Tem coisa melhor, em termos de cinema, do que um bom filme clássico dirigido pelo mestre John Ford e estrelado pelo ator John Wayne? Não, não tem. Antes de tudo é bom salientar que esse, apesar dos nomes envolvidos, não é um western, um faroeste. Esse tipo de engano seria até bem comum, afinal quando se ouve falar em John Ford e John Wayne trabalhando juntos em um filme, logo se pensa nos clássicos filmes de western em que eles brilharam no céu de Hollywood em seus anos de ouro. Mas não, essa é uma produção diferenciada, até porque eles não queriam também ficar presos em apenas um gênero cinematográfica. A versatilidade também era um objetivo a se alcançar. A história é bem interessante. "The Long Voyage Home" traz o cotidiano do cargueiro Glencairn. Nele convive uma tripulação que entende que todos precisam de todos, onde a camaradagem e a amizade não são apenas uma questão de escolha, mas de necessidade vital se quiserem continuar vivos pelas longas viagens que fazem pelos mares. A união é a força e também uma questão de sobrevivência. E lá que trabalha o velho lobo do mar Olsen (John Wayne), um sujeito durão, mas também justo e íntegro, dono de um enorme coração. Ele é um marinheiro típico, trabalhador, mas igualmente apaixonado pelas coisas boas da vida, como a paixão por uma bela mulher em cada porto que chega.
Uma das surpresas que o cinéfilo vai encontrar nesse filme é seu estilo mesclado, pois se inicialmente o filme se propõe a ter sua carga dramática, também há muitos elementos de aventura, afinal John Ford tinha talento para praticamente todos os gêneros cinematográficos. Também é um filme bonito de se assistir com cenas belíssimas da natureza, captadas com capricho pelas lentes do mestre do cinema. Ele conseguiu trazer para o filme momentos perfeitos para a tela do cinema usando apenas de recursos naturais, como uma tensa neblina, que inclusive, em certos momentos, faz o espectador relembrar dos melhores momentos do cinema noir. O ator John Wayne por essa época (estou me referindo ao começo da década de 1940) estava prestes a se tornar o ator mais popular do mundo. Nesse filme ele está em sua caracterização habitual, a do homem durão, pura honestidade. Ao invés do cowboy cavalgando no deserto, ele aqui dá vida a um marinheiro da velha escola. Ficou muito bem no papel, não podia ser diferente. A novidade veio da complexidade que o roteiro procurou trazer para seu personagem. Por essa razão ele teve que se esforçar um pouco mais, porque suas cenas traziam uma carga dramática mais forte do que seus costumeiros filmes de faroeste.
O bom humor também está presente, como aliás era bem habitual nos filmes de John Ford. Mas não pense que o filme se resume a isso. Há também toda uma atmosfera de melancolia e solidão que permeia a vida dos marinheiros. Esse clima do filme até hoje impressiona a quem o assiste. Para falar a verdade o espectador se sente bem no meio das longas travessias escuras mar adentro que o filme mostra. Uma aula de cinema do mestre John Ford. Espetacularmente subestimado, o filme é extremamente recomendado aos fãs da sétima arte em geral, em especial para quem procura um filme clássico focado na vida de marinheiros em alto mar.
A Longa Viagem de Volta (The Long Voyage Home, Estados Unidos, 1940) Estúdio: Argosy Pictures, Walter Wanger Productions / Direção: John Ford / Roteiro: Eugene O'Neill, Dudley Nichols / Elenco: John Wayne, Thomas Mitchell, Ian Hunter / Sinopse: O filme "A Longa Viagem de Volta" conta a história de um grupo de marinheiros que trabalham em um velho cargueiro que faz longas viagens pelo mar, em especial da Inglaterra até os Estados Unidos. Entre eles está o velho lobo do mar Olsen (John Wayne) que tanto deseja a fortuna como a sorte no amor. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor filme, melhor roteiro (Dudley Nichols), melhor direção de fotografia (Gregg Toland), melhor edição (Sherman Todd), melhores efeitos especiais (R.T. Layton, Ray Binger) e melhor trilha sonora (Richard Hageman).
Pablo Aluísio.
Cinema Clássico
ResponderExcluirA Longa Viagem de Volta
Pablo Aluísio
Dom Pablo,
ResponderExcluirEsse John Wayne foi um dos "reis" de Hollywood. E foi rei por longos anos, campeão de bilheteria. Sei que você já escreveu muitos textos sobre ele. Continue trazendo sempre novas resenhas sobre seus filmes. Esse merece ser chamado de mito.
Meu falecido pai amava os filmes de John Wayne. Não sei dizer se ele viu esse, mas se viu tenho certeza que gostou, como gostava de todos. Grande John Wayne!
ResponderExcluirLord Erick,
ResponderExcluirJohn Wayne foi o ator que mais apareceu nas listas de "10 maiores bilheterias do ano". Ele foi recordista. Praticamente todo ano seu nome estava lá e muitas vezes em primeiro lugar. Ele foi extremamente popular, extremamente.
Bela Thaís,
ResponderExcluirÉ isso, um reflexo da popularidade dele, inclusive no Brasil. John Wayne foi um grande ídolo daquela geração. Marcou demais aquelas pessoas que gostavam de cinema entre as décadas de 1940 a 1970. Como disse o Lord Erick, John Wayne foi realmente um monarca do cinema.
Eu passei a vida ouvindo boçais propalando que ninguém é insubstituível. Aí eu pergunto: cadê outro John Wayne, cadê outro Elvis, cadê outro John Lennon, cadê...?
ResponderExcluirCertos artistas jamais terão sucessores. Essa é a realidade.
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