terça-feira, 27 de outubro de 2020

The Boys

Finalmente comecei a assistir essa série "The Boys". A premissa é interessante. Imagine um mundo com muitos super-heróis. Em determinado momento é informado ao espectador que existem mais de 200 apenas dentro dos Estados Unidos. Pois bem, essa seria uma situação interessante. Agora imagine que esses super-heróis não sejam virtuosos, não sejam boas pessoas. Pelo contrário, são todos canalhas, arrogantes, egocêntricos, assediadores e... criminosos! Embaixo da imagem pública, eles seriam na verdade meros crápulas com roupas espalhafatosas. Todos os personagens de heróis que vemos aqui são versões mais bregas dos personagens da DC Comics (Não vi até agora nenhum destruindo a imagem de heróis da Marvel). A série já conta com três temporadas até o momento. Seu criador disse recentemente em entrevista que ela só durará, se tudo der certe, cinco temporadas. Nessa primeira temporada foram produzidos apenas 8 episódios. Comento abaixo os episódios, conforme for assistindo.

The Boys 1.01 - The Name of the Game
Esse primeiro episódio, como era de esperar, apresenta os principais personagens. Uma jovem com poderes especiais, que sonha em fazer parte do seleto grupo de super-heróis, acaba descobrindo que para conseguir sua vaga ali entre a elite dos heróis vai precisar se submeter sexualmente a um deles. Puro assédio sexual, da pior espécie. Uma amostra do verdadeiro caráter daquelas pessoas. Isso demonstra que essa série definitivamente não é para menores. Na outra linha narrativa um jovem comum, que trabalha numa loja de eletrodomésticos e eletrônicos, vê sua namorada praticamente "evaporar" após um super-herói ultra veloz (uma paródia do Flash) bater nela em velocidade supersônica. A empresa que controla os super-heróis oferece a ele então 45 mil dólares de indenização. E a chegada de um sujeito que se diz agente do FBI e que quer pegar os super-heróis muda sua vida de forma completa. Bom episódio, bem produzido e com roteiro redondinho. Gostei bastante. Agora é acompanhar os que virão. / The Boys 1.01 - The Name of the Game (Estados Unidos, 2019) Direção: Dan Trachtenberg / Roteiro: Eric Kripke / Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Elisabeth Shue, Antony Starr. 

The Boys 1.02 - Cherry
O translúcido é colocado dentro de uma gaiola com eletricidade. Ele está preso, mas o que é complicado mesmo é achar uma maneira de matar o tal super-herói. Ele resiste a praticamente tudo, eletrochoques, tiros, o diabo a quatro. Então o francês pensa um pouco e acha uma maneira, mas como? Colocando um explosivo plástico em seu ânus! Não é fácil, mas tem jeito. Enquanto os caras vão arranjando um jeito de matar o translúcido, o Capitão Pátria (uma óbvia sátira ao Superman) tenta contornar seu próprio mau caratismo. Ele chegou ao ponto de derrubar um avião comercial só para matar o prefeito. Em conclusão, é um psicopata mesmo, disfarçado de super-herói. E a Starlight? Tem sua primeiro missão como heroína no cais do porto. O complicado é ir ao lado do Profundo, que não passa de um mau caráter e assediador sexual da pior espécie. / The Boys 1.02 - Cherry (Estados Unidos, 2019) Direção: Matt Shakman / Roteiro: Eric Kripke/ Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Antony Starr. 

The Boys 1.03 - Get Some  
O Translúcido foi pelos ares, em pedacinhos, isso literalmente falando. Seus restos são colocados em uma caixa de zinco e jogado na baía. O Capitão Pátria não conseguiria ver através desse metal (alguém ai lembrou do chumbo e do Superman?). Pois é, isso mesmo. Enquanto isso o Trem Bala é desafiado para uma corrida. Seria ele ainda o homem mais rápido do mundo? Seu desafiante se chama Onda de Choque. E com medo de perder o Trem bala usa uma droga chamada V, arranjada pela sua namorada Lâmina. Coisa da pesada e ilegal. E os marqueteiros continuam a mandar e desmandar nos super-heróis, interferindo até mesmo em seus trajes. Quanto mais sensuais, melhor. Por fim o trio que matou o Translúcido ganha um novo membro, um cara que atende pelo apelido de "Leitinho da Mamãe". Vê se pode uma coisa dessas... / The Boys 1.03 - Get Some (Estados Unidos, 2019) Direção: Philip Sgriccia / Roteiro: George Mastras, Eric Kripke / Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Antony Starr. 

The Boys 1.04 - The Female of the Species
Um avião é sequestrado por terroristas. Queen Maeve e o Capitão Pátria são enviados e aqu vemos como esse sujeito é totalmente despido de qualquer cárater. Quando ele percebe que o avião vai cair, com quase 200 pessoas a bordo, tudo o que ele faz é dar de costas, deixando aqueles passageiros à própria sorte. Sequer admite salvar algumas delas, pois se fizer isso vai "manchar sua imagem", pois quem sobreviveu seguramente iria contar para os outros o que havia acontecido. Um horror! A loirinha estrela? Sai com um carinha para o boliche, sem sequer desconfiar que ele quer mesmo é grampear seu celular. Por fim a cena do golfinho é de um humor negro tão grande que você fica sem saber se ri ou chora! Totalmente nonsense. / The Boys 1.04 - The Female of the Species (Estados Unidos, 2019) Direção: Frederick E.O. Toye / Roteiro: Craig Rosenberg, Eric Kripke / Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Antony Starr. 

