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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Frank Sinatra - Sinatra '57 in Concert

Ao contrário de Elvis que lançou muitos discos gravados ao vivo, principalmente na década de 1970, poucos foram os álbuns lançados nesse estilo por Frank Sinatra. O cantor era muito perfeccionista e não se sentia confortável ou confiante para lançar discos gravados ao vivo, uma vez que a qualidade sonora nem sempre ficava muito boa, além das eventuais falhas que sempre ocorriam nesse tipo de apresentação, onde o imprevisto e o erro eram a regra. Assim apenas muito mais tarde na carreira foi que Sinatra sentiu-se seguro o suficiente para autorizar o lançamento de discos gravados em concertos na sua discografia oficial. Por tudo isso esse CD tem um valor e tanto para os fãs do The Voice. Afinal de contas ele traz um concerto de Sinatra gravado em Seatlle no ano de 1957. Ao ouvir a íntegra do show não posso ficar surpreso com a boa qualidade sonora. Certamente passa longe da perfeição pois de certa maneira a maravilhosa orquestra que acompanhava Sinatra ficou um pouco abafada ao fundo, mesmo assim considerei realmente excelente o tratamento que foi realizado nas fitas originais. Não é preciso lembrar que nos anos 1950 a técnica de gravação de shows era muito precária, quase primitiva. Apenas faixas gravadas em estúdios profissionais apresentavam boa qualidade sonora.

Outro aspecto que merece destaque é a própria postura de Sinatra no palco. Não há espaço para maiores improvisos ou brincadeiras. Nesse ponto Sinatra era realmente um profissional admirável. Ele tinha um repertório para interpretar e o fazia com extrema maestria e cuidado técnico. Como eu escrevi, para alguém tão perfeccionista não havia espaço para falhas. No máximo ele se dava o prazer e privilégio de cantar alguma música com uma entonação mais divertida. Em pequenos momentos ele se divertia mais como em "I Get a Kick Out of You", onde acabava perdendo por um momento o fio da meada do acompanhamento de seus músicos. É interessante que esse tipo de show era bem diferente do que ele estava mais acostumado a realizar em Las Vegas. Ao lado do Rat Pack a proposta era bem outra. Quando estava acompanhado de Dean Martin, Sammy Davis Jr., Peter Lawford ou Joey Bishop, o cantor com copo de whisky na mão adotava outra postura, outro comportamento, quase como um comediante. A intenção não era apenas cantar bem, mas acima de tudo divertir o público, contando piadinhas e histórias engraçadas. Nem sempre esse tipo de material foi bem apreciado pelos críticos, já que todos queriam mesmo ouvir o talento de Sinatra com a devida perfeição e profissionalismo. Se esse for o seu caso então recomendo esse CD sem receios.

Frank Sinatra - Sinatra '57 in Concert
1. Introduction / You Make Me Feel So Young
2. It Happened in Monterey
3. At Long Last Love
4. I Get a Kick Out of You
5. Just One of Those Things
6. A Foggy Day
7. The Lady Is a Tramp
8. They Can't Take That Away From Me
9. I Won't Dance
10. Sinatra Dialogue
11. When Your Lover Has Gone
12. Violets For Your Furs
13. My Funny Valentine
14. Glad to Be Unhappy
15. One For My Baby
16. The Tender Trap
17. Hey Jealous Lover
18. I've Got You Under My Skin
19. Oh! Look at Me Now

Pablo Aluísio. 

domingo, 23 de janeiro de 2011

Frank Sinatra - Ring-a-Ding-Ding!

Primeiro disco de Frank Sinatra no novo selo Reprise Records. É curioso saber que em determinado momento da carreira Sinatra tenha simplesmente se cansado das grandes gravadoras formando seu próprio selo, onde teria completa liberdade de gravar o que bem entendesse, da forma que achasse melhor. Durante muitos anos a imprensa pegou no pé de Sinatra por causa dessa sua decisão o acusando de ser arrogante, insuportável e outros adjetivos menos educados. Bobagem, Sinatra sabia muito bem o que era melhor para ele e sua carreira. Se tinha o talento, a voz, e os meios porque então iria ficar enriquecendo executivos que nada faziam por ele? Além disso Sinatra tinha amigos no meio artístico suficientes para formar seu próprio quadro de grandes astros na Reprise – e assim o fez levando imediatamente para o novo selo seus amigos e “comparsas” Dean Martin e Sammy Davis Jr. Seguindo a própria filosofia de sua nova empresa deu total liberdade a eles para gravarem seus discos sem pressão ou interferências. Foi ou não um ato genial de Sinatra? Claro que sim! Mas não parou por aí, Sinatra trouxe ainda para a Reprise os astros Bing Crosby, Jo Stafford, Rosemary Clooney, Esquivel e até o comediante Redd Foxx que gravou um LP de piadas (algo considerado novo e revolucionário na época).

Sinatra gostava de brincar dizendo que na Reprise ele era o dono, o conselho de administração e fiscal e o produtor, tudo ao mesmo tempo! Bom, pelo resultado desse ótimo “Ring-a-Ding-Ding!” só podemos concordar com tudo o que ele fez pois o álbum é excelente, mesclando ótimos momentos de uma fase particularmente inspirada do cantor – afinal ele estava em última análise trabalhando para si mesmo, o que tornava o ato de gravar suas faixas um prazer extra. Na seleção musical ele cercou-se apenas do melhor, trazendo canções compostas por verdadeiros gênios da música americana e européia como George e Ira Gershwin, Cole Porter e Irving Berlin. Só a nata da nata, o mais fino e elegante que existia no mercado em termos musicais. Desnecessário dizer que o resultado final é de uma sutileza e elegância a toda prova. Pontuando tudo os ótimos arranjos assinados por Johnny Mandel e sua orquestra. Maravilhoso! Para os brasileiros uma curiosidade extra na faixa “The Coffee Song” onde Sinatra cantando sobre o café cita nosso país de forma bastante simpática! Em 2011 a Capitol relançou o álbum numa edição caprichada, com 5 faixas bônus engrandecendo ainda mais o título. Ouça e entenda porque Sinatra sempre foi considerado ao lado de Elvis Presley e Bing Crosby um dos maiores cantores da música americana de todos os tempos.

Frank Sinatra - Ring-a-Ding-Ding! (1961)
Ring-a-Ding Ding!
Let's Fall in Love
Be Careful, It's My Heart
A Foggy Day
A Fine Romance
In the Still of the Night
The Coffee Song
When I Take My Sugar to Tea
Let's Face the Music and Dance
You'd Be So Easy to Love
You and the Night and the Music
I've Got My Love to Keep Me Warm
Zing! Went the Strings of My Heart **
The Last Dance **
The Second Time Around **
Zing! Went the Strings of My Heart **
Have You Met Miss Jones? **

** Faixas Bônus do relançamento em CD.

Pablo Aluísio.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Frank Sinatra 100 Anos

O mundo inteiro está celebrando hoje o centenário do cantor Frank Sinatra. Uma data para se recordar, que não poderia passar em branco. Sinatra foi certamente um dos cinco maiores cantores de todos os tempos. Ele marcou inegavelmente o mundo da música do século XX de uma forma profunda e impactante. Vários biografias e livros estão chegando nessa data e assim os fãs e admiradores poderão conhecer ainda mais o homem por trás do mito que foi criado em torno de seu talento.

Para muita gente que nunca chegou a lhe conhecer profundamente anda surgindo um sentimento de perplexidade e surpresa com alguns fatos de sua vida que estão sendo revelados (não pela primeira vez)  nesses livros. A verdade é que Frank Sinatra não foi e nunca quis ser o cara bonzinho dos filmes românticos daquela época que chegou inclusive a estrelar algumas vezes. Sinatra era outro tipo de homem, um cara forjado dentro do contexto histórico em que nasceu.

