso. Os efeitos que reproduzem as naves espaciais ficaram absurdamente datadas e envelhecidas. Vistas hoje em dia soam simplesmente horríveis. Por outro lado os vermes gigantes que se arrastam pelas areias do planeta Duna ainda convencem, mesmo após tantos anos. Pena que nada poderia salvar as cenas em que o protagonista literalmente monta nos bichanos, como se fosse um cavalo espacial. O problema aqui é do material original e não do filme propriamente dito. Sim, é ridículo, mas culpem o escritor, não David Lynch por esses momentos constrangedores.

Duna não foi um sucesso comercial. Considerada uma produção cara demais para a época (algo em torno de 40 milhões de dólares) o filme não trouxe retorno para seus produtores, o que ajudou a afundar ainda mais a  Dino De Laurentiis Company. As brigas no set de filmagens e os problemas de finalização do filme se tornaram lendários e acabaram mais conhecidos do que o filme em si, já que poucas pessoas foram ao cinema conferir o resultado final. Agora teremos uma nova versão, dirigida pelo competente Denis Villeneuve. Será que dessa vez vai dar certo? Não sabemos ainda, mas é curioso saber que essa segunda versão também tem enfrentado diversos problemas no set de filmagens e pós-produção. Para tornar tudo ainda pior há a questão da pandemia que jogou o filme para uma data ainda incerta. Pelo visto adaptar Duna para o cinema nunca vai ser mesmo algo fácil de se fazer.

Duna (Duna, Estados Unidos, Itália, México, 1984) Direção: David Lynch / Roteiro: David Lynch / Elenco: Kyle MacLachlan, Virginia Madsen, Patrick Stewart, Francesca Annis, Linda Hunt, Brad Dourif, Silvana Mangano, Kenneth McMillan, Sting / Sinopse: No distante e desértico planeta de Duna, uma especiaria é especialmente valorizada, considerada a maior fonte de riquezas do universo. Duas dinastias começam a lutar pelo controle daquele mundo, ao mesmo tempo em que o jovem Paul Atreides vai se firmando como o líder profetizado que iria trazer liberdade e paz para aquele lugar perdido do universo. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor som.

Pablo Aluísio. 

Casanova e a Revolução

Mais uma excelente obra do mestre Ettore Scola. Aqui ele foca suas câmeras para o período da revolução francesa. A trama se passa exatamente dois anos depois da queda da Bastilha. O antigo regime veio abaixo e com ele toda a antiga nobreza, que da noite para o dia perdeu sua importância e relevância dentro da sociedade francesa. Muitos decidem fugir para fora das fronteiras francesas, como medo da morte. Os que ficaram acabaram mesmo na guilhotina. Os revolucionários franceses queriam sangue para lavar a bandeira da França com a morte daqueles que, em seu modo de ver, tinham destruído a nação. E entre os nobres que são atingidos por essa nova realidade está justamente o outrora famoso Giacomo Girolamo Casanova (Marcello Mastroianni). Amante lendário, escritor, poeta, ocultista e nobre, Casanova agora não passa de uma sombra de sua própria celebridade do passado. Envelhecido, decadente e empobrecido, o famoso personagem segue viagem numa pequenina carruagem quando essa quebra no meio da estrada. Para socorrê-lo uma diligência que vinha logo atrás o acolhe. Nela viajam uma ex-dama de companhia da rainha (interpretada pela bonita e talentosa Hanna Schygulla), um escritor subversivo, um burguês rico, dono de vastas propriedades, uma artista italiana de teatro e um intelectual plenamente convencido das virtudes do novo regime, apoiado nas idéias iluministas dos grandes escritores e filósofos da época.

