segunda-feira, 20 de março de 2017

Vírus

Título no Brasil: Vírus
Título Original: Virus
Ano de Produção: 1999
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: John Bruno
Roteiro: Chuck Pfarrer
Elenco: Jamie Lee Curtis, William Baldwin, Donald Sutherland, Joanna Pacula, Marshall Bell, Sherman Augustus
  
Sinopse:
Durante uma missão em alto-mar a tripulação do navio "Sea Star" acaba encontrando uma embarcação russa abandonada. O capitão Robert Everton (Donald Sutherland) vê nessa descoberta a chance de ganhar alguns milhões de dólares por seu resgate. Já os demais membros do comando, entre eles Kit Foster (Jamie Lee Curtis) e o engenheiro Steve Baker (William Baldwin), acreditam que essa não seria uma boa ideia, pois o velho navio desaparecido parece ter algo sinistro a esconder. Afinal a tripulação daquele navio estava praticamente toda morta.

Comentários:
Esse filme de terror e suspense tem algumas curiosidades interessantes. A primeira delas é que foi uma das primeiras adaptações de quadrinhos para o cinema. O roteiro era baseado na Graphic Novel "Virus" de Chuck Pfarrer (que também assinou o roteiro), publicação da editora Dark Horse Comics. A segunda é que contou com um generoso orçamento, de quase 100 milhões de dólares, algo bem raro em produções desse tipo. Tantos pré-requisitos porém não garantiram a qualidade do filme como um todo. "Virus" tem muitos problemas. Apesar do bom elenco que contava com a presença do veterano Donald Sutherland, da "Rainha do Grito" Jamie Lee Curtis e do esforçado William Baldwin, o fato é que a própria trama não tinha muita qualidade. O enredo é bem previsível e qualquer cinéfilo com um mínimo de experiência matará tudo o que vai acontecer com apenas poucos minutos de filme. Nada de novo no front. Além dos clichês há um problema de ritmo, onde não se valorizou bem os momentos de tensão e suspense. Assim o filme acabou valendo apenas por algumas coisas, que no fundo não tinham muita importância.

Pablo Aluísio.

domingo, 19 de março de 2017

A Bela e a Fera

O grande lançamento nos cinemas mundiais dessa semana é essa nova versão de "A Bela e a Fera". Produzido pelos estúdios Disney,  o conto de fadas agora sai do mundo da animação para o cinema convencional, com atores de verdade. Essa aliás tem sido uma estratégia vitoriosa do estúdio nos últimos anos, eles apenas adaptam animações de sucesso do passado, em novas super produções, faturando mais alguns milhões de dólares nas bilheterias ao redor do mundo. Como em time que se está ganhando não se mexe. Pois bem, esse filme aqui envolveu a atriz Emma Watson em uma polêmica bem desagradável (pelo menos sob o ponto de vista dela). A atriz é conhecida por causa de suas opiniões fortes, embasadas em uma visão de mundo feminista. Quando ele anunciou que iria interpretar basicamente uma princesa Disney o mundo dela caiu! Como se sabe as feministas possuem uma péssima impressão sobre as princesas da Disney porque segundo elas essa é uma imposição estereotipada da sociedade para com as mulheres. Emma ainda tentou se defender dizendo que a Bela era uma princesa diferente, que não aceitava certas coisas, mas a verdade é que pelo menos politicamente foi um passo atrás que ela deu.

Já em termos de carreira ela tem agora um baita sucesso em sua filmografia. O filme vai muito bem nas bilheterias, liderando rankings de vendas de ingressos em todos os mercados. Nada mal. O roteiro segue basicamente o mesmo da animação. É curioso porque o conto de fadas original, escrito pela Madame Gabrielle-Suzanne Barbot em 1740, foi tantas vezes adaptado ao longo de todos esses anos,  que pouca coisa sobrou do texto original. Barbot viveu na França do século XVIII, na época de ouro do absolutismo da Casa de Bourbon. Sua obra era bem mais interessante, sob diversos aspectos, mas seria pouco atrativa para as crianças de hoje. Como se trata de um produto com o selo de qualidade Disney é meio desnecessário elogiar a bonita produção, a direção de arte de bom gosto, os efeitos de computação gráfica, etc. A Disney mantém um padrão de qualidade tão absurdo que todos os seus filmes são impecáveis nesses aspectos. A única crítica que teria a fazer sobre isso seria sobre o design da fera, que ao meu ver, está mais parecida com um werewolf de filmes de terror do que com um personagem cheio de sentimentos de uma produção feita para agradar as crianças. Tirando isso de lado, todo o mais me agradou. A espinha dorsal do enredo é o musical da Broadway, com belas canções por todo o desenrolar do filme. E sim, no final das contas a Emma Watson interpreta mesmo uma típica princesinha Disney. Nem adianta disfarçar.

