segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

007 Contra o Foguete da Morte

Depois do enorme sucesso de "Star Wars" lançado em 1977 todos os produtores correram atrás para explorar a nova moda de filmes de ficção, até mesmo os da franquia James Bond. O resultado é esse fraquíssimo "007 Contra o Foguete da Morte", considerado até hoje um dos piores filmes da série. Imagine colocar Bond em ambientes espaciais, em efeitos especiais completamente datados (que, apesar de serem bem ruins, chegaram a concorrer ao Oscar em Melhores Efeitos Especiais) e você entenderá do que se trata. Curiosamente parte do filme se passa em um Rio de Janeiro bem falso, com direito a uma feroz luta entre Bond e o vilão Jaws nos bondinhos do Corcovado. Mais nonsense impossível...

O filme foi dirigido pelo cineasta Lewis Gilbert que já havia trabalhado antes em "Com 007 Só Se Vive Duas Vezes" (ainda com Sean Connery) e "007 - O Espião Que Me Amava" (já com Moore). Esses foram dois bons filmes da franquia, o que me deixa ainda mais surpreso por ele ter cometido tantos erros nesse terceiro filme. O resultado foi considerado tão ruim que Gilbert foi afastado da série pela MGM. Quase Roger Moore também foi desligado da série, mas acabou sobrevivendo ao desastre, muito por causa da simples falta de opção de outros nomes adequados para estrelar a série. Assim não há outra conclusão a se chegar, nessa mistura de ficção B com James Bond realmente não deu nada certo - e acabou se tornando um dos mais constrangedores de toda a franquia. Bola fora espacial.

007 Contra o Foguete da Morte (Moonraker, Estados Unidos, Inglaterra, 1979) Direção: Lewis Gilbert / Roteiro: Christopher Wood / Elenco: Roger Moore, Lois Chiles, Michael Lonsdale / Sinopse: Com o mundo em perigo o agente James Bond (Roger Moore) é designado para descobrir uma extensa rede de uso de armas espaciais. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhores Efeitos Especiais.

Pablo Aluísio.

Carol

Ao ir até uma loja de departamentos para comprar uma boneca para sua filha, a bela e elegante Carol (Cate Blanchett) acaba se encantando com a vendedora de brinquedos Therese Belivet (Rooney Mara). Quando vai embora deixa suas luvas sob o balcão. No dia seguinte Therese as envia para Carol que lhe retorna agradecendo por telefone. Aos poucos o que parecia ser apenas um flerte casual ganha contornos mais sérios quando Carol convida Therese para almoçar fora. Elas estão inegavelmente atraídas uma pela outra, mas há vários problemas nesse relacionamento, entre eles o fato de Carol ser casada e estar enfrentando uma série crise em seu casamento, o que ocasionará um divórcio complicado e doloroso com seu marido. Em disputa, a guarda de pequenina filha de Carol. Oscar Wilde costumava dizer que o amor homossexual era o amor que não ousava dizer seu nome. Pensei exatamente nessa frase durante o transcorrer de todo o filme. As duas protagonistas parecem saber desde o começo que há algo maior e mais profundo entre elas, mas nenhuma parece disposta a cruzar a linha que as mantém separadas. Em determinado momento, ao telefone, Carol (Blanchett) implora para que Belivet (Mara) diga o que está pensando ou sentindo, mas ela recua. Realmente é um tipo de amor que não pode muitas vezes se revelar, dizer o seu nome. 

"Carol" é um filme de momentos. Se você prestar bem a atenção perceberá que o roteiro nem está muito preocupado em contar uma história linear, mas sim em captar o sentimento envolvido no encontro dessas duas pessoas apaixonadas que, por acaso, são duas mulheres. Esse aspecto aliás é certamente um dos grandes méritos desse texto. Ele não se torna chato ou cansativo justamente por não levantar bandeiras, por não se transformar em algo planfletário da causa gay ou qualquer outra  coisa parecida. Na realidade o mais importante é mostrar como elas se conhecem, como surge desde o começo um lapso de atração, logo no primeiro olhar, e como aos poucos vão se aproximando. Tudo é muito sutil, elegante e com classe. Por isso não existe espaço para o vulgar e nem para o grotesco. Há detalhes que fazem toda a diferença. Só para citar um, aquele momento em que as mãos finalmente se encontram sobre a mesa de um restaurante. Não é necessário palavras, apenas olhares. Toda a sutileza do roteiro se revela ali. Por essa razão também nem é tão significativo que estejamos na presença de um casal de lésbicas, afinal de contas as mesmas cenas que vamos acompanhando poderiam também se referir a um casal hétero, sem problemas. Sentimentos são sentimentos. Como eu disse, o grande valor de "Carol" vem de sua profundidade emocional, de seu jogo de pequenos momentos que vão formando algo maior. Nesse aspecto realmente não há como negar que se trata de um belo filme, feito de, como frisei, pequenos detalhes que vão revelando o despertar da paixão entre as protagonistas. Deixe-se levar e entenda que o amor não tem barreiras, limites ou fronteiras.

