quarta-feira, 6 de novembro de 2019

O Moço de Filadélfia

Baseado no romance de Richard Powell, o filme "The Young Philadelphians" conta a história de Anthony Judson Lawrence (Paul Newman), um jovem estudante de direito que sonha em se tornar um dia um grande advogado. Seu pai falecido pertencia a uma das famílias mais ricas da Filadélfia, mas sua mãe o criou como um rapaz humilde, trabalhador, que precisa ganhar a vida também em empregos mais modestos, como na construção civil. Ao se apaixonar por Joan Dickinson (Barbara Rush), filha de um bem sucedido advogado da cidade, Tony começa a construir uma nova vida até que o destino novamente muda praticamente tudo da noite para o dia. Um bom romance dramático que nem é tão lembrado nos dias atuais. Uma pena já que é de fato um filme bem acima da média. Embora haja muitos personagens interessantes desfilando na tela o foco se concentra mesmo na história do jovem Tony Lawrence (Newman). Ele foi fruto de um casamento problemático. Sua mãe era uma jovem comum, de classe mais humilde, que acabou se apaixonando por seu pai, o único herdeiro da grande fortuna de sua família, uma das mais ricas da Filadélfia. Quando ele se casa sofre um verdadeiro colapso emocional, o que o leva a abreviar sua vida de forma trágica (o roteiro não deixa essa aspecto completamente claro, mas fica subentendido que seu pai seria na realidade um homossexual enrustido que foi forçado a se casar para manter as aparências perante a sociedade). Após a morte prematura do pai o garoto Tony passa a ser criado apenas por sua mãe que arranja inúmeros empregos para lhe sustentar.

Os anos passam, Tony se torna um rapaz bonito e inteligente e consegue entrar na faculdade de direito, um velho sonho. Uma vez lá ele finalmente começa a ver as portas se abrindo para seu futuro. Quando conhece a bela Joan (Bush) tudo se completa. Ele está começando sua vida profissional, está apaixonado e seguro que terá um lindo futuro pela frente. O problema é que Joan acaba sucumbindo às pressões de seu pai, um advogado rico e bem sucedido, e resolve largar o honesto, porém pobretão Tony, para se casar com um outro sujeito, cheio de posses e também proveniente de uma rica família como a dela. Ela não o ama, mas mesmo assim sobe ao altar para agradar seus familiares. Embora fique arrasado com esse casamento, Tony decide seguir em frente, subindo cada vez mais na profissão de advogado. Sua prova de fogo na profissão finalmente vem quando seu grande amigo Chester A. Gwynn (Robert Vaughn) é acusado de ter cometido um homicídio. O crime parece envolver figurões da cidade e por essa razão Tony começa a sofrer todos os tipos de pressão. Mesmo assim, dono de uma integridade fora do comum, ele resolve seguir em frente para provar a inocência do amigo, tentando o livrar de uma condenação certa de pena de morte.

Embora possa parecer que seja um drama de tribunal apenas, "The Young Philadelphians" é bem mais do que isso pois procura desenvolver muito bem os sonhos, anseios e lutas de seu protagonista. Assim o destaque não vai apenas para o lado jurídico de sua trama, mas também para o aspecto emocional de seu conturbado relacionamento com a mulher que ama. Tudo embalado por ótimos atuações, em especial Robert Vaughn que interpreta um rapaz bem nascido que acaba vendo sua vida ser destruída após perder um braço na guerra da Coreia e ser acusado de ser um assassino frio e calculista. Sua atuação é realmente digna de todos os aplausos pois ele se entregou completamente ao seu personagem angustiado e sem rumo na vida. Um trabalho que só vem para coroar ainda mais esse belo filme assinado pelo diretor Vincent Sherman. Uma produção particularmente indicada para jovens aspirantes à bela profissão de advogado e também para todas as  pessoas românticas que acreditam que o verdadeiro amor consegue sobreviver a tudo. Vale realmente a pena conhecer mais esse momento da rica carreira do mito imortal Paul Newman.

O Moço de Filadélfia (The Young Philadelphians, Estados Unidos, 1959) Estúdio: Warner Bros / Direção: Vincent Sherman / Roteiro: James Gunn / Elenco: Paul Newman, Robert Vaughn, Barbara Rush, Alexis Smith / Sinopse: Jovem americano passa por um momento crucial em sua vida, tendo que enfrentar uma série de dificuldades pessoais. Filme indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Robert Vaughn). Também indicado ao prêmio máximo da Academia nas categorias de Melhor Fotografia em preto e branco e Melhor Figurino.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

A Caçada

Ben Chamberlain (Henry Fonda) chega numa pequena cidade localizada no final da estrada de ferro, bem no meio de um deserto inóspito. Ele vai ao vilarejo atrás de notícias do paradeiro de Alma Britten (Madylen Rhue). O problema é que os moradores locais se recusam a dar maiores informações sobre a garota. Depois de muito procurar finalmente Ben a localiza em uma cabana nos arredores da cidadela, mas para seu infortúnio a encontra morta por espancamento. Para piorar ainda mais o que já era ruim logo é acusado pelo Xerife Vince McKay (Michael Parks) de ter assassinado a jovem. Sem saída foge para o deserto e é caçado pelos homens da lei.