A estrutura do roteiro é genial pois o cineasta Ettore Scola coloca as várias partes da sociedade francesa da época sendo representadas por cada um dos personagens que desfilam pela tela. O mais interessante deles é obviamente Casanova. Muitos filmes já foram realizados com o mitológico conquistador mas esse é um dos mais interessantes, pois foca no lado mais humano do homem, que vê seu mundo desmoronar enquanto tenta utilizar seu passado de glórias como muleta para sobreviver dia a dia. Frequentador das grandes cortes francesas (como Luis XV e Luis XVI) ele agora não tem mais para onde ir, pois seu ambiente natural, as luxuosas e extravagantes festas da nobreza, simplesmente deixaram de existir. Casanova foi então atropelado pela roda da  história, pelas mudanças radicais que aconteceram em sua época.

Para coroar ainda mais essa bela produção, Ettore Scola tira da cartola uma parte da história que é das mais interessantes: a tentativa de fuga de Luis XVI da França. Ao lado da esposa Marie Antoinette, o rei francês tenta escapar das garras da revolução e acaba cruzando caminho com os personagens do filme. O resultado é excelente sob qualquer ponto de vista que se abrace, seja do puro entretenimento, seja do interesse histórico dos acontecimentos narrados pelo filme. Historicamente correto, com ótimas atuações (em especial Marcello Mastroianni como Casanova) e uma direção brilhante, esse filme já é considerado um clássico moderno do cinema europeu pelos especialistas. Não deixe de assistir ou, melhor ainda, de ter em sua coleção de filmes.

Casanova e a Revolução (La nuit de Varennes, França, Itália, 1982) Direção: Ettore Scola / Roteiro: Sergio Amidei, Ettore Scola / Elenco: Marcello Mastroianni, Hanna Schygulla, Harvey Keitel, Jean-Louis Barrault / Sinopse: Após a revolução francesa, o decadente Casanova tenta se adaptar aos novos tempos. Após se socorrido por uma diligência no meio de uma estrada, ele é levado até uma cidade na fronteira da França onde o rei Luis XVI tenta escapar da ira dos revolucionários franceses. Indicado a Palma de Ouro em Cannes.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Tarde Demais

Um dos filmes românticos mais lembrados da carreira de Montgomery Clift e Olivia de Havilland, aqui em elogiada atuação que inclusive lhe garantiu o Oscar de Melhor Atriz naquele ano. Ela interpreta Catherine Sloper, uma moça que não parece atrair muito a atenção dos homens. Sem muitos atrativos, pouco bela e até desajeitada, ela fica longe do ideal romântico de sua época. Filha de um rico homem de negócios, ela acaba conhecendo em uma festa o bem apessoado Morris Townsend (Montgomery Clift). Ele parece ser o tipo ideal que uma garota como ela poderia almejar como namorado e quem sabe, um dia, seu futuro marido. O jovem com ares de galã acaba suprindo o vazio em sua vida sentimental. Não demora muito e Catherine logo fica perdidamente apaixonada por ele. Ao saber do breve romance da filha, seu pai fica obviamente enfurecido, uma vez que percebe as verdadeiras intenções de Morris, que no fundo parece querer apenas a rica herança de sua jovem. Para ele o amor de sua filha seria na verdade apenas um aproveitador, um “caçador de dotes”. A não aprovação do pai logo torna a situação tensa e conflituosa. Seria uma visão verdadeira da situação ou apenas mais um caso de preconceito social, já que o personagem de Clift não teria o mesmo dinheiro que o pai de sua jovem namorada?

Por amar muito Morris, a garota então decide romper com o pai para fugir com o amado. O pai imediatamente a deserda de toda a herança. Morris ao saber disso, simplesmente vai embora deixando a jovem destruída emocionalmente para trás. Teria ele fugido por medo, covardia da reação do pai de Catherine ou seria simplesmente o ato de um interesseiro, um golpista do baú? Anos depois, com o falecimento do pai, Catherine se torna finalmente a única herdeira de uma grande fortuna. Para sua surpresa nesse momento sua grande paixão do passado, Morris, reaparece. E agora, dará ela uma segunda chance ao homem que tanto amou?