A Bela e a Fera (Beauty and the Beast, Estados Unidos, 2017) Direção: Bill Condon / Roteiro: Stephen Chbosky, Evan Spiliotopoulos / Elenco: Emma Watson, Kevin Kline, Ewan McGregor, Ian McKellen, Emma Thompson, Stanley Tucci, Dan Stevens, Luke Evans / Sinopse: Após o desaparecimento de seu pai em uma floresta sinistra e sombria, Belle (Watson) vai atrás dele e descobre que ele é prisioneiro de uma fera em seu castelo, um antigo príncipe que fora amaldiçoado por uma bruxa. Apenas o amor poderá salvá-lo de seu trágico destino.

Pablo Aluísio.

Corações Apaixonados

Título no Brasil: Corações Apaixonados
Título Original: Playing by Heart
Ano de Produção: 1998
País: Estados Unidos
Estúdio: Miramax
Direção: Willard Carroll
Roteiro: Willard Carroll
Elenco: Sean Connery, Angelina Jolie, Madeleine Stowe, Gillian Anderson, Ellen Burstyn, Gena Rowlands, Ryan Phillippe, Anthony Edwards
  
Sinopse:
Onze pessoas vivendo e trabalhando em Los Angeles precisam lidar com os problemas profissionais e emocionais de suas vidas. Entre eles há Paul (Sean Connery), um produtor de TV, que precisa vencer suas dificuldades emocionais, enquanto tenta transformar um programa de culinária em sucesso de audiência. Joan (Jolie) é uma mulher apaixonada que tenta seduzir o jovem Keenan (Ryan Phillippe) sem muito sucesso. E por aí vai. O mote é sempre a tentativa de ser bem sucedido na vida de cada um, explorando como isso na realidade é bem complicado de se alcançar. Filme indicado ao Urso de Ouro do Berlin International Film Festival.

Comentários:
A intenção de Sean Connery ao aceitar o convite para esse filme era a de participar de uma pequena produção, mais artística, que tivesse um jeito mais de cinema independente, mais cult. O problema é que ao aceitar fazer o filme ele acabou atraindo a atenção de outros atores que queriam ter a oportunidade de trabalhar ao seu lado. É justamente aí que nasceu o maior problema dessa fita romântica. Com tantos atores e atrizes famosas no elenco o espaço para seus personagens tiveram que ser ampliados, criando mais um daqueles filmes com atores demais e roteiro de menos! É uma multidão de personagens, muitos deles sem a menor importância. Isso estraga a fita que se torna cansativa, com aqueles roteiros ao estilo mosaico, mostrando um monte de gente, fazendo um monte de coisas, que no fundo não significam nada! Enfim, ficou bem chato. O único que escapou do tédio foi o próprio Sean Connery. Dono de uma presença sempre marcante em cena, ele é uma das poucas razões que farão você acompanhar até o fim o desenrolar da história. Provavelmente se o filme não tivesse sua presença na tela, você provavelmente dormiria no sofá, de tão chatinha que é essa produção supostamente produzida para um público mais romântico. O filme como um todo pode até ser bem intencionado. O problema é que de boas intenções o inferno já está cheio. Melhor esquecer e ignorar.

Pablo Aluísio.

sábado, 18 de março de 2017

A Bruxa de Blair

Título no Brasil: A Bruxa de Blair
Título Original: The Blair Witch Project
Ano de Produção: 1999
País: Estados Unidos
Estúdio: Lionsgate Films
Direção: Daniel Myrick, Eduardo Sánchez
Roteiro: Daniel Myrick, Eduardo Sánchez
Elenco: Heather Donahue, Michael C. Williams, Joshua Leonard, Bob Griffin, Jim King, Sandra Sánchez
  
Sinopse:
Um grupo de jovens resolve entrar na floresta para descobrir a verdade por trás de uma antiga lenda da região, que afirmava existir uma maldição em torno de uma bruxa que vivera no lugar há muitos anos. Essa lenda conhecida como "A Bruxa de Blair" teria algum fundo de verdade? Anos depois dessa busca o material de filmagem é encontrado perdido na floresta. O que teria acontecido com os jovens? Filme indicado ao Cannes Film Festival.