"A Caçada" é uma experiência que Henry Fonda fez em 1967. Ator consagrado de cinema aceitou realizar esse telefilme para a Universal. O curioso é que apesar de ser um produto televisivo "Stranger On The Run" não apresenta uma produção modesta, pelo contrário, o filme mostra uma boa reconstituição de época, inclusive com o uso de toda uma cidade cenográfica com direito a trilhos de ferrovia e trens antigos. Certamente não é um telefilme típico da TV americana dos anos 60. É bem melhor.

Henry Fonda surge em um papel diferente dos que estava acostumado a interpretar em filmes de western. Aqui ele não é um ás do gatilho e nem muito menos um pistoleiro profissional. Na realidade seu personagem Ben Chamberlain é apenas um cidadão comum acusado de um crime que não cometeu. Fonda como sempre está muito bem, numa interpretação muito coesa e adequada. Sua parceira em cena, Anne Baxter, também demonstra talento e carisma. O problema em termos de elenco surge na figura do ator Michael Parks que faz o xerife que caça Fonda. Sem muita expressão não consegue ficar à altura de Henry em nenhum momento. No elenco de apoio ainda temos Sal Mineo fazendo um membro do bando do Xerife.

"A Caçada" foi dirigido por Don Siegel, diretor de TV que depois iniciaria uma ótima parceria com Clint Eastwood em alguns dos mais lembrados faroestes da década de 1970. Pelo jeito tomou gosto pela mitologia do western. Então é isso, "A Caçada" é uma produção feita para a TV que está bem acima da média do que se produzia naquela década. É sem dúvida um filme menor dentro da rica filmografia do mito Henry Fonda mas não deixa de ser um bom western que merece ser redescoberto nos dias atuais.

A Caçada (Stranger On The Run, EUA, 1967) Direção: Don Siegel / Roteiro: Dean Riesner, Reginald Rose / Elenco: Henry Fonda, Anne Baxter, Michael Parks, Sal Mineo / Sinopse: Ben Chamberlain (Henry Fonda) é um forasteiro acusado injustamente de ter assassinado uma jovem. Lutando por sua vida foge para o deserto onde passa a ser caçado pelo xerife McKay (Michael Parks) e seu bando de auxiliares.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Limites

Laura (Vera Farmiga) sempre teve um relacionamento ruim e problemático com o pai Jack (Christopher Plummer). Desde a infância e adolescência ela quis ter um pai presente, responsável, que lhe ajudasse na vida. Só que isso nunca aconteceu. Jack sempre foi ausente na sua criação, além de ser um péssimo exemplo para qualquer um. Os anos passam e Jack se tornou idoso, sem ter para onde ir. Claro, nesse momento ele então decide procurar a filha. O problema é que ela também tem uma vida complicada, pois se tornou mãe solteira, precisando lutar para criar sozinha o seu filho. E do choque de gerações nasce a linha narrativa principal desse filme.

Lendo o resumo, a sinopse do filme, pode ficar parecendo que se trata de um drama. Não é isso. Embora trate do desastroso relacionamento entre pai e filha, o roteiro também abre espaço para sutilezas, adotando um tom até leve, aberto também para o humor. Os personagens pegam a estrada e isso abre margem para aquele tipo cinematográfico que conhecemos bem, o road movie.

De uma maneira ou outra o grande motivo para o cinéfilo conferir esse filme é o excelente elenco. Começando pela presença de Christopher Plummer. É incrível, mas o veterano ator aos 89 anos de idade parece viver o melhor momento de sua longa carreira. Ele foi premiado com o Oscar por seu trabalho em "Toda Forma de Amar" e segue firme, trabalhando como nunca, aparecendo em filmes realmente muito bons. É um exemplo de vida. Já Vera Farmiga dá um tempo nos filmes de terror - estilo onde também se tornou produtora de sucesso - para mais uma vez mostrar que é uma atriz realmente talentosa. Sua personagem sob esse ponto de vista não deixa de ser um presente em sua carreira. Então deixo a dica. É um filme ainda pouco conhecido, pouco comentado, mas que vale muito a pena conhecer.