Carol (Carol, EUA, 2015) Direção: Todd Haynes / Roteiro: Phyllis Nagy, baseado no livro escrito por Patricia Highsmith / Elenco: Cate Blanchett, Rooney Mara, Kyle Chandler, Sarah Paulson / Sinopse: O filme mostra o relacionamento homossexual entre uma mulher casada que enfrenta problemas em seu casamento e divórcio e uma tímida e bela vendedora de uma loja de departamentos. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Cate Blanchett), Melhor Atriz Coadjuvante (Rooney Mara), Melhor Roteiro Adaptado, Fotografia, Figurino e Música original (Carter Burwell). Também indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama, Melhor Atriz (Cate Blanchett), Melhor Atriz (Rooney Mara), Melhor Direção e Melhor Trilha sonora original.

Pablo Aluísio.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Nem por Cima do Meu Cadáver

As comédias românticas americanas já não são mais as mesmas. Com o esgotamento da velha fórmula os produtores andam procurando por caminhos diferentes. Algumas vezes até dá certo, em outras o desastre é certo. Veja o caso desse filme. Quando começa o espectador (principalmente se for masculino) vai franzir a testa e dizer consigo mesmo: "Meu Deus, lá vem outra comédia romântica sobre casamentos!". Isso tudo porque a primeira cena do filme é passada justamente no dia de casamento de Kate (Eva Longoria) e Henry (Paul Rudd). E então vem a grande surpresa, já que os roteiristas, como eu escrevi, estão tentando mudar um pouco o que sempre se vê nesse tipo de comédia. A personagem Kate morre, logo no dia em que iria se casar, quando um anjo de gelo (daqueles usados em decoração) cai por cima dela. E então vem a "ideia brilhante" do diretor e roteirista Jeff Lowell: transformar Kate em uma fantasma que vai a partir daí atazanar a vida sentimental daquele que seria seu futuro marido.

E é isso. O filme todo se desenvolve em cima dessa bobeirinha. Henry (Rudd) vai ver uma vidente chamada Ashley (Lake Bell) e se apaixona por ela. Enquanto isso Kate começa a aparecer para Ashley, tentando com isso assustá-la para que ela deixe seu amado em paz. No fundo a fantasminha é tão possessiva que deseja ardentemente que ele nunca mais se relacione com mais ninguém na vida. Já deu para perceber que a personagem interpretada por Eva Longoria é bem antipática. O pior é que Ashley também não se mostra nada carismática. Assim acaba sobrando para Paul Rudd tentar levar o filme em frente, mas no final tudo isso é em vão. Não há outra maneira de qualificar essa insossa comédia romântica a não ser como insossa e sem graça. As tentativas de fazer rir passam por situações grotescas como cenas de flatulência. Enfim, descarte, esqueça e deixe pra lá, a não ser que você seja um espírita masoquista.

Nem por Cima do Meu Cadáver (Over Her Dead Body, EUA, 2008) Direção: Jeff Lowell / Roteiro: Jeff Lowell / Elenco: Eva Longoria, Paul Rudd, Lake Bell / Sinopse: Jovem noiva morre bem no dia do seu casamento. Quando seu futuro marido (que continua vivo) se apaixona por uma vidente ela começa a fazer de tudo para melar o novo relacionamento. Isso continua até o dia em que ela percebe que o melhor para si e seu amado é deixar o destino seguir em frente.

Pablo Aluísio.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Mad Max

Título no Brasil: Mad Max
Título Original: Mad Max
Ano de Produção: 1979
País: Austrália
Estúdio: Roadshow Entertainment
Direção: George Miller
Roteiro: James McCausland, George Miller
Elenco: Mel Gibson, Joanne Samuel, Hugh Keays-Byrne

Sinopse:
A visão de um futuro apocalíptico passado nos desertos da Austrália. O mundo está dominado por perigosas gangues de bandidos e foras-da-lei de todos os tipos. Para colocar um pouco de lei e ordem na região surge nas estradas desoladas o ex-policial Max Rockatansky (Mel Gibson). Vestido de couro da cabeça aos pés ele está determinado a impor novamente segurança pelas rodovias agindo como um verdadeiro policial, juiz e carrasco ao mesmo tempo. Filme premiado no Avoriaz Fantastic Film Festival na categoria de Melhor Direção (George Miller).

Comentários:
Junte um diretor australiano ousado, poucos recursos, um ator desconhecido e a vastidão do deserto localizado bem no centro da Austrália e o que você terá? Sim, um dos mais cultuados filmes de ação e ficção da história do cinema. A ideia era usar a desolação daquela região inóspita para mostrar um mundo pós-apocalíptico, após a humanidade ser praticamente quase toda destruída por guerras sem fim (que nunca são devidamente explicadas no roteiro). Nas estradas que sobraram vagam o ex-policial Mad Max e uma verdadeira fauna de psicopatas malucos e bizarros que lutam pelos bens mais preciosos naquele planeta devastado: água e combustível. Claro que a falta de recursos da produção se mostra muito nítido logo nas primeiras cenas, mas isso fica em segundo plano em razão da criatividade de George Miller. Certamente o filme trouxe seu nome para o primeiro plano e ele logo estaria dirigindo filmes em Hollywood. O mesmo aconteceu com Mel Gibson que até aquele momento só tinha aparecido em filmes australianos desconhecidos e medíocres. Depois de Max ele também foi para os Estados Unidos e lá emplacou uma carreira de grande sucesso comercial. Sendo o primeiro da franquia, esse "Mad Max" dos anos 1970 pode também ser considerado o primeiro de uma linhagem, pois filmes passados em um mundo destruído e sem esperanças se tornariam cada vez mais comuns, virando um verdadeiro subgênero de ficção. Quem diria que o louco Max iria fazer escola...

