Esse filme é um clássico do cinema americano. Na trama temos três personagens centrais. Selina D'Arcey (Elizabeth Hartman) é uma jovem garota cega, muito oprimida, que vive em um pequeno apartamento ao lado de sua mãe (interpretada pela excelente atriz Shelley Winters) e de seu avô Ole Pa (Wallace Ford), que tem problemas de alcoolismo. A mãe é irascível, coleciona amantes e é dada a violências domésticas contra a própria filha. Uma megera desbocada, sem valores morais. Um péssimo exemplo. Uma mulher abusiva, acima de tudo. Já Selina é muito terna, sensível, amorosa, uma pessoa de grande coração. Sua vida de opressão e tristeza começa a mudar quando ela começa a passar as tardes em um parque próximo. Lá ela acaba conhecendo o simpático Gordon Ralfe (Sidney Poitier) que logo se torna seu grande amigo. Não demora a tardar e Selina começa a nutrir sentimentos românticos em relação a ele, afinal seu novo amigo é inteligente, agradável e uma ótima companhia. Seu sonho de encontrar finalmente um namorado parece se concretizar, porém esbarra na mãe que fica chocada ao saber dos encontros. A coisa piora ainda mais quando ela descobre que Gordon é um homem negro!
Esse filme foi um marco dentro do cinema americano. Em plena década de 1960 ele ousou colocar na tela o romance entre uma jovem branca e um homem negro. O roteiro explora maravilhosamente bem esse enredo, mostrando como esse tipo de situação era extremamente chocante para os padrões morais da sociedade americana da época! O racismo era parte da mentalidade de muitos americanos brancos (aliás ainda faz parte, é bom frisar). O interessante é que se formos analisar bem, a personagem da Selina é deficiente visual justamente para ser usada como instrumento narrativo da história. Ela avalia Gordon apenas por sua personalidade, deixando de lado toda e qualquer visão preconceituosa sobre ele! Sem saber como ele aparenta, ela se apaixona apenas pelo que ele realmente é, pois sua forma de ver o mundo se baseia em outros critérios. O que importa para Selina são as qualidades internas dele como ser humano. Essa proposta torna o texto um primor de roteiro.
Aliás o filme é todo muito bem desenvolvido, com excelentes atuações tanto da parte de Sidney Poitier, como também de Shelley Winters e Elizabeth Hartman. Em torno de uma história relativamente simples, o filme consegue discutir temas complexos, como por exemplo a questão do relacionamento entre pessoas de etnias diferentes e a maneira como a sociedade encara algo assim. Outro ponto inovador foi colocar uma protagonista com necessidades especiais. Não me lembro de nenhum outro filme anteior a esse que tivesse uma deficiente visual como personagem principal. Esse é outro ponto muito louvável desse rico argumento cinematográfico.
O preconceito racial, o racismo, também é ponto de destaque dentro do roteiro do filme. O personagem Gordon é um bom rapaz, tem emprego fixo, é inteligente e articulado, mas tudo isso parece ruir apenas pelo fato dele ser negro. Selina inicialmente não sabe como ele de fato é, nem entende completamente porque não poderia se relacionar com uma pessoa de outra cor, mas aos poucos começa a compreender o preconceito racial em sua forma mais danosa e prejudicial, e isso vindo justamente de sua própria mãe. Em conclusão, temos aqui um belo filme, que traz uma mensagem muito positiva sobre o problema racial e seus desdobramentos. Um filme essencial para quem estiver em busca de um entendimento maior da questão negra dentro dos Estados Unidos durante a década de 1960, no auge da luta pelos direitos civis.
Quando Só o Coração Vê ( A Patch of Blue, Estados Unidos, 1965) Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer / Direção: Guy Green / Roteiro: Guy Green, baseado na obra de Elizabeth Kata / Elenco: Elizabeth Hartman, Sidney Poitier, Shelley Winters, Wallace Ford / Sinopse: jovem branca, com deficiência visual, se apaixona por homem negro e precisa lidar com todo o preconceito racial vindo de sua mãe, que não admite de jeito nenhum o seu relacionamento. Filme vencedor do Oscar na categoria de melhor atriz coadjuvante (Shelley Winters). Também indicado nas categorias de melhor atriz (Elizabeth Hartman), melhor direção de fotografia (Robert Burks), melhor direção de arte (George W. Davis) e melhor música (Jerry Goldsmith). Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de melhor revelação feminina (Elizabeth Hartman).
Pablo Aluísio.
Cinema Clássico
ResponderExcluirQuando Só o Coração Vê
Pablo Aluísio.
Clássico do cinema.Tenho procurado um filme com Sidney Poiter chamado Com os minutos contados(The lost man) filme de 1969 e não estou encontrando em lugar nenhum.
ResponderExcluirExcelente filme, realmente raro de encontrar nos dias de hoje.
ResponderExcluirO racista é antes de tudo um grande ignorante! Um ignorante com mau caratismo.
ResponderExcluirPerfeito ponto de vista Thaís. O estudo e o conhecimento trazem sabedoria. E onde existe sabedoria não existe racismo. O racista é um bruto, da alma e da mente. Afinal somos todos irmãos em uma só raça, a raça humana.
ResponderExcluirE olha que estamos falando, nesse filme, de racismo contra o negro, mas vemos o Sidney Poiter, um dos atores mais bonitos de Hollywood, com traços mais finos que muitos brancos que são considerados galãs no cinema americano. O Poiter era na sua época o que se convencionou, pejorativamente, chamar no Brasil de "preto com pinta de branco" e esses sempre sofriam um pouco menos as humilhações e repreensões reservadas aos menos afortunados na aparência. A coisa não era fácil.
ResponderExcluirE a Elizabeth Hartman cometeu suicídio aos 43 anos se jogando do quinta andar de um prédio. Sofreu de depressão por muito tempo.
ResponderExcluirNo Brasil o nome dela causa uma certa confusão por haver aqui uma atriz homônima, com nome grafado com apenas um "n" a mais no final, mas pronunciado com a mesma fonética.
Nos anos 90 eu fui rato de cineclubes. Foi em um cineclube universitário que assisti esse filme pela primeira e única vez. Filmão.
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