Limites (Boundaries, Estados Unidos, Canadá, 2018) Direção: Shana Feste / Roteiro: Shana Feste / Elenco: Vera Farmiga, Christopher Plummer, Christopher Lloyd, Lewis MacDougall / Sinopse: Idoso e sem ter onde morar, Jack (Plummer) decide ligar para a filha Laura (Farmiga). Eles sempre tiveram uma convivência conturbada, mas agora vão ter que se acostumar juntos, superando as antigas barreiras do passado.

Pablo Aluísio.

Esses Homens Maravilhosos e suas Máquinas Voadoras

Londres, 1910. Um jornal inglês oferece uma bela premiação para uma corrida aérea entre Londres e Paris. O belo prêmio de milhares de Libras Esterlinas logo atrai a atenção de pilotos de todos os lugares do mundo. A aviação em sua infância ainda era uma atividade aventureira, só praticada por pilotos audazes. O curioso é que nessa época os aviões nem mesmo eram chamados de aviões, mas sim de máquinas voadoras. O filme pretende prestar uma homenagem a esses pioneiros. Ao mesmo tempo em que louva esses homens ainda adota um tom nitidamente cômico e pastelão, numa clara referência aos primeiros filmes mudos de comédia. A trilha sonora vai pelo mesmo caminho. Para quem gosta de aviação o filme é especialmente recomendado pois as réplicas construídas para a produção são extremamente bem feitas (usando inclusive dos projetos originais da década de 1910). Os materiais também foram os mesmos usados pelos pioneiros, trazendo mais veracidade ao que vemos em cena. Na primeira cena inclusive o filme mostra várias imagens reais das primeiras tentativas do homem em voar. Hoje soa engraçado, mas na época todas as experiências eram válidas, até porque a ciência é feita assim, de tentativa e erro. Os efeitos especiais também são muito bem realizados, principalmente pela época e recriam – tudo com grande humor – sequências que mais parecem ser provenientes de desenhos animados (impossível não lembrar do clássico de Hanna-Barbera, “A Corrida Maluca”, tantas vezes exibida em nossas TVs abertas por todos esses anos).

Outro aspecto curioso do roteiro é que cada piloto tem uma nacionalidade diferente. Assim aproveita-se para criar caricaturas de cada povo. Há o americano, o francês, o alemão, o italiano e o inglês. Cada um deles traz em sua caracterização os estereótipos de cada povo. O francês, por exemplo, surge como galanteador e conquistador, não resistindo a um rabo de saia. O alemão é um tipo austero, atrapalhado e completamente disciplinado – a ponto de pilotar seu avião com um manual a tiracolo. O inglês é o símbolo do bom mocismo, educado e gentil. Um verdadeiro Lord. O italiano é um tipo exagerado, emocional, que literalmente “fala com as mãos”! Por fim há o americano que para variar é um cowboy do Arizona. Como se pode perceber é um argumento bem caricatural, feito e produzido para divertir acima de tudo.

Não há nenhuma estrela no filme. Nenhum astro. Ao invés disso a Fox, estúdio que produziu a comédia, resolveu investir mesmo nos aspectos técnicos da realização da película. Assim grande parte do orçamento foi gasto na construção das aeronaves. Decisão acertada pois o roteiro não abre margens mesmo para um só personagem brilhar, tendo todos praticamente o mesmo espaço em cena. Alguns modelos inclusive tiveram que ser destruídos por causa da estória do filme. Ver aquelas preciosidades destroçadas realmente causará aflição nos amantes de modelos clássicos da história da aviação. Em seu lançamento a recepção foi positiva. Os principais críticos da época qualificaram o filme como uma “boa diversão”. Para surpresa de todos a produção ainda conseguiu uma indicação ao Oscar de melhor roteiro, um feito e tanto para uma comédia tão despretensiosa. Enfim, “Esses Homens Maravilhosos e suas Máquinas Voadoras” é exatamente isso, uma boa diversão nostálgica com bela produção e fidelidade histórica na reconstrução dos aviões que estão em cena. O humor mais escrachado e exagerado lembrando as antigas comédias do cinema mudo pode causar alguma estranheza no público dos dias atuais mas mesmo assim vale a pena assistir (ou rever) para conhecer o típico humor inglês mais pastelão da década de 1960.