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Um Senhor Estagiário

Aos 70 anos de idade, Ben (Robert De Niro) decide retornar ao mercado de trabalho. Viúvo e aposentado, ele não aguenta mais passar seus dias sem fazer nada, procurando algo para ocupar seu tempo. Assim acaba encontrando um anúncio de uma empresa de internet que está atrás de pessoas mais velhas para estagiar. Os tempos são outros e Ben, um trabalhador à moda antiga, com terno, gravata e pasta, descobre que as regras que valiam no seu tempo não existem mais. Os funcionários da empresa são jovens que se vestem de modo casual e sua nova chefe, Jules (Anne Hathaway), é uma mulher que tenta levar uma vida profissional e pessoal no meio de muitos problemas, tanto em casa como no trabalho. Quando tomei conhecimento desse novo filme de Robert De Niro pensei comigo mesmo: "Lá vem mais uma comédia sem graça com De Niro! O pior é que agora, pelo visto, vão fazer piadas grotescas com gente mais velha". Ou seja, tinha tudo para ser um desastre!

Eu me enganei. O filme é realmente bom e em nenhum momento transforma as pessoas mais velhas em piada ou algo do tipo. Na verdade é até uma boa crônica sobre as mudanças que o mercado de trabalho sofreu com o advento das empresas que se especializaram em vender produtos na internet. A tônica "homem mais velho trabalhando com jovens" nem é tão importante no final das contas. Provavelmente por ter sido dirigido e roteirizado por uma mulher o filme se mostra bem sensível sobre questões familiares e de relacionamento. A boa sensibilidade feminina acabou salvando o filme como um todo. Além disso Robert De Niro está bem mais contido. Em comédias ele tende a exagerar um pouco, ficando em controle remoto, fazendo uma paródia de si mesmo, repetindo os mesmos cacoetes e maneirismos. Aqui ele está até muito sóbrio, sem qualquer tipo de exagero cênico. A se lamentar apenas a falta de uma maior experiência por parte de Anne Hathaway ao contracenar com De Niro. Realmente falta muito chão para ela um dia chegar perto do talento de seu parceiro em cena. Mesmo assim, com esse desnível, o filme não deixa de agradar. É simpático e de certa forma até mesmo cativante. Em termos de comédia De Niro não fez nada tão bom nos últimos anos. Por isso vale a pena assistir.

Um Senhor Estagiário (The Intern, EUA, 2015) Direção: Nancy Meyers / Roteiro: Nancy Meyers / Elenco: Robert De Niro, Anne Hathaway, Rene Russo, Christina Scherer / Sinopse: Aos setenta anos de idade, aposentado e viúvo, Ben (De Niro) decide voltar para o mercado de trabalho. Acaba achando uma vaga como estagiário numa empresa que vende roupas pela internet. Seu novo trabalho mudará não apenas sua vida, mas também a dos seus colegas de empresa. Filme indicado aos prêmios Broadcast Film Critics Association Awards, Casting Society of America e Jupiter Award na categoria de Melhor Ator (Robert De Niro).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Um Drink no Inferno

Eu gosto de Quentin Tarantino. Definitivamente gosto do cinema que ele faz. Até defendo quando o acusam de ser nerd demais ou excessivamente apelativo. São duas acusações que até possuem seu fundo de verdade, mas se pararmos para pensar bem que outro diretor nesses últimos anos conseguiu imprimir tão profundamente sua marca no cinema quanto Tarantino? Dito isso ele também realizou sua cota de bobagens indefensáveis. Um dos filmes de Tarantino que nunca consegui gostar foi justamente esse amalucado (no mal sentido da palavra) "From Dusk Till Dawn". Eu acredito que Tarantino sabia que não tinha um material muito bom em mãos e por essa razão cedeu seu roteiro para ser dirigido por Robert Rodriguez, uma espécie de pupilo do cineasta.