Comentários:
Essa produção pode ser considerada a grande pioneira no gênero mockumentary, do inglês mock (falso) + documentary (documentário), ou seja, os conhecidos falsos documentários, que assolam as produções de terror desde então. A ideia foi genial, não se pode negar. Os diretores, um bando de garotos, pegaram suas câmeras de mão e foram para a floresta fazer tomadas bem amadoras. Depois lançaram trechos na internet, como se tudo tivesse acontecido de verdade. Os tais vídeos se tornaram virais, trazendo uma enorme publicidade grátis. Depois de finalizado (com apenas 60 mil dólares), eles procuraram uma distribuidora e lançaram o filme no cinema. Acabou arrecadando nas bilheterias algo em torno de 140 milhões de dólares, se tornando assim um dos filmes mais lucrativos da história do cinema americano. "The Blair Witch Project", falando a verdade, tem uma história de bastidores mais interessante do que o próprio filme. Cinematograficamente falando, deixando de lado como a fita foi lançada, seus lucros absurdos, etc, não podemos negar que tudo é muito fraco. O roteiro praticamente inexiste, pois tudo foi criado ali mesmo, no meio do mato, sem muitos cuidados. O elenco, se é que podemos dizer que há um elenco no filme, é todo formado por jovens inexperientes, que nunca tinham participado de um filme antes. Mesmo com tanta precariedade (ou talvez justamente por causa disso), "A Bruxa de Blair" acabou virando um fenômeno. Como escrevi, o filme é ruim, mas a forma como ele mostrou a força da internet e as novas possibilidades de linguagem, não deixa de ter sua importância.

Pablo Aluísio.

Pela Vida de um Amigo

Título no Brasil: Pela Vida de um Amigo
Título Original: Return to Paradise
Ano de Produção: 1998
País: Estados Unidos
Estúdio: Polygram Filmed Entertainment
Direção: Joseph Ruben
Roteiro: Pierre Jolivet, Olivier Schatzky
Elenco: Vince Vaughn, Anne Heche, Joaquin Phoenix, Vera Farmiga, Jada Pinkett Smith, David Conrad
  
Sinopse:
Lewis McBride (Joaquin Phoenix) é um americano que após passar férias na Malásia, acaba sendo acusado de tráfico de drogas. Preso e julgado, ele é condenado à morte em oito dias. Sua única saída é contar com o apoio de amigos que estavam com ele na ocasião e que poderiam assumir também suas culpas pelas drogas apreendidas, só que isso vai parecendo cada dia mais improvável. Filme indicado ao Csapnivalo Awards nas categorias de Melhor Atriz (Anne Heche) e Melhor Ator (Joaquin Phoenix).

Comentários:
Traficar drogas ou pelo menos levar algum tipo de droga em suas malas para certos países do mundo pode ser uma péssima ideia. É justamente isso que o roteiro desse filme explora, a prisão e condenação à morte de um americano em um país da Ásia, a Malásia. Em lugares como esse não existe escapatória - a morte, caso seja preso, é praticamente certa! Recentemente inclusive tivemos vários casos de jovens brasileiros que foram pegos justamente nessa situação, tentando entrar em países da Ásia - como as Filipinas - carregando drogas em suas bagagens. Há uma brasileira atualmente no corredor da morte por lá e outro brasileiro foi executado há mais ou menos dois anos. Dessa forma o tema do roteiro, apesar dos anos passados, tem se mostrado bem atual. É um filme com uma história triste. Um americano condenado à morte, precisando da ajuda de "amigos" (entre aspas mesmo), para que eles assumam parte da culpa, evitando assim que ele seja morto por enforcamento - um método pouco humanitário de ser executado na pena capital. O filme de uma forma em geral é bom, valorizado por esse interessante elenco, onde todos os atores ainda estavam na fase inicial da carreira. Um bando de gente talentosa que iria trilhar caminhos diferentes na carreira, mas que aqui, unidos, acabaram fazendo um belo trabalho de atuação. Por essas e outros recomendo bastante essa fita bem acima da média, capaz de mostrar o realismo brutal de uma condenação à morte, algo que é raramente mostrado pelo cinema americano.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 17 de março de 2017