Esses Homens Maravilhosos e Suas Máquinas Voadoras (Those Magnificent Men in Their Flying Machines or How I Flew from London to Paris in 25 hours 11 minutes, Inglaterra - EUA, 1965) Direção: Ken Annakin / Roteiro: Jack Davies, Ken Annakin / Elenco: Stuart Whitman, Sarah Miles, James Fox, Alberto Sordi,  Robert Morley, Gert Fröbe, Jean-Pierre Cassel / Sinopse: Um jornal inglês promove uma corrida aérea entre Londres e Paris. Vários pilotos de diversos países ao redor do mundo se inscrevem em busca do grande prêmio. Muitas aventuras esperam os pioneiros da aviação!

Pablo Aluísio.

True Detective - Terceira Temporada

True Detective 3.01 - The Great War and Modern Memory - E começa a terceira temporada dessa excelente série da HBO. Eu gostei muito da primeira temporada, porém a segunda deixou um pouco a desejar no meu ponto de vista. A boa notícia é que nessa terceira leva de episódios tudo me pareceu bem de acordo com os primeiros episódios e isso é obviamente sinal de qualidade. Aqui temos dois policiais, Wayne Hays (Mahershala Ali, ótimo ator) e Roland West (Stephen Dorff). Eles estão em uma noite particularmente tediosa quando recebem o chamado da central. Duas crianças estão desaparecidas. Elas saíram para passear de bicicleta e nunca mais foram localizadas. Sabemos que esse caso acabaria mudando a vida dos tiras justamente porque o primeiro episódio explora três linhas temporais diferentes, no passado distante, quando as crianças sumiram, em um passado mais recente e finalmente no presente. E o caso, pelo visto, segue misterioso e sem solução. Gostei muito desse primeiro episódio. Pelo andar da carruagem essa terceira coleção de episódios inéditos promete e muito! Irei acompanhar com atenção e esperando pelo melhor. / True Detective 3.01 - The Great War and Modern Memory (Estados Unidos, 2019) Direção: Jeremy Saulnier / Roteiro: Nic Pizzolatto / Elenco: Mahershala Ali, Carmen Ejogo, Stephen Dorff.

True Detective 3.03 - The Big Never  
Duas crianças desaparecidas. O menino foi encontrado dentro de uma gruta, com as mãos unidas, como se estivesse rezando. Nesse episódio o policial Wayne Hays (Mahershala Ali) descobre o local exato onde ele foi morto. Sua cabeça foi jogada contra uma pedra pontuda. No lugar ele também encontra brinquedos dentro de uma pequena valise. Ao que tudo indico esses brinquedos foram usados para atrai-lo. A menina segue desaparecida. Há rumores por todos os lados dizendo que ela ainda está viva, mas as tentativas de localizá-la não dão em nada. Hays fica tão obcecado pela busca que basta sua filha sumir um pouco de sua vista, dentro de um supermercado para que ele entre em desespero. É uma paranoia formada justamente pelo caso que está investigando. Outras pistas vão surgindo. Um fazendeiro que mora perto do lugar onde o menino foi morto diz que viu um carro marrom rondando a região no dia em que as crianças desapareceram. Havia uma mulher branca, acompanhada de um homem negro. As pistas porém são vagas demais para dar uma direção melhor para as investigações. / True Detective 3.03 - The Big Never  (Estados Unidos, 2019) Direção: Daniel Sackheim / Roteiro:  Nic Pizzolatto / Elenco: Mahershala Ali, Carmen Ejogo, Stephen Dorff.

True Detective 3.04 - The Hour and the Day
Os investigadores seguem na sua via crucis para descobrir o que aconteceu com as crianças. O garoto foi encontrado numa caverna. A menina sumiu. Eles então resolvem descobrir quem vendeu as bonecas de pano que foram encontrados na cena do crime. Descobrem a velha senhora que os vendeu numa quermesse da igreja católica da cidade. E ela consegue se lembrar de um homem negro, cego de um olho, que havia lhe comprado dez bonecas de uma só vez - algo que nunca havia acontecido antes. Sem dúvida uma pista importante. Um aspecto importante do roteiro desse episódio vem do fato de que ele deixa bem claro, em diversas idas e vindas no tempo, que o caso ficou sem solução por anos, ou melhor dizendo, décadas! Um verdadeiro martírio para todos os envolvidos. / True Detective 3.04 - The Hour and the Day (Estados Unidos, 2019) Direção: Nic Pizzolatto / Roteiro: Nic Pizzolatto / Elenco: Mahershala Ali, Carmen Ejogo, Stephen Dorff.

