quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Frank Sinatra - The Voice

Em 1965 Frank Sinatra completou 50 anos de idade. Não foi um tempo muito feliz para ele. Seu último disco havia conseguido chegar no máximo na décima posição entre os mais vendidos. Para Sinatra essa era uma posição indigna de seu talento. A questão é que havia novos concorrentes de peso nas paradas. Eles eram ingleses, conhecidos como Beatles. Frank Sinatra já havia enfrentado um cantor de rock extremamente popular no passado, um tal de Elvis Presley, mas agora os Beatles vinham com fúria total nas paradas. Cinco de seus discos ocupavam as cinco primeiras posições na Billboard. Era algo inédito e incrível!

Frank não gostava dos Beatles. Quando um amigo lhe trouxe o novo álbum do grupo chamado "Help!", Sinatra detestou. Ele odiou a primeira música cantada por John Lennon que na sua opinião não sabia cantar, mas sim gritar. Sinatra não conseguia encontrar nada de agradável naqueles ingleses. Ele implicava com seus cabelos longos, dizendo que aquilo era uma afronta contra a tradição de artistas elegantes da música americana. Sinatra também acreditava que o conjunto não tinha harmonia, que era pura moda passageira. Temos que entender que era especialmente complicado para ele, afinal como iria concorrer com quatro jovens de vinte e poucos anos, enquanto ele já estava chegando nos 50? Frank Sinatra sentia-se velho e fora de moda. Não que ele precisasse ainda vender discos naquela altura de sua vida pois estava milionário, dono de diversas empresas que o deixaram muito rico. Era mais uma questão de orgulho pessoal.

Frank Sinatra porém não era apenas ranzinza com colegas de profissão, ele também poderia ser muito generoso com outros artistas quando era preciso. Quando ele soube que a grande diva do jazz Billie Holiday estava levando uma vida miserável em um quarto imundo de um hospício de Nova Iorque providenciou para que seus homens fossem até lá, a tirassem do lugar e a levassem para uma dos melhores centros de repouso para idosos, com tudo pago por ele. Segundo um amigo próximo "Sinatra era um homem muito italiano, muito emocional". E não foi apenas Holiday que contou com a generosidade do "The Voice" (a voz), ao longo dos anos. Ele ajudou muitos cantores e atores fracassados, que tinham caído na pobreza, após suas carreiras acabarem. Certa vez Sinatra soube que um velho ídolo da música italiana do passado trabalhava como porteiro em um bar de Nova Iorque. Mandou dar a ele algo em torno de dez mil dólares para ajudar. Esse tipo de ato ia ficando cada vez mais comum em seus últimos anos.

Sinatra também teve sorte como homem de negócios. Ele fundou seu próprio selo musical chamado Reprise e ficou muito rico com ele. O nome Reprise vinha do próprio Sinatra. Ele queria que os fãs sempre ouvissem seus discos, uma vez atrás da outra, como reprises eternas. A Warner se interessou pelo selo e ofereceu uma fortuna para Sinatra. Ele então propôs parceria e acabou mais rico do que nunca! Os mais próximos porém perceberam que Sinatra foi ficando cada vez mais sozinho. Estava milionário, mas também solitário. De vez em quando Sinatra saía de sua reclusão para defender boas causas, como quando fez uma série de shows para crianças doentes com câncer. Sobre isso ele diria nos bastidores: "Se sou tão afortunado nessa vida preciso ajudar as pessoas desafortunadas! É uma obrigação pessoal".

Pablo Aluísio.

11 comentários:

  1. O Frank Sinatra era um paradoxo muito talentoso.

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  2. Ótimo texto, há coisas que eu não sabia. Credito as palavras como uma bela e justa homenagem a um dos maiores cantores da história da música.

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  3. Obrigado pela gentileza. A título de informação parte do que foi escrito é baseado no livro "Sinatra: The Life" de Anthony Summers, para quem deseja se aprofundar no tema.

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  4. E pra quiser saber da parte mais pesada da vida do Sinatra, recomendo His Way a Biografia Nao Autorizada de Frank Sinatra, de Kitty Kelley: já li e reli umas tres vezes. Alem de rica em informações sobre a parte da formação musical é cheia de podres. Vale a pena.

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  5. Velho problema recorrente em biografias de cantores: geralmente os livros ou tratam da vida pessoal do artista ou então de sua carreira profissional. Muito raro encontrar uma biografia completa, que explore as duas coisas em um só livro.

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    1. Essa que indiquei, só pelo título His Way, "do jeito dele", obviamente um trocadilho com My Way, já da pra perceber que o veneno corre solto, mas também vai fundo no estilo do Sinatra cantar, nos exercícios de corrida para melhorar e respiração diafragmática,nas aulas de canto par aumentar e extensão vocal nas duas extremidades, no fraseado extraordinário, no timbre suave, mas, ao mesmo, tempo potente e claro, na sua capacidade como regente e consequentemente como produtor, etc.
      É uma biografia daquelas em que se consegue escancarar a parte negra sem piedade e, ao mesmo tempo, ressaltar e elogiar todas a qualidades profissionais e humanas do Frank Sinatra.

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  6. Nessa hipótese, vale a pena comprar e ter na biblioteca.

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  7. Obras assim são raras. Tem muito livro de fofoca que já encheu a paciência. Tire o exemplo do Elvis. Tem muita porcaria escrita, mas enfim, sempre resta uma última esperança.

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  8. Eu gostei muito dos livros "Frank: A Voz" e "Sinatra: O Chefão", escritos pelo James Kaplan. Você já leu, Pablo?

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