The Boys 1.05 - Good for the Soul 
Esses super-heróis são grandes exemplos de hipocrisia. O Capitão Pátria, depois de ter virado as costas para as pessoas que morreram naquela desastre de avião, participa de uma cerimônia em homenagem a todas elas. E chora, e faz discurso e arrota mentiras. O sujeito é completamente asqueroso (e gosta de mamar como um bebezinho indefeso, olha o tamanho da imbecilidade). Já a "virgem profissional" Luz Estrela mente em uma convenção de evangélicos. Enquanto o pastor principal (bem conhecido por ser um gay nos bastidores) fala palavras de ordem, ela confessa para o público que ainda é virgem (mentira deslavada, meus irmãos). Enfim, mais um bom episódio dessa série que veio para acabar com o universo dos heróis de quadrinhos. / The Boys 1.05 - Good for the Soul (Estados Unidos, 2019) Direção: Stefan Schwartz / Roteiro: Anne Cofell Saunders, Eric Kripke / Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Antony Starr. 

The Boys 1.06 - The Innocents
Esse episódio traz respostas para perguntas importantes dentro da série. A primeira delas é a resposta para a seguinte pergunta: Por que Billy Butcher odeia tanto os super-heróis? A resposta? No passado o Capitão Pátria seduziu, estuprou e matou sua esposa. Isso mesmo, enquanto posa de herói da virtude, o tal sujeito não passa mesmo de um criminoso. Outra questão: De onde vem os poderes dos super-heróis de The Boys? Ora, vem do componente V que foi aplicado neles quando ainda eram bebezinhos. Como se pode perceber o mundo dos heróis de The Boys é pura falsidade, escrotidão e hipocrisia. Algo demolidor na imagem de qualquer galeria de super-heróis. / The Boys 1.06 - The Innocents (Estados Unidos, 2019) Direção: Jennifer Phang / Roteiro: Eric Kripke / Elenco: Karl Urban, Erin Moriarty, 

The Boys 1.07 - Butcher, Baker, Candlestick Maker
Nessa altura da série já sabemos que o Capitão Pátria é um tremendo de um canalha. Não tem nada de heroísmo em sua personalidade. E ficamos também sabendo mais detalhes de sua vida no passado. Na verdade ele não foi criado por uma família, como ele mesmo diz em falsos documentários exibidos na TV. Ele foi criado mesmo como sendo um "rato de laboratório". Nesse episódio ele volta para visitar o homem que coordenava o experimento que cuidava dele desde que nasceu. E o pior de tudo, o sujeito revela que ele teve um filho, que essa criança rasgou a barriga da própria mãe para nascer e que morreu logo depois. E todos pensavam que o Capitão Pátria não podia se reproduzir. Pior do que tudo, a mulher que havia ficado grávida dele era justamente a esposa do Butcher - algo simplesmente horrível, em todos os aspectos! / The Boys 1.07 - Butcher, Baker, Candlestick Maker (Estados Unidos, 2020) Direção: Stefan Schwartz / Roteiro: Craig Rosenberg, Eric Kripke / Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Antony Starr. 

The Boys 1.08 - You Found Me
Como termina a série "The Boys"? Ou pelo menos como termina a primeira temporada? Com muitas surpresas. Billy Butcher fica pasmo ao descobrir que sua mulher está viva! Como bem sabemos ele tem essa sede de vingança contra os super-heróis porque acredita que o Capitão Pátria estuprou e matou sua esposa. Só que nada foi dessa maneira. Ela está viva e é mãe de um garoto, de uns 12 anos de idade. O pai desse garoto? Ele mesmo, o Capitão Pátria! E para quem ainda acredita em uma só pequena dose de bondade desse super-herói o episódio traz a chocante morte de Madelyn Stillwell (Elisabeth Shue). Ela é assassinada com requintes de crueldade por ele mesmo, sim... o Capitão Pátria! Logo ele, que parecia ter um relacionamento amoroso com ela. Nada de especial. Quando ele descobre algumas coisas de seu passado nem pensa duas vezes, a mata com seus olhos de raios lasers. Terrível. Por fim, como gancho para a segunda temporada temos duas coisas importantes. 1) A Luz Estrela decide ajudar os amigos de seu namorado. 2) Há um super vilão terrorista à solta no Oriente Médio. As coisas pelo visto só vão piorar! / The Boys 1.08 - You Found Me (Estados Unidos, 2019) Direção: Eric Kripke / Roteiro: Anne Cofell / Elenco: Karl Urban, Antony Starr, Elisabeth Shue.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Radiomania