Com poucos minutos de filme eu já tinha percebido que se tratava de uma das piores porcarias já feitas com o universo dos vampiros (de que gosto muito!). Não há necessariamente uma história para contar, apenas muito sangue, violência gratuita (e cartunesca) além de uma infinidade de diálogos pateticamente constrangedores. Na época em que o filme chegou nas telas o ator George Clooney não era nenhum astro do cinema, apenas um ator de TV, de seriado médico, que tentava emplacar fora da telinha. O resultado é completamente descartável, quase um delírio pessoal de Tarantino que no final das contas nem faz muito sentido. É violência pela violência e nada mais. Não que os outros filmes dele saíssem muito dessa fórmula, mas aqui ele certamente exagerou no besteirol. E afinal alguma coisa ainda vale a pena citar? Basicamente nada, a não ser a bela presença de Salma Hayek como a vampira Santanico Pandemonium! Ela é uma das poucas lembranças que você terá desse filme que caiu no esquecimento (de forma justa, aliás). Uma bola fora Tarantinesca. Até porque ninguém é perfeito.

Um Drink no Inferno (From Dusk Till Dawn, EUA, 1996) Direção: Robert Rodriguez / Roteiro: Quentin Tarantino, Robert Kurtzman / Elenco: George Clooney, Juliette Lewis, Harvey Keitel, Salma Hayek, Danny Trejo, Quentin Tarantino, John Saxon, Kelly Preston / Sinopse: Dois criminosos e seus reféns vão parar em uma espelunca perdida no meio do deserto. Eles estão tentando fugir da polícia e tencionam ficar lá por pouco tempo, mas tudo acaba em caos quando descobrem que o lugar está infestado de vampiros sedentos por sangue humano. Filme "premiado" pelo Framboesa de Ouro na categoria de Pior Ator Coadjuvante (Tarantino).

Pablo Aluísio.

Chove Sobre Santiago

Em setembro de 1973 o presidente Salvador Allende foi cercado e tirado do poder pelos militares chilenos dando origem a uma ditadura que duraria anos sob o comando do general Pinochet. Esse filme que se propõe a ser um semi documentário dos fatos investe justamente nesses acontecimentos históricos para desenvolver seu tema principal. O ponto de vista é a do povo chileno, presenciando tudo acontecer sem conseguir fazer muita coisa. Na primeira vez que assisti a esse filme - lá por volta de 1996 - não achei realmente muito bem realizado. O que me passou despercebido é que os realizadores não estavam preocupados em realizar uma grande obra cinematográfica, mas sim deixar registrado, até como denúncia, sobre tudo o que havia acontecido.

Não há por isso muita preocupação em disponibilizar uma grande produção ao espectador e nem um elenco de primeira linha. Aliás nesse quesito apenas o ator Jean-Louis Trintignant pode ser citado como nome mais conhecido do grande público. O que vale, como escrevi, é realmente a mensagem ideológica que seus realizadores quiseram passar adiante. Por fim, como aspecto interessante, é importante chamar a atenção ao fato que havia muita diversidade nos tempos das locadoras de vídeo nos anos 1990. Encontrar um filme desses em acervo nem era algo tão raro naqueles dias. Esse é um aspecto que deixa saudades em tempos de fim desse tipo de mercado. De qualquer maneira deixo a sugestão, seja você um adepto do pensamento mais esquerdista, social, ou até mesmo um liberal de direita. Sempre é bom conhecer história, afinal de contas.

Chove Sobre Santiago (Il pleut sur Santiago, França, Bulgária, 1975) Direção: Helvio Soto / Roteiro: Helvio Soto, baseado na obra de Georges Conchon / Elenco: John Abbey, Jean-Louis Trintignant, Bibi Andersson / Sinopse: Em tom de documentário o filme explora os acontecimentos políticos que se abateram sobre a capital do Chile quando uma junta militar resolveu destituir o presidente socialista Salvador Allende. História baseada em fatos reais.

Pablo Aluísio.

Dois Velhos Rabugentos

Para quem sempre gostou da história do cinema esse filme, apesar de ser basicamente uma comédia despretensiosa, valeu muito a pena. Isso porque o elenco reuniu três veteranos das telas. Jack Lemmon e Walter Matthau formaram uma das duplas mais produtivas de Hollywood. Juntos realizaram dez filmes, algo que começou bem lá atrás, ainda nos tempos em que Billy Wilder percebeu que eles poderiam funcionar muito bem nas telas interpretando basicamente eles mesmos. Matthau representava  sempre o mal humorado, um tipo bem representativo do lado mais ranzinza da dupla enquanto Lemmon geralmente interpretava o lado mais amigável deles, o que não o lhe livrava de também apresentar certas neuroses e manias irritantes. Basta assistir a "Um Estranho Casal" de 1968 para entender bem como eles funcionavam juntos, qual era a química entre a dupla. Aquele foi o filme síntese de sua parceria duradoura. Nesse filme melhoraram tudo com a presença de Ann-Margret (velha conhecida dos fãs de Elvis por causa do filme "Viva Las Vegas").