Ele tinha sim ligações com o submundo, com chefões do crime organizado, com a máfia italiana. Era turrão e brigão, chegando a agredir desafetos publicamente. Bebia, fumava e não raro tratava mal as mulheres com quem se relacionava. Recentemente inclusive surgiu uma história terrível que teria promovido um estupro coletivo em Marilyn Monroe, que de tão drogada e bêbada não conseguia entender o que acontecia numa das "festinhas" de Sinatra em seu barco. Nos dias de hoje ele poderia ser facilmente qualificado como um cafajeste e até um canalha sem escrúpulos.

Se o homem deixava muito a desejar, o cantor Frank Sinatra era acima de qualquer crítica. Poucos cantores americanos tinham o domínio que ele ostentava em um microfone. Perfeccionista no estúdio não admitia erros de seus músicos, o que legou para a história alguns dos álbuns mais bem gravados da história da indústria fonográfica. Dominou o cenário musical durante mais de uma década até a chegada do rock em meados dos anos 1950, quando finalmente passou a enfrentar concorrência pesada nas paradas partindo de artistas como Elvis Presley, Bill Haley e Chuck Berry. Não era por outra razão que Sinatra detestava o ritmo, o desmerecendo, dizendo que era coisa de marginal e delinquente juvenil. Tudo isso porém é deixado de lado por causa de sua obra. Sinatra com tantos defeitos pessoais foi salvo pela sua música, essa certamente maravilhosa e eterna.

Frank Sinatra - Anos Finais
Com mais de 70 anos de idade, o velho e bom Frank Sinatra continuou a trabalhar. Sua esposa Barbara entendia que o trabalho lhe fazia bem. De fato ele cumpriu extensas e exaustivas agendas de shows nessa fase final de sua carreira. Só que sua saúde já não era mais a mesma. Ele começou a demonstrar nos palcos que a idade estava chegando.

Frank esquecia as letras, mesmo com dois monitores à sua frente, passando as mesmas. Ele também começou a mostrar que estava com sinais de algum tipo de distúrbio que o fazia esquecer de um passado recente. Ele podia, durante o mesmo concerto, contar duas ou mais vezes a mesma piada e apresentar sua orquestra também mais de uma vez.

Frank Sinatra também enfrentava problemas auditivos (ele estava ficando surdo) e visuais (Já não conseguia enxergar direito sua posição no palco). Isso criou muitos atritos entre as filhas de Sinatra e sua atual esposa. Tina Sinatra, por exemplo, tinha ódio de sua madrasta Barbara. Ela havia sido esposa de um dos irmãos Marx, aquela trupe famosa de comediantes, e ganhara o carinho e afeto do velho Sinatra em seus anos finais. Isso para desgosto completo das filhas que a odiavam.

Houve também uma série de mortes que destroçaram o coração do velho ídolo. Sua amada Ava Gardner sofreu um derrame, ficou com uma parte do corpo paralisada e isso devastou Frank. Ela tinha sido o grande amor de sua vida. Depois Sammy Davis Jr morreu, vítima dos excessos do passado. O fumo e a bebida acabaram com ele. Por fim Dean Martin entrou em profunda depressão após a morte de seu filho e nunca mais se recuperou. Ele foi morrendo lentamente depois disso. Com seus amigos e amores do passado morrendo Frank tomou consciência de sua própria mortalidade. Algo que ele definitivamente não queria encarar.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Frank Sinatra - Songs for Swingin' Lovers!

Frank Sinatra - Songs for Swingin' Lovers!
Em 1956 o Rock explodiu nas paradas de sucesso de todo o mundo. Artistas como Elvis Presley, Bill Haley e Chuck Berry dominavam a programação dos rádios. Os jovens também compravam os discos desses cantores, colocando seus álbuns entre os mais vendidos. Frank Sinatra sentiu a mudança e não gostou! Era um novo ritmo musical que ele nem entendia direito. Sinatra ficou rabugento, dando declarações ofensivas ao rock. Chegou a afirmar que o Rock nada mais era do que o hino de todos os delinquentes do planeta. No fundo o cantor, que havia reinado sozinho nas paradas de sucesso até então, estava enciumado. Ele não gostava de rock, achava uma barulheira infernal e não estava disposto a ser polido, falando para quem quisesse ouvir que ele odiava esse novo estilo musical. 

E foi no meio desse turbilhão de acontecimentos que a Capitol produziu esse álbum. Os executivos da gravadora da Califórnia estavam preocupados, pois Sinatra corria o risco de virar rapidamente um artista ultrapassado, coisa de gente velha. E de certa maneira essa era uma mudança inevitável mesmo. Então a Capitol optou por um repertório alegre, dançante, com o melhor do swing e do jazz. O disco não caiu nas graças do público em geral. Em parte por causa do jeito nada educado de Sinatra, de suas declarações mal humoradas e em parte porque o próprio estilo musical do disco trazia uma sonoridade que já não agradava aos jovens dos anos 50. O principal sucesso do disco, "You Make Me Feel So Young", por exemplo, era uma música cuja letra refletia o pensamento de um coroa que se apaixonava por uma mulher mais jovem! Sinatra tinha mesmo virado coisa de velho! De qualquer forma uma coisa é certa, esse é um excelente ábum e fez jus ao grande talento do cantor. Item de colecionador, sem dúvida. 

Frank Sinatra - Songs for Swingin' Lovers! (1956)
You Make Me Feel So Young
It Happened in Monterey
You're Getting to Be a Habit with Me
You Brought a New Kind of Love to Me
Too Marvelous for Words
Old Devil Moon
Pennies from Heaven
Love Is Here to Stay
I've Got You Under My Skin
I Thought About You
We'll Be Together Again
Makin' Whoopee
Swingin' Down the Lane
Anything Goes
How About You?

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 3 de junho de 2008

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Sinatra - Anthony Summers

Essa é uma biografia muito boa do cantor Frank Sinatra. Eu já havia gostado de uma biografia escrita pelo mesmo autor, sobre a Marilyn Monroe. Sim, é aquela chamada "A Deusa", um dos melhores trabalhos que já li sobre a atriz. Aqui Summers volta seu foco para Sinatra. Antes de mais nada é um alívio para o escritor o fato de que Sinatra já morreu. Acontece que enquanto era vivo, ele colecionou processos contra escritores que ousassem escrever sua biografia. Mal um livro era anunciado e Frank acionava sua equipe de advogados de Nova Iorque para processar em alguns milhões de dólares os que ultrapassavam essa barreira. Ele costumava dizer que apenas Frank Sinatra poderia escrever um livro sobre Frank Sinatra. Todos os demais escritores sofriam processo por isso.

Pois bem, com Frank morto e enterrado, Summers teve total liberdade para ir atrás de todas as informações. Conversou com amigos próximos do cantor e até parentes. As pessoas foram mais cooperativas, algo que não acontecia enquanto Sinatra estava por aí, ameaçando todo mundo. Assim o escritor pode escrever sobre tudo. Até mesmo sobre as ligações do artista com a máfia italiana. É interessante porque Sinatra costumava partir para cima de qualquer jornalista que escrevesse sobre essas ligações, porém ao mesmo tempo parecia ter orgulho de ser amigo de chefões de Nova Iorque. Ele chegou até mesmo a dirigir uma associação que lutava para melhorar a imagem dos imigrantes italianos nos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que frequentava o subterrâneo da Cosa Nostra. Era um sujeito contraditório.

A leitura é agradável e o estilo do escritor é leve, algo que torna o livro bem interessante. Após ler o livro chegamos em algumas conclusões. Uma delas é que Sinatra amou perdidamente a atriz Ava Gardner. De todas as mulheres com quem se relacionou, ele nunca superou o fim de seu casamento com ela. Também descobrimos que de forma em geral ele agia como um cafajeste com as outras garotas com quem saía. Fazia parte da mentalidade da época tratar mal as mulheres, era um machismo aceito pela sociedade. Frank bebia muito e tinha um grupo de fiéis amigos e puxa-sacos que orbitavam ao seu redor. O Rat Pack moldou sua vida pessoal e profissional por muitos anos, até o dia em que Dean Martin se encheu de Sinatra e foi embora para nunca mais retornar.