Bill Lawrence (James Stewart) é um trabalhador comum. Ao lado da esposa e dois filhos, ele leva uma vida bem rotineira e pacata. Todas as manhãs ele acorda e segue para o trabalho numa grande loja de magazine de sua cidade. Sua vida começa a mudar quando recebe o telefonema de uma estação de rádio local. A atendente lhe avisa que à noite, durante um popular programa, ele terá que responder a uma pergunta que vale 24 mil dólares. No começo Bill não leva nada muito à sério e resolve juntar todos os seus amigos para ouvirem o rádio juntos. Tudo acaba virando uma grande festa. Quando a grande hora chega e a pergunta é feita Bill, ele acaba acertando, se tornando o vencedor do cobiçado prêmio. O que ele não contava é que o prêmio vai lhe trazer uma série de dores de cabeça, virando sua vida literalmente de cabeça para baixo. Para começo de conversa os 24 mil dólares não surgem em dinheiro vivo, mas sim em vários produtos que são enviados pelos patrocinadores do programa. De repente sua casa é invadida por uma série de entregadores, que lhe trazem desde pôneis, até uma quantidade enorme de carne de bezerro, dezenas de vasos de plantas, centenas de relógios e tudo o mais que você possa imaginar. Para piorar o fisco americano acaba ficando de olho em sua premiação, o enchendo de cobranças de taxas e impostos dos mais variados tipos! Sua vida acaba assim virando um verdadeiro caos da noite para o dia.

"Radiomania" é muito divertido. Uma comédia hilariante que se encaixa perfeitamente no tipo de personagem que era ideal na pele de James Stewart. O sujeito comum, simples, que de repente se vê tendo que lidar com coisas que nunca fizeram parte de sua rotina, como um decorador esnobe (que joga fora toda a sua mobília) e até uma bela artista que vem pintar seu retrato como parte do prêmio ganho. A questão é que a grande maioria dos prêmios não tem a menor serventia na vida de Bill e sua família. Tudo acaba virando uma grande metáfora sobre a inutilidade de um sonho consumista sem sentido.

O roteiro, além de ser muito divertido, é muito bem escrito pois não deixa a bola cair em nenhum momento. Como o filme é relativamente curto (algo em torno de 80 minutos) o espectador nem percebe o tempo passando pois o personagem de Stewart se envolve numa série de confusões, uma mais engraçada do que a outra. Para os fãs da atriz Natalie Wood o filme ainda traz um atrativo extra, pois ela está no elenco, interpretando a jovem filha de Stewart. Incrível, mas ela deveria ter uns 12 anos quando fez o filme. Enfim, mais um belo momento da carreira do sempre ótimo James Stewart. Uma comédia leve, simpática, que deixará você com um inevitável sorriso no rosto após terminar de assistir.

Radiomania (The Jackpot, Estados Unidos, 1950) Direção: Walter Lang / Roteiro: John McNulty, Phoebe Ephron / Elenco: James Stewart, Barbara Hale, James Gleason, Natalie Wood / Sinopse: Bill (Stewart) é um sujeito comum que de repente vê sua vida virada de ponta cabeça após ganhar um prêmio em um programa de rádio!

Pablo Aluísio.

domingo, 25 de outubro de 2020

A Bela da Tarde

"Belle du Jour" (A Bela da Tarde) mostra a nada comum rotina de Séverine, uma jovem rica e bem nascida que sente-se infeliz e frustrada em sua vida sexual. Para realizar todos os seus mais escondidos desejos ela resolve frequentar um bordel parisiense, onde acaba encontrando a paixão e o prazer sexual que inexiste em sua relação com o marido, frio e distante. Esse filme foi  premiado no Festival de Veneza de 1967. Uma premiação mais do que justa pois o filme é realmente excelente, se tornando um dos mais conhecidos da década de 1960. A ousadia do roteiro fez história no cinema da época. Rompeu barreiras e tabus. O cineasta Luis Buñuel é considerado um dos grandes diretores da história do cinema. Considero ele dono de um estilo único, mais sofisticado e cult. Com um verniza mais intelectualizado o diretor trazia para seus filmes temas bem polêmicos e até mesmo inovadores. Tudo sem a grande carga moral que imperava naqueles tempos mais pioneiros. Analisando bem sua filmografia logo podemos perceber que Luis Buñuel criou uma obra bem profunda do ponto de vista social e até mesmo filosófico.

De minha parte gosto bastante desse "A Bela da Tarde", muito por causa da atuação de Deneuve, que considero um caso até bem raro de união entre beleza e talento. A produção também mostra como estava à frente de seu tempo. Enquanto no cinema americano havia ainda aquela proposta mais moralizante, "Belle du Jour" ousava expor a sexualidade de uma mulher que insatisfeita com sua vida pessoal resolve procurar por outros caminhos, por mais inusitados e fora do comum que fossem. O destaque aqui certamente vai para Catherine Deneuve que acabou virando uma diva existencialista da geração de 68. Bonita, educada, fina e elegante, ela acabou capturando o imaginário masculino ao se despir de culpas e arrependimentos para sair em busca do que desejava.

Curiosamente por essa época os americanos começaram a prestar grande atenção nas estrelas de cinema da velha Europa, muito provavelmente deslumbrados por sua liberdade e sexualidade sem aquele peso e rancor tão presente na sociedade americana que afinal foi fundada por imigrantes puritanos. Assim Deneuve e Bardot viraram símbolos sexuais exóticos na terra do Tio Sam. Revisto hoje em dia "Belle du Jour" obviamente não causa mais o mesmo impacto pois os tempos são outros, mas mesmo assim é impossível não reconhecer sua grande importância dentro daquele momento cultural, onde a revolução sexual dominava todos os aspectos da sociedade mundial.