Eles basicamente lutam pelo amor e afeição dela (que, apesar da idade, continuava ainda a ser uma mulher exuberante, muito bonita!). O enredo se passa no frio estado de Minnesota onde parece nevar o ano inteiro, não importando a estação. Apesar de divertir bastante, onde os dois atores demonstram claramente que o velho jeito para o humor jamais desaparecera, faltou um diretor como Billy Wilder para apimentar ainda mais a história. O cineasta Donald Petrie foi polido demais, familiar além da conta. Quem assistiu aos filmes da dupla no passado sabe muito bem que eles sempre foram muito além, fazendo inclusive um ótimo humor negro juntos (basta conferir "Uma Loira por Um Milhão" para entender bem isso). Aqui eles surgem um tanto empacotados. De qualquer forma a fita, apesar de ser um tanto bobinha, acabou ganhando uma sequência dois anos depois, "Dois Velhos Mais Rabugentos", onde eles finalmente se despediram da parceria nas telas.

Dois Velhos Rabugentos (Grumpy Old Men, EUA, 1993) Direção: Donald Petrie / Roteiro: Mark Steven Johnson / Elenco: Jack Lemmon, Walter Matthau, Ann-Margret / Sinopse: A tediosa rotina de dois velhinhos aposentados muda completamente quando eles conhecem uma dama pela qual se apaixonam perdidamente. A partir daí um tentará passar a perna no outro para conquistar o coração dela. Filme vencedor do BMI Film & TV Awards na categoria de Melhor Trilha Sonora Incidental (Alan Silvestri).

Pablo Aluísio 

Tornado

Tive a oportunidade de conferir no cinema. Com produção de Steven Spielberg, "Twister" acompanha a rotina de um grupo de pesquisadores que literalmente caçam tornados no meio oeste americano. O objetivo é despejar uma série de pequenas esferas dentro dos tornados para que os cientistas possam coletar dados do comportamento dessas tempestades que fugiram do controle. A ação se desenvolve justamente nessa luta de gato e rato com a natureza. O filme na época se beneficiou muito dos avanços da tecnologia digital. Provavelmente no passado não haveria como filmar uma produção dessas pois inevitavelmente colocaria toda a equipe técnica do filme em perigo - atores e demais membros seriam tragados por tornados reais. Com a tecnologia tudo acabou sendo recriado em computação gráfica - com resultados realmente maravilhosos.

Em termos de elenco temos a carismática Helen Hunt como destaque. Quando o filme chegou aos cinemas ela tentava emplacar no mundo da tela grande após fazer muito sucesso na telinha com humorísticos como "Louco Por Você", programa que mostrava o dia a dia de um casal em Nova Iorque. Não acompanhei muito, mas vi episódios esporádicos. Era tudo muito divertido - e bem escrito. Já em "Tornado" ele precisou suar a camisa para demonstrar aos produtores que poderia segurar um blockbuster de verão praticamente sozinha. O resultado é interessante, bem realizado, mas também esquecível. Não foi aquele tipo de filme que marcou, apesar do grande marketing que foi feito quando foi lançado. No geral vale mais como curiosidade de conhecer como vivem esses caçadores de tornados do que qualquer outra coisa. Cinematograficamente falando o resultado é realmente apenas ok!

Tornado (Twister, EUA, 2006) Direção: Jan de Bont / Roteiro: Michael Crichton, Anne-Marie Martin / Elenco: Helen Hunt, Bill Paxton, Cary Elwes / Sinopse: A pesquisadora e cientista Dra. Jo Harding (Hunt) parte ao lado de um grupo de aventureiros em busca de poderosos tornados que se formam no meio oeste americano. A intenção é estudar esses grandes eventos da natureza para entender melhor seu surgimento e desenvolvimento, evitando assim futuras tragédias. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Som e Melhores Efeitos Especiais.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

O Solitário Jim

A vida não está dando muito certo para Jim (Casey Affleck). Depois de passar anos em Nova Iorque sem conseguir nada de promissor, ele resolve voltar para a casa de seus pais. Sem qualquer perspectiva para o futuro ele resolve repensar os rumos de sua vida. Na pequenina cidadezinha natal acaba conhecendo casualmente em um bar local a enfermeira Anika (Liv Tyler). Ela também não tem uma vida ideal. Mãe solteira do pequeno Ben, ela tenta sobreviver a cada dia, o que definitivamente não é fácil, uma vez que o pai de seu filho não lhe ajuda a criar a criança. Talvez por estarem passando por momentos turbulentos na vida acabam se aproximando. Não existe uma previsão de um futuro melhor para eles, mas pelo menos podem começar uma nova fase na vida com esse inesperado romance. "Lonesome Jim" foi destaque no Sundance Film Festival. Isso se deu não apenas por ser dirigido pelo ator Steve Buscemi (que provou ser tão bom diretor como ator), mas também pelo seu bom roteiro e atuações de todo o elenco.

O roteiro é bem humano, todo baseado em relacionamentos. A volta de Jim para a casa dos pais simboliza o grande fracasso de sua vida pessoal. Ele é claramente hostilizado pelo pai, embora sua mãe fique feliz com seu retorno. Na cidade grande o melhor emprego que Jim conseguiu arranjar foi de passeador de cães, algo que o deixou à beira da miséria. De volta ao lar tudo parece cinzento e deprimido. O tom do filme aliás é bem melancólico, embora também haja momentos amargamente engraçados (o humor negro funciona muito bem aqui). Casey Affleck surpreende como Jim, um sujeito sem qualquer plano para seu futuro que acaba indo parar numa fábrica, trabalhando ao lado do tio maconheiro Evil (em ótima atuação de Mark Boone Junior). Embora todo o elenco esteja bem (talvez fruto do fato de estarem sob direção de um excelente ator, Buscemi) quem acaba roubando a cena é mesmo a atriz Liv Tyler. Bonita e carismática, acaba chamando todas as atenções. Então é isso, eis uma ótima opção de um roteiro inteligente, que vai fundo na alma humana.