“Tarde Demais” é uma excelente produção de época, que revive a alta sociedade americana do século XIX. Embora Olivia de Havilland esteja soberba como Catherine, o filme pertence mesmo a Montgomery Clift. Seu personagem, Morris, é muito rico em nuances psicológicas. A todo o tempo o espectador fica perdido, sem saber se ele é de fato um aproveitador ou apenas um homem fraco que não agüentou a pressão do pai de Catherine. O cineasta William Wyler também esbanja elegância e sofisticação nessa adaptação do famoso livro escrito por Henry James. Em suma, eis aqui um dos melhores filmes românticos de Hollywood em sua fase de ouro, em sua fase clássica. Uma obra prima do gênero.

Tarde Demais (The Heiress, Estados Unidos, 1949) Direção: William Wyler / Roteiro: Ruth Goetz, Augustus Goetz, baseados na obra de Henry James / Elenco: Olivia de Havilland, Montgomery Clift, Ralph Richardson, Miriam Hopkins / Sinopse: Rica herdeira fica em um grande dilema após o seu pai desaprovar o romance com o grande amor de sua vida! Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor atriz (Olivia de Havilland), Melhor direção de arte, Melhor figurino e Melhor trilha sonora. Indicado ainda ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Direção, Ator Coadjuvante (Ralph Richardson) e Melhor Fotografia. Vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz (Olivia de Havilland).

Pablo Aluísio.

Inimigos à Força

Esse foi o último western da carreira do ator Rock Hudson. Seu filme anterior no gênero, “Jamais Foram Vencidos” com John Wayne, fez bonito nas bilheterias assim Hudson acabou voltando para uma despedida final. Aqui ele contracena com o também veterano das telas Dean Martin. O ex-parceiro de Jerry Lewis interpreta Billy Massey, um rancheiro arruinado financeiramente que participa de um roubo ousado. Disfarçado de xerife, ele rende os passageiros de um trem enquanto seus comparsas roubam todos os viajantes e o cofre da locomotiva. Após o crime foge para as montanhas. Em seu encalço vai o verdadeiro xerife da região, Chuck Jarvis (Rock Hudson), que promete aos cidadãos da cidade que vai capturar e levar para a prisão o fora-da-lei. O problema surge após a descoberta da verdadeira identidade do criminoso, pois esse cresceu ao seu lado, foram amigos de infância e tudo acaba se tornando muito doloroso pois ele no fundo não deseja causar qualquer mal ao seu antigo amigo do passado. Surge assim um conflito interno no xerife, pois ao mesmo tempo em que ele precisa fazer cumprir a lei, ele também não quer causar qualquer mal ou dano ao fugitivo.

“Inimigos a Força” também foi um dos últimos trabalhos de Rock Hudson no cinema. Em 1973 ele já havia acumulado vários filmes que não foram bem sucedidos nas bilheterias. Ele deixou de ser um nome viável para grandes produções. Com vasto bigode, visual que iria adotar nos anos seguintes, Rock ainda tentava mostrar força no mundo do cinema, mas pelo visto não deu muito certo pois em pouco tempo ele estrearia na TV com a série “McMillian e Esposa”. O mesmo se pode dizer de seu colega em cena, Dean Martin, que surge já bastante debilitado pelos anos e anos de alcoolismo. O mundo do cinema já não parecia o lugar ideal para a dupla veterana. Assim como Hudson, Dean Martin também iria para a TV, onde apresentaria seu próprio programa de variedades.

De qualquer forma, mesmo se despedindo do cinema, essa dupla de atores conseguiu manter o pique da estória, principalmente nas melhores cenas do filme. Entre elas destaco o desfecho do filme, todo passado em uma floresta incendiada. Já nas cenas mais dramáticas, Dean Martin deixava um pouco a desejar. Numa cena em especial, ao lado da atriz Susan Clark, fica bem nítido seu problema com bebidas. Embora o personagem não esteja bêbado, a voz pastosa e sem firmeza de Martin dá a entender ao espectador que ele fez a cena completamente embriagado. Após um corte, ele já surge bem melhor, mostrando que o diretor provavelmente interrompeu as filmagens para o ator se recuperasse do porre! Mesmo com esse pequenos “desvios”, vamos dizer assim, “Inimigos à Força” é um bom faroeste da década de 1970. Nada brilhante, nada marcante demais, mas eficiente dentro de sua proposta na época em que o filme chegou nos cinemas.