Frank também parecia mudar bastante suas opiniões. Ele foi membro do Partido democrata por anos, mas no final de sua vida deu uma banana para eles e abraçou o extremo oposto, o Partido republicano. Era frio e briguento com algumas pessoas e um doce para outras. Sinatra podia ter atitudes completamente antagônicas, como ameaçar alguém de morte e no dia seguinte fazer grandes doações para a caridade. Se aposentou algumas vezes, mas sempre retornava aos palcos. No final da vida encontrou alguma estabilidade com Barbara, sua última esposa, mesmo que ela fosse odiada por suas filhas do primeiro casamento com Nancy Sinatra. Foi envelhecendo, perdendo a voz magnífica, mas mesmo assim continuou a cumprir extensas agendas de shows. Enfim, antes de qualquer coisa ele foi um homem de seu tempo, com qualidades e defeitos em ambos os lados da balança. Se você deseja conhecer mais esse grande artista, em seu lado mais pessoal, então a biografia escrita por Summers é de fato uma ótima opção de leitura.

Sinatra
Autor: Anthonny Summers e Robbyn Swan
Editora: Novo Século.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Frank Sinatra - Swing Along With Me

Dando continuidade aos comentários sobre os excelentes álbuns de Frank Sinatra, vou aqui agora tecer algumas linhas a "Swing Along With Me" que popularmente acabou conhecido apenas como "Sinatra Swings" (nome que acabou sendo adotado oficialmente no relançamento do disco). O LP foi lançado em 1961 quando Sinatra já estava rompido com sua antiga gravadora Capitol. Embora tenha sido um período extremamente bem sucedido em termos de vendas e boas críticas, Sinatra rompeu com o selo logo no começo da década de 60. O cantor não era uma pessoa fácil no trato profissional e após várias brigas com a direção da Capitol, muitas delas movidas por interferências da gravadora nos repertórios de seus discos, algo que Sinatra considerava imperdoável, ele finalmente rompeu de forma definitiva com a companhia. Curiosamente é que mesmo após sair batendo a porta da Capitol o cantor continuou soltando várias farpas via imprensa. Em uma entrevista desabafou afirmando que "produzir e lançar meus discos não dão trabalho nenhum pois o sucesso é certo. Eu mesmo poderia fazer isso sozinho". De fato Sinatra não estava blefando quando disse essas palavras.

Poucos dias depois tomou uma importante decisão e resolveu fundar seu próprio selo chamado "Reprise Records". Agindo assim Sinatra pretendia mostrar que poderia ser o artista e o empresário de suas próprias gravações. Após tantos anos ele finalmente assumiria todo o controle que teria direito. O primeiro disco pela Reprise foi "Ring-a-Ding-Ding!" que foi totalmente bem sucedido, vendendo muito bem ao mesmo tempo em que ganhava aplausos da crítica especializada. Como havia muitas contas a pagar pela criação da Reprise, Sinatra não perdeu muito tempo e apenas quatro meses depois de "Ring-a-Ding-Ding!" colocou no mercado mais um disco que foi justamente esse "Swing Along With Me", um dos meus preferidos.

A seleção musical é totalmente agradável, leve e com excelente sonoridade. O disco foi produzido por Sonny Burke que muitos consideravam apenas um engenheiro de som com privilégios. O fato é que Sinatra queria mandar em tudo, sem qualquer tipo de opinião alheia interferindo no que ele queria ou não em seus discos. Como se pode perceber ouvindo o disco seu faro não falhou. O álbum abre com a muito boa "Falling in Love with Love" embora a primeira grande canção só venha logo após, "The Curse of an Aching Heart". Excelente swing com execução perfeita. Também aprecio muito o trabalho vocal de Sinatra em "Don't Cry, Joe (Let Her Go, Let Her Go, Let Her Go)" , uma faixa que relembra em muito seus trabalhos mais melancólicos como "All Alone" ou então "No One Cares". Ira e George Gershwin também estão na seleção com a clássica "Love Walked In", de ritmo sofisticado e suave. De fraco mesmo o álbum só tem a estranha "Granada", com arranjo estranho e melodia que destoa de todas as demais canções do LP. Uma alienígena completa na seleção musical. Embora tenha caído no gosto popular sempre a achei muito kitsch e démodé. Felizmente é sucedida pela dançante "I Never Knew" cuja qualidade é repetida nas demais faixas que fecham o disco. Enfim, recomendo o disco para os que gostam de Sinatra mais pop, mais swing, nesse aspecto o saldo realmente é excelente.

Frank Sinatra - Swing Along With Me (1961) / Falling in Love with Love / The Curse of an Aching Heart / Don't Cry, Joe (Let Her Go, Let Her Go, Let Her Go) / Please Don't Talk About Me When I'm Gone / Love Walked In / Granada /I Never Knew / Don't Be That Way / Moonlight on the Ganges / It's a Wonderful World / Have You Met Miss Jones? / You're Nobody 'Til Somebody Loves You / Produzido por Sonny Burke / Gravado no United Studios, Hollywood, Maio de 1961 / Lançado em Julho de 1961

Pablo Aluísio.

Frank Sinatra - Come Fly With Me

Quando Sinatra assinou com a Capitol Records em 1953 ele tinha algumas ideias em mente. Entre elas o objetivo de levantar seu nome dentro da indústria fonográfica. O cantor sabia que precisava restabelecer sua força comercial no meio para consolidar de vez sua fase de "renascimento" como artista. Nesse meio tempo não perdeu tempo e começou a trabalhar com grandes arranjadores e maestros como Nelson Riddle (o melhor parceiro musical de Sinatra em toda sua carreira) e Gordon Jenkins. Os discos de Sinatra na Capitol eram pensados e programados para serem grandes sucessos comerciais, levar o cantor de volta ao topo das paradas. O Rock´n´Roll batia às portas e para sobreviver no meio Frank tinha que constantemente se reinventar. Por essa razão todos os álbuns de Sinatra na Capitol Records tinham sempre uma idéia básica amarrando as faixas entre si. Eram em essência discos conceituais, bem antes dessa expressão ter sido popularizada em discos como "Sgt Peppers" dos Beatles.

Esse "Come Fly With Me" se encaixa nesse conceito. A ideia partiu do próprio Sinatra que pensou reunir em apenas um álbum várias canções que lembrassem diversas partes do mundo. "Come Fly With Me" (em português "Venha Voar Comigo") era claro nesse sentido - o disco seria um passeio ao redor do mundo através de suas músicas. Para a produção a Capitol indicou o produtor e maestro Billy May. Seria a primeira vez que trabalharia com Frank Sinatra. De início foi meio complicado para ele se acostumar com o modus operandi de Sinatra dentro dos estúdios pois o cantor era perfeccionista e rabugento na mesma proporção durante as sessões de gravação. De fato, Frank era do tipo que não aceitava ordens de absolutamente ninguém e isso geralmente criava atritos entre ele e os produtores que trabalhavam ao seu lado. Ele tanto poderia implicar com uma gravação tecnicamente perfeita como também podia selecionar um take não tão perfeito como o definitivo para entrar no disco. No fundo não ouvia ninguém e seguia apenas sua própria intuição. Se lhe soasse bem ele a incluiria entre as faixas do álbum e ponto final. Não era uma pessoa fácil de se lidar profissionalmente. A despeito disso porém temos que admitir que sua intuição quase nunca falhou como comprovamos em sua discografia oficial, onde seus álbuns saíam com resultado extremamente perfeito em termos técnicos.