O Solitário Jim (Lonesome Jim, EUA, 2005) Direção: Steve Buscemi / Roteiro: James C. Strouse / Elenco: Casey Affleck, Liv Tyler, Mark Boone Junior, Mary Kay Place / Sinopse: Aos 32 anos Jim decide voltar para a casa dos pais. Ele está sem trabalho e sem qualquer futuro. Seu retorno cria todos os tipos de tensões com seu pai, mas Jim pensa recomeçar, principalmente depois que conhece e começa a namorar a enfermeira Anika (Tyler), mãe solteira de um garotinho de sete anos. Filme indicado ao grande prêmio do júri no Sundance Film Festival.

Pablo Aluísio.

Jessabelle

Após sofrer um sério acidente, no qual seu marido morre, uma jovem garota, sem outra alternativa, resolve ir morar com o pai, um homem que ela mal conhece e que vive no pântanos da Louisiana. O lugar é velho, sujo e sinistro. Impossibilitada de andar por causa dos ferimentos, presa a uma cadeira de rodas, ela decide procurar por algo para fazer, para matar o tempo enquanto se recupera, Acaba encontrando uma velha caixa com fitas de vídeo dentro. Em pouco tempo resolve assisti-las e acaba ficando surpresa com o que encontra. Sua mãe, que mexia com ciência ocultas e misticismo, se revela nas filmagens, demonstrando saber tudo o que iria acontecer com a jovem em seu futuro distante. "Jessabelle" foi bem recebido pelo público em seu lançamento. Principalmente na internet foi grande a propaganda boca a boca. Todos elogiando o filme e seu suposto clima assustador.

Pena que ao conferir o filme não vi nada disso. Tudo bem, o roteiro procura assustar com os recursos que dispõe - entre eles os assustadores cenários alagados da Louisiana - mas tudo isso ainda é pouco. Há semelhanças demais com outros filmes de terror para se ignorar, em especial "O Chamado" e "A Chave Mestra". Do primeiro tiraram a ideia de que velhas fitas VHS poderiam servir como uma espécie de portal entre o nosso mundo e o mundo dos mortos. Do segundo aproveitaram o clima de magia e misticismo que cerca aquela região dos Estados Unidos. Mesmo derivativo, temos que admitir que o filme ainda tem alguns (poucos) bons momentos, principalmente em torno dos sinistros cultos de Voodu. Então no geral é isso, apesar de ter sido intensamente recomendado em fóruns e grupos de terror na internet, "Jessabelle" não é um grande filme de terror. Fica na média e decepcionará você se criar muitas expectativas. De qualquer forma dê uma conferida, nem que seja para matar a curiosidade.

Jessabelle (Jessabelle, EUA, 2014) Direção: Kevin Greutert / Roteiro: Robert Ben Garant / Elenco: Sarah Snook, Mark Webber, Joelle Carter / Sinopse: Garota acidentada, sem recursos e sem emprego, decide ir morar com o pai nas regiões pantanosas da Louisiana. Impossibilitada de andar por causa dos ferimentos resolve vasculhar as coisas da mãe e acaba encontrando sinistras fitas VHS onde ela parece prever o futuro de sua própria filha.

Pablo Aluísio.

Regresso do Mal

Durante a noite de Halloween, Mike Lawford (Nicolas Cage) decide levar seu pequeno filho de sete anos para assistir a grande festa que está sendo realizada pelas ruas de Nova Iorque. Ao parar para comprar um sorvete para o garoto se distrai e ele desaparece no meio da multidão. Desesperado pede ajuda para policiais, mas ninguém consegue encontrar seu jovem filho. Um ano depois, após muitas investigações e pistas falsas, Mike começa a perceber que algo sobrenatural pode estar envolvido no desaparecimento do menino. Ele segue pistas a partir de uma frase que sempre parece surgir pelo caminho "Pay The Ghost" (Pague o Fantasma). Após visitar um beco escuro onde vivem mendigos e desabrigados, ele descobre que há uma ligação entre essa expressão e uma antiga seita Celta que vem desde os primórdios da colonização da cidade, ainda no século XVII. A partir daí Mike finalmente entende que está lidando com algo muito maior e mais complexo do que poderia inicialmente imaginar.