A Bela da Tarde (Belle du Jour, França, Itália, 1967) Direção: Luis Buñuel / Roteiro: Jean-Claude Carrière baseado em romance de Joseph Kessel / Elenco: Catherine Deneuve, Jean Sorel, Michel Piccoli, Geneviève Page, Pierre Clémenti / Sinopse: Belle du Jour mostra a nada comum rotina de Séverine, uma jovem rica e bem nascida que sente-se infeliz e frustrada em sua vida sexual. Para realizar todos os seus mais escondidos desejos ela resolve frequentar um bordel parisiense, onde acaba encontrando a paixão e o prazer sexual que inexiste em sua relação com o marido, frio e distante. Filme premiado no Festival de Veneza de 1967.

Pablo Aluísio.

Uma Aventura na África

Clássico do cinema, dirigido pelo mestre John Huston, esse filme se tornou uma espécie de modelo para os filmes de aventura que viriam a seguir. Na história o astro Humphrey Bogart interpretava um veterano capitão de barco chamado Charlie Allnutt. Ele comandava sua pequena embarcação chamada The African Queen pelos rios e riachos de uma África ainda bem selvagem e inexplorada. Ele acaba sendo contratado por uma missionária estrangeira, Rose Sayer (Katharine Hepburn). Ela acabara de enterrar seu irmão naquela terra esquecida por Deus. Após aceitar fazer essa viagem, que logo se percebe ser bem perigosa, atravessando rios com enormes correntezas, o capitão interpretado por Bogart acaba percebendo que está na verdade em uma "missão" não oficial para atacar as forças alemãs no continente. A história do filme se passa em 1914, quando a primeira guerra mundial começava a eclodir na Europa, com reflexos violentos nas colônias africanas das grandes potências da época.

Além de ser ótimo com cinema, o filme também ficou famoso pelos bastidores de filmagens. O diretor John Huston ficou obcecado com uma caçada bem no meio da produção. Isso atrasou o cronograma de filmagens, causando atrasos e prejuízos para o estúdio. Enquanto John Huston seguia sua caça, o resto do elenco e da equipe técnica ficaram no meio do nada, em regiões distantes da África, esperando pelo retorno do diretor. Esses fatos  dariam origem a um outro filme bem famoso, décadas depois, com Clint Eastwood, chamado "Coração de Caçador". A história dessas conturbadas filmagens foram registradas na época pelo roteirista do filme, dando origem a um ótimo livro sobre os bastidores do cinema americano.  

Essa aventura acabou se tornando o último filme em que trabalharam juntos Humphrey Bogart e Katharine Hepburn. Eles eram parte do primeiro escalão de astros e estrelas em Hollywood. Seus filmes na época eram sucessos tanto de público como de crítica. Eram da realeza da indústria do cinema. Mesmo com todos os problemas que tiveram de enfrentar na África, acabaram se tornando bons amigos. As filmagens nem sempre trouxeram o conforto esperado por eles, sendo que muitas vezes ficaram ao capricho de John Huston, cada vez mais obsessivo com suas caçadas. Mesmo assim, com todas as dificuldades, toda essa experiência acabaria deixando boas histórias para se contar. O próprio Bogart adorava relembrar tudo o que havia passado nas filmagens desse clássico. O mais estranho de tudo é que depois de um tempo na África, John Huston decidiu que todo mundo iria voltar para Hollywood, para finalizar o filme. Essa segunda parte, filmada dentro de estúdio, com os atores atuando na frente de uma tela exibindo as imagens da África selvagem, destoam da outra parte da produção; Isso criou um certo problema visual ao filme como um todo. Nem sempre a técnica se revela convincente, fazendo com que o espectador perceba o truque.

De uma forma ou outra o público atual deve tentar ignorar tal aspecto negativo ou erro técnico, pois o que vale mesmo é a ótima parceria entre Bogart e Hepburn que dão um banho de carisma na tela. Aliás para grande surpresa do próprio Bogart, ele foi premiado com o Oscar por sua atuação! Dizem que o Oscar lhe foi dado como um reconhecimento de sua obra e não pelo que faz em cena. Faz certo sentido, pois todos em Hollywood já sabiam naquele momento que ele estava com um câncer terminal. Com isso a premiação também ganhou contornos de homenagem e agradecimento por tudo que ele fez ao longo de décadas de carreira.

Uma Aventura na África (The African Queen, Estados Unidos, 1951) Direção: John Huston / Roteiro: James Agee e John Huston, a partir do romance "African Queen" de C.S. Forester / Elenco: Humphrey Bogart, Katharine Hepburn, Robert Morley, Peter Bull, Theodore Bikel / Sinopse: Charlie Allnutt (Bogart) é um capitão veterano e aventureiro, que aceita participar de uma viagem perigosa e cheia de desafios pelos rios da África Oriental. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Ator (Humphrey Bogart). Também indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Direção (John Huston),  Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Atriz (Katharine Hepburn).