"Come Fly With Me", a canção que abre o álbum é até hoje extremamente popular, tanto que foi regravada por diversos outros intérpretes ao longo dos anos (nenhuma versão posterior conseguiu chegar perto do talento de Sinatra na música é bom frisar). Como já foi dito todas as canções evocam lugares ao redor do mundo. Essa era a ideia, o conceito do álbum em si. Assim somos levados a caminhar no outono de Nova Iorque em"Autumn in New York", canção que obviamente não consegue se equiparar ou rivalizar em termos de popularidade com outra música de Sinatra sobre a cidade, o hino definitivo do cantor, "New York, New York", mas que tem melodia bonita e levemente melancólica. A cidade luz também não poderia faltar e assim o ouvinte é levado a passear por uma idealizada Paris em "April in Paris", que tem um arranjo com forte presença orquestral acompanhando ótimas notas alcançadas por Sinatra. A cidade inclusive seria duplamente homenageada no relançamento em CD com "I Love Paris" de Cole Porter, faixa não lançada na edição original, o que convenhamos foi um pecado.

O Havaí também não poderia faltar na lista. "Blue Hawaii", canção que depois seria regravada por Elvis Presley, é uma das melhores melodias cantadas por Sinatra. Até o Brasil entrou na dança com a popular "Aquarela do Brasil" de Ary Barroso em versão americana escrita por Bob Russel. Curiosamente a canção acabou sendo mais conhecida lá fora como "Brazil". Eu pessoalmente gosto da versão de Sinatra nesse disco mas como brasileiro afirmo que o excesso de arranjos ao estilo jazz tradicional lhe tirou grande parte de sua personalidade. De qualquer forma não deixa de ser um prazer ouvir Sinatra cantando a terrinha com tanta paixão e convicção. Seu vocal é perfeito.

"Come Fly With Me" chegou nas lojas americanas pela primeira vez em janeiro de 1958 e foi um sucesso, logo chegando ao primeiro lugar das paradas da revista Billboard. Na época Sinatra torcia o nariz pois seus álbuns conseguiam chegar bem nas paradas mas seus singles geralmente fracassavam na parada americana. Ele deveria ter levado em conta que os discos da Capitol só funcionavam melhor mesmo quando apreciados em conjunto - com todas as canções - o que de certa forma desqualificavam seus singles como audição única. De qualquer maneira o LP serviu ainda mais para reerguer uma das melhores vozes da história da música popular americana.

Come Fly With Me - Frank Sinatra - Produção de Billy May - Faixas: "Come Fly With Me" (Sammy Cahn, Jimmy Van Heusen) "Around the World" (Victor Young, Harold Adamson) "Isle of Capri" (Will Grosz, Jimmy Kennedy) "Moonlight in Vermont" (Karl Suessdorf, John Blackburn) "Autumn in New York" (Vernon Duke) "On the Road to Mandalay" (Oley Speaks, Rudyard Kipling) "Let's Get Away from It All" (Matt Dennis, Tom Adair) "April in Paris" (Duke, E.Y. Harburg) "London By Night" (Carroll Coates) "Aquarela do Brasil" (Ary Barroso, Bob Russell) "Blue Hawaii" (Leo Robin, Ralph Rainger) "It's Nice to go Trav'ling" (Cahn, Van Heusen) / Faixas Bônus no relançamento em CD: "Chicago" "South of the Border" (Jimmy Kennedy, Michael Carr) e "I Love Paris" (Cole Porter)

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Cantores do Passado: Frank Sinatra

Eu sempre tive uma relação de amor e ódio em relação a Frank Sinatra. Sua personalidade não era das mais admiráveis. Ele era arrogante, chato, andava com mafiosos (se era mafioso também não posso afirmar) e para piorar tudo gostava de fazer o tipo cafajeste, tratando mal as mulheres, quando não as explorava de forma vergonhosa (recentemente vários fatos desprezíveis foram revelados sobre seu affair com o mito Marilyn Monroe). Enfim, Frank Sinatra definitivamente não foi um santo em vida. Tinha muitos defeitos, sabia disso e em várias ocasiões não fez a menor cerimônia em escondê-los. Apesar de tudo isso não há como não ficar maravilhado ao ouvir alguns de seus álbuns. Seguramente o apelido que ganhou da imprensa americana, "A Voz", é mais do que merecido. Sinatra cantava demais, cantava lindamente, de forma magistral. Sua voz é tão singular que mesmo após tantos anos nunca ouvi nada parecido. Também é inconfundível, não importa onde você esteja, no momento em que alguma canção com Frank Sinatra é tocada você sabe exatamente de quem se trata mesmo que nunca tenha ouvido a música antes.

Curiosamente minha vivência cultural com Sinatra vem de longe. Ainda muito jovem tive acesso a uma bela coleção de discos do cantor. Esses álbuns que ouvia em minha adolescência acabaram por moldar meu gosto pessoal em relação à obra de Sinatra. A minha fase preferida do "Old Blue Eyes" vai do disco "Songs For Young Lovers" de 1954 até "Come Swing With Me" de 1961, ou seja, trocando em miúdos, tenho muita afinidade pela fase que o cantor passou na gravadora Capitol. Interessante é que essa nem é considerada pela crítica especializada como sua fase mais inspirada ou seu auge artístico. Do ponto de vista comercial sim, foi uma época dourada para Sinatra, mas nem todos os álbuns dessa fase fizeram a cabeça dos críticos americanos. Isso é bem fácil de compreender. Sinatra foi para a Capitol logo quando o Rock começava a dar seus primeiros passos. Até aquele momento ele não tinha enfrentado uma concorrência tão forte como a que estava por vir. Isso mudou totalmente quando o novo estilo musical invadiu as paradas de sucesso. Vários novos artistas tomaram de assalto os primeiros lugares deixando cantores como Sinatra sem muita reação, até porque eles nunca tinham presenciado algo parecido antes.

Para sobreviver então Sinatra e cia tiveram que se adaptar e isso ocorreu justamente em seus anos na Capitol. Os discos do cantor nessa época me chamam atenção porque tentam conciliar o que havia de mais tradicional com os novos ares que a música americana soprava naquele momento histórico. Os discos tentam dialogar com os jovens. As capas são bem produzidas, chamativas, coloridas. São de certa maneira discos conceituais, como por exemplo, "Come Fly With Me" cujo conceito mais parece uma peça publicitária feita em alguma agência como a que vemos no seriado "Mad Men". Ou então o apelo surge bem mais cru, quase descarado como o que ouvimos em "Songs for Swingin' Lovers!", lançado em plena febre do rock onde o artista tenta de todas as formas dialogar com a juventude transviada daqueles anos. Apesar dos esforços e dos bons números de vendas o fato foi que mesmo na Capitol, com todo o seu marketing e tentativa de remodelação para o público jovem, Sinatra foi perdendo espaço nas paradas. Sua música foi muito associado ao "som dos coroas" e assim Frank logo foi rotulado de cafona e velharia, até porque é natural que as gerações mais novas venham a rejeitar os ídolos da geração passada. Isso é próprio do Homo Sapiens embora é claro seja uma tremenda injustiça com todos esses artistas, vamos convir.

Mas como diz o ditado nada melhor do que um dia após o outro. A música de Frank Sinatra só cresceu com o passar das décadas. Hoje Sinatra e sua voz maravilhosa passam por um renascer induvidoso. Suas músicas reconquistaram o brilho dos anos de ouro do cantor. Os jovens da nossa era estão redescobrindo seu legado. Ninguém mais ouve Sinatra hoje em dia e rotula sua obra como cafona ou ultrapassada. Muito longe disso. Pelo contrário, suas canções estão em praticamente todas as comédias românticas de Hollywood, sua música é hoje considerada sofisticada e de bom gosto. Ele é tocado em ambientes finos e de alto nível. Sem o ser humano manchando sua própria reputação como ele fez várias vezes em vida sobrou apenas a boa música, essa seguramente imortal.

Pablo Aluísio.

sábado, 24 de novembro de 2007

Frank Sinatra - The Voice - Parte 5

O fim da vida de Sinatra não foi feliz. Conforme o tempo foi passando seus problemas mentais foram piorando. Ele não conseguia mais se lembrar de muita coisa. Algumas vezes esquecia até mesmo de seu familiares mais próximos. Era um sinal claro que ele muito provavelmente estava sofrendo do Mal de Alzheimer, só que a família resolveu esconder isso do público. Enquanto Sinatra definhava uma guerra surda explodia ao seu redor. 