Pois é, temos aqui um filme de Halloween, feito justamente para ser lançado nos cinemas durante esse feriado tipicamente americano. É mais uma tentativa de Nicolas Cage em levantar sua carreira que anda de mal a pior, colecionando fracassos sucessivos. Como fã de terror de longa data posso dizer que se você for esperar por algo muito assustador em relação a esse filme vai seguramente se decepcionar. O roteiro nem é tão mal, tem até boas ideias pelo meio do caminho (como um bom uso de flashbacks históricos), mas a coisa toda sempre fica um tanto artificial. É pouco verossímil para ser levado à sério e em consequência lhe passar algum tipo de medo de verdade. Os efeitos especiais são pontuais e pelo menos não estragam a história que está se tentando passar. O clima de suspense infelizmente é quebrado de forma até infantil na sequência final quando o personagem de Cage precisa atravessar uma espécie de ponte entre o nosso mundo e o mundo espiritual. Achei a ideia bem boba e infantilizada, sem consistência. Enfim, temos aqui realmente uma tentativa de faturar bem nos cinemas aproveitando a onda do Halloween, mas devo avisar que ficou mesmo pelo meio do caminho. Talvez funcione melhor com adolescentes, já com veteranos a fita não conseguirá mesmo impressionar em nenhum aspecto. Raso demais para causar qualquer tipo de medo.

Regresso do Mal (Pay the Ghost, EUA, 2015) Direção: Uli Edel / Roteiro: Dan Kay, baseado na novela de Tim Lebbon / Elenco: Nicolas Cage, Sarah Wayne Callies, Veronica Ferres / Sinopse: Professor se desespera ao perder seu filho no meio de uma grande festa de Halloween. Após meses de busca intensa ele começa a seguir pistas que podem levar a uma ligação entre antigas crenças celtas e o paradeiro de centenas de crianças desaparecidas. Teria algo a ver com um evento trágico que aconteceu em Nova Iorque durante o século XVII, em pleno período da colonização da cidade?

Pablo Aluísio.

A Possessão do Mal

Após a morte da esposa, Michael King (Shane Johnson), que sempre foi ateu, decide filmar um documentário desmascarando as crenças e religiões. Para ele tudo não passaria de uma picaretagem, um charlatanismo para pegar o dinheiro de pessoas inocentes. Ele fica particularmente revoltado com essa questão após presenciar por anos e anos a crença de sua esposa em relação a uma cartomante que dizia saber seu futuro. Ela teria dito para sua mulher que teria vida longa e uma carreira muito bem sucedida, mas poucos dias após ler isso nas cartas um acidente fatal a teria matado. Para Michael isso seria apenas uma das provas da tolice que giraria em torno desse tipo de fé religiosa. Assim, recuperado do luto, ele começa seu documentário. Inicialmente compra objetos usados em magia negra na internet como velas pretas, mesas de invocação e um livreto com tudo o que deve dizer nesses rituais.

Após entrevistar um padre que lhe alerta para não mexer com esse tipo de coisa, Michael segue em frente, registrando tudo com sua câmera. Apesar do ceticismo tudo começa a virar de pernas para o ar e Michael começa a sentir-se diferente, agindo de maneira não muito racional. Estaria ele possuído por entidades do mal, justamente aquelas que até então tentava provar que não existiriam? "The Possession of Michael King" é mais um mockumentary (falso documentário) que investe suas fichas no tema possessão demoníaca. O curioso desse roteiro é que ele coloca um ateu como personagem principal, um sujeito que não acredita em absolutamente nada, nem em Deus, nem em vida espiritual, em nada. Diante da perda da esposa querida e não tendo nada para se agarrar ele parte em uma jornada um tanto obsessiva para tentar provar que ele está certo - todas as religiões seriam bobagens, lendas e mitologias. Acaba se dando mal no caminho. Um bom filme, nada demais, porém com uma boa dose de sustos extra. Os efeitos especiais são bem realizados e a trama em si, embora básica, mantém o interesse. Dessa leva de filmes recentes sobre possessão é certamente um dos mais interessantes.

A Possessão do Mal (The Possession of Michael King, EUA, 2014) Direção: David Jung / Roteiro: David Jung / Elenco: Shane Johnson, Ella Anderson, Cara Pifko / Sinopse: Após perder a esposa em um acidente de carro, Michael King (Johnson), um ateu convicto, resolve filmar um documentário provando a inexistência de uma vida espiritual. Sua tese é que religiões em si são meras bobagens. Para isso ele invoca o demônio em uma missa de magia negra para provar que nada existe, só que acaba se dando mal ao mexer com forças que realmente desconhece completamente.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Motoqueiro Fantasma

O sonho do Nicolas Cage era interpretar o Superman no cinema. Não deu certo. Apesar do filme ter sido iniciado pela Warner logo foi cancelado. Cage não nasceu com a pinta do Clark Kent e nem muito menos com o tipo do Superman. Assim o projeto foi cancelado. Como não deu para interpretar o mais popular personagem dos quadrinhos o ator acabou procurando por algo mais, digamos, modesto. Acabou achando o que procurava quando o roteiro da adaptação de "Ghost Rider" caiu em suas mãos. O personagem, considerado secundário dentro do universo Marvel parecia mais adequado. Era um anti-herói, bem de acordo com a personalidade de Cage e também passaria longe de sofrer a pressão que uma versão de Superman teria ao chegar nas telas.

