Por volta de 1969 John Lennon avisou a Paul McCartney que iria deixar os Beatles. Estava cansado de tudo e achava que o grupo não tinha mais futuro. Paul tentou de todas as formas manter Lennon no conjunto mas foi em vão. Ele dizia "Não" para tudo. Mesmo que fosse processado por quebra de contrato (pois os Beatles tinham contrato com a EMI até 1975) ele não voltaria atrás, nada mesmo o faria mudar de ideia. Para Lennon os Beatles tinham chegado ao fim com a morte de Brian Epstein e ele só havia se mantido fiel ao grupo por não saber o que fazer dali em diante. Com Yoko Ono ao seu lado isso mudou pois ele já conseguia planejar sua carreira após o fim dos Beatles.
Na visão de Lennon os Beatles tinham sido criados e fundados por ele e apenas ele, como líder do grupo, cabia a prerrogativa de acabar com tudo. Com muita diplomacia Paul pelo menos convenceu John a esperar um pouco mais, havia dois discos dos Beatles que ainda seriam lançados no mercado ("Abbey Road" e "Let It Be") e não seria o momento adequado para que John Lennon anunciasse publicamente que iria abandonar os Beatles. Depois desse encontro decisivo, Paul ficou pensando alguns dias sobre seu futuro. Era certo que nunca mais os Beatles voltariam ao estúdio novamente, já que era um grupo musical que naquela altura já tinha chegado ao seu final. Paul então comunicou a decisão de John para George e Ringo, que ficaram muito surpresos com a decisão de Lennon de ir embora de uma vez por todas.
Nesse meio tempo Paul McCartney tomou uma decisão que iria enfurecer John. Antecipando-se a ele foi até a imprensa e declarou que ele, Paul McCartney, não fazia mais parte dos Beatles. Quando a notícia pintou nos jornais no dia seguinte John Lennon ficou possesso com o ato de Paul que ele interpretou como uma verdadeira traição, uma apunhalada nas costas. John tentou entrar em contato com Paul por telefone para lhe passar um sermão mas ficou a ver navios. Paul se mandou para a Escócia e deixou a batata quente nas mãos da EMI e da Apple. John o acusou de ser mentiroso, oportunista e egocêntrico ao extremo. Dois dias depois Paul McCartney tomou outra decisão radical e agiu novamente, abrindo um pesado processo contra Allen Klein, o empresário do grupo, que Paul acusava de estar literalmente roubando os Beatles, principalmente nos direitos autorais e nas vendas de discos e compactos.
O fim dos Beatles foi uma coisa feia! Para processar Klein, Paul teve que também processar John, George e Ringo! Quando a caixa de Pandora foi aberta a coisa ficou muito feia. John imediatamente contra-atacou e abriu processos contra Paul McCartney e em pouco tempo todo mundo estava processando todo mundo, em uma briga infernal nos tribunais. Acusações de roubo, fraude e estelionato estavam nas páginas dos processos. Para quem falava tanto em amor em suas composições os Beatles agora estavam se matando dentro dos tribunais ingleses! Paul queria acima de tudo se livrar da agência de Allen Klein pois não admitia que tivesse que pagar dinheiro a ele por seus discos solos. Ele nunca gostara de Klein, que foi trazido aos Beatles por John Lennon, contra sua vontade. Nesse aspecto Paul tinha razão. A administração de Klein era pouco transparente e havia suspeitas que ele estava vendendo material inédito dos Beatles por debaixo dos panos, tudo para lucrar nas costas do quarteto. Paul tentou despedir Klein mas John e George foram contra. John chegou a dizer para Paul que ele sabia que Klein era um crápula mas que os Beatles precisavam de alguém assim para gerir seus negócios.
De uma forma ou outra Paul queria cair fora da Apple e abrir seu próprio selo que se chamaria MPL Communications! John enviou as sessões de "Let It Be" para Phil Spector em Nova Iorque para que ele transformasse aquele monte de sessões desorganizadas em um disco. Chegou a chamar as gravações de "a pior merda que os Beatles já gravaram". Spector mexeu nas gravações originais e adicionou novos arranjos nas músicas de Paul que o desagradaram completamente. Infelizmente ele não podia fazer mais nada pois como grupo musical os Beatles não mais existiam. O pior era saber que Paul não tinha mais controle sobre as músicas que tinham sido compostas para os discos dos Beatles.
Grande parte das canções dos Beatles pertenciam à Northern Songs, uma editora musical que havia mudado de mãos. Paul viu isso como um desastre financeiro para ele (e era mesmo!). Ele tinha que recomeçar a vida, formar um outro grupo e colocar o pé na estrada pois por incrível que pareça seus anos nos Beatles não foram tão lucrativos como todos pensavam, na verdade tinham sido um enorme desastre em termos de dinheiro - onde quem menos ganhou foi o próprio quarteto. Havia problemas legais e fiscais por todos os lados. A Apple só trazia prejuízo e em pouco tempo estaria falida. O rompimento traumático fez com que Paul e John ficassem muitos meses sem se falar. Além disso, juridicamente falando, os Beatles só deixariam de existir cinco anos depois, quando todas as arestas foram amparadas. Até lá houve muitos atritos e brigas, ofensas e xingamentos entre eles, o que serviu para aumentar ainda mais a tensão entre todos os membros. Mas, como diz o ditado, dias melhores viriam pela frente e Paul estava pronto para recomeçar tudo de novo em sua vida! No final Lennon resumiu tudo com sua famosa frase: "O Sonho Acabou!".
Pablo Aluísio.
The Beatles - O Fim
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