Sinatra havia se casado com uma mulher chamada Barbara Marx. As filhas de Sinatra, Nancy e Tina, não gostavam dela. A consideravam uma oportunista. Barbara (que faleceu em 2017 aos 90 anos de idade) comprou a briga para si. Ela ficou ao lado do cantor até o fim, aguentando alguns ataques vindos das filhas de Sinatra. Não demorou a revidar as hostilidades, criando muito stress, tensão e conflitos dentro do Clã Sinatra. Claro que pode baixo de tudo havia a disputa pela grande fortuna pessoal de Frank Sinatra. Muitos milhões de dólares estavam sobre a mesa como herança. Quem iria levar o maior quinhão?

Nos últimos meses de vida do marido, Barbara decidiu que iria vender sua amada casa em Los Angeles. Sinatra já não demonstrava sinais de que estava entendendo o mundo ao seu redor, mas no último dia na sua velha casa ele pareceu entender que estava indo embora e chorou na sala de estar. As filhas ficaram possessas quando descobriram isso. Elas queriam manter a mansão, mas Barbara não quis muita conversa. Essa mudança seria apenas mais uma das desavenças envolvendo a esposa de Frank com suas filhas. Nunca a frase "Rei morto, Rei posto" fez tanto sentido, pois no final das contas a pura verdade é que muitas pessoas estavam esperando apenas pela notícia da morte do homem Frank Sinatra. 

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Frank Sinatra - The Voice - Parte 4

Os problemas de memorização foram ficando cada vez piores, mas Frank Sinatra se recusou a deixar os palcos. Ele cumpria longas e pesadas turnês, mesmo sem ter a condição perfeita para isso. O resultado foi que Sinatra entrou em uma montanha russa. Numa noite conseguia se apresentar bem, escondendo seus problemas de memória. Outras vezes fazia concertos tão desastrosos que todos ficavam embaraçados. Em um palco perto de Nova Iorque Sinatra reconheceu o fracasso de sua apresentação. Sem meias palavras olhou para o público e disse no microfone: "Na saída peguem o dinheiro dos ingressos de volta!".

No meio da conturbada carreira nos palcos coisas boas aconteceram nos estúdios. Um produtor teve a brilhante ideia de colocar Sinatra para cantar duetos com outros grandes nomes da música. Sinatra foi informado do projeto e disse que toparia, desde que os outros artistas viessem até ele. O velho cantor não estava disposto a cruzar o mundo de avião para cantar com esses caras. No final nada disso era necessário. Sinatra gravaria sua parte e os demais cantores e cantoras fariam sua parte em cima de suas gravações. E assim foi feito. Sinatra nunca se encontrou com os demais vocalistas. Tudo foi unido pela tecnologia. O resultado foi excelente. O disco "Duets" acabou se tornando o álbum mais vendido de toda a carreira de Sinatra. Em poucos dias vendeu 3 milhões de cópias, algo que ele nunca havia feito. Era um novo sopro de vida em sua vida musical.

Na vida pessoal Sinatra continuou bebendo muito. Ele estava sempre atrás de alguém para sentar com ele à mesa para passar horas e horas bebendo. Seus velhos amigos estavam praticamente todos mortos. Dean Martin havia morrido já há alguns anos. Eles tinham tido problemas e Martin já estava fora da agenda de Sinatra há bastante tempo. Ele também voltou-se a um velho hobby que amava: colecionar trenzinhos de brinquedo. Sinatra tinha uma imensa coleção de trens. Quando soube que havia sido lançada uma nova linha de modernos trenzinhos na Alemanha, em réplicas perfeitas de trens do século XVIII, nem pensou duas vezes. Pegou seu jatinho e foi para a Europa só para comprar esses brinquedos. Sinatra abriu também sua imensa coleção para as crianças. Ele mandava trazer colegiais de escolas perto de sua casa para que também curtissem os trenzinhos. Sua esposa Barbara confessou numa entrevista que Sinatra mandou até mesmo confeccionar um chapéu de maquinista para essas ocasiões. Ele adorava o hobby e ficava encantando com o espanto dos estudantes no meio de todas aquelas peças raras. Sinatra então os incentivava: "Vamos lá, brinquem, fiquem à vontade!" Entre a garotada ele também acabava virando uma criança.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Frank Sinatra - The Voice - Parte 3

Conforme os anos foram passando Frank Sinatra começou a apresentar sinais de demência. Isso chocou sua esposa Barbara e suas filhas. Tudo foi escondido da imprensa, porém os que lhe eram próximos sabiam o que estava acontecendo. Sinatra poderia encontrar um maestro com quem havia trabalhado por anos e anos e não se lembrar mais quem ele era. Certa vez encontrou-se com Nelson Ridlle em um hotel de Las Vegas e quando esse o chamou, Sinatra respondeu: "Quem é você?". Ora, os dois trabalharam juntos por décadas, gravaram dezenas de discos juntos e era inconcebível que Sinatra não o reconhecesse.

Esse foi um sinal claro de que algo estava errado. Ao ser levado para o médico foi constatado que Sinatra estava tendo os primeiros sinais de uma demência precoce, algo que colocaria um fim em sua carreira de ator. Afinal decorar textos com as falas era algo vital para um ator. Sem isso Sinatra não tinha mais como atuar em novos filmes. Para evitar maiores boatos seu agente começou a entregar todos os roteiros e scripts que lhes eram enviados. Com a desculpa de que não tinha tempo para filmes ele deixou Hollywood para sempre.

Nos shows ao vivo foi instalado um sistema de teleprompter, algo bem discreto, para que ele pudesse ler as letras das músicas. Por décadas Sinatra havia se orgulhado de sua memória, de nunca esquecer uma letra no palco. Nos últimos tempos porém isso havia se tornado um problema e tanto. Inclusive quando estave no Brasil Sinatra esqueceu a letra de um de seus maiores sucessos. Isso em pleno Maracanã, diante do maior público de sua carreira. Em determinado momento ele ficou ali parado, sem saber o que fazer, até que o público em coro começou a cantar sua música. Sinatra diria para sua filha que aquele momento havia sido um dos mais emocionantes de toda a sua vida como artista.

Procurando esconder suas problemas do grande público, o velho "olhos azuis" teve um grande aborrecimento quando chegou nas lojas uma biografia não autorizada sobre ele. Escrito pela jornalista Kitty Kelly com o título de "His Way: The Unauthorized Biography of Frank Sinatra", o livro trazia pela primeira vez revelações secretas de sua vida. Sinatra ficou furioso com a publicação e declarou para os jornais que iria processar até o inferno a autora. Isso só trouxe mais publicidade ainda para a biografia que rapidamente foi para a lista dos mais vendidos do New York Times. Pela primeira vez o cantor sentia na pele o que era ter a sua vida pessoal exposta ao grande público, sem maquiagem e sem esconder seus segredos pessoais mais íntimos.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Frank Sinatra - The Voice - Parte 2

Uma das paixões de Frank Sinatra foi a atriz e dançarina Juliet Prowse. O casal se conheceu em um estúdio de cinema, enquanto ambos trabalhavam no mesmo filme, o musical Can-Can de 1960. Sinatra ainda tentava se recuperar do fim de seu romance com Ava Gardner. Aliás ele passaria anos e anos tentando superar a fossa de ter sido abandonado por Ava. Sua obsessão por ela virou quase algo patológico. E foi justamente nesse período que Sinatra começou a namorar Juliet.