Pablo Aluísio

sábado, 24 de outubro de 2020

A Cruz de Ferro

Esse é um clássico de guerra assinado pelo mestre Sam Peckinpah. Para muitos críticos de cinema o diretor Sam Peckinpah foi uma espécie de estilista da violência, algo bem singular, transformando cenas de puro impacto, de ação, em momentos de arte. Um exagero por parte desses especialistas em cinema? Pode ser, em termos. De qualquer forma esse filme tem como cenário uma das manobras militares mais violentas da II Guerra Mundial, quando a Alemanha Nazista de Hitler decidiu cruzar a fronteira oriental, invadindo a Rússia comandada por Stálin. Foi um choque violento entre duas ditaduras, com exércitos poderosos. O resultado desse conflito de certa maneira selou os destinos da guerra.

A história desse filme se passa então no ano de 1943. O sargento alemão Rolf Steiner (James Coburn) é promovido e condecorado por seus oficiais em razão de seus atos de bravura. A campanha militar de seu pelotão porém acaba sofrendo um sério abalo com a chegada de um graduado oficial prussiano, o capitão Stransky (Maximilian Schell). Arrogante e inexperiente, ele decide que todos os homens sob seu comando devem obedecer suas ordens sem qualquer contestação. O oficial exige obediência cega, mesmo que suas ordens muitas vezes se revelem equivocadas, colocando os homens sob seu comando em perigo real. É o velho problema de se estar em uma situação de vida e morte, sendo comandado por alguem sem a devida competência para isso.

Talvez o público mais jovem irá estranhar certas partes do filme, pois ele é fragmentado em sua linha narrativa. Foi uma opção pessoal do diretor, uma forma de mostrar em cena o caos em que aqueles militares viviam naquele momento crucial da guerra. Outra opção muito interessante desse roteiro foi enfocar a visão, o lado dos soldados da Alemanha. "A Cruz de Ferro" foi um dos primeiros filmes do cinema ocidental a mostrar o lado dos alemães, retratando os personagens em seu lado mais humano. Nos antigos filmes sobre a II Guerra Mundial eles eram retratados como vilões absolutos, sem alma e com o único objetivo de promover genocídios e massacres. Na década de 1970, quando o filme foi produzido, já havia uma distância maior dos acontecimentos históricos, o que possibilitava ao cinema finalmente mostrar o outro lado do conflito.  

Em um filme tão interessante é importante destacar a presença e a atuação do ator Maximiliam Schell. Ele interpreta esse oficial da velha escola Prussiana, considerada a elite do exército alemão na época. Vaidoso e incoerente, muitas vezes tomando as decisões erradas, ele acaba colocando sua tropa em perigo. Muitos não sabem, mas a verdade é que vários generais alemães simplesmente odiavam Hitler e o nazismo. Alguns inclusive estavam convencidos de que ele era completamente maníaco e louco. Não é à toa que o Führer tenha sido alvo de vários atentados contra sua vida. Estrategicamente a guerra estava perdida e a única chance de sair daquele lamaçal era liquidando o líder nazista. Agora considere lutar uma guerra defendendo uma ideologia em que não se acreditava. O filme tenta capturar em parte esse sentimento e se sai muito bem. Mostra o caos da frente russa e o desmantelamento do exército alemão. É um belo exemplar do cinema cru e realista do cineasta e mestre Sam Peckinpah.

A Cruz de Ferro (Cross of Iron, Alemanha, Inglaterra, 1977) Direção: Sam Peckinpah / Roteiro: Julius J. Epstein, James Hamilton, Walter Kelley / Elenco: James Coburn, Maximilian Schell, James Mason, David Warner / Sinopse: Em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, em pleno front russo, um sargento alemão e um oficial da velha escola de guerra prussiana entram em choque sobre os rumos que o pelotão em que servem deve seguir. Filme premiado no festival alemão de cinema Golden Screen.

Pablo Aluísio. 

Meu Ofício é Matar

A pequena cidade de Suddenly é das mais pacatas do meio oeste dos Estados Unidos. Há muitos anos nenhum crime mais sério é registrado, talvez por isso o principal passatempo do xerife local seja tentar conquistar o afeto da jovem viúva Ellen Benson (Nancy Gates). Seu marido morreu na segunda guerra e ela ficou sozinha para criar seu único filho. Morando com seu pai, um veterano do serviço secreto, numa casa localizada em uma colina bem em frente à estação de trem, ela, por enquanto, não deseja mesmo se envolver romanticamente com ninguém. A rotina sossegada da cidadezinha muda porém quando o xerife Tod Shaw (Sterling Hayden) é informado que o presidente dos Estados Unidos chegará na estação local para passar alguns dias de folga. Ele pretende pescar e desfrutar da tranquilidade local. Isso obviamente muda completamente a rotina dos moradores. Agentes do serviço secreto e membros da polícia estadual logo tomam as ruas para garantir a segurança do presidente. Até mesmo a casa de Ellen é visitada por supostos agentes do FBI. Liderados por John Baron (Frank Sinatra) eles entram em sua casa dizendo-se membros da segurança do presidente. O que a família de Ellen não sabe é que na verdade são assassinos profissionais que estão ali justamente para matar o presidente. A localização da casa, bem em frente ao local onde o presidente desembarcará de seu trem é perfeita para um tiro de longa distância dado por Baron.