Inimigos à Força (Showdown, Estados Unidos, 1973) Direção: George Seaton / Roteiro: Theodore Taylor, Hank Fine / Elenco: Rock Hudson, Dean Martin, Susan Clark / Sinopse: Após longos anos, dois amigos de infância se reencontram em lados opostos da lei. Um deles se torna um foragido perigoso após roubar um trem e o outro se torna um xerife disposto a tudo para cumprir a lei.

Pablo Aluísio. 

domingo, 20 de setembro de 2020

Harper, O Caçador de Aventuras

“Harper, o Caçador de Aventuras” é um filme da década de 60 com o sabor das antigas produções dos anos 40. O enredo é recheado de mulheres fatais, personagens dúbios, complexos e tramas praticamente indecifráveis. Como sempre acontecia naqueles antigos filmes o começo é relativamente simples mas conforme vai avançando a estória e as questões vão se revelando tudo começa a se tornar mais complicado. Seguir o fio da meada sem se perder é um desafio para os espectadores. Aqui Paul Newman interpreta um detetive particular cínico que é contratado pela esposa de um milionário desaparecido para encontrá-lo. Como sempre acontecia nos antigos roteiros da década de 40 aqui também temos muitas reviravoltas, muitas surpresas. Nenhum personagem é totalmente bom ou mal. Todos têm algo a esconder e a solução final desvenda todos os mistérios, não sem antes deixar muitas pistas falsas pelo caminho. O personagem Harper veio da literatura. Baseado no livro de “The Moving Target” do autor Ross Macdonald seu nome foi alterado para o filme por razões comerciais. De certa forma foi a solução encontrada pelo estúdio Warner para escalar seu astro Paul Newman em um filme que apesar de ser inspirado nos antigas produções noir bebia também da fonte da imensa popularidade da franquia James Bond.

Paul Newman está muito à vontade no papel de Harper. Mascando um chiclete atrás do outro ele se mostra bem cool e parece se divertir no papel. O bom resultado comercial do filme garantiria a ele um retorno ao mesmo personagem em “A Piscina Mortal” alguns anos depois. O elenco de apoio é todo bom. Lauren Bacall que interpreta a esposa do milionário desaparecido está especialmente cínica e mordaz. Viúva do mito Humphrey Bogart ela já tinha muita experiência nesse tipo de papel fatal. A personificação que me causou mais surpresa porém foi a da atriz Shelley Winters. Antigo sex symbol da década de 40 e 50 ela aqui se despe de sua vaidade para surgir como uma atriz decadente e deprimida, cujos tempos de fama há muito foram deixados para trás. Frustrada e sem esperança ela apenas existe, tentando viver um dia de cada vez. Winters está maravilhosa em sua atuação, muito marcante, digna de aplausos. Enfim, “Harper, o Caçador de Aventuras” é bem interessante e bem desenvolvido. É um tipo de filme onde a ação é mais intelectual (fica-se o tempo todo tentando descobrir o paradeiro do desaparecido) mas que vale a pena assistir, principalmente para quem gosta de desvendar charadas nesse tipo de roteiro.

Harper, O Caçador de Aventuras (Harper, Estados Unidos, 1966) Direção: Jack Smight / Roteiro: William Goldman baseado no livro de Ross Macdonald / Elenco: Paul Newman, Lauren Bacall, Julie Harris, Janet Leigh,  Robert Wagner,  Shelley Winters / Sinopse: Harper (Paul Newman) é um detetive contratado por uma mulher (Lauren Bacall) para encontrar seu marido desaparecido. O que parece ser algo simples acaba se revelando uma trama complexa e de difícil solução.