O namoro que para alguns ia terminar em casamento, não foi em frente porque Juliet não queria abrir mão de sua carreira de atriz e bailarina. Frank Sinatra lhe dizia que a partir do momento em que se casasse com ela, Prowse deveria abandonar tudo. Para um italiano da velha escola como Sinatra não pegava bem ter uma mulher trabalhando fora enquanto o marido ficava em casa esperando ela voltar. Era claro uma mentalidade da idade da pedra, mas logo Juliet percebeu que isso não iria mudar. Como ela não tinha a menor intenção de virar uma dona de casa italiana os dois acabaram rompendo. Shirley MacLaine que estava no mesmo filme chegou a comentar que sabia que o romance nunca iria dar certo, justamente porque Juliet era muito independente e Sinatra tinha ideias muito antigas sobre o casamento. Uma coisa não iria combinar com a outra. 

Depois de Juliet Prowse, que acabou sendo o romance mais duradouro de sua vida naquela época, o ator e cantor não parecia se acertar com mais nenhuma mulher. Ele tentou se reaproximar de Ava Gardner, na centésima tentativa de voltar a ser o seu homem, mas tudo foi por água abaixo. Ava havia entrado em um ciclo de auto destruição, bebendo muito, perdendo com isso a lendária beleza que um dia encantou Hollywood. Sinatra tentava tirar ela dessa vida, mas isso só fazia com que as brigas aumentassem e se tornassem cada vez mais violentas. O fim definitivo aconteceu quando Ava tentou seduzir uns garotões de praia bem na frente de Sinatra. Aquilo foi uma ofensa a ele, que por mais apaixonado que estivesse, não iria tolerar ser humilhado. 

Assim Sinatra parou de tentar de encontrar a mulher de seus sonhos. Ao invés de se relacionar com outra atriz, de investir em relacionamentos mais sérios, ele passou a ser vista com loiras que eram dançarinas em Las Vegas. Garotas que trabalhavam como coristas (segundo alguns biógrafos, como prostitutas também). O Frank Sinatra romântico, que passava semanas chorando por Ava Gardner, parecia ter desaparecido. Ao invés de sofrer Frank Sinatra a partir daquele momento apenas pegava o telefone e contratava uma garota para passar o fim de semana com ele. Sem dramas, stress e brigas sem fim.

Pablo Aluísio.

Frank Sinatra - The Voice

Em 1965 Frank Sinatra completou 50 anos de idade. Não foi um tempo muito feliz para ele. Seu último disco havia conseguido chegar no máximo na décima posição entre os mais vendidos. Para Sinatra essa era uma posição indigna de seu talento. A questão é que havia novos concorrentes de peso nas paradas. Eles eram ingleses, conhecidos como Beatles. Frank Sinatra já havia enfrentado um cantor de rock extremamente popular no passado, um tal de Elvis Presley, mas agora os Beatles vinham com fúria total nas paradas. Cinco de seus discos ocupavam as cinco primeiras posições na Billboard. Era algo inédito e incrível!

Frank não gostava dos Beatles. Quando um amigo lhe trouxe o novo álbum do grupo chamado "Help!", Sinatra detestou. Ele odiou a primeira música cantada por John Lennon que na sua opinião não sabia cantar, mas sim gritar. Sinatra não conseguia encontrar nada de agradável naqueles ingleses. Ele implicava com seus cabelos longos, dizendo que aquilo era uma afronta contra a tradição de artistas elegantes da música americana. Sinatra também acreditava que o conjunto não tinha harmonia, que era pura moda passageira. Temos que entender que era especialmente complicado para ele, afinal como iria concorrer com quatro jovens de vinte e poucos anos, enquanto ele já estava chegando nos 50? Frank Sinatra sentia-se velho e fora de moda. Não que ele precisasse ainda vender discos naquela altura de sua vida pois estava milionário, dono de diversas empresas que o deixaram muito rico. Era mais uma questão de orgulho pessoal.

Frank Sinatra porém não era apenas ranzinza com colegas de profissão, ele também poderia ser muito generoso com outros artistas quando era preciso. Quando ele soube que a grande diva do jazz Billie Holiday estava levando uma vida miserável em um quarto imundo de um hospício de Nova Iorque providenciou para que seus homens fossem até lá, a tirassem do lugar e a levassem para uma dos melhores centros de repouso para idosos, com tudo pago por ele. Segundo um amigo próximo "Sinatra era um homem muito italiano, muito emocional". E não foi apenas Holiday que contou com a generosidade do "The Voice" (a voz), ao longo dos anos. Ele ajudou muitos cantores e atores fracassados, que tinham caído na pobreza, após suas carreiras acabarem. Certa vez Sinatra soube que um velho ídolo da música italiana do passado trabalhava como porteiro em um bar de Nova Iorque. Mandou dar a ele algo em torno de dez mil dólares para ajudar. Esse tipo de ato ia ficando cada vez mais comum em seus últimos anos.

Sinatra também teve sorte como homem de negócios. Ele fundou seu próprio selo musical chamado Reprise e ficou muito rico com ele. O nome Reprise vinha do próprio Sinatra. Ele queria que os fãs sempre ouvissem seus discos, uma vez atrás da outra, como reprises eternas. A Warner se interessou pelo selo e ofereceu uma fortuna para Sinatra. Ele então propôs parceria e acabou mais rico do que nunca! Os mais próximos porém perceberam que Sinatra foi ficando cada vez mais sozinho. Estava milionário, mas também solitário. De vez em quando Sinatra saía de sua reclusão para defender boas causas, como quando fez uma série de shows para crianças doentes com câncer. Sobre isso ele diria nos bastidores: "Se sou tão afortunado nessa vida preciso ajudar as pessoas desafortunadas! É uma obrigação pessoal".

Pablo Aluísio.

domingo, 18 de novembro de 2007

Frank Sinatra - Belas Músicas

Você pode até não gostar muito de Frank Sinatra. O que não pode negar é que ele foi realmente um gênio na sua área. Sua presença é obrigatória nas listas dos melhores cantores do século XX. Mais do que merecido. Em se tratando de sua discografia eu gosto bastante dos álbuns do cantor que ele lançou nos anos 50.

Em 1954 Sinatra lançou pela Capitol o álbum "Swing Easy!". Com um ótimo repertório o disco segue sendo um dos meus preferidos do cantor. Aliás recomendo todos os álbuns de Sinatra na Capitol. Sua passagem pela gravadora foi marcada por atritos e problemas, mas é inegável que lá ele contou com o melhor que havia dentro da indústria fonográfica da época. Os melhores produtores, músicos e compositores. Só o melhor!

Desse disco eu destaco algumas canções. Uma delas é "Wrap Your Troubles in Dreams". Essa canção foi composta nos anos 30 e inicialmente não fazia parte do repertório de Sinatra. Na verdade ele a pegou da discografia de outro ícone, Bing Crosby, também considerado por muitas listas como um dos maiores cantores de todos os tempos. Sinatra adorava a versão de Crosby e por essa razão resolveu gravar sua própria versão. Ficou maravilhosa, diria inclusive que é bem superior à gravação original, não apenas por questões tecnológicas (que eram bem mais sofisticadas na época que Sinatra a gravou), mas também por causa da performance absurdamente perfeita por parte de Sinatra. Outra versão dessa música que recomendo é a de Doris Day. A atriz, que também era uma cantora acima da média, fez uma das melhores gravações de sua carreira justamente com essa melodia.

Bom, uma coisa que não pode faltar em nenhum grande disco de Frank Sinatra é a presença de alguma composição de Cole Porter. Na voz de Sinatra a obra de Porter, um dos maiores compositores americanos de todos os tempos, ganha outra dimensão. Aliás é bom frisar esse aspecto. Os primeiros intérpretes de Cole Porter, ainda na década de 1930, não estavam à altura de suas composições. Foi necessário passar alguns anos para que Sinatra criasse essas verdadeiras obras primas. "Just One of Those Things" foi criada por Porter para um musical da Broadway chamado Jubilee. Embora fora do contexto da peça em si, ela funciona perfeitamente assim, solo, na voz do grande Sinatra. Um primor sonoro. É, em poucas palavras, outro momento que vale pelo álbum inteiro.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

O Expresso de Von Ryan

Frank Sinatra nunca foi um excepcional ator mas sabia escolher bem os filmes em que atuava. Ao contrário de Elvis Presley, que muitas vezes aceitou passivamente participar de filmes francamente ruins, Sinatra sabia se impor aos produtores e diretores e sempre exigia apenas o que de melhor havia em termos de roteiros, diretores e equipe técnica. Claro que muitas vezes se utilizava de métodos questionáveis para alcançar seus objetivos mas de qualquer forma acabava chegando lá. Não é novidade para ninguém, por exemplo, o fato amplamente conhecido de que nos anos 50 teria contado com a força da máfia para estrelar no clássico A um passo da Eternidade. Esse filme acabou dando a Sinatra o único Oscar de sua vida e de quebra salvou sua carreira do ostracismo em que se encontrava.

