terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Jojo Rabbit

De todos os filmes que concorreram ao Oscar de melhor filme do ano, esse era o que eu menos tinha vontade de assistir. A premissa não me parecia conveniente. Fazer uma espécie de comédia sobre o nazismo, com um menino de dez anos que tinha Hitler como seu amiguinho imaginário me soava um pouco demais. Porém depois de assistir ao filme minhas ideias preconcebidas foram deixadas de lado. Eu estava errado. O fato é que "Jojo Rabbit" é muito bom! E isso definitivamente é uma surpresa e tanto para quem for assistir. Não esperava que a tentativa de fazer humor sobre a ideologia do nacional socialismo fosse dar tão certo. E pensando bem, era até muito adequado. Afinal acreditar em ideologias como o nazismo ou o comunismo exige uma certa infantilidade. Então nada mais conveniente que colocar tudo sob os olhares de uma criança.

O protagonista do filme tem apenas 10 anos de idade. Ele vive na Alemanha, durante a II Guerra Mundial. Como toda criança de sua idade ele também vai para a juventude nazista e lá enche a cabeça com toda  aquela ideologia absurda. E o humor nasce justamente quando somos expostos a ideias nazistas tais como elas eram passadas para os jovens da época. No final tudo soa muito nonsense e o segredo desse bom roteiro é que na história real tudo era assim mesmo, beirando a estupidez completa. Ideologias muitas vezes são fincadas em bases estúpidas. Não há como negar. E assim esse menino vai levando sua vida, tendo Hitler como seu ídolo máximo, com fotos e posters em seu quarto, tudo do Führer, tratado como se fosse um rockstar. O fanatismo inclusive é tão grande que ele vê o próprio Hitler ao seu lado, na forma de um amigo imaginário. E isso, acredite, funciona muito bem. Aliás é uma das boas ideias do roteiro. O riso nasce do nervosismo de ver um genocida do porte de Hitler como uma figura patética, mas próxima do menino.

Outro ponto que faz com que "jojo Rabbit" tenha toques geniais vem do fato de que o garoto acabe descobrindo que há uma garota judia escondida em sua casa. A mãe é uma das poucas pessoas alemãs que tentaram de alguma forma lutar contra aquela ideologia maluca. E na convivência com a judia ele descobre que o povo judeu não é diferente em nada dos alemães. Eles não possuem chifres e nem aspectos de ratos, como faziam crer as propagandas nazistas. Mais do que isso, o garoto nazistinha acaba se apaixonando por ela! O roteiro assim assume um clima de leve fantasia, misturando a mentalidade do menino, cheio de deslumbres de imaginação infantil, com a realidade nua e crua de uma Alemanha prestes a ser destruída. Pensando bem, esse filme é um dos mais geniais que foram lançados no ano. Uma pequena obra-prima cinematográfica.

Jojo Rabbit (Jojo Rabbit, Estados Unidos, Nova Zelândia, República Tcheca, 2019) Direção: Taika Waititi / Roteiro: Taika Waititi, baseada na obra de Christine Leunens / Elenco: Roman Griffin Davis, Thomasin McKenzie, Scarlett Johansson, Taika Waititi, Sam Rockwell / Sinopse: Durante a Segunda Guerra, um garotinho de apenas 10 anos vai para a juventude nazista onde sofre toda a doutrinação do regime. Em casa porém sua mãe esconde uma jovem garota judia, por quem ele acaba se apaixonando. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Roteiro Adaptado (Taika Waititi). Também indicado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz Coadjuvante (Scarlett Johansson), Melhor Figurino, Melhor Design de Produção e Melhor Edição. Indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Comédia ou Musical e Melhor Ator (Roman Griffin Davis).

Pablo Aluísio. 

13 comentários:

  1. Era uma loucura total mesmo. E dessa situação de insanidade vem o riso. Até porque tudo era tão patético... rsrs

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  2. Hitler era puro produto de propaganda política. Ele era muito limitado na realidade. Tinha QI baixo, não era muito escolarizado e tampouco era muito organizado e trabalhador. os próprios fanáticos nazistas mais próximos sabiam disso, mas claro, escondiam tudo do povo alemão.

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  3. O povo alemão era um dos mais cultos do mundo, mas caiu na lorota de um cabo da I Guerra Mundial! Incrível pensar sobre isso. O que aconteceu? A ideologia política, seja de direita ou esquerda, cega as pessoas. Ficam cegos completamente.

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  4. Dom Pablo. Diga a uma pessoa que ela é superior a outra, seja por causa de raça, religião uu qualquer outro motivo e você terá essa pessoa nas suas mãos. Hitler disse que os alemães eram arianos, superiores. Pronto, a Alemanha ficou de quatro para ele.

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  5. Lord Erick, você foi direto no alvo. E tem mais um fato para o sucesso do nazismo: o ódio! Fale de amor e você vai reunir 10 pessoas ao seu redor. Fale de ódio e você terá 1000 seguidores. É a natureza humana.

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  6. Lord Erick, o ódio é o cimento que une todos os que seguem uma determinada ideologia política. No comunismo é o ódio contra o burguês e o dono dos meios de produção. No nazismo é o ódio contra o judeu e todos os demais povos ditos inferiores. O ódio sempre move esse tipo de ideologia radical.

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  7. Ora, Dom Pablo, o Hitler deixa isso muito claro no seu livro MInha Vida. Ele sabia disso e usou muito para subir ao poder. O ódio é o que move os pobres de espírito. E como a imensa maioria das pessoas são pobres de espírito, a coisa toda vai nesse rumo.

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  8. Exato, e tudo isso que falamos aqui está nesse filme, só que de uma forma bem humorada e algumas vezes até lírica.

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  9. Pablo:
    Que coragem do roteirista e dos produtores desse filme em abordar dessa forma esse assunto praticamente proibido nesses tempos de intolerância com tudo.
    Serge Renine.

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  10. De fato, foi preciso coragem. Hoje vivemos em uma sociedade ultra sensível e bastante hipócrita. Não sei como não se escandalizaram com o filme...

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    1. Mesmo você confessou que ficou meio assim para assistir esse filme, e eu ainda estou com certa repulsa.

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  11. Quem ainda não assistiu... assista! Vai valer a pena...

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