Elle

A atriz Isabelle Huppert concorreu ao Oscar pela sua atuação nesse filme "Elle". Não deixou de ter sido uma surpresa porque o roteiro desse filme é um tanto incomum. Isabelle Huppert interpreta uma mulher madura chamada Michèle Leblanc. Divorciada, morando sozinha, ele é a executiva de uma empresa que produz jogos de videogames. Ao abrir a porta de sua sala para seu gato entrar em casa ela acaba sendo surpreendida pela entrada de um criminoso, um estuprador. Depois de ser violentada ela tenta superar o trauma e descobre, tempos depois, que o estuprador na verdade é alguém bem próximo dela. Michèle Leblanc tem um passado a esconder. Ela é filha de um dos mais infames serial killers da história da França, um homem que está prestes a morrer na cadeia. Mesmo assim ela se recusa a vê-lo pela última vez. Pior acontece em relação ao seu relacionamento com sua mãe, que está pensando em se casar com um rapaz bem mais jovem, um explorador de mulheres mais velhas, um escroque. Como se vê a protagonista tem muitos problemas em sua vida pessoal, mas mesmo assim tenta seguir em frente, levando sua vida.

Devo antecipar que o roteiro de "Elle" tem algumas coisas que fogem completamente do padrão desse tipo de drama francês. A personagem Michèle Leblanc é mais do que uma mulher forte, ela na verdade é uma mulher racional, diria até fria ao extremo. Será que o argumento quis fazer algum tipo de ligação com o fato dela ser filha de um psicopata? É possível. Ao longo da trama Michèle acabará descobrindo a identidade do criminoso que a estuprou, mas ao invés de denunciá-lo para as autoridades policiais acaba desenvolvendo uma doentia relação com ele. Essa parte da estória (que foi baseada no romance escrito por Philippe Djian) certamente deixará muitas feministas de cabelo em pé! Isabelle Huppert tem uma atuação corajosa. Encarnar cenas fortes, de estupro e violência extrema, com cenas de nudez, exige uma postura de coragem de uma atriz como ela, já consagrada em sua carreira. Talvez essa postura tenha lhe valido a indicação ao Oscar (que diga-se de passagem foi bem merecida). Agora, curioso mesmo é reencontrar o diretor holandês Paul Verhoeven (de filmes como "Instinto Selvagem", "Robocop" e "O Vingador do Futuro"), que andava bem sumido, ressurgir com uma obra cinematográfica como essa! Fora dos padrões de sua carreira ele acabou surpreendendo de forma bem positiva.

Elle (Elle, França, Alemanha, Bélgica, 2016) Direção: Paul Verhoeven / Roteiro: David Birke  / Elenco: Isabelle Huppert, Laurent Lafitte, Anne Consigny / Sinopse: Michèle Leblanc (Isabelle Huppert) é uma executiva de uma empresa de games que acaba sendo estuprada em sua própria casa. O crime acaba sendo o estopim de uma série de acontecimentos em sua vida. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Atriz (Isabelle Huppert). Vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz - Drama (Isabelle Huppert). Filme indicado à Palma de Ouro do Cannes Film Festival.

Pablo Aluísio.

Vatel - Um Banquete para o Rei

Título no Brasil: Vatel - Um Banquete para o Rei
Título Original: Vatel
Ano de Produção: 2000
País: França, Inglaterra, Bélgica
Estúdio: Miramax Films
Direção: Roland Joffé
Roteiro: Jeanne Labrune, Tom Stoppard
Elenco: Gérard Depardieu, Uma Thurman, Tim Roth, Julian Sands, Julian Glover, Richard Griffiths
  
Sinopse:
Em 1671 o Rei da França Louis XIV (Julian Sands) decide passar três dias na propriedade de um conde francês, que no passado foi seu inimigo, mas que agora poderá se tornar um aliado importante em uma nova guerra que o monarca francês pretende se envolver. Para que a visita seja um sucesso, onde tudo dê certo, o conde contrata os serviços do mestre de cerimônias François Vatel (Gérard Depardieu). Caberá a ele administrar todos os eventos da visita real ao Château de Chantilly. Filme indicado ao Oscar na categoria Melhor Direção de Arte (Jean Rabasse e Françoise Benoît-Fresco). Vencedor do César Awards na categoria de Melhor Design de Produção (Jean Rabasse).