"Meu Ofício é Matar" surpreende por vários aspectos. Muitos anos antes do assassinato do presidente JFK, o roteiro antecipa várias coisas que aconteceriam com Kennedy. O atirador que almeja matar o presidente, interpretado muito bem por Frank Sinatra, era, assim como Lee Oswald, o assassino de JFK, um veterano das forças armadas. O uso de uma janela, acima de qualquer suspeita, para a colocação de um rifle de alta precisão também é similar ao que aconteceria na vida real anos depois. O grande diferencial porém é que Oswald conseguiu uma certa tranquilidade em seu local de tiro (um armazém de livros em Dallas) enquanto o personagem de Sinatra teve que lidar com várias pessoas dentro da casa de Ellen, tendo que se preocupar não apenas em atirar de forma certeira no presidente, mas também administrar seus reféns.

Frank Sinatra está muito bem como o atirador, o assassino profissional contratado para o serviço de sua vida. Afinal matar um presidente dos Estados Unidos não era algo fácil de fazer. Com ares de delírio o personagem de Sinatra se mostra um psicopata perigoso e cruel. O curioso é que o roteiro glorifica os esforços das pessoas que estão feitas reféns dentro da casa para evitar a morte do presidente. O desfecho assim é dos mais interessantes. Gostei muito desse filme. Diria até que foi um dos melhores filmes que assisti com Frank Sinatra. Assim deixo a recomendação desse surpreendente "Meu Ofício é Matar", um filme que antecipou em quase dez anos o que aconteceria na morte de um dos mais populares e marcantes presidentes da história americana.

Meu Ofício é Matar (Suddenly, Estados Unidos, 1954) Direção: Lewis Allen / Roteiro: Richard Sale / Elenco: Frank Sinatra, Sterling Hayden, James Gleason, Nancy Gates / Sinopse: Durante a visita do presidente dos Estados Unidos a uma pequena cidadezinha, um grupo de assassinos profissionais toma de refém uma família para da janela de sua casa mirar e acertar o líder americano assim que ele descer de seu trem.

Pablo Aluísio.


sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Quando Só o Coração Vê

Esse filme é um clássico do cinema americano. Na trama temos três personagens centrais. Selina D'Arcey (Elizabeth Hartman) é uma jovem garota cega, muito oprimida, que vive em um pequeno apartamento ao lado de sua mãe (interpretada pela excelente atriz Shelley Winters) e de seu avô Ole Pa (Wallace Ford), que tem problemas de alcoolismo. A mãe é irascível, coleciona amantes e é dada a violências domésticas contra a própria filha. Uma megera desbocada, sem valores morais. Um péssimo exemplo. Uma mulher abusiva, acima de tudo. Já Selina é muito terna, sensível, amorosa, uma pessoa de grande coração. Sua vida de opressão e tristeza começa a mudar quando ela começa a passar as tardes em um parque próximo. Lá ela acaba conhecendo o simpático Gordon Ralfe (Sidney Poitier) que logo se torna seu grande amigo. Não demora a tardar e Selina começa a nutrir sentimentos românticos em relação a ele, afinal seu novo amigo é inteligente, agradável e uma ótima companhia. Seu sonho de encontrar finalmente um namorado parece se concretizar, porém esbarra na mãe que fica chocada ao saber dos encontros. A coisa piora ainda mais quando ela descobre que Gordon é um homem negro!

Esse filme foi um marco dentro do cinema americano. Em plena década de 1960 ele ousou colocar na tela o romance entre uma jovem branca e um homem negro. O roteiro explora maravilhosamente bem esse enredo, mostrando como esse tipo de situação era extremamente chocante para os padrões morais da sociedade americana da época! O racismo era parte da mentalidade de muitos americanos brancos (aliás ainda faz parte, é bom frisar). O interessante é que se formos analisar bem, a personagem da Selina é deficiente visual justamente para ser usada como instrumento narrativo da história. Ela avalia Gordon apenas por sua personalidade, deixando de lado toda e qualquer visão preconceituosa sobre ele! Sem saber como ele aparenta, ela se apaixona apenas pelo que ele realmente é, pois sua forma de ver o mundo se baseia em outros critérios. O que importa para Selina são as qualidades internas dele como ser humano. Essa proposta torna o texto um primor de roteiro.

Aliás o filme é todo muito bem desenvolvido, com excelentes atuações tanto da parte de Sidney Poitier, como também de Shelley Winters e Elizabeth Hartman. Em torno de uma história relativamente simples, o filme consegue discutir temas complexos, como por exemplo a questão do relacionamento entre pessoas de etnias diferentes e a maneira como a sociedade encara algo assim. Outro ponto inovador foi colocar uma protagonista com necessidades especiais. Não me lembro de nenhum outro filme anteior a esse que tivesse uma deficiente visual como personagem principal. Esse é outro ponto muito louvável desse rico argumento cinematográfico.

O preconceito racial, o racismo, também é ponto de destaque dentro do roteiro do filme. O personagem Gordon é um bom rapaz, tem emprego fixo, é inteligente e articulado, mas tudo isso parece ruir apenas pelo fato dele ser negro. Selina inicialmente não sabe como ele de fato é, nem entende completamente porque não poderia se relacionar com uma pessoa de outra cor, mas aos poucos começa a compreender o preconceito racial em sua forma mais danosa e prejudicial, e isso vindo justamente de sua própria mãe. Em conclusão, temos aqui um belo filme, que traz uma mensagem muito positiva sobre o problema racial e seus desdobramentos. Um filme essencial para quem estiver em busca de um entendimento maior da questão negra dentro dos Estados Unidos durante a década de 1960, no auge da luta pelos direitos civis.