Esse primeiro filme, apesar de ter recebido críticas bem ruins, até que diverte bastante. É bem produzido, tem efeitos especiais bem legais e Cage está no tom certo, como se estivesse acima de tudo se divertindo como nunca! O enredo? Um jovem chamado Johnny Blaze (Cage), desesperado pelo fato do pai estar com um câncer incurável, resolve fazer um pacto com Mefistófeles (sim, ele mesmo, o anjo caído). O tal ser das trevas salvaria a vida de seu pai e em troca poderia levar sua alma. As coisas acabam não saindo exatamente como planejadas e muitos anos depois Mefistófeles retorna ao nosso mundo para cobrar a dívida. Nesse meio tempo o próprio Blaze, contando com os poderes das fossas infernais, se torna um motoqueiro fantasma. Ainda prefiro "Coração Satânico" que tem um desenvolvimento bem mais intelectual, mas mesmo assim não tem como não se divertir com esse filme. Vamos convir que como pura cultura pop, até que esse "Ghost Rider" se sai muito bem.

Motoqueiro Fantasma (Ghost Rider, EUA, 2007) Direção: Mark Steven Johnson / Roteiro: Mark Steven Johnson / Elenco: Nicolas Cage, Eva Mendes, Sam Elliott / Sinopse: Depois de fazer um pacto com o diabo um motoqueiro chamado Johnny Blaze se transforma numa estranha criatura, com seu corpo em chamas, dirigindo uma motocicleta realmente infernal. Filme indicado na categoria de Melhor Filme de Terror pela Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Ponte dos Espiões

Quando um espião russo é preso nos Estados Unidos acusado por espionagem internacional, o Estado designa o advogado James B. Donovan (Tom Hanks) para lhe defender no tribunal. A sociedade americana exige a pena de morte para o soviético pois em pleno auge da guerra fria os ânimos estavam mais do que exaltados. Donovan porém pensa diferente. Ele não está disposto a apenas cumprir meras formalidades processuais, mas sim defender realmente seu cliente. Isso acaba lhe trazendo uma série de problemas, tanto do ponto de vista profissional como pessoal, já que sua família passa também a ser ameaçada. Esse é o novo filme de Steven Spielberg. Longe de seu auge criativo e artístico, Spielberg tem se empenhado em contar boas histórias ultimamente. Aqui ele dividiu claramente seu filme em dois atos bem delimitados. No primeiro acompanhamos o advogado Donovan tentando defender o espião russo em plena paranoia da guerra fria. No segundo ato o mesmo personagem precisa trocar o espião que salvou da pena capital por um piloto americano preso na União Soviética após ter seu avião abatido nos céus da Rússia. Assim o espectador na verdade acaba assistindo dois filmes em um só, começando como um drama de tribunal e terminando como um filme de espionagem dos tempos da cortina de ferro.

Steven Spielberg realizou um filme um tanto burocrático em minha visão. A primeira parte, por exemplo, poderia ter sido muito mais bem desenvolvida. Nela os profissionais do direito poderão acompanhar a aplicação de fundamentos processuais importantes na prática como o princípio do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa e finalmente da teoria em sede probatória, tão conhecida entre nós advogados, da prova ilícita por derivação (frutos da árvore envenenada ou “Fruits of the poisonous tree”). Pena que Spielberg não pareça muito empenhado em desenvolver essas questões o que daria um excelente argumento para todo o filme em si. Já na segunda parte o diretor também fica pelo meio do caminho. Ele perde muito tempo com as negociações de troca de espiões, tornando a duração do filme muito excessiva. Há um claro exagero nesse aspecto que no final não acrescenta muito. Para piorar essa falta de um corte melhor acaba o tornando o filme meio cansativo em sua parte final. Some-se a isso o pouco interesse das novas gerações sobre um quadro geopolítico que já não mais existe e você entenderá que o diretor perdeu mesmo a chance de realizar um excelente drama de tribunal (que deveria se concentrar apenas nisso, realçando valores jurídicos e democráticos dos mais importantes). De qualquer forma, como Spielberg ainda é um dos mais influentes cineastas de Hollywood, ele conseguiu meio à força arrancar seis indicações ao Oscar, mas sinceramente falando terá poucas chances na noite de premiação. Até porque o filme, embora correto, não é nem de longe comparado com as suas grandes obra primas do passado.

Ponte de Espiões (Bridge of Spies, Estados Unidos, Alemanha, 2015) Direção: Steven Spielberg / Roteiro: Ethan Coen, Joel Coen, Matt Charman / Elenco: Tom Hanks, Mark Rylance, Alan Alda, Austin Stowell / Sinopse: James B. Donovan (Tom Hanks) é um advogado americano designado para defender um espião russo em plena guerra fria. Na outra linha narrativa uma avião de espionagem U2 é abatido nos céus da União Soviética, detonando uma crise diplomática entre as duas nações. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Roteiro, Melhor Ator Coadjuvante (Mark Rylance), Design de Produção, Música e Mixagem de Som.

Pablo Aluísio.