Comentários:
Outro filme que gira em torno da figura de Louis XIV, o "Rei Sol". A diferença básica de seu roteiro é que tudo se concentra não na figura real, mas sim no trabalho minucioso e exaustivo de François Vatel (Gérard Depardieu), o empregado do conde anfitrião, que precisará tomar todos os cuidados para que tudo saia conforme o planejado na visita do rei nas terras de seu patrão. E isso não é algo fácil. Ele precisará lidar com uma corte inteira (que sempre seguia os passos do rei). Pessoas mimadas, muitas vezes indisciplinadas e arrogantes, que exigiam o melhor em termos de serviços, sem facilitar o trabalho de ninguém em troca. O próprio Louis XIV é um exemplo disso. Embora viajasse com a sua Rainha, ele tinha várias cortesãs, mulheres que frequentavam sua cama, em casos escandalosos e notórios. Uma delas seria a dama de companhia Anne de Montausier (Uma Thurman), que cai nas graças do monarca justamente em sua visita ao conde. E por mais incrível que isso possa parecer, embora se torne cortesã real, ela nutre simpatias mesmo por Vatel, o homem comum, trabalhador e esforçado. Ter que lidar com a nobreza da corte se mostra assim seu trabalho mais árduo. Para se ter uma ideia de como era até mesmo perigoso lidar com a nobreza, em determinado momento do filme o irmão do rei se engraça por um menino protegido por Vatel. Embora o roteiro não deixe tudo muito claro, fica-se subentendido que o irmão de Louis seria pedófilo e estaria tentando abusar da criança. Agora imaginem a situação complicada para Vatel, ter que salvar a pele do garoto sem criar um problema com o membro da família real (o que em tempos de absolutismo poderia lhe custar a própria vida). Em termos de elenco não há o que reclamar, pois todos os atores estão excepcionalmente bem em cena. Entre os destaques poderia lembrar da excelente presença de Tim Roth como o maquiavélico Marquês de Lauzun e, é claro, como não poderia deixar de ser, a sempre marcante presença de Gérard Depardieu. Ele sempre fez valer qualquer tipo de papel que representasse. Esse filme não é exceção. É um desses atores ímpares na história do cinema. Simplesmente genial.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 16 de março de 2017

A Grande Muralha

O enredo é simples e direto. O estrangeiro William (Matt Damon) chega nas muralhas da China após ser perseguido por bandoleiros a bandidos. Uma vez diante da enorme construção ele resolve se render para o exército do grande império chinês. Dentro das suas enormes fortificações, ele descobre que a região está prestes a ser atacada por criaturas monstruosas, que caçam e matam seres humanos com ferocidade. William quer descobrir o segredo de uma nova arma, a pólvora, e logo cerra fileiras ao lado dos chineses para combater a perigosa ameaça que está chegando! Para enfrentar as feras eles usarão de todos os tipos de táticas de guerra, algumas bem conhecidas e outras pouco usuais. Basicamente é isso, um filme de monstros sendo combatidos aos pés da grande muralha chinesa.

Eu estava muito equivocado em relação a esse filme. Pensava se tratar de um épico sobre a construção da Muralha da China. Algo histórico, com grandes cenas de batalhas entre os antigos povos da China e a força da cavalaria mongol! Que nada! O filme não passa de uma aventura bem juvenil feita para o público pré-adolescente e até mesmo infantil. Tudo é extremamente fantasioso (o enredo se passa em um universo de fantasia) onde a grande muralha não fora construída para deter as invasões do império Mongol, mas sim para defender o Império chinês de monstros místicos que a cada sessenta anos surgem para lembrar aos imperadores que sua ganância de poder deve ter limites! Uma lição para ser relembrada com violência e mortes de tempos em tempos.