Quando Só o Coração Vê ( A Patch of Blue, Estados Unidos, 1965) Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer / Direção: Guy Green / Roteiro: Guy Green, baseado na obra de Elizabeth Kata / Elenco: Elizabeth Hartman, Sidney Poitier, Shelley Winters, Wallace Ford / Sinopse: jovem branca, com deficiência visual, se apaixona por homem negro e precisa lidar com todo o preconceito racial vindo de sua mãe, que não admite de jeito nenhum o seu relacionamento. Filme vencedor do Oscar na categoria de melhor atriz coadjuvante (Shelley Winters). Também indicado nas categorias de melhor atriz (Elizabeth Hartman), melhor direção de fotografia (Robert Burks), melhor direção de arte (George W. Davis) e melhor música (Jerry Goldsmith). Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de melhor revelação feminina (Elizabeth Hartman).

Pablo Aluísio.

Férias de Amor

Clássico drama romântico de Hollywood em seus tempos de ouro. A história é bem interessante. Após fracassar na universidade, Hal Carter (William Holden) começa a vagar a esmo pelo país. Viajando em vagões de carga, ele acaba chegando numa pequena cidade em busca de um velho colega que conheceu em seus anos como estudante universitário. A comunidade é pequena, dada a celebrações tradicionais, como um picnic anual onde todos os moradores se divertem. Hal vê ali uma oportunidade de arranjar um emprego na empresa do pai do amigo, mas comete um erro fatal ao se envolver romanticamente com sua namorada e futura noiva, a bela Madge Owens (Kim Novak). A decisão acaba trazendo consequências trágicas para todos os envolvidos. A primeira impressão sobre "Férias de Amor" é a de que se trata de um filme romântico ao velho estilo, como era bem comum na década de 1950. Mas isso é uma visão superficial. O roteiro é muito bem escrito e trabalha excepcionalmente bem com todos os personagens que povoam a cidadezinha do Kansas onde a história é passada. Esse é o melhor ponto positivo desse filme. O roteiro consegue ser muito bom, apesar de ter que dar conta de vários, dezenas de personagens. Cada um deles tem seu próprio espaço dentro da história que é no fundo um espelho do que seria a própria sociedade da época.

E entre os moradores daquela cidadezinha temos os mais diversos tipos de pessoas e seus próprios dramas pessoais. Existe aqui uma coleção de bons personagens em cena. Há a professora solteirona, frustrada, que tenta se agarrar ao sonho de um dia vir a se casar, embora procure não demonstrar isso para ninguém. Há também seu namorado, um comerciante solteirão como ela, que não se decide em se casar ou não, pois considera que isso já é tarde demais para ele naquela altura de sua vida. No núcleo central temos as duas irmãs, a mais jovem é uma adolescente inteligente que irá para a universidade em breve. Ela no fundo sente uma pontinha de inveja de sua irmã mais velha, a linda Madge (Novak). Essa por sua vez é incentivada a entrar em um relacionamento com o jovem rico da região, mas no fundo não gosta dele. Sua mãe, muito interesseira, quer que ela se case e tenha uma vida de dondoca rica.

E entre tantos personagens diversos, o protagonista interpretado pelo ator William Holden obviamente se destaca. Ele é um sujeito bipolar que tenta encontrar seu lugar no mundo, mas sem muito sucesso. Seu romance com a atriz Kim Novak é um dos pilares do filme. Foi o que tornou essa produção um sucesso de bilheteria na época. Os dois astros realmente passam muita química juntos, em boas cenas românticas.. É um casal que deu certo no cinema. E some-se a essa boa escolha de elenco, a boa direção de Joshua Logan, considerado pela crítica da década de 1950 como um dos mais talentosos cineastas daqueles tempos áureos do cinema americano. É um belo trabalho de direção, atuação e até mesmo romantismo ao velho estilo. Um filme que merece o status que tem na história do cinema clássico.

Férias de Amor (Picnic, Estados Unidos, 1955) Estúdio: Columbia Pictures / Direção: Joshua Logan / Roteiro: Daniel Taradash, William Inge / Elenco: William Holden, Kim Novak, Betty Field / Sinopse: Um homem sem rumo na vida acaba indo parar numa pequena cidade do interior dos Estados Unidos, onde acaba se envolvendo com a mulher errada dentro daquela comunidade interiorana. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor filme, melhor direção (Joshua Logan) e melhor música (George Duning). Vencedor do Oscar nas categorias de melhor edição (Charles Nelson e William A. Lyon) e melhor direção de arte (William Flannery e Jo Mielziner). Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de melhor direção (Joshua Logan).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

O Inferno é Para os Heróis

O ator Steve McQueen foi um dos grandes ídolos do cinema de ação das décadas de 1960 e 1970. Ele morreu relativamente jovem, por um câncer agressivo causado por exposição ao amianto, justamente no período de sua vida em que prestou serviço militar. Curiosamente foi como soldado que ele conseguiu seus primeiros papéis no cinema. Afinal de contas ele ficava muito bem nesse tipo de personagem, justamente por ter sido um militar na vida real. De certa maneira nem precisava interpretar tanto, nem fazer pesquisa sobre seus personagens. O laboratório de interpretação havia sido sua própria vida antes de ir para o cinema. Era a arte imitando a vida. Aqui temos um filme de guerra estrelado por ele, uma produção que de certa maneira caiu no esquecimento depois de tantos anos de seu lançamento original, isso apesar de sua boa qualidade cinematográfica. O cenário onde se passa a ação desse filme é a Europa devastada pela Segunda Guerra Mundial. No front de guerra, um pequeno grupo de soldados americanos é deixado para trás pelo exército, com a missão de  manter uma posição estratégica. 