Depois desse episódio Sinatra nunca mais largou o cinema, conciliando sua carreira musical com os filmes que ia protagonizando ao longo dos anos. Ao se analisar a lista dos títulos em que Sinatra atuou percebemos bem que suas escolhas eram bem ecléticas, pois ele praticamente passeou por todos os gêneros conhecidos, não se limitando ao musical, caminho óbvio que poderia tomar em razão de seu grande talento como cantor. Ao invés disso Sinatra apareceu em dramas, faroestes, policiais e até filmes políticos. Como se não bastasse procurou enriquecer seus poucos dotes dramáticos atuando ao lado de grandes atores e diretores. Foi esperto e sagaz e no saldo final de sua passagem por Hollywood podemos notar que a despeito de seu limitado talento de ator não fez feio e nem passou vexame nas telas.

Quando atuava sozinho, estrelando e levando um filme praticamente nas costas, Sinatra optava por se apoiar em um bom roteiro para que a plateia não desgrudasse os olhos da telona. Um exemplo é o filme "O Expresso de Von Ryan". O roteiro do filme é simples mas muito bem bolado. Sinatra faz o papel de um major, abatido durante um vôo sobre a Itália, que é capturado pelos Nazistas e levado a um campo de prisioneiros. Até aí temos um argumento bastante comum. A reviravolta acontece justamente quando Ryan, com o apoio de seu grupo, consegue tomar o controle do trem que os levava prisioneiros. Após assumir o controle da situação os americanos e ingleses se vestem com os uniformes nazistas para tentar atravessar a Itália até chegar na neutra Suíça.

O filme é extremamente interessante. Sinatra aqui pouco atua, já que o roteiro é todo centrado nas boas cenas de ação e no argumento envolvente. No desenrolar da trama conseguimos notar nitidamente como o cantor era perspicaz em suas escolhas. Cercado de um elenco bastante entusiasmado, com destaque para o ótimo Trevor Howard, muita ação e momentos de suspense, o filme se desenvolve extremamente bem e o velho Blue Eyes acaba nos presenteando com um belíssimo filme de guerra, do tipo que nos dias atuais é cada vez mais raro de encontrarmos. As quase duas horas de projeção passam rapidamente e nem há tempo para percebermos se a atuação de Sinatra é boa, ruim ou mediana. Ele cumpre bem seu papel e no final isso é definitivamente tudo o que importa. O desfecho, que vai soar bastante inesperado aos fãs de Sinatra, serve também para coroar mais um belo trabalho do ator no cinema. O filme "O Expresso de Von Ryan" é indicado para quem gosta de Sinatra, bons filmes de guerra e muita ação, não necessariamente nessa ordem. Assista e aproveite.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Frank Sinatra, JFK e a Máfia

Um dos aspectos mais curiosos da história de Frank Sinatra foi sua aproximação ao senador John Kennedy (futuro presidente dos Estados Unidos) e a ligação que ele acabou exercendo entre o clã de JFK e a máfia italiana durante a década de 1960. Inicialmente tudo foi fruto de uma série de coincidências que foram acontecendo. Não havia um plano por parte de Sinatra em aproximar a máfia de John Kennedy, nada disso, foi algo que apenas aconteceu.

O interesse de Sinatra em relação a Kennedy era algo natural de acontecer. O cantor sempre foi ligado ao Partido Democrata, sendo um eleitor e um partidário até bastante animado. Sinatra não tinha nenhuma razão para ser republicano, uma vez que ele nasceu em uma família de imigrantes, teve um começo difícil e não era um riquinho ou algo do tipo. Assim Sinatra se identificava basicamente com a classe trabalhadora.

O senador John Kennedy (que todos chamavam de Jack na intimidade) era um jovem político, representando uma brisa de inovação na saturada e envelhecida classe política americana. Assim que Sinatra conheceu Kennedy pessoalmente ele ficou animado para colaborar. Frank tinha mesmo uma forte convicção que JFK era a solução para os problemas do país, um homem que iria marcar para sempre caso conseguisse ganhar a eleição.

Sua opinião porém não era compartilhada por seus amigos mafiosos. A família Kennedy era velha conhecida da máfia. Os principais chefões conheciam bem o pai de JFK, considerado por eles como um velho escroque irlandês. Um homem que passava longe das ideias de Sinatra. O velho patriarca Kennedy havia inclusive se envolvido no contrabando de bebidas ilegais durante a Lei Seca. Ele passava longe de ser um exemplo para quem quer que seja. Depois de casar com a rica herdeira do banco Fitzgerald, ele obviamente ficou muito rico e deixou suas trambicagens de lado, mas a Máfia sabia muito bem de onde vinha Kennedy e seu passado. Assim não havia nenhuma surpresa sobre aquela família. O próprio John não era bem visto pela Cosa Nostra. O chefão Salvatore Giancana, por exemplo, costumava dizer que JFK era um verme, resumindo a questão numa frase: "Dê uma mulher a esse cara e ele fará o que você quiser!"

Frank Sinatra soube que o presidente John Kennedy havia sido assassinado em Dallas quando estava bem no meio das filmagens de "Robin Hood de Chicago", uma comédia musical com toques pontuais de filmes policiais que ele estava filmando ao lado de seus amigos Dean Martin e Sammy Davis Jr. O cantor estava bem no meio de uma cena que estava sendo rodada em um cemitério quando foi chamado de lado por Dean Martin. Ele então falou para Sinatra que John Kennedy estava morto, que ele havia sido baleado na cabeça durante uma parada e que ninguém sabia ainda ao certo o que havia acontecido. Ao ouvir aquilo Sinatra ficou branco como uma parede!

Frank Sinatra ficou devastado com aquela notícia. Ele havia trabalhado ao lado do jovem senador para elegê-lo presidente dos Estados Unidos. Havia uma certa mágoa por parte de Sinatra porque uma vez eleito JFK se afastou dele por causa das suas ligações com chefões mafiosos, mas mesmo essa pequena "traição" não havia abalado muito sua admiração por Kennedy. "Como isso é possível?! Como isso foi acontecer?!" - repetia as mesmas perguntas aos seus amigos no set de filmagens. Embora não falasse isso no choque do momento o fato é que Sinatra pensou em Salvatore Giancana, o chefão da máfia de Chicago, quando soube que JFK estava morto!

Giancana também havia trabalhado pela eleição de JFK na campanha, mas sentia-se completamente traído por ele após seu irmão, Bobby Kennedy, iniciar uma verdadeira cruzada contra as famílias mafiosas nos Estados Unidos. Sinatra se via numa situação delicada pois havia pedido o apoio de Sam Giancana e depois ele passara a ser perseguido pelo FBI e pelo procurador geral, cargo ocupado justamente por Bobby. Foi uma saia justa delicadíssima para Sinatra. Assim quando foi informado que Kennedy havia levado um balaço certeiro na cabeça, Sinatra pensou no chefe mafioso. Depois se acalmou um pouco ao descobrir que o assassino do presidente era um ex-fuzileiro naval chamado  Lee Harvey Oswald, sem ligações com o submundo do crime de Chicago.

