sábado, 11 de abril de 2020

A Pura Verdade

A ligação do ator e diretor Kenneth Branagh com William Shakespeare vem de longe. Ele adaptou no passado vários clássicos do autor inglês para o cinema. Todos com absoluto sucesso. Agora ele volta sob uma nova perspectiva, interpretando o próprio Shakespeare. Com maquiagem para se parecer mais com o dramaturgo, o resultado ficou excelente. O roteiro mostra os anos finais da vida dele, quando se recolheu para sua cidade natal, tentando levar uma aposentadoria tranquila. Quando o filme começa ele surge contemplando seu teatro em Londres sendo consumido pelas chamas. Diante dessa tragédia ele simplesmente desiste de seguir em frente. Fecha o teatro, deixa de escrever novas peças e volta para o interior.

O problema é que durante toda a sua vida Shakespeare foi um homem ausente. Retornar para a convivência com sua família não é das coisas mais simples. Ele carrega um trauma, pela morte de seu filho de 11 anos. Quando o garoto morreu ele se encontrava distante, longe, trabalhando em Londres e sequer foi ao funeral do filho. Agora essas lembranças dolorosas do passado voltam para lhe assombrar. E o fato de não ter um relacionamento pacífico com suas duas filhas torna a coisa ainda mais complicada. Uma das filhas é solteira, não quer se casar e sofre de um estigma social que era comum na época. Shakespeare quer que ela se case, para ter um neto do sexo masculino pois ele anseia por um herdeiro para seu legado.

Outros aspectos interessantes do ponto de vista histórico surgem nesse bem escrito roteiro. Por exemplo, você sabia que a esposa do escritor era completamente analfabeta? Anne Shakespeare (Judi Dench) foi uma mulher importante em sua vida, mas sem educação formal, não conseguia ler sequer uma página da obra monumental escrita pelo marido. Em relação ao falecimento precoce do garoto Hamnet Shakespeare, o filme toma algumas liberdades históricas. É uma boa narrativa ficcional sobre as razões de sua morte, mas a verdade é que até hoje os historiadores não sabem com certeza do que ele morreu.  Por fim há uma curiosa insinuação de um amor homossexual entre William Shakespeare e o Conde de Southampton (Ian McKellen), algo que teria acontecido no passado, mas que teria dado vazão a versos apaixonados do escritor para o nobre. A pura verdade ou mera ficção?

A Pura Verdade (All Is True, Inglaterra, 2018) Direção: Kenneth Branagh / Roteiro: Ben Elton / Elenco: Kenneth Branagh, Judi Dench, Ian McKellen, Kathryn Wilder / Sinopse: O filme conta os últimos anos de vida do famoso escritor e dramaturgo William Shakespeare. Após um incêndio que destrói seu teatro em Londres ele volta para sua terra natal, no interior. Lá precisa lidar com os problemas familiares de suas filhas e sua esposa, enquanto decide construir um jardim em memória ao falecimento de seu filho.

Pablo Aluísio. 

7 comentários:

  1. A Pura Verdade
    Nota: 8.0
    Pablo Aluísio.

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  2. O bardo foi um gênio da palavra. Tão gênio que até hoje há defensores de que nem toda a sua obra foi escrita por ele, mas por outros. Não acredito nisso.

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  3. Jobson, um excelente trio de atores resultando em um excelente filme...

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  4. Erick, também não compro essa tese. Gênio é gênio.

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  5. Pablo:
    Você já ouviu uma conversa do Shakespeare nunca ter existido, não ser um poeta, uma pessoa, mas sim o amálgama de vários poetas talentosíssimos do período. Faz sentido de alguma forma isso?

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  6. Conheço essa teoria. E tem seus defensores por aí. Acontece que a obra dele é tão grandiosa que existem aqueles que não acreditam que tenha sido criada por apenas um homem. É genial demais. Na minha opinião gênios existem. Mozart, Newton, etc. Assim, pelo menos no meu ponto de vista, essa tese não prospera.

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