O problema é que o pequeno pelotão está em menor número frente ao inimigo. Para tanto precisam convencer as tropas alemãs de que são bem mais numerosos do que realmente são. A linha de combate é ampla e cobre um grande território, mas os americanos se mostram firmes em defender sua posição. O roteiro explora muito bem a crueza do chamado combate corpo a corpo. Há boas cenas envolvendo um grupo avançado cujo objetivo é destruir uma casamata fortemente armada e defendida pelas tropas nazistas. Um dos aspectos que mais chamam a atenção em "O Inferno é Para os Heróis" é sua crueza e até mesmo frieza. O diretor Don Siegel optou por uma linha mais realista, deixando de lado toda a patriotada que caracterizou muitos filmes de guerra no apogeu de Hollywood. O clima é de leve desesperança, melancolia até, em um mundo destruído, em ruínas. O personagem de Steve McQueen passa longe de ser um herói romântico ou algo parecido. Para impactar ainda mais nesse aspecto o filme tem uma fotografia preto e branco bem mais escura do que o normal, enfatizando o clima de opressão e conflito que impera em toda a fita.

Outro ponto de destaque vem no elenco de apoio. Bobby Darin, cantor popular na época, principalmente cantando doces baladas românticas ao estilo de Frank Sinatra, encara um papel completamente diferente em sua carreira e não faz feio em cena. Já Nick Adams, da turma de James Dean e grande amigo pessoal de Elvis Presley, tem um pequeno papel, mas que no final se mostra bem relevante. Por fim James Coburn, com toda a sua competência habitual, acrescenta bastante ao filme interpretando um coronel durão. Era exatamente o tipo de papel que caía como uma luva em seu repertório de atuação. Enfim, se você gosta de bons filmes sobre a Segunda Guerra, "O Inferno É Para os Heróis" pode se tornar uma ótima pedida para o fim de semana.

O Inferno é Para os Heróis (Hell Is for Heroes, Estados Unidos, 1962) Direção: Don Siegel / Roteiro: Richard Carr, Robert Pirosh / Elenco: Steve McQueen, Bobby Darin, James Coburn, Nick Adams, Bob Newhart, Fess Parker / Sinopse: Durante a Segunda Guerra Mundial um pequeno grupo de soldados americanos tenta manter de todas as formas sua linha de defesa contra as tropas alemãs, mesmo estando em menor número do que os soldados do III Reich.

Pablo Aluísio. 

Quando Paris Alucina

Esse filme é uma divertida comédia que brinca com os bastidores de Hollywood. Um produtor acaba contratando um roteirista intrigado pelo título de seu roteiro que promete ser inovador. Com o nome de "A Moça que Roubou a Torre Eiffell" ele acaba encantando o magnata da indústria do cinema. A verdade porém é que o escritor não tem nada escrito, pois tudo não passa de um título bem bolado. Nas vésperas da entrega do roteiro ele então resolve partir para o tudo ou nada, usando inclusive os serviços de uma jovem e encantadora secretária para lhe ajudar. A proximidade iniciará uma improvável paixão entre ambos. Audrey Hepburn era maravilhosa. Sua presença nessa película só vem a confirmar o ditado que diz: Já não se fazem mais estrelas como antigamente! Audrey com todo o seu charme e elegância salva o filme de ser apenas um passatempo até levemente bobo, com figurinos e humor ingênuo, que hoje em dia poderia soar bem datados. O grande mérito é realmente do carisma de todo o elenco. A começar por Hepburn, passando por Holden e chegando em Tony Curtis, um ator que se tornou símbolo daquela era.

Muitos anos depois de ter feito essa produção a estrela máxima da elegância e finesse em Hollywood, a inigualável Audrey Hepburn, disse em uma entrevista que esse era o seu filme favorito dentre todos que fez ao longo de sua carreira. Eu entendo sua opinião. A produção é uma singela comédia romântica muito fina e elegante, igualzinha a ela, a Audrey. É um espelho cinematográfico dela mesma. Assim quem gosta dessa clássica atriz não poderá deixar de gostar desse simpático clássico do cinema.

Quando Paris Alucina (Paris - When It Sizzles, Estados Unidos, 1964) Estúdio: Paramount Pictures / Direção: Richard Quine / Roteiro: Julien Duvivier, Henri Jeanson / Elenco: William Holden, Audrey Hepburn, Tony Curtis, Mel Ferrer, Marlene Dietrich / Sinopse: Um roteirista de Hollywood promete escrever um roteiro inovador, só que na realidade ele não tem nada em mãos.

Pablo Aluísio.