True Detective 3.05 - If You Have Ghosts
Nesse episódio o policial Wayne Hays (Mahershala Ali) explode os miolos do catador de lixo, um veterano da guerra que vivia de recolher latas, roupas velhas, pelas ruas, etc. Criou-se uma mentalidade (errada) de que ele teria algo a ver com a morte das duas crianças. Então os caipiras decidem dar uma surra nele, mas quando chegam lá tudo vai pelos ares - pois havia várias armadilhas prontas para detonação. Outro aspecto interessante desse episódio é que ele revela que a garota pode estar viva. Muito provavelmente virou prostituta nas ruas, usuária de drogas, mas os tiras não conseguem encontrá-la. Uma mulher liga para a polícia e pede para que a deixem em paz, fazendo entender que no passado ela foi alvo de abuso infantil, talvez do próprio pai que ela agora quer distância. Pedofilia? Pode ser... / True Detective 3.05 - If You Have Ghosts (Estados Unidos, 2019) Direção: Nic Pizzolatto / Roteiro: Nic Pizzolatto / Elenco:  Mahershala Ali, Carmen Ejogo, Stephen Dorff.

True Detective 3.06 - Hunters in the Dark
As investigações tomam um novo rumo onde o pai das crianças passa a ser o principal suspeito. Só que a situação é tão enrolada e de complicada solução que o chefe do departamento de polícia resolve encobrir tudo. Oficialmente a polícia assume a versão de que o homem que vivia de recolher lixo foi o culpado. Ele teria matado as crianças. Provas? Roupas deles teriam sido encontradas em sua casa. Tudo balela, tudo prova plantada. Claro, os dois detetives não concordam com isso tudo e seguem em frente, porém enfrentando cada vez mais pressão para desistirem de tudo. Não é de se admirar que o caso tenha durado anos e anos sem um fim definitivo. Para piorar, as pistas de que Julie estaria viva, sendo prostituta e usando drogas em algum lugar, ficam ainda mais evidentes. Até o tio dela, um drogado, estaria disposto a entregar parte da verdade em troca de sete mil dólares. Jogo sujo. / True Detective 3.06 - Hunters in the Dark (Estados Unidos, 2019) Direção: Daniel Sackheim / Roteiro: Nic Pizzolatto, Graham Gordy / Elenco: Mahershala Ali, Carmen Ejogo, Stephen Dorff.

True Detective 3.07 - The Final Country 
A pista da vez é um estrenho sujeito. A descrição fala em um homem alto, negro, com apenas um olho. O outro seria cego. Quem seria esse homem misterioso? Qual seria sua ligação com a morte das crianças? Um casal que morava perto da floresta também sempre surge nas investigação. Era formado por um homem negro e uma mulher branca. E coisas avulsas vão surgindo também ao longo do episódio. Teria a mãe vendido a própria filha para uma rede de pedofilia comandas por homens poderosos do estado? Muitas perguntas, muitas pistas, nenhuma resposta definitiva. Sobra para o velho detetive aceitar o convite de um senhor chamado Hoyt. Ele quer esclarecer as coisas, colocar seu ponto de vista. Será que pelo menos isso seria verdade? A conferir no próximo episódio. / True Detective 3.07 - The Final Country (Estados Unidos, 2019) Direção: Daniel Sackheim / Roteiro: Nic Pizzolatto, Nic Pizzolatto / Elenco: Mahershala Ali, Carmen Ejogo, Stephen Dorff.

True Detective 3.08 - Now Am Found
Esse é o último episódio da terceira temporada. E como termina a terceira temporada de True Detective? Segura, que lá vai spoiler. Depois de 25 anos de investigação finalmente os dois detetives descobrem o que aconteceu com a menina Julie. O homem negro, cego de um olho, é localizado e ele conta tudo... ou quase tudo. A pessoa chave em seu desaparecimento foi a filha do Sr. Hoyt, uma mulher mentalmente perturbada chamada Isabel. Após perder o filho e o marido em um acidente de carro, ela perdeu também a razão, ficando insana. Um dia olhando pela janela viu Julie passando. Achando ela parecida com sua filha Mary, que morreu no acidente, ela pediu para que a menina a visitasse. Contando com a aceitação da mãe de Julie e menina então foi levada para a casa de Isabel. E lá ficou por algumas semanas, brincando com o irmão. A visita da menina fez bem para a saúde mental de Isabel, a tal ponto que ela foi se recuperando. Infelizmente durante uma brincadeira na floresta o pequeno irmão de Julie morreu ao cair e bater a cabeça numa pedra. A partir daí tudo desandou. Julie foi parar em um abrigo para freiras e lá tentou retomar sua vida. Para evitar que fosse perseguida as freiras forjaram sua morte, mas no final de tudo Julie reencontrou a felicidade, se casou e teve uma filhinha. Numa das cenas finais o policial negro Wayne Hays (Mahershala Ali) vai parar na casa de Julie, agora mãe e esposa. Foi um desfecho ideal para um caso que parecia sem solução. E felizmente para todos a menina desaparecida finalmente estava feliz. E assim temos um final feliz apropriado para essa temporada. / True Detective 3.08 - Now Am Found (Estados Unidos, 2019) Direção: Daniel Sackheim / Roteiro: Nic Pizzolatto / Elenco: Mahershala Ali, Carmen Ejogo, Stephen Dorff.