Achei esse argumento realmente fraco! Tudo mero pretexto para ataques e mais ataques dessas criaturas que, é bom frisar, me lembraram demais os mesmos monstros do filme "Kong - A Ilha da Caveira". É praticamente o mesmo modelo de besta feroz, com poucas mudanças de design. A semelhança chega a causar embaraço e constrangimento! Pelo visto resolveram usar o mesmo programa de computação gráfica e o mesmo desenho de criação do outro filme, o que não deixa de ser um aspecto muito negativo, ainda mais que ambos os filmes estrearam praticamente no mesmo mês. Os efeitos digitais, que deveriam ser um grande atrativo, assim perde parte de sua força pela falta de originalidade! Como estava esperando por algo mais, digamos, sério, a decepção foi ainda maior por causa do tipo de filme que acabei encontrando. Nos Estados Unidos o filme não foi muito bem recebido pelo público que não pareceu muito interessado em seu tema. Ao custo de 150 milhões de dólares, o filme só conseguiu ter uma bilheteria morna até agora com 21 milhões em seus primeiros dias de exibição. Muito fraco para uma super produção como essa. No mercado internacional rendeu apenas 40 milhões, ou seja, caminha para dar um grande prejuízo ao estúdio.

A crítica também não gostou do resultado, mas os produtores desse filme não parecem muito preocupados com o mercado ocidental, mas sim com as bilheterias chinesas! Isso mesmo, o filme foi feito para o mercado cinematográfico da China, por isso temos aqui um roteiro que vai soar familiar para quem acompanha os filmes de fantasia feitos em Hong Kong, onde se mesclam com toneladas de efeitos digitais gratuitos, que nem sempre são muito convincentes, um enredo mais simples, dirigido principalmente para os jovens entre 11 a 15 anos de idade! Como é feito para o mercado Made in China não espere por nada que venha sequer arranhar a imagem do povo e governo chinês. Todos os personagens chineses são heroicos, altamente íntegros, inclusive as mulheres que aqui ganham uma nova função - a de guerreiras voadoras! (Não é brincadeira!). O elenco americano é todo dispensável pois eles no final não fazem nenhuma grande diferença. São descartáveis mesmo! É muito complicado entender como Matt Damon preferiu atuar nesse fraco filme ao invés de estrelar "Manchester à Beira Mar", filme que foi produzido especialmente para ele atuar. Acabou dando o Oscar para Casey Aflleck, enquanto Damon afundou nessa produção megalomaníaca e vazia. Uma péssima escolha. Enfim, só indicaria mesmo o filme para um público adolescente. Os mais velhos certamente ficarão decepcionados com o resultado aqui apresentado.

A Grande Muralha (The Great Wall, Estados Unidos, China, Hong Kong, 2016) Direção: Yimou Zhang / Roteiro: Carlo Bernard, Doug Miro / Elenco: Matt Damon, Willem Dafoe, Pedro Pascal, Tian Jing, Hanyu Zhang, Lu Han / Sinopse: Dois estrangeiros se empenham, ao lado dos chineses, na luta contra monstros que atacam a grande muralha da China a cada 60 anos! William (Matt Damon), um mercenário no passado, acaba descobrindo os verdadeiros valores que devem nortear a vida de um verdadeiro guerreiro honrado.

Pablo Aluísio.

Um Sinal de Esperança

Título no Brasil: Um Sinal de Esperança
Título Original: Jakob the Liar
Ano de Produção: 1999
País: Estados Unidos, França, Hungria
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Peter Kassovitz
Roteiro: Peter Kassovitz
Elenco: Robin Williams, Alan Arkin, Hannah Taylor Gordon, Éva Igó, Kathleen Gati, Bob Balaban
  
Sinopse:
A história do filme se passa em 1944, na Polônia ocupada por nazistas. A guerra entra em sua fase final e um judeu chamado Jakob (Robin Williams) se torna uma importante fonte de informações para a comunidade judaica aprisionada em um gueto da cidade. Com a censura imposta pelos alemães, a única possibilidade de se saber o que estava acontecendo era um velho rádio usado por Jakob de forma clandestina.