As suspeitas porém voltaram alguns dias depois quando Oswald foi apagado por Jacob Rubenstein, alcunha de Jack Ruby, esse sim um sujeito que tinha ligações com a máfia. Sinatra ficou intrigado com aquilo. Ele já ouvira falar de Ruby, inclusive de encontros com Sam Giancana! O que havia por trás de tudo aquilo? Um dos problemas que Sinatra tinha que enfrentar era que o FBI estava começando a pegar no seu pé por causa desse tipo de ligação do cantor com chefes mafiosos. O FBI andava desconfiando que Sinatra não passava de um laranja de Giancana em seu empreendimento do Cal Neva Lodge & Casino, que muitos diziam ser na verdade do chefão da máfia e não de Sinatra. Afinal qual era a verdade no meio de tantos mistérios não resolvidos?

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Frank Sinatra, JFK e a Máfia - Parte 3

Frank Sinatra ficou muito magoado quando John Kennedy venceu a disputa para a presidência dos Estados Unidos e a partir de sua posse começou a esnobá-lo. Sinatra tentava entrar em contato com o presidente ligando para a Casa Branca, mas nunca conseguia falar com JFK.

Era óbvio que o presidente o estava evitando. Para o cantor isso era triste porque ele havia se empenhado pessoalmente em sua eleição, se apresentando de graça, pedindo votos aos seus fãs e agora o presidente lhe fechava a porta na cara. Mais irritados ficaram os membros da máfia que tinha ajudado JFK em estados onde ele venceu por poucos votos - justamente com o empurrão da cosa nostra. Eles pensavam que teriam um aliado no poder, mas logo perceberam que tinham sido enganados.

Frank Sinatra também entendeu isso. O novo procurador era o irmão de JFK, Bobby Kennedy, um carinha bem arrogante para sua idade, que não fazia questão de dizer que não gostava de Sinatra e de sua turma. Assim que assumiu o novo cargo ele começou uma guerra intensa contra o crime organizado. Os chefões da máfia que tinham aceitado o pedido de Sinatra para apoiar Kennedy ficaram furiosos com o que estava acontecendo. O próprio Sinatra começou a temer por sua vida.

E não era apenas Sinatra que havia sido colocado para escanteio. Em um gesto rude, os Kennedys decidiram que Sammy Davis Jr, amigo de Sinatra, também deveria ser evitado dentro da Casa Branca. Acontece que ele era um cantor negro casado com uma loira sueca branca. Isso poderia ser visto como algo ofensivo pelos racistas do sul e Kennedy queria o voto dentro do congresso desses parlamentares. Em suma, o que parecia ser um conto de fadas para Sinatra logo se transformou em um grande pesadelo.

Pablo Aluísio. 

sábado, 10 de março de 2007

Frank Sinatra e Ava Gardner

Um cronista da época chegou a dizer que o casamento de Ava Gardner e Frank Sinatra era um casamento dos infernos, forjado mesmo nos porões do diabo. Isso pode soar bem forte ou vulgar, mas realmente olhando-se para a história não poderia haver definição melhor. O casamento deles teve tudo de ruim que um relacionamento pode ter: ofensas, brigas, agressões físicas, xingamentos públicos, traições, ameaças, todo o menu das desgraças que você possa imaginar.

E para se casar com ela Frank Sinatra colocou fim em seu próprio casamento com Nancy, uma mulher excepcional, que vinha lhe apoiando muito antes dele se tornar famoso. Parece que ao acabar com esse seu primeiro casamento o cantor estava também atraindo todos os tipos de maldições para seu novo casamento. O interessante é que Ava o tratava com um certo desprezo e desdenhava seu amor. Por outro lado Frank Sinatra era completamente apaixonado por ela. Esse desnível o levava muitas vezes a sofrer humilhações públicas. A um jornalista ela chegou a dizer a seguinte frase: "Frank Sinatra, um homem que não vale nada!"

Quando Ava estava na África filmando Mogambo, Sinatra lhe implorou que também queria estar no set de filmagens. Muito a contragosto ela lhe comprou uma passagem de avião. Quando Frank chegou foi humilhado na frente de todos. Ava olhou para ele e disse: "Ai está meu marido desempregado, que não consegue nem comprar uma passagem de avião!". Acontece que Sinatra estava numa das piores fases de sua carreira, se apresentando em pequenos bares para ter algum tostão. Era complicado a vida dele na época. Ava por outro lado não facilitou em nada, o desprezando sempre que podia.

As brigas eram tantas que Grace Kelly que estava em um quarto ao lado de Ava a chamou de "Doida" por causa dos gritos que ouvia do lado de lá. Era Ava brigando com Frank aos gritos. Mais complicado era saber que ela também o estava traindo sem muita cerimônia com um caçador profissional que prestava assistência técnica ao filme. A traição era óbvia para todo mundo. Ava engravidou e decidiu fazer uma viagem apressada para Londres para fazer um aborto. Ela sabia que o filho era do amante, porém de forma mordaz comentou que se o filho fosse de Frank Sinatra também não iria querer ter pois ele era um "fracassado". Claro que diante de um clima tão ruim o casamento acabou terminando. Não havia como continuar. Depois de algum tempo Ava disse que não suportava mais Frank e o dispensou sem problemas. Já ele pareceu ser apaixonado perdidamente por ela até o fim de seus dias. Vai entender a cabeça do velho Sinatra.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 5 de março de 2007

Frank Sinatra - Sinatra e Tommy Dorsey

A carreira de Frank Sinatra só começou a acontecer mesmo quando ele foi contratado por Tommy Dorsey, o líder de uma das bandas mais famosas dos Estados Unidos. Antes disso o cantor amargou muitos fracassos profissionais. No começo, quando Sinatra era apenas um rapaz franzino, sem nunca ter gravado nada em estúdio, sua mãe foi a peça chave. Ela entrou em contato com alguns "compatriotas" italianos para arranjar um trabalho para o seu Frank. Afinal ele queria trabalhar, mas não arranjava ninguém que lhe desse uma oportunidade. Tempos difíceis.

A mãe de Sinatra tinha seus contatos, inclusive com alguns membros da máfia. Ora, era justamente a Cosa Nostra que tinha os melhores esquemas no mundo artístico de Nova Iorque. Os principais bares, pubs e clubes noturnos da cidade ou eram de membros da máfia ou de homens de negócios que deviam de uma maneira ou outra aos grandes chefes italianos. Assim Sinatra começou a arranjar os primeiros trabalhos. Na maioria das vezes ele trabalhava como garçom, subindo ao palco quando era chamado para cantar uma ou duas músicas. Sua vida como cantor por essa época não parecia promissora.

Sua sorte foi que numa dessas ocasiões Dorsey o viu cantar. Ele se virou para seu amigo ao lado da mesa e disse: "Esse cara é muito bom! Canta muito bem!". Alguns meses depois Dorsey, que era um sujeito durão, de não deixar barato para ninguém, acabou brigando com o vocalista de sua banda. Assim surgiu uma vaga em seu grupo. Sinatra soube disso e imediatamente mandou um bilhete escrito à mão para Tommy Dorsey onde dizia: "Sr. Dorsey, estou disponível no momento, procurando trabalho. Se o senhor puder me dar uma chance de cantar agradeceria muito!".

E assim foi feito. O antigo crooner da banda foi demitido e Frank Sinatra contratado. No começo ele não chamou a atenção dos outros músicos. Conforme foi relembrado anos depois por eles Frank era muito magro, franzino e não causava nenhum impacto em quem lhe conhecia. Além disso, apesar de ser muito jovem já estava ficando careca. Ninguém dava muita atenção a ele. Isso porém só durava até o momento em que ele subia no palco, ficava em frente ao microfone e começava a cantar. A partir daí tudo ficava óbvio. Os primeiros shows de Sinatra foram sucesso absoluto. Sua primeira apresentação foi na cidade de Buffalo e depois disso foi sempre ovacionado por onde passou. Sem dúvida era o começo promissor de um dos grandes talentos da música americana de todos os tempos.

Pablo Aluísio.