Pablo Aluísio.

domingo, 3 de novembro de 2019

Carga Explosiva: O Legado

Esse filme deveria se chamar "Carga Explosiva 4", mas pouco antes do começo das filmagens o ator Jason Statham pulou fora do projeto. Alguns dizem que ele não chegou a um acordo sobre seu cachê. Outros dizem que o problema foi o roteiro, considerado fraco demais pelo inglês. De uma maneira ou outra o fato é que o principal astro da franquia simplesmente desistiu e eles ficaram com um problemão nas mãos. O jeito foi contratar outro ator - o pouco conhecido Ed Skrein - e cortar o orçamento pela metade. O resultado de tantas mudanças foi esse fraco "Carga Explosiva: O Legado". Não que os três filmes anteriores com Statham fossem obras primas, nada disso. Porém esse aqui é muito inferior. A tal ponto que ficamos nos perguntando sobre que legado seria esse? Não existe legado nenhum a se passar por aqui.

O roteiro tira proveito de uma série de crimes cometidos por um trio de loiras misteriosas. Claro, elas contratam os serviços do transportador que acaba se envolvendo, sem querer, no meio de uma série de vinganças envolvendo ex-garotas de programas e aqueles que as exploraram no passado. O filme tem um visual até bonito, pois souberam explorar os lugares turísticos onde várias cenas de ação foram filmadas. Só que o roteiro é ruim de doer. Muito mal escrito, fraco, sem nenhum personagem com um mínimo de desenvolvimento. No final das contas esse é aquele caso típico de  produção genérica de ação, tudo feito a toque de caixa e sem conteúdo nenhum. Provavelmente será também o último dessa franquia que agora se arrasta completamente, tentando faturar alguns trocados antes de encerrar de vez suas atividades no mundo do cinema.

Carga Explosiva: O Legado (The Transporter Refueled, França, Bélgica, China, 2015) Direção: Camille Delamarre / Roteiro: Adam Cooper, Bill Collage / Elenco: Ed Skrein, Loan Chabanol, Ray Stevenson, Gabriella Wright  / Sinopse: Frank Martin Jr (Skrein) é conhecido por levar cargas e transportes de um lugar a outro sem maiores perguntas. Geralmente trabalhando para o submundo do crime. Agora ele se verá envolvido numa verdade guerra de vingança envolvendo um grupo de mulheres e membros da máfia.

Pablo Aluísio.

sábado, 2 de novembro de 2019

O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio

Pode chamar de "O Exterminador do Futuro 6". Isso mesmo, esse é o sexto filme dessa longa franquia cinematográfica. Acha que já foi um pouco longe demais? Ainda mais sabendo que tudo nasceu de um filme considerado B na época, em plenos anos  80. Talvez seja isso mesmo. De qualquer forma como o público ainda se interessa pela história, Hollywood (agora em sociedade com produtores chineses e europeus) decidiu fazer mais uma sequência. E assim lá vamos nós de novo para o retorno ao passado de novos exterminadores. A partir daqui vou escrever alguns spoilers, por isso se ainda não assistiu ao filme, não continue a ler. Pois bem, nesse sétimo longa-metragem temos uma nova realidade. Sim, lamente, pois John Connor, o jovem que iria liderar a resistência contra as máquinas no futuro, está morto! Um dos exterminadores finalmente cumpriu sua missão. Com John morto todo o futuro é modificado... porém para o desespero dos humanos o futuro alternativo não é melhor. Uma legião de máquinas está novamente destruindo a humanidade.

E assim um novo exterminador precisa voltar para o passado para destruir uma jovem mexicana que será a comandante dos humanos no futuro. Quer saber a verdade? Achei cansativo esse roteiro que se formos analisar bem é mais uma versão do tipo "diferente, mas igual" dos primeiros filmes. Até mesmo Sarah Connor (Linda Hamilton) retorna à ativa, armada até os dentes! E o que dizer de um exterminador que anos depois decidiu formar uma família, procurando ser feliz ao velho estilo? Arnold Schwarzenegger está lá, como um zeloso paizão, que precisa acertar contas com o passado. Não achei convincente e nem muito criativo. De qualquer maneira, para quem gosta, há boas cenas de ação. Certo, as cenas finais me pareceram escuras demais, talvez para esconder os efeitos especiais. Porém é inegável que em termos técnicos o filme é muito bem produzido. Afinal gastaram 185 milhões de dólares para produzir esse Terminator Seven! Porém em termos de roteiro essa já é uma franquia cinematográfica que se arrasta... Não me agradou como um todo, mas como diversão ligeira, entretenimento pipoca, até que dá para ver uma vez.