Comentários:
Baseado na novela escrita por Jurek Becker, o filme se concentra em um personagem bem singular, um homem do povo, interpretado por Robin Williams. É de forma em geral um bom filme, valorizado pela sua boa história. Esses guetos que foram criados pelos nazistas, um deles retratado no filme, eram verdadeiras prisões provisórias. Os judeus eram confinados dentro de seus linhas e ficavam em condições sub humanas até o momento em que fossem transportados para campos de extermínio. O gueto mais famoso da história foi o gueto de Varsóvia, mas existiram muitos outros, por toda a Europa. Depois de meses - algumas vezes até anos - limitados a viverem nesses guetos sujos e sem comida, os judeus eram então levados de trem (transportados como gado), para os campos de concentração onde eram finalmente executados sumariamente. Esse é mais um drama pesado na carreira de Robin Williams. Há tentativas tímidas de se fazer um pouco de humor aqui ou acolá, mas como o tema do filme é sobre o holocausto isso é totalmente amenizado. Enfim, um bom filme histórico que merecia inclusive melhor reconhecimento por parte dos festivais de cinema pelo mundo afora, algo que não aconteceu, talvez por puro preconceito por ser uma fita estrelada por um astro do humor de Hollywood. 

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Silêncio

Esse é um filme sobre os limites da fé! O seu roteiro mostra o ápice de dor física e psicológica a que um homem pode suportar, mesmo tendo a fé mais sincera e honesta em seu coração. A história se passa no século XVII. Após uma intensa perseguição religiosa contra os católicos em um Japão brutal e desumano, dois jovens padres jesuítas são enviados para lá com a missão de descobrirem o que teria acontecido ao padre Ferreira (Liam Neeson), que liderava a Igreja naquela distante nação. Ao chegarem clandestinamente em terras japonesas descobrem que muitos cristãos estão sendo mortos de forma bárbara apenas pelo fato de seguirem o evangelho de Cristo.

Essa é uma obra cinematográfica de extrema relevância por expor o pior tipo de intolerância religiosa que se pode existir, a intolerância estatal, promovida por autoridades do próprio Estado. Em um Japão com predominância da religião budista, os próprios líderes do Estado decidiram que o cristianismo não poderia entrar em seu país. Assim foi promovida uma intensa perseguição religiosa contra todos os cristãos, promovendo torturas, massacres e assassinatos em massa. Uma coisa horrorosa que nos ensina muito sobre essa questão. E engana-se quem pensa que atualmente não vivemos um momento bem parecido com o que vemos nas telas. Basta lembrar dos métodos bem parecidos utilizados por fundamentalistas islâmicos do mundo atual, para vermos que aquilo que se passa no filme não é uma realidade tão distante ao nosso presente como muitos possam pensar.

O diretor Martin Scorsese realiza assim um dos seus melhores trabalhos. Uma obra muito sincera e bem pessoal. O cineasta, nascido dentro de uma grande comunidade católica em Nova Iorque, pensou em se tornar padre em sua infância. Ao longo de sua vida acabou criando uma relação de amor e ódio com a Igreja Católica, mas sem jamais a abandoná-la completamente. Essa dualidade entre tantos sentimentos conflituosos com a sua religião o fizeram entrar nesse projeto. O roteiro, como podemos perceber, é realmente uma declaração de amor de Scorsese para com os heróis da Igreja, homens comuns, padres jesuítas, que foram colocados em situações extremas, só vivenciadas antes entre os primeiros cristãos, ainda nos tempos de Jesus.

Um dos protagonistas é um jovem padre português chamado Rodrigues, interpretado pelo ator Andrew Garfield. Em minha opinião esse ator não teve todo o talento dramático exigido para viver com a devida intensidade a incrível história de fé de seu personagem. Mesmo assim, com pequenas falhas, ele não compromete o filme como um todo. Tudo bem, um ator melhor faria grande diferença, porém essa história é tão edificante, tão relevante, que não podemos ignorar a força do roteiro por si mesmo. Enfim, poucas vezes vi um filme tão humano como esse na filmografia do mestre Martin Scorsese. Uma obra essencial.

Silêncio (Silence, Estados Unidos, México, Taiwan, 2016) Direção: Martin Scorsese / Roteiro: Martin Scorsese, Jay Cocks / Elenco: Andrew Garfield, Adam Driver, Liam Neeson, Shin'ya Tsukamoto, Yôsuke Kubozuka, Issei Ogata, Tadanobu Asano / Sinopse: Dois padres jesuítas, Rodrigues (Andrew Garfield) e Garupa (Adam Driver), são enviados para o Japão do século XVII, para descobrirem o paradeiro do padre Ferreira (Neeson), mas uma vez lá descobrem que o país vive uma intensa perseguição religiosa contra católicos, promovendo uma política estatal de massacres e assassinatos em massa. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Fotografia (Rodrigo Prieto).

Pablo Aluísio.