Pablo Aluísio. 

O Invencível

Kirk Douglas teve uma das filmografia mais longas e produtivas da história de Hollywood. São 92 filmes, onde o ator ao longo de cinco décadas de carreira, mostrou todo o seu talento, indo do drama à comédia, dos filmes de guerra aos filmes de western. Tudo realizado com grande talento e empenho profissional. Um de seus grandes filmes foi esse "O Invencível" de 1949, onde chegou inclusive a ser indicado ao Oscar de melhor ator. Muitos na época acreditavam que Kirk Douglas era o favorito ao prêmio, mas como em termos de Academia tudo pode acontecer, ele não levou a estatueta para casa. Claro, foi decepcionante para ele que apareceu na festa bem animado, mas não deu, Kirk não se tornou o escolhido daquela noite. Nesse filme Kirk Douglas interpretou um esportista conhecido como Midge, um sujeito de origem humilde que começa a subir na carreira de lutador de boxe. Conforme cresce e se torna uma figura importante no mundo esportivo, ele começa a esquecer todos aqueles que lhe ajudaram nessa longa caminhada. Abandona a mulher que fez tudo por ele e começa a ignorar parentes e amigos dos duros anos da pobreza. Como se vê é um personagem complicado de se interpretar, uma vez que na verdade se trata de um sujeito de caráter duvidoso, que acaba se deslumbrando com a sua própria fama e sucesso.

Para muitos especialistas na biografia de Kirk Douglas esse foi um dos filmes definitivos de sua carreira, pois o alçou para o estrelado. Não é para menos pois Kirk está completamente à vontade no papel do inescrupuloso Midge, uma pessoa que fica embriagada com seu próprio êxito nos ringues. O filme tem um clima noir dos mais marcantes, com belo uso da fotografia preto e branco, obviamente inspirado no cinema alemão da época. As cenas de lutas são extremamente bem editadas, o que valeu o Oscar de melhor montagem para o filme naquele ano. Até porque uma luta de boxe no cinema exigia emoção e nada melhor do que uma boa edição para realçar ainda mais esse aspecto.  

A atriz Marilyn Maxwell (grande amiga pessoal de outro astro da época, Rock Hudson) está perfeita no papel de Grace. Curiosamente o filme teria problemas anos depois no auge da chamada "Caça às Bruxas" pois o roteiro foi considerado o símbolo perfeito do sentimento subversivo que havia sido acusado o cinema americano daqueles anos. O roteirista Carl Foreman acabou sendo acusado de ser comunista e entrou para a lista negra. Bobagem paranoica, tipicamente da mentalidade débil mental do Macarthismo. Deixe tudo isso de lado, "O Invencível" é um perfeito retrato das mudanças de um homem que não conseguiu mais separar seu sucesso profissional de sua vida pessoal. Não se trata de uma ode à ideologia socialista. Assim fica a recomendação para os fãs do cinema noir da década de 1940, pois "Champion" é sem dúvida uma grande obra cinematográfica daquele período histórico do cinema americano.

O Invencível (Champion, Estados Unidos, 1949) Direção: Mark Robson / Roteiro: Carl Foreman, Ring Lardner / Elenco: Kirk Douglas, Marilyn Maxwell, Arthur Kennedy / Sinopse: Boxeador (Douglas) começa a colecionar vitórias nos ringues ao mesmo tempo em que começa a esquecer todos aqueles que o ajudaram a subir na carreira. O destino porém lhe reservará uma grande lição de vida. Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor edição (Harry Gerstad). Também indicado nas categorias de melhor ator (Kirk Douglas), melhor ator coadjuvante (Arthur Kennedy), melhor roteiro (Carl Foreman), melhor direção de fotografia em preto e branco (Franz Planer) e melhor música (Dimitri Tiomkin). Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de melhor direção de fotografia em preto e branco (Franz Planer).

Pablo Aluísio.