O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio (Terminator: Dark Fate, Estados Unidos, China, Espanha, Hungria, 2019) Direção: Tim Miller / Roteiro: James Cameron, Charles H. Eglee / Elenco: Arnold Schwarzenegger, Linda Hamilton, Mackenzie Davis, Natalia Reyes, Gabriel Luna / Sinopse: Para assassinar a futura líder da resistência humana no futuro, um exterminador modelo Rev-9 (Luna) é enviado para o passado. Já os rebeldes enviam Grace (Davis) uma humana modificada, para salvar a vida da jovem mexicana.

Pablo Aluísio.  

Irmãos Gêmeos

É uma comédia de uma piada só. Basta ver o cartaz do filme para entender bem isso. Como o brucutu musculoso  Arnold Schwarzenegger poderia ser o irmão gêmeo do baixinho e gordinho Danny DeVito? E é só isso mesmo. Decepcionado? Agora imagine a cara dos fãs dos filmes de ação de Schwarzenegger nos anos 80 tendo que lidar com uma fitinha boba como essa nas locadoras de VHS! Pois é. De uma hora para outra o austríaco colocou na cabeça que poderia se tornar um bom comediante. Era como dar um cavalo de pau completo nos rumos da carreira. O diretor Ivan Reitman, recentemente falecido, sempre foi muito talentoso para esse tipo de fita, mas em minha opinião ele pisou na jaca, errou feio aqui.

Nunca consegui gostar desse filme. Nunca achei divertido ou engraçado. Sempre me soou muito forçado e artificial. E o  Arnold Schwarzenegger ainda não tinha entendido que ele basicamente só funcionava bem em filmes de pura ação. Ele sempre foi muito limitado e fazer comédia nunca foi para qualquer um. É bom sempre lembrar que todo bom comediante é também um grande ator. Não existem muitas exceções nessa afirmação. Eu só vi esse filme uma única vez, ainda nos anos 80, numa fita VHS. Ver uma vez bastou. Tudo muito chato, sem graça, sem charme. A única coisa positiva foi ver a linda Kelly Preston ainda bem jovem e esbanjando beleza. Isso foi muito antes dela casar com o John Travolta. Pois é, meus caros, o mundo nunca foi perfeito mesmo.

Irmãos Gêmeos (Twins, Estados Unidos, 1988) Direção: Ivan Reitman / Roteiro: William Davies, William Osborne / Elenco: Arnold Schwarzenegger, Danny DeVito, Kelly Preston, David Caruso / Sinopse: O grandalhão halterofilista Julius Benedict (Arnold Schwarzenegger) descobre que tem um irmão gêmeo... ou quase isso. Enquanto um é forte e atlético, o outro é baixinho e está muitos quilos acima do peso. Pior do que isso, Vincent (DeVito) é do tipo encrenqueiro, sempre se envolvendo em confusões de todos os tipos.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Eles e Elas

Marlon Brando era um dos maiores atores de sua época. Porém não sabia cantar. Frank Sinatra era o rei da música, chamado de The Voice (a Voz) pelos críticos musicais. Como ator porém muitas vezes deixava a desejar. Assim teríamos um filme perfeito unindo esses dois talentos. Pelos menos foi assim que pensaram os executivos da Metro-Goldwyn-Mayer (MGM). Só que as coisas definitivamente não saíram bem como os produtores desejavam. Esse musical chamado "Eles e Elas" acabou se tornando um dos filmes mais singulares das carreiras de Brando e Sinatra. A trilha sonora foi gravada usando as diversas tentativas de Brando em cantar bem. Entre as inúmeras desafinadas os produtores conseguiram pincelar pequenos momentos. Depois editaram tudo e o espectador acabou mesmo acreditando que Brando era um cantor, mesmo que meramente mediano.

Já Frank Sinatra não gostou nada da experiência. Ele era um ator pragmático, que queria resolver tudo em apenas um ou dois takes. Porém ao contracenar com Marlon Brando precisou ter paciência em dobro para lidar com os métodos do Actor Studio. Isso acabou criando uma antipatia mútua entre Brando e Sinatra no set de filmagens. No final das gravações eles estavam praticamente sem se falar. Para Brando o ator Frank Sinatra não passava de um cantor tentando atuar sem passar muita vergonha. Ele achava Sinatra bem ruim. Para Sinatra, Brando era superestimado pela crítica. Ele também tinha achado as performances vocais de Marlon um verdadeiro desastre. Como nenhum deles estava disposto a abrir mão de seus egos monumentais a tensão imperou no estúdio. De uma maneira ou outra o público gostou do filme e ele foi até indicado ao Oscar, apesar da crítica não ter apreciado muito. Quem diria que algo assim poderia dar tanto certo no final?

Eles e Elas (Guys and Dolls, Estados Unidos, 1955) Direção: Joseph L. Mankiewicz / Roteiro: Jo Swerling, baseada no peça escrita por Abe Burrows / Elenco: Marlon Brando, Frank Sinatra, Jean Simmons, Vivian Blaine / Sinopse: Uma bela garota acaba servindo de pretexto para uma aposta nada ética. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Direção de Fotografia (Harry Stradling Sr), Melhor Direção de Arte (Oliver Smith, Joseph C. Wright), Melhor Figurino (Irene Sharaff) e Melhor Música (Jay Blackton, Cyril J. Mockridge). Filme vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Musical ou Comédia e Melhor Atriz (Jean Simmons).

Pablo Aluísio. 

Sindicato de Ladrões

Durante anos o diretor Elia Kazan foi considerado um traidor em Hollywood. Ele havia entregado para o Macarthismo um grande número de profissionais do cinema. Cineastas, roteiristas, atores, atrizes, muitos viram suas carreiras destruídas por causa de Kazan. Essas pessoas faziam parte do Partido Comunista, do qual Kazan também era membro. Quando a coisa apertou, ele entregou todo mundo. Alguns foram presos, outros banidos de Hollywood e alguns até mesmo cometeram suicídio. Com isso Kazan ficou marcado para sempre. Uma maneira dele procurar por uma redenção aconteceu com esse clássico chamado "Sindicato de Ladrões".

Para Marlon Brando esse filme era o retrato de todos os fracassados da América. Todos os derrotados pelo sistema. Aquelas pessoas que não conseguiam o sucesso, a fama e a fortuna. Ele interpretava um boxeador com uma carreira cheia de fracassos que entregava as lutas para que a máfia ganhasse dinheiro fácil no mundo das apostas esportivas. Algum tempo depois essa mesma quadrilha acabava cometendo um crime, colocando um peso a mais na consciência do personagem de Brando. Era aqui que Kazan tentava justificar seus atos no passado, tentando criar uma justificativa baseada em grandes valores para todos aqueles que entregavam seus antigos comparsas ou como no caso dele, dos antigos companheiros de causa.

O filme traz um retrato cru e realista. As cenas foram rodadas nas ruas e nas docas, no meio de pessoas comuns, sem excessos de produção e nem nada do tipo. Marlon Brando, com seu jeito da classe trabalhadora, simplesmente atuava ao lado das pessoas do dia a dia, sempre procurando pelo realismo. Seu talento lhe valeu o primeiro Oscar de sua carreira. Curiosamente Brando compareceu à cerimônia onde recebeu a estatueta de uma linda Grace Kelly. Depois tirou fotos e seguiu todo o protocolo da Academia. Algo que iria renegar anos depois quando seria premiado por "O Poderoso Chefão", ao recusar a premiação. No caso do Oscar vencido por "Sindicato de Ladrões" ele decidiu dar a estatueta para um amigo. Era uma forma dele demonstrar que não dava valor ao Oscar e nem à Academia. Também era uma maneira rebelde de se dissociar da futilidade de uma Hollywood que em sua opinião era vazia e sem sentido. De uma forma ou outra o filme foi aclamado por público e crítica, vencendo os principais prêmios de cinema naquele ano. Foi a forma de Hollywood dizer que finalmente Kazan estava perdoado.

Sindicato de Ladrões (On the Waterfront, Estados Unidos, 1954) Direção: Elia Kazan / Roteiro: Budd Schulberg, Elia Kazan, Malcolm Johnson / Elenco: Marlon Brando, Karl Malden, Rod Steiger, Lee J. Cobb, Eva Marie Saint / Sinopse: Terry Malloy (Brando) é um boxeador fracassado que entrega lutas para que a máfia fature no mundo das apostas esportivas. Após um crime ele começa a ter crises de consciência. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Marlon Brando), Melhor Atriz Coadjuvante (Eva Marie Saint), Melhor Direção (Elia Kazan), Melhor Roteiro, Melhor Direção de Fotografia (Boris Kaufman), Melhor Direção de Arte (Richard Day) e Melhor Edição (Gene Milford). Também vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Marlon Brando), Melhor Direção e Melhor direção de fotografia.

